quarta-feira, 27 de julho de 2011

Os Mercenários: um filme que é uma verdaderia bomba!

Nem sempre assistimos filmes bons, densos, bem feitos, de bom gosto, com roteiro e cenas cativantes, etc e tal... Em muitas ocasiões (a maioria delas diga-se de passagem) acabamos por perder nosso tempo com produções pra lá de medíocres, apesar de seus milionários orçamentos.
Hoje a noite acabei de acessar o canal do Telecine e peguei bem no início de um filme que foi lançado no ano passado com alvoroço: "Os Mercenários", dirigido, escrito e produzido por Silvester Stallone. Infelizmente devo dizer que o filme faz jus às explosões em demasia filmadas, pois ele é uma verdadeira bomba!


O filme logo chamou a atenção devido ao elenco: só astros do cinema de ação. Ora, se os filmes estrelados separadamente com os caras já são legais, imagina um superfilme só com superastros de ação. Pois essa foi a tentativa, mas logo percebe-se que o filme é 50% marketing, 50% ação e 100% clichê.
Então, um bando de caras (os mercenários) vai a um paízeco da américa latina para libertá-lo de um ditador narcotraficante (Já ví isso com o Chuck Norris em "Comando Delta II" e Arnold Schwarzenegger em "Comando para matar"). Aí vêem o caos social no lugar e resolvem abrir mão da "missão" em prol  de algo mais, digamos "humanitário" (ví isso com o Stallone na série do Rambo e com Bruce Willis em "Lágrimas do Sol").
O filme começa legal. Também pudera: como já disse, o filme enche os olhos só de ver todos os caras juntos  numa mesma produção. Eu nunca tinha visto o Stallone e o Schwarzenegger juntos embora os dois e o Willis sejam socios no tal "Hollywood Café".
Vale a pena citar alguns dos caras do filme. Além dos já citados, temos Dolf Ludgren (o russo do "Rocky IV" e "He-Man"); Jet Li,  Jason Stathan, Mickey Rourke, Eric Roberts (irmão da Julia Roberts), entre outros.


O que mais gostei no filme foram as tiradas, as piadinhas entre os personagens. Isso é típico do Stallone. Em uma cena com Schwarzenegger (a única, diga-se de passagem) Stallone faz uma piada sarcástica ao personagem dizendo: "Ele quer ser presidente". Embora no contexto da cena, é nítida a alusão ao fato de Schwarzenegger ser agora político e governador da California.


Mas o fato maior é que o marketing do trailler engana. Embora anunciados como parte do elenco, Schwarzenegger e Willis por exemplo só fazem uma ponta. Mickey Rourke é o cara que faz o papel mais interessante ao meu entender, sendo um tatuador e atravessador de "serviços" para com os mercenários. Eric Roberts é o bandidão num papel apagado e com uma atuação ridícula. Deve ser meio complicado mesmo dar espaço para tantos astros em um filme quando todos estes estão acostumados a serem protagonistas.
O filme lança mão de efeitos especiais que nos dias de hoje fazem uma criança dar risada. As cenas de luta são um ponto alto do filme mas deixam a desejar no momento em que se contava com grandes astros de ação. Tem muita fria também.


Outro aspecto bastante saliente no filme foi o egocentrismo de Stallone: parece que o cara não quer acreditar que já tem mais de 60 anos e ainda quer ser guri. Os repuchos em seu rosto pelas cirurgias plásticas é algo patético no velhão-sem-noção.
Aqui no Brasil, o filme causou frenesí por ter parte filmada no Rio de Janeiro além do fato da atriz Giselle Itié atuar junto com Stallone. Mas é só, não há nada que relacione as locações do filme com lugares conhecidos do Brasil.
O final é mais ridículo ainda. O personagem de Dolf Ludgren vira a casaca no meio do filme, é supostamente morto por Stallone numa cena mas no final aparece vivo, arrependido e perdoado.
Enfim, eu detonei o filme mas tenham a certeza que se ele passar de novo na TV, certamente vai prender minha atenção. Mas por que? Porque essa é a essencia do cinema pipoca americano: entreter, chamar a atenção, vender...mesmo que o trabalho seja intelectualmente uma porcaria, como é o caso.
Ao que parece o filme termina com ganchos para o início de uma franquia. Se isso ocorrer esperamos que os próximos sejam menos clichês e um pouquinho melhores que a bomba desse primeiro.
Humilde opinião de quem vos escreve.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Santo Graal Parte II - O Graal e a Literatura Medieval

Cavaleiro, ícone constante na literatura medieval
Pois bem, após o primeiro post destinado à introdução sobre o assunto, comecemos então a contar as histórias conhecidas sobre o Santo Graal. É necessário, no entanto, remontarmos as origens da lenda do Cálice de Cristo registrada em diversas obras literárias medievais.
O curioso nesse caso, é que o surgimento das obras que narravam as demandas pelo Santo Cálice, coincidem com fatos históricos importantes para o cristianismo ocidental, como as Sagradas Cruzadas e a descobertas de locais e objetos míticos (é "mítico" mesmo, não "místico").
 Praticamente todos os fatos ocorridos e relatados na Bíblia, por exemplo, estão em linguagem figurada, seja por falta de compreensão científica ou, quem sabe, pela necessidade de ocultar entre as linhas fatos ainda mais surpreendentes. Não poderíamos deixar de abordar a literatura medieval que descreve o Graal de outra forma, senão a de tentar, sob todos os aspectos, interpretar cada passagem de seus contos e trovas a fim de encontrarmos sentido junto aos acontecimentos da história oficial. Entre outras palavras: poderemos encontrar registros de existência do Santo Graal apenas em obras literárias da Idade Média.
A etimologia da palavra Graal é uma tanto duvidosa, mas costuma-se considerá-la como oriunda do latim gradalis – cálice (nada haver com a viagem de "Sangreal" do Dan Brown), e não há nenhuma confusão em cima do significado da palavra, que era de um prato ou platter trazida à mesa em varias fases durante uma refeição.
A primeira história na qual a palavra aparece foi escrita através do francês Chréstien de Troyes em sua obra “Le Conte du Graal” . A história de Chrestien estava certamente baseada em antigüidades, mas é desconhecida a fonte ou o significado da palavra Graal.
Se retrocedermos até meados dos séculos XI e XII veremos a difusão de versões e lendas do Santo Graal, e tudo começa com as obras Troyes (1180), do inglês Robert de Boron (1190) e do templário alemão Wolfran Von Eschenbach (1200). Em todos os lugares, parecia moda relatar estórias sobre o Graal, Merlin e Arthur.
Em 1187, Jerusalém caía nas mãos do Sultão Saladino , e se pregava a 3.ª Cruzada. Em 1190, Boron aparece com a obra “Le Roman deL’Estorie du Graal”. 1190 é repleto de acontecimentos: Ricardo Coração de Leão, Rei da Inglaterra, toma a Cruz (expressão da época) e adere à Cruzada. Neste mesmo ano, um incêndio em Glastonbury revela o que seria a tumba do lendário Rei Arthur e Guinevere. No ano seguinte, 1191, os monges da Abadia de Glastonbury editam “Perlesvaus” – Percival como cavaleiro e Arthur encontrando o Graal. Naquele ano os cruzados tomam São João do Acre, na Palestina. Tudo gira em torno de grandes acontecimentos.
Em 1200, um novo ciclo de histórias se inicia do Graal, com a obra “A Quest del Saint Graal” de Willian Map, que traz o herói agora como Galahad e não Percival. Neste mesmo ano, “Parzival” de Wolfran Von Eschenbach aparece. Tudo isso paralelamente com o começo da 4.ª Cruzada, desta vez contra Constantinopla.
Novamente, em 1204 uma crônica do monge de Froidmont conta a história de José de Arimatéia e o Graal, com menção ao "Livro Misterioso".

Os Contos Arthurianos


Não há como mencionarmos a lenda do Santo Graal sem considerarmos a iconografia do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda.
Como já dito, o Santo Graal foi citado em literatura pela primeira vez por Chrétien de Troyes em sua obra com o titulo traduzido de "O Conto do Graal".
Transportando para a história narrada pela obra, encontramos o rei agonizante vendo o declínio do seu reino. Em uma visão, Arthur acredita que só o Graal pode curá-lo e tirar a Bretanha das trevas. Manda então seus cavaleiros em busca do cálice, fato que geraria todas as histórias em busca do Santo Graal. É interessante notar que a água é uma constante na história do Rei Arthur. É na água que a vida começa, física e espiritualmente.

Arthur moribundo
Arthur teria sido concebido ao som das marés, em Tintangel, que fica sob o Castelo do Duque da Cornualha; tirou a Bretanha das mãos bárbaras em doze batalhas, cinco das quais às margens de um rio; entregou sua espada, a mítica Excalibur, ao espírito das águas e, ao final de sua saga, foi carregado pelas águas para nunca mais morrer. Certo de que sua hora havia chegado, Arthur pede a Bedivere que o leve a praia, onde três fadas (elemento ar) o aguardam em uma barca.

“Consola-se e faz quanto possas porque em mim já não existe confiança para confiar. Devo ir ao Vale de Avalon para curar minha grave ferida”.  diz o Rei.

 Avalon é a mítica ilha das macieiras onde vivem os heróis e deuses celtas e onde teria sido forjada a primeira espada de Arthur – Caliburnius. Na Cornualha, o nome Avalon – que em galês refere-se à maçã – é relacionado com a festa das maçãs, celebrada durante o equinócio de outono. Acreditam alguns que Avalon é Glastonbury, onde tanto Arthur quanto sua esposa, teriam sido enterrados. A Abadia de Glastombury também é tida como lugar de conservação do Graal.
As históricas atuais do Rei Arthur incluem a lenda do Cálice de Cristo. Porém não foi sempre assim. “Algo” chamado Graal era conhecido nas histórias arthurianas, porém depois que estas histórias foram cristianizadas é que o Graal foi associado ao Cálice de Cristo. O Graal era um objeto misterioso que não era descrito em detalhes. A história contemporânea, que mencionava o Graal, através do escritor Troyes permaneceu incompleta e permitiu a muitos escritores colocar a própria interpretação deles na história. Deve-se dizer que estas lendas devem ser consideradas “pseudo-histórias”, e na pior das hipóteses fabricações românticas.


A lenda de Arthur unifica-se com a do Graal simbolizando uma época em que dedicava-se uma vida inteira em busca de ideais tais como: honra, respeitabilidade, patriotismo, nobreza e espírito, e temor a Deus.
Muitos escritores notáveis mostraram a semelhança entre os contos de folclores célticos e as histórias do Rei Arthur. Havia muitos caldeirões em contos celtas e alguns tiveram propriedades bem parecidas com as atribuídas aos do Graal como descrito nos contos Arthurianos. Um poema famoso, o Preiddeu Annwn, descreve Arthur e seus homens arriscando-se no mundo dos criminosos celtas para roubar o Caldeirão de Annwn.


O caldeirão teria a habilidade para restabelecer a vida de guerreiros mortos. Note isto na tradição cristã: o Cálice sempre é levado ou é guardado por mulheres e tem a capacidade de restabelecer vidas. Outro caldeirão, o "Caldeirão de Awen" tinha a capacidade de dar todo o conhecimento, se uma poção fosse preparada nele. Também note que na lenda de Arthur o Graal pode dar conhecimento.
Muitos autores tentaram mostrar assim que os caldeirões celtas foram de alguma forma os precursores da imagem atual do Graal.
Entretanto, embora as derivações das lendas celtas sejam populares em teoria, elas por nenhum meio explicam todos os eventos e descrições dentro dos ciclos, nem explicam o interesse súbito da crença do Graal. Embora a derivação das lendas dos caldeirões celtas sejam boas, não explicam completamente os ciclos do Graal.
É inevitável dizer da necessidade de aprofundar-se no estudo dos Contos Arthurianos para se obter mais informações sobre o súbito aparecimento do Santo Graal na literatura da Idade Média por volta do século XII. "O Conto do Graal" é um poema inacabado de 9 mil versos que relata a busca do Graal, da qual Arthur nunca participou diretamente, e que acaba suspensa. Um mito por si só. Porém, o que se pode afirmar é que "O Conto do Graal" é uma obra de ficção baseada em personagens e histórias reais que serve para fortalecer o espírito nacionalista do Reino Unido, unindo a figura de um governante invencível a um símbolo cristão.
Ao que tudo indica nas obras literárias, o cálice teria sido levado à Inglaterra, mas por quê? E por quem? Do ponto de vista literário, já foi explicado. Porém, existem outras histórias muito mais interessantes.

Os contos de Boron

As narrativas creditadas aos Contos do escritor francês Robert de Boron são uma verdadeira viagem, porém não menos interessantes e intrigantes ao mesmo tempo. Boron é um escritor medieval e usa o Graal como agente ativo em suas obras.
Exste uma lenda britânica que afirma que Cristo fez peregrinações no próprio continente europeu, alcançando a Bretanha. Diz-se que, durante a sua permanência na Cornualha, havia recebido em dádiva um cálice de um druida convertido ao cristianismo (isto entendido como “o que Cristo prega”), e por aquele objeto ele tinha um carinho especial. Após sua crucificação, José de Arimatéia quis levar o objeto, santificado pelo sangue de Cristo, ao seu antigo dono, o druida que era Merlin (realmente uma viagem), traço de união entre a religião celta e cristã.
É na obra de Robert de Boron (1190), José de Arimatéia, que o mito retrocede no tempo até chegar a Cristo e à última ceia.
Boron conta que, certa noite, José de Arimatéia é ferido na coxa por uma lança (percebe-se também, sempre presente, as referências às lanças e espadas, símbolos do fogo, tanto na história de Jesus como de Arthur). Em outra versão, a ferida é em sua genitália e a razão seria a quebra do voto de castidade. Este fato está totalmente relacionado à traição de Lancelot que seduz Guinevere, esposa de Arthur. Somente uma única vez Boron chama a taça de Graal. Em um inciso, ele deduz que o artefato já tinha uma história e um nome antes de ser usado por Jesus:

“Eu não ouso contar, nem referir, nem poderia fazê-lo (...) as coisas ditas e feitas pelos grandes sábios. Naquele tampo foram escritas as razões secretas pelas quais o Graal foi designado por este nome”.
             Robert de Boron.

 José de Arimatéia teria sido, portanto, o primeiro custódio do Graal. O segundo teria sido seu genro, Brons. Algumas seitas sustentam que o ciclo do Graal não estará fechado enquanto não aparecer o terceiro custódio. Esta resposta parece vir com "A Demanda do Santo Graal", de autor desconhecido, que coloca Galahad como o único entre os cavaleiros merecedor de se tornar Guardião do Santo Graal.
Robert de Boron conta que os judeus, ao descobrirem José de Arimatéia, prendem-no em uma cela sem janelas onde todos os dias uma pomba se materializa deixando-lhe uma hóstia, seu único alimento durante todo o cárcere, graças ao qual sobrevive. José esconde a taça que Jesus usou na Última Ceia, ao redor da qual sentam doze pessoas (semelhança À lenda  da Távola Redonda). No lugar de Cristo é colocado um peixe. O assento de Judas Escariotes fica vazio e quando alguém tenta ocupá-lo é “devorado pelo lugar” de forma misteriosa. A partir desse momento esse assento é conhecido como a Cadeira Perigosa (mesmo nome do assento da Távola Redonda que também ficava vazio e só poderia ser ocupado pelo “cavaleiro mais virtuoso do mundo". Em algumas versões, é o assento de Lancelot que sempre fica vazio. Lancelot, o mais dedicado cavaleiro, que assim como Judas em relação a Jesus, era o que mais amava Arthur e também o que o traiu). José de Arimatéia funda sua congregação em Glastonbury. No lugar onde teria edificado sua Igreja com barro e palha há os restos de uma abadia muito posterior.
O Graal-taça é tido como um episódio místico e o Graal-pedra como a matéria do conhecimento cristalizado em uma substância. Já o Graal-Livro é a própria tradição primordial, a mensagem escrita.
De acordo com vários contos, as histórias do Graal se originaram de um grande livro misterioso que teria sido compilado, em 717, por um eremita nascido em Gales. Este copiara o livro original escrito pelo próprio Jesus Cristo. Em outros casos, o autor era um astrônomo pagão-judeu, de nome Flegetanis que lia nos astros a história do Graal.
Robert de Boron, que acreditam ter escrito “Le Roman de L’Estorie dou Graal ” começa a história usando essas fontes. Inicia com José de Arimatéia, vai para Merlin, e termina em Percival.
Em José de Arimatéia, Boron diz:

 “ Jesus ensinou a José de Arimatéia as palavras secretas que ninguém pode contar nem escrever sem ter lido o Grande Livro no qual elas estão consignadas, as palavras que são pronunciadas no momento da consagração do Graal”.Robert de Boron

De fato, em "Le Grand Graal", continuação da obra de Boron por um autor anônimo, o Graal é associado – ou realmente é – um livro escrito por Jesus, o qual a leitura só pode se entender – ou iluminar – quem está nas graças de Deus.

 “ As verdades de fé que este contém não podem ser pronunciadas por língua mortal sem que os quatro elementos sejam agitados. Se isso acontecesse realmente, os céus diluviariam, o ar tremeria, a terra afundaria e a água mudaria de cor”.

 O Graal-livro teria um terrível poder.


O Graal-Pedra de Eschenbach

Toda a história é mudada quando contada pelo alemão Wolfram Von Eschenbach (1200), quase ao mesmo tempo que Boron. Em "Parzifal", Eschenbach coloca na mão dos Cavaleiros Templários a guarda do Graal que não é uma taça, mas sim uma pedra. Sobre uma verde esmeralda, ela trazia o desejo do Paraíso: era o objeto que chamava-se Graal. Para Eschenbach, o Graal era realmente uma pedra preciosa, pedra de luz trazida do céu pelos anjos. Ele imprime ao nome Graal uma estreita dependência com as forças cósmicas. A pedra é chamada Exillis ou Lapis exillis, Lapis ex coelis, que significa “pedra caída do céu”, ou para outros autores como Lapis erillis (Pedra do Senhor).
É a referência à esmeralda na testa de Lúcifer, que representava seu terceiro olho. Quando Lúcifer, o Anjo da Luz, se rebelou e desceu aos mundos inferiores, a esmeralda partiu-se e sua visão passou a ser prejudicada. Lúcifer conduziu um terço dos anjos em uma revolta contra Deus mas foi derrotado. Um dos três pedaços ficou em sua testa, dando-lhe a visão deformada que foi a única coisa que lhe restou. Outro pedaço caiu ou foi trazido à Terra pelos anjos que permaneceram neutros durante a rebelião. Mais tarde, o Santo Graal teria sido escavado neste pedaço. Compara-se o Graal-Pedra de Eschenbach com a não menos mítica Pedra Filosofal que transformava metais comuns em ouro, homens em reis, iniciados em adeptos, matéria e transmutação, seres humanos e sua transformação.

O alemão tem como modelo de fiéis depositários do cálice os Cavaleiros Templários. Seria Wolfran Von Eschenbach um Templário? Sabemos que sim! Era a época em que Felipe de Plessiez estava à frente da ordem quase centenária. O próprio fato de ser a pedra uma esmeralda se relaciona com a cavalaria. Os cavaleiros em demanda usavam sobre sua armadura a cor verde, sinônimo de vitalidade e esperança. Malcon Godwin, escritor rosacruz, refere-se a Parzifal da seguinte maneira:

“Muitos comentadores argumentam que a história de Parzifal contém, de modo oculto, uma descrição astrológica e alquímica sobre um indivíduo que é transformado de corpo grosseiro em formas mais e mais elevadas”.
                      Malcon Godwin

 Nesta obra que é um retrato da Idade Média – feito por quem sabia muito bem do que estava falando – reconhece-se uma verdadeira ordem de cavalaria feminina, na qual se vê Esclarmunda, a virgem guerreira cátara, trazendo o Santo Graal, precedida de 25 mulheres segurando tochas, facas de prata e uma mesa talhada em uma esmeralda. Na descrição do autor da cena de Parzival, há um castelo cujo proprietário é o personagem chamado de "rei-pescador". Lemos:

“Em seguida apareceram duas brancas virgens, a Condessa de Tenabroc e uma companheira, trazendo dois candelabros de ouro; depois uma duquesa e uma companheira, trazendo dois pedestais de marfim; essas quatro primeiras usavam vestidos de escarlate castanho; vieram então quatro damas vestidas de veludo verde, trazendo grandes tochas, em seguida outras quatro inocentes donzelas; traziam duas facas de prata sobre uma toalha. Enfim, apareceram seis senhoritas, trazendo seis copos diáfanos cheios de bálsamo que produzia uma bela chama, precedendo a Rainha Despontar de Alegria; esta usava um diadema, e trazia sobre uma almofada de achmardi verde (uma esmeralda) o Graal, 'superior a qualquer ideal terrestre."
Wolfram Von Eschenbach

Observações quanto às obras
Chréstien de Troyes escrevera o seu "O Conto do Graal" em 1128. Wolfram afirmava com grande segurança que a versão da história do Graal de Chréstien é errada, enquanto que a sua é fiel porque é baseada sobre "informações privilegiadas". Tais informações (...) veio de um certo "Kyot de Provence" (Provence, região sul da França, onde se localiza a cidade de Troyes).
Então, como fez Troyes a preceder Wolfram? É provável que o poeta tenha recebido algumas informações de qualquer fonte desconhecida templária.
 Na cidade de Troyes, São Bernardo traçou as regras da Ordem Templária, que havia, por sua vez, estreitos relacionamentos com tal cidade (moradia de Troyes). É difícil sustentar que, ninguém, em uma cidade assim importante para os cavaleiros, fosse a corrente do reencontro do Graal por parte dos mesmos. Se Chrétien vem ao conhecimento somente de um fragmento da história, é fácil que tenha nesse momento princípio para escrever o seu " O Conto do Graal", sob a base de um fato, construindo um poema em versos sobre o cálice.

Bernardo de Claraval
Também é conveniente ressaltar que, na obra de Troyes, do Graal se fala pouquíssimo: Percival, o protagonista, não informa nunca a identidade do objeto, e o autor não dá qualquer informação sobre a relíquia. Limita-se a dizer que:
"...uma garota muito bonita, bem adornada, vinha com valetes e tinha entre as mãos um graal. Quando foi entrar na sala com o graal que portava, se difunde uma luz que se torna em clarão, como estrelas quando se eleva o sol e a lua (...). O graal que vinha era de fato do ouro mais puro. Haviam pedras incrustadas de muitas espécies, as mais ricas e preciosas que são do mar ou da terra. Nenhuma poderia comparar-se às pedras que rodeavam o graal...".

 O comportamento de Perceval é verdadeiramente desconcertante:

 "De frente aos dois convidados uma outra vez passa o graal, mas a jovem não pergunta a quem o serve (...) Ele tem desejo de sabê-lo, mas pensa que terá tempo de pergunta-lo amanhã a um dos valetes da corte, de manhã quando deixará a senhora e toda a sua gente".
 O que instigou a jovem a calar-se, e não prontamente a lhe informar? Chrétien não motiva o comportamento de Perceval, e depois que a sua obra continua incompleta, o fato acaba ainda mais ambíguo.
Troyes parece referir-se não ao cálice utilizado por Cristo durante a última ceia nem por Arimatéia depois de Sua morte, mas uma comum taça de mesa. Ele, de fato, o define "um graal" e não como "o Graal". Além disso, é provável que Chrétien não tenha nunca visto o Graal: não há prova do fato que ele o descreve como sendo uma peça de ouro com pedras incrustadas.
Que Cristo tenha utilizado um cálice com este valor na última ceia é bastante improvável. Todos esses elementos levam a considerar o poema de Troyes um ótimo trabalho literário, decadente, mas do ponto de vista histórico, excelente. Não obstante isto é possível que a leitura de Perceval revele um fundo de verdade que pode ser ajudado a localizar a relíquia. Se existir uma...
Wolfram von Eschembach, que podia usufruir uma fonte como a de Guyot, diretamente em contato com a família italiana de Monferrato (outro post sobre eles, lá na frente...), ataca os erros e dos absurdos textos dos poetas franceses, iniciando seu poema sublinhando o fato de que a versão de Troyes estava errada, se bem que, "Parzifal" não pode ser lido como um rigoroso documento histórico. A isso devem ser distintos os aspectos simbólicos daquelas histórias, e é necessário reconhecer em algumas passagens, referências a fatos e lugares reais.
É fato que todas as obras que citam a existência do Santo Graal são também as origens das teorias. Robert de Boron, em suas inúmeras obras, faz citações sobre o Graal e, através destas, ilustra outras teorias sobre sua existência. Desta forma, confunde-se e torna-se difícil classificar as teorias de existência do Santo Graal com meros contos que o ilustram, podendo-se afirmar que as obras literárias são, na verdade, teorias escritas de sua existência.

Nossa busca não termina aqui. O proximo post será sobre José de Arimatéia. Aguardem...

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O Santo Graal


Eu sei...
Estava demorando...
Aqueles que me conhecem já deviam ter se perguntado quando eu finalmente iria começar a escrever sobre esse assunto. Também pudera, sou conhecido por ser aficcionado desde minha adolescência pelo Graal e isso significa um certo tempinho.
Na verdade o interesse pelo assunto Graal vem desde exatamente meu 13 anos quando assisti um dos meus filmes favoritos: "Indiana Jones e a Ultima Cruzada". Tá eu sei, o filme é uma baita fria, mas não dá pra dizer que não é legal, ainda mais pela mística do personagem Indiana Jones, coisa e tal...


O assunto do Cálice de Cristo remonta muitas passagens na minha formação, em especial em todas as lendas medievais que Lord Baden Powell fundamentou boa parte do movimento escoteiro e, como todos sabem, minha juventude foi passada todinha junto a um Grupo Escoteiro, uma das melhores coisas que meus pais puderam me propiciar.
Os ideais da cavalaria medieval, os códigos de honra e tudo o mais sempre me fascinaram, além dos fatos históricos intrigantes e misteriosos que cercam a lenda do Cálice de Cristo. Todos esses elementos levaram a uma vasta pesquisa por livros e pela web.


O interesse pela lenda do Sacro Cálice rendeu um belo material de mais de 120 páginas digitadas e um site que mantive por 4 anos, mas me enchi do saco em mantê-lo (escrever sempre sobre um mesmo assunto cansa!), além do fato de ser cada vez mais difícil deixar o site como a gente quer em provedor gratuíto.
Entretanto, o que mais me deixou puto foi a onda de interesse sobre o assunto logo após o lançamento do Best-Seller de Dan Brown, "O Codigo Da Vinci". Que fique bem claro: pesquisei com afinco sobre o Santa Graal desde 1997, muito antes, portanto, desse sensacionalista publicar seus livros afirmando criminosamente que seus conteúdos eram factuais (vide meu post sobre O Codigo Da Vinci). Ou seja, o assunto Graal pra mim não é nada novo  e não surgiu ontem ou logo após ler um livro de modinha.
Esse será meu primeiro post, na verdade um post de apresentação, de uma série destes sobre o assunto Graal. Tentarei compilar e condensar o máximo de informação naquilo que é mais interessante sobre a lenda. Quero voltar a escrever sobre o assunto e compartilhar um pouco mais sobre os diversos ramos dessa magnífica história.


Convido a todos para curtirem uma série de histórias incríveis sobre o Santo Graal, o cálice que Jesus Cristo teria usado na sua ultima ceia junto aos 12 apóstolos e que foi usado para coletar Seu sangue no Calvário para depois ser confiado a José de Arimatéia. Em nenhum momento o artefato foi citado nas sagradas escrituras bíblicas caracterizando-se por ser uma lenda medieval surgida na França e difundida pela Inglaterra, Alemanha e Italia, entre outros reinos europeus do séc. XII.


Veremos nos posts que serão publicados que o Graal poderá ser uma série de coisas, ou de significados. Num primeiro momento, o Graal é considerado uma relíquia. Mas, afinal o que é uma relíquia?
Uma relíquia é, geralmente, um membro decepado de algum santo, como a mão de São Sebastião ou a cabeça de São Paulo. Conforme os preceitos cristãos, Cristo foi ressuscitado e partiu para o céu, sendo assim, uma relíquia também poderá ser tudo aquilo que Ele tenha usado ou simplesmente tocado. A coluna em que foi torturado, a Cruz, o Sudário de Turim, a Lança de Longino, os pregos e a Coroa de Espinhos. Tudo isso foi encontrado, catalogado, registrado e avaliado... mas e o Graal?
Bom, para que possamos ter um princípio em nossa "Demanda do Santo Graal", deveremos recorrer aos livros e conhecer onde e em que momento o Santo Cálice foi mencionado pela primeira vez na história. Isso significa que deveremos mergulhar no universo literário medieval e conhecer um pouco mais sobre os poemas e contos cavaleiriços daquele período. Estudar sobre o Santo Cálice é estudar os princípios do que veio a ser a cultura cristã ocidental.


 Mas isso já é assunto para um proximo post sobre o assunto...





quarta-feira, 13 de julho de 2011

13 de Julho: Dia Mundial do Rock

Parabéns a todos os irmãos roqueiros do Brasil e do mundo pelo nosso dia. 13 de jullho é conhecido por ser o Dia Mundial do Rock. Inevitável não falar um pouquinho dessa data ou mesmo sobre o rock, que há muito tempo deixou de ser um gênero musical para se tornar um estilo de vida para muitos ao redor do planeta.


A celebração do dia 13 de julho começou em 1985 quando o roqueiro irlandês Bob Geldof organizou dois concertos de rock para serem realizados simultaneamente, um em Londres e outro na Filadélfia nos EUA, evento conhecido por Live Aid. O objetivo principal era o fim da fome na Etiópia e contou com a presença de artistas como The Who, Status Quo, Led Zeppelin, Dire Straits, Madonna, Queen, Joan Baez, David Bowie, BB King, Mick Jagger, Sting, Scorpions, U2, Paul McCartney, Phil Collins (que tocou nos dois lugares, aliás, voando num Concorde para chegar a tempo), Eric Clapton e Black Sabbath. Foi transmitido ao vivo pela BBC para diversos países e abriu os olhos do mundo para a miséria no continente africano.

Bob Geldof no Live Aid em 1985
É claro que já se havia realizado eventos daquela magnitude ou até maiores, mas o Live Aid teve um valor especial. A partir daquele momento o rock e todos aqueles que o fizeram um estilo de vida mudaram definitivamente a imagem negativa dos roqueiros: de baderneiros e contraventores à ativistas politicamente conscientes. A partir daquele momento surge a figura de roqueiros engajados em questões políticas e sociais, como os músicos do U2, Sting, Jorge Michael, Phil Collins, e muitos outros.


Live Aid em Wembley
 Foi naquele momento que o rock tornou-se outra dimensão rompendo com seus próprios paradigmas e criando a si mesmo um propósito para suas ações, não apenas como gênero musical, mas como estilo de vida. Mostrou ao mundo que uma nova forma de se posicionar a respeito de mazelas humanas ao redor do globo era fazendo o rock e que este poderia não apenas trazer boas mensagens às pessoas, mas sim se tornar agente ativo em ações maiores.



Outros festivais com essa mesma consciência social ocorreram na década de 80 como o U.S.A. For Africa, Live Aid, Farm Aid, Hear 'n' Aid, Artists Against Apartheid e o Amnesty International, reunindo sempre grandes nomes do mundo pop e rock. O Live Aid talvez tenha ficado mais famoso, e não é pra menos, arrecadou mais de 60 milhões de dólares que foram doados em prol dos famintos na África. Curiosamente, não foi feito nenhum vídeo, CD, DVD sobre o festival até hoje, muito possivelmente pela grande quantidade de artistas envolvidos no projeto.
A partir de então o rock nunca mais foi visto da mesma forma.


E hoje, o que vemos e o que esperamos do rock?
O rock n' roll, como já dito, tornou-se um estilo de vida. Aos poucos seu estereótipo de rebeldia e oposição à regras está caindo por terra pois o maior desafio estava em se opor à valores tradicionais. E quais eram os maiores ícones dos "valores tradicionais"? Os nossos pais. Só que estes hoje foram aqueles roqueiros rebeldes de outrora e que ainda curtem e não deixarão de curtir o rock. Usar o rock como instrumento para chocar já não funciona mais.


Ser roqueiro hoje é ser um monte de coisas legais, sem precisar ter vergonha de que "é legal ser legal". Ser roqueiro hoje é ser irreverente, despojado, mas sem esquecer de seu lugar e seu compromisso com a sociedade em que vive. Ser roqueiro hoje é ser eternamente jovem de espírito, por mais que você já tenha netos. Ser roqueiro hoje é ser estudioso, inteligente e criativo pois assim foi concebido o rock: uma profusão de estilos e posturas oriundas da experimentação e do estudo. Ser roqueiro hoje é ser simplesmente humano, capaz de olhar para o lado e ver seu próximo e ajudá-o quando ele precisar (Ave Geldof). Ser roqueiro hoje é estar sempre na moda, mesmo que abomine modismos, pois o rock nunca deixará de estar na vanguarda. Ser roqueiro hoje é curtir o novo som do Iron Maiden ou do Bon Jovi junto com seu pai no carro enquanto ele lhe leva pra escola. Ser roqueiro hoje é vestir terno e gravata para trabalhar e ir a um casamento, e usar jeans rasgado e camiseta da banda preferida no bar ou no churrasco com amigos. Ser roqueiro hoje é lidar com projetos e orçamentos de dia e entrar numa fila de um show de rock a noite. Ser roqueiro hoje é ser exemplo para seus funcionários e alunos e surpreendê-los ao exibir suas tatuagens no churrasco da equipe no domingo de verão. Ser roqueiro hoje é viver sem se preocupar com rótulos, senão aquele em que você faz questão de ser identificado de "roqueiro".

Quanto àqueles que erroneamente condenam os roqueiros a ponto de taxá-los de "estrangeiristas" desconsiderando o rock como um estilo cultural e social de se viver, uma breve explanação: há muito tempo meus caros o rock deixou de ser um produto cultural americano. E isso faz tempo, desde que surgiram os ingleses dos Beatles, os alemães do Scorpions, os australianos do AC/DC, os noruegueses do A-HA (sim, é rock n' roll também), os escoceses do Nazareth, os suecos do ABBA (sim sim, também é rock),  os italianos Zuchero e Eros Ramazzotti, os brazucas dos Secos & Molhados, e por aí vai... O rock é universal e seu proprietário não é ninguém a não ser a humanidade e também funciona como uma língua em comum que une vários povos de diversas etnias, religiões e e ideologias.
Faço minha conclusão com o uma frase que é título de uma música do Kiss:

"God Gave Rock n' Roll To You!"

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Mr. Big - Bar Opinião - Porto Alegre 10/07/2011

O mais bacana de quem tem mais de 30 anos é poder curtir velhas bandas. Aquelas que a gente ouvia quando ia para a escola no walkman com fitas K7 trocadas entre amigos. É..., não tinha Internet, nem mp3, muito menos IPod. Os CDs recém se popularizavam e os vinis ainda circulavam a todo o vapor. Assistir a um show daqueles caras então... Nos anos 80 e 90 o RS recém estava entrando para a rota dos shows de rock. Ir a um show como o do Mr. Big ou de qualquer outra banda de renome, só se aventurando a São Paulo ou Rio de Janeiro.


E quando que eu poderia imaginar que um dia eu veria essa banda tocando ao vivo. Até hoje me recordo da primeira vez que a vi: foi assistindo ao clipe da música "To Be With You" no programa "Disk MTV" em 1992 com 15 anos (caco de memoria hein??!!). Foi trocando fitas e discos que conheci um pouco mais da banda. A maior lembrança que tenho dela foi a vez que fui a praia (1992,1993,...) e por várias tardes passava a mão no walkman e saía para caminhar com uma fita tocando suas músicas pela beira-mar. Sozinho, sem comer ninguém, obvio...

Mr. Big nos anos 90
Mr. Big hoje
Antes de continuar a falar sobre minha experiência no show, deixa eu apresentar a banda. O Mr. Big é uma banda norte-americana formada em 1988. Começou em 1989 como um quarteto integrando Paul Gilbert (também conhecido pela galera por Paulo Gilberto, guitarra), Billy Sheehan (baixo), Eric Martin (vocal) e Pat Torpey (bateria). Todos os membros eram considerados, principalmente por colegas músicos e críticos, extremamente habilidosos e com um talento acima da média em seus respectivos instrumentos. A banda sofreu alguns revezes com a saída de Gilbert, mas caracterizou-se também com o seu retorno e hoje está na ativa com a formação original. E muito bem obrigado.
Eu devo confessar que nunca fui um grande fã da banda e por isso nunca acompanhei de perto seu trabalho. Na verdade tive apenas algumas fitas (as já citadas K7) e o CD "Pump ahead". Eu nem sabia que o Gilbert tinha saído e voltado da banda, só pra ter uma idéia.

Sheehan, Torpey, Eric e Paulo Gilberto
Mesmo assim não há como dizer que a banda seja desconhecida. As baladas que permeavam as rádios FM ressonam nos ouvidos da mulherada. Um show de rock com essa banda seria um bom programa para um casal na faixa dos 30 anos, seja para relembrar os clássicos da adolescencia, seja para presentear a esposa com baladas açucaradas, so que dessa vez tocadas ao vivo.
A chance veio com um toque da parceria. Fiquei sabendo pelos MSN da vida que em Porto Alegre teria um show do Mr. Big, divulgando seu novo álbum: "What if..." no Bar Opinião com o principal atrativo: "formação original". Então, lá fomos...


Estava receioso com minha esposa. Apesar dela gostar de algumas músicas, não sabia como seria sua aceitação quanto ao show. Minha intenção era levá-la a um show de rock, pois eu frequentemente vou a PoA para assistir shows, mas sempre só. Queria não apenas que ela me acompanhasse, mas que curtisse. Bem,... deu certo!!

Galera da excursão
Valeu cada centavo das 260 pratas gastas nos ingressos. Os véios detonaram! Para resumir a resenha do show pode-se afirmar o seguinte: sensacional. Não me refiro apenas à performance excepcional dos caras, mas uma competência ímpar em afinação de instrumentos e de equalização da sonorização do evento. Cara, o som estava ótimo e a fidelidade com que as músicas foram tocadas para com as versões de estudio foi fantástica.
Afora os aspectos, digamos "técnicos" do show, gostaria de lembrar as inúmeras pessoas que simplesmente choraram durante a apresentação da banda. E não eram minininhas loucas pra tocar no Paulo Gilberto não, eram barbados, cabeludos, coroas... todos com a mesma emoção de quem vos escreve: a de poder estar curtindo ao vivo uma banda que marcou com sua sonoridade sua adolescencia e juventude. Definitivamente pudemos voltar aos 16!

Foto by Kelen

Foto by Kelen
O mais legal da apresentação da banda foi a forma como os músicos ficaram a vontade com o público. A sensação que tinhamos era de que eles estavam se divertindo mais que nós. Não sei se isso deveu-se ao fato de estarmos num lugar bonito, de boa infraestrutura e pequeno como é o Bar Opinião, a ponto de ficar aconchegante para quem se apresenta, bem proximo do público. O fato é que eles botaram pra quebrar e da forma como se doaram, imaginamos que, se eles fizessem sempre assim, não aguentariam uma turnê inteira. Por isso nossa crença de que ali foi um momento especial pra eles também.

Paulo Gilberto em ação. Foto by Kelen
Os caras tocaram 1:45min. Voltaram para o bizz, tocaram mais 4 músicas e depois ficaram se bobeando com a galera, trocando de instrumentos e lugares e tocando clássico so rock como "Smoke on the water" do Purple. Animaram e "se" animaram. O show foi diversão pura.

Foto by Kelen
O Mr. Big esbanjou alegria, energia, simpatia e emoção. Quem foi, quem conferiu, tenho certeza de que nunca mais se esquecerá pois pra mim até agora a ficha não caiu direito.
Um registro sobre o evento deve ser feito. Constatei naquela noite que no Opinião haviam mais santamarienses que numa noite de Expresso 362 no Absinto. Que coisa incrível. Ponto pra nós, pois to começando a achar que somos uma das cenas mais roqueiras do estado.
Ponto negativo da excursão foi a volta, onde um peidorreiro misterioso resolveu agir. Foi uma salva de 4 ou 5 tiros onde não conseguimos identificar a origem. O efeito químico foi tão grande que em determinados momentos o motora teve que ligar o ar condicionado da van para uma ventilação emergencial. Este episódio deixou uma pergunta que não quer calar: "Who farted?"

O Mr. Big matou a pau no Opinião em Porto. Abaixo uma provinha pra vocês.


Humilde opinião de quem vos escreve.

domingo, 3 de julho de 2011

Devoradores de Mortos

Todos sabem da minha paixão sobre história, refletida no gosto dos filmes do gênero, principalmente aqueles onde espadas e escudos são empunhados. Filmes como Cruzada, Coração Valente, O Feitiço de Aquila, Rei Arthur, foram assistidos e reassistidos por quem vos escreve para posteriormente terem suas histórias vasculhadas na web e nos livros com o intuito de se entender melhor todo o contexto dos roteiros além de conhecer o que realmente se passou naquele momento da história que a narrativa do filmes trás. Foi assim que aprendi história e que me apaixonei por ela. É claro que já ví muita bomba, por isso fiquei meio exigente para com esse tipo de filme pois o contexto histórico deve ser condizente com a narrativa, o filme Gladiador por exemplo, me decepcionou um pouco pois muitos detalhes históricos foram ignorados em prol de um roteiro mais empolgante e cativante, a fim de entreter e não de ensinar.


Pois bem, há anos atrás (quando eu ainda frequentava locadoras de filmes) me deparei com o título: O 13º Guerreiro (Titulo original: The 13th Warrior), filme estrelado com Antonio Banderas com produção de 1999. Achei estranho nunca ter ouvido falar desse filme na mídia, principalmente pelo fato de ter o Banderas no elenco, e sua sinopse dizia o seguinte: Em 922, Ahmed Ibn Fahdlan (Antonio Banderas), um poeta e cortesão árabe foi nomeado embaixador na terra de Tossuk Vlad, uma região longínqua ao norte. Ahmed acaba por entrar em contato com um grupo de vikings. Ao tornar-se hospede no acampamento viking, toma conhecimento de que foi escolhido para combater os Wendol, um terror que mata vikings e os devora, pois uma vidente decidiu que treze guerreiros deveriam lutar contra estes terríveis inimigos, mas o décimo terceiro não poderia ser um homem do norte. Assim, Ibn Fadlan se vê lutando ao lado dos vikings em um embate que dificilmente será vencido por eles. Aí começa a narrativa pra lá de empolgante dessa demanda. O grupo de vikings parte para socorrer outro reino viking do norte assolado pelos demônios wendol. Não vou mais contar sobre o roteiro do filme por que essa não é minha intenção.

Ibn Fadlan em combate contra os Wendol
Adorei o filme, embora a mídia e o público não tenham recebido a produção muito bem. Foi um fracasso de bilheteria e a crítica caiu de pau no Banderas pela atuação fraquíssima além de condenarem o roteiro por desviar o foco onde o personagem mais interessante da trama seria o líder viking, Buliwyf e não Ahmed. Aí é que tá o detalhe.

Buliwyf
O filme baseia-se no romance Devoradores de Mortos (titulo original Eaters of the Dead), de Michael Crichton (o cara que escreveu os roteiros de Parque dos Dinossauros e Assédio Sexual). O romance em que o filme se baseia é, por sua vez, inspirado pela tradução para inglês do relato real do árabe Ibn Fadlan das suas viagens Rio Volga acima, no século X.


É óbvio que me dediquei a pesquisar mais sobre esse relato histórico, lendo muito a respeito na web. Minha alegria então quando estava na praia, de férias quando, ao visitar uma livraria a procura de um bom livro me deparei com um exemplar do Devoradores de Mortos. Em dois dias o livro foi destrinchado, associando cada passagem do livro ao filme assistido e reassistido inúmeras vezes, mas sem enjoar uma vez sequer.


Não precisa dizer o quanto é valorosa tal narrativa do ponto de vista histórico. Na verdade, o manuscrito de Ibn Fadlan representa o mais antigo relato conhecido de uma testemunha ocular da vida e da sociedade viking. É um documento extraordinário, que descreve em vívidos detalhes acontecimentos ocorridos ha mais de mil anos. Claro que o manuscrito não sobreviveu incólume a este enorme espaço de tempo. Crichton, ao escrever o romance, faz uma compilação de diversas versões e fragmentos encontrados relativos à mesma narração. São textos encontrados em diversos pontos da Europa, como na Rússia, Grécia e Dinamarca.
E o fascínio dessa obra não pára por aí. Mas para explicar mais um aspecto interessante dessa saga, devo remontar brevemente a obra ao lembrar que a narrativa trata do confronto entre o grupo de 13 guerreiros (12 vikings e 1 árabe) e os wendol, também conhecidos como "os devoradores de mortos". Então, os wendol são os vilões na história.

Ataque wendol noturno à aldeia viking
Históricamente, a palavra wendol é muito antiga, tão velha quanto quaisquer dos povos do país do norte e quer dizer "a névoa negra". Para os nórdicos, significa uma névoa que tráz, sob a coberta da noite, demônios negros que assassinam, matam e comem a carne dos seres humanos. Os demônios são peludos e repulsivos ao toque e ao cheiro; são ferozes e astutos; não falam a língua de nenhum homem e ainda assim conversam entre si; chegam com a bruma da noite e desaparecem de dia - para onde nenhum homem ousava seguir.
Ao finalizar a leitura da obra, deparei-me com uma citação interessante: a de que os wendol combatidos pelos vikings pudessem vir a ser uma subespécie humana conhecida como "Homem de Neadertal". Uma avaliação geral sobre os aspectos descobertos relativos ao Homem de Neadertal com a redescoberta do contato de Ibn Fadlan com "os monstros da névoa" (sua descrição destas criaturas sugestiva da anatomia Neadertal) levanta a questão: a forma Neadertal desapareceu de fato da terra milhares de anos atrás, ou esses homens primitivos permaneceram nos tempos históricos?

Wendol
A ponderação final na obra ainda afirma que, objetivamente, não existe uma razão a priori para negar que um grupo Neadertal pudesse ter sobrevivido muito depois numa região isolada da Escandinavia. Em qualquer caso, esta pressuposição é a que melhor se ajusta à descrição do texto árabe.
Eis minha volta ao blog, com um post sobre um livro e um filme que recomendo, principalmente para aqueles fascinados em história e antropologia. Mesmo que não se goste dessas coisas, convenhamos: é pra lá de interessante!


Recomendo que se leia o livro antes de assistir o filme. A história é apaixonante. Abaixo um videozinho do filme.


Humilde opinião de quem vos escreve.