domingo, 22 de maio de 2011

"EU ACUSO! " Tributo ao Professor Kassio Vinicius Castro Gomes

 O texto abaixo dispensa comentários.


** Por Igor Pantuzza Wildmann

Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado "dano moral" do estudante foi ter que... estudar!).

A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.

O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.

Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática.

No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que "era proibido proibir". Depois, a geração do "não bate, que traumatiza". A coisa continuou: "Não reprove, que atrapalha". Não dê provas difíceis, pois "temos que respeitar o perfil dos nossos alunos". Aliás, "prova não prova nada". Deixe o aluno "construir seu conhecimento." Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, "é o aluno que vai avaliar o professor". Afinal de contas, ele está pagando...

E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de "novo paradigma" (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: "o bandido é vítima da sociedade", "temos que mudar ‘tudo isso que está aí'; "mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico'."

Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno - cliente...

Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que "o mundo lhes deve algo".

Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.

Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;

EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a "revolta dos oprimidos"e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;

EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;

EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para "adequar a avaliação ao perfil dos alunos";

EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;

EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;

EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;

EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu "tantos por cento";

EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno "terá direito" de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;

EU ACUSO os que agora falam em promover um "novo paradigma", uma " nova cultura de paz", pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da "vergonha na cara", do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;

EU ACUSO os "cabeça - boa" que acham e ensinam que disciplina é "careta", que respeito às normas é coisa de velho decrépito,

EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;

EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.

EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam "promoters" de seus cursos;

EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;

Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.

Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de "o outro".

A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: "Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo."

Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor "nova cultura de paz" que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.

Igor Pantuzza Wildmann - Advogado - Doutor em Direito. Professor da Faculdade de Direito Milton Campos(MG)

* O professor do Instituto Metodista Izabela Hendrix, Kássio Vinícius Castro Gomes, foi assassinado por um aluno da instituição de ensino, no dia 7 de dezembro de 2010.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Um crássico e um vídeo histórico

Ainda na empolgação do show do Helloween resolvi brincar um pouco no YouTube. Sempre quando a gente resolve fuçar um pouquinho algumas pérolas surgem.
Pois bem, o álbum "Unarmed" do Helloween foi lançado em 2009 em comemoração aos 25 anos da banda e é uma verdadeira bosta. Assassinaram todos os clássicos da banda ao gravarem-nos de maneira acústica e infantil.
Resolveram pegar a faixa "Dr. Stein" e fazer um clipe dela. Disseram que seria um "presente para os fãs". O clipe até que é legal, mas a música...
Mas o interessante é que a banda escolheu essa música para fazer o clipe porque ela é histórica e merecia um clipe. Só que ela já tinha um clipe da época de Michael Kiske.
Abaixo estão os vídeos dos dois clipes, o atual e o antigo. O antigo nota-se uma conversão para o formato digital de um vídeo de alguma fita VHS perdida, e só pela metade.
Se alguém tiver esse vídeo na íntegra, por favor me avisem.



domingo, 8 de maio de 2011

Show do Helloween & Stratovarius

Porto Alegre, 03 de maio de 2011.


Demorei mas voltei...
E lá fomos nós mais uma vez para o um show do Helloween e do Stratovarius. Ambas as bandas eu já havia assistido seus respectivos shows. Foi a segunda vez que pude apreciar estas ao vivo em Porto.
Quem me conhece sabe. Mas devo dizer que esses shows são mais importantes pra mim do que simplesmente pelo fato de curtir uma banda ou um estilo musical em especial. Acontece que minha adolescência e juventude foram totalmente embaladas pelas músicas desses caras.
Quando adolescente, ou mesmo quando jovem universitário, poder curtir essas bandas dessa forma, indo aos seus shows era bem mais complicado. Além de não ter grana, a vinda dessas bandas eram raridade. Somente agora, de uns 10 anos para cá é que a frequência de shows internacionais, e em especial de bandas heavy metal, estão saindo do eixo Rio-Sampa e caindo em Porto Alegre, Curitiba, e por aí vai. Até mesmo porque é um bom negócio para eles pois está na rota para a realização de shows em Montevideo e Buenos Aires.
Me lembra brevemente o primeiro show que fui do Helloween em 2008. Era uma turnê em conjunto com o Gamma Ray. Foi a primeira vez que me aventurei a assisti-los, em outras ocasiões fiquei sabendo tardiamente que iriam se apresentar em Poa. Não tinha contato com excursões nem com pessoas interessadas no show em Santa Maria, meus amigos ou não tinham disponibilidade como a minha ou não curtiam mais esse tipo de som. Por isso naquela vez fui só, de ônibus e de taxi. Ao entrar no Pepsi, chorei ao ver o enorme banner do Gamma Ray e do Helloween, e senti em estar sozinho para curtir o show. Já no show do Stratovarius em 2009 foi diferente, pois conheci uma piazada metaleira e com eles fui de excursão, e pude curtir o show com uma turma, Dessa vez também foi assim.
Galera da excursão
Nessa excursão já conhecia o Marlon, que tá sempre organizando excursões como essa, e algumas das pessoas que foram na anterior. A grande maioria jovens, bem mais jovens que eu, mas não mais empolgados para assistir àqueles dois shows juntos. Convidei o Marcus e depois fiquei sabendo queo Rafael também iria ao show. Nesse caso teriamos dois dinossauros do rock na excursão.

Rafael, Marcus e eu na frente do Pepsi. Os dinossauros do rock
Em 2008 na fila do show do Helloween conheci dois caras da mesma idade que eu. Me fizeram perceber que eu era mais normal do que imaginava. Percebi isso também nesse show. Aliás, nessa nossa idade (30 e poucos anos) ir a um show desses é muito mais prazeiroso. A gente curte muito mais, principalmente pelo fato de não precisar ficar cuidando de seu bolso e poder beber quantas cervejas quiser ou comer o que quiser. Nessa oportunidade, por exemplo, ficamos passando o tempo no aeroporto Salgado Filho, que fica ao lado do Pepsi, pois chegamos umas duas horas antes do show. A espera então foi também prazeirosa, embora o shopp tenha sido um pouco superfaturado. rssss

Nós no Salgado Filho
Então chegou o horário proximo do show e fomos para a fila no Pepsi.

"É nóis na fila"
O Pepsi On Stage é uma casa de shows. Desde quando o conheci em 2008 no show do Helloween tive a nítida sensação de que o a pista era mais limpa que o palco. Não imaginava a educação do público metaleiro ser tão bacana. Vi um cara terminar seu copão de cerveja e caminhar uns 4 metros até o lixo. Isso em um show é coisa rara, convenhamos... E dessa vez também não foi diferente. É, sem dúvida nenhuma, uma casa de show de primeiro mundo.

Eu, Marlon, Marcus e Rafael
O show do Stratovarius teve o mesmo nível que em 2009 quando os vi no Opinião. Muito bons, muito competentes, mas... sem Timo Tolkki na guitarra não é a mesma coisa, definitivamente. Uma pena eu não poder ter visto Tolkki no Stratovarius, pois com sua saída a banda perdeu qualidade musical. Isso é fato. Mas, tirando também o fato de Jörn Michael se perder um pouco no tempo da bateria, a execução de seus clássicos compensaram toda e qualquer expectativa frustrada quanto ao show. Foi sim um showzaço.
Abaixo um trecho que gravei do show dos caras, quando tocavam "Kis of Judas":


Logo depois veio o show do Helloween. Cara...
Definitivamente separou os homens das crianças. O Helloween simplesmente deu uma aula de heavy metal. Não tem como comparar a qualidade entre as bandas. Embora cada uma com um estilo e uma história característica, a superioridade musical e performática do Helloween é indiscutível. Tanto, que não me preocupei em gravar nada, apenas tirar umas fotos para registrar o acontecimento. Queria mesmo era assistir o show.
Também não dá para comparar o show do Helloween de 2008 com o de agora. O passado foi muito inferior, tanto que o show do Gamma Ray, que abriu para o Helloween, ofuscou a apresentação da banda. Mas dessa vez foi diferente, bem diferente...
Pra início de conversa o novo álbum da banda, "7 Sinners", é uma paulada de heavy metal e este show corresponde a sua turnê de divulgação. O medley tocado das músicas que compõem a trilogia "Keeper of the seven keys" foi impecável e atiçou nossos sentimentos saudosistas. A execução de "Forever and one" de forma ácústica também foi incrível. O final foi arrebatador com a execução perfeita de "I want all".


 Não dá pra dizer que o show do Helloween teve algum momento tediante. O setlist foi de judiar. E tudo isso ajudado por uma produção impecável. O som estava perfeito!
Mas o mais legal foi a demonstração de carinho com o público que a banda demonstrou. Durante a semana alguns fãs trocaram mensagens via web de que iriam ao show de jaleco ou avental, fazendo alusão à música "Dr. Stein". Comentamos isso durante a viagem e fomos todos unânimes de que era uma babaquice, uma idiotice. Durante a fila e no próprio show vimos inúmeras pessoas de avental e jaleco na platéia. Durante o bis da banda veio a música "Dr. Stein". Se só fosse tocada com perfeição já seria o suficiente, o que foi, mas a principal surpresa foi a "invasão" do público de jaleco ao palco, junto da banda para o final de sua apresentação.
Então, os "idiotas" subiram ao palco com a banda, e nós... eh eh eh


Não tenham dúvidas de que se o Helloween, e por que não o Stratovarius, voltarem a Porto Alegre, lá estarei. Ah, e tem Blind Guardian em setembro. Lá vamos nós.
Como disse, para mim show do Helloween é especial. Dessa vez foi mais especial ainda pois contei com a parceria do Marcus, amigo de mais de 15 anos e que também curte metal como eu. Proximo do final do show, nos olhamos e um breve abraço nos demos. Eu, e tenho certeza que ele também por alguns instantes, voltei ao tempo e reviví nossos churrascos regados a cerveja e Helloween.
Ao final do show não poderia deixar de ir embora sem passar na banquinha e comprar uma camiseta da turnê. Isso é passou a ser tradição.
Happy happy Helloween, Helloween...

Set-list:

Stratovarius:
01. Infernal Maze
02. Eagleheart
03. Phoenix
04. The Kiss of Judas
05. Winter Skies
06. Under Flaming Skies
07. Paradise
08. Darkest Hours
09. Speed of Light
10. Hunting High and Low
11. Black Diamond

Helloween:
01. Are You Metal?
02. Eagle Fly Free
03. Steel Tormentor
04. Where the Sinners Go
05. World of Fantasy
06. I’m Alive
07. You Stupid Mankind
08. Forever and Ove (Neverland)
09. A Handful of Pain
10. Keeper of the Seven Keys/The King for a 1000 Years/Halloween
11. I Want Out
12. Ride the Sky
13. Future World
14. Dr. Stein