Devo narrar um fato, ocorrido sábado passado. Nomes e lugares não são necessários.
Um homem jovem costumava frequentar um tranquilo restaurante quase que uma vez por semana a noite. O restaurante era tão calmo a noite que ele passava horas juntamente com sua esposa conversando com o proprietario que, as vezes, estava em companhia de seu filho, como naquela ocasião. Uma mesa aqui e outra acolá ocupada naquela noite atípica de um inverno não muito frio.
De repente todos ouvem um estrondo vindo da rua: foi um acidente. Aqueles ali presentes levantam-se para averiguar o que havia de fato ocorrido. O jovem então antecipa-se e, ao ver que se tratava de um acidente de transito grave, sai correndo em direção ao local quando verifica que havia uma vítima: era um motoqueiro que havia colidido com um carro e estava deitado ao chão desacordado.
O jovem é um dos primeiros a chegar proximo à vítima. Quer ajudar mas percebe naquele momento que seus conhecimentos de primeiros socorros estão um pouco enferrujados e esquecidos e detêm-se apenas a verificar a pulsação e a respiração da vítima, um homem negro e jovem, vestindo colete sinalizador, o que se deduz que era um motoboy. Imediatamente o rapaz é tomado por um sentimento de impotência e por isso pensa em tudo o que pode fazer e que esteja ao seu alcançe na prestação daquele socorro, por isso limita-se a se certificar de que a amergencia foi acionada e de perto da vítima não sai até que esta chegue, o que não demorou muito.
O jovem fica por perto até ter a certeza de que a vítima foi devidamente socorrida, tomando o cuidado de ter sua esposa ao alcance de seus olhos pois esta também o acompanhou.
Após a vítima ser devidamente atendida e encaminhada ao pronto-socorro o jovem e sua esposa retornam ao restaurante e continuam a saborear sua cerveja e a como sempre agradável conversa enquanto seu pedido é preparado na cozinha. O proprietário do restaurante então relata ao casal que seu filho ali presente o indagou do motivo pelo qual o jovem, ao ouvir o estrondo e perceber que haviam vítimas no acidente, projeta-se de imediato: " ele é médico pai?" E o proprietário responde ao seu filho: "Não, não. É que ele foi escoteiro". O rapaz ao ouvir o relato do proprietario do restaurante cai por alguns minutos calado em reflexão.
Toda aquela sua atitude não foi em momento algum premeditada ou ensaiada, a fim de impressionar alguém mas sim de origem natural de sua personalidade. Foi automático. O jovem não era policial, nem bombeiro, nem médico... apenas um escoteiro, e que sequer percebera o exemplo transmitido àquele pré-adolescente. O rapaz enche por um breve momento seus olhos de lágrimas, quase que de maneira imperceptível, e estufa seu peito com um orgulho enorme já por muitas vezes sentido. A certeza de ter atendido seu proximo, ter sido util, ter sido humano. O jovem homem ficou ali imaginando o que passaria então na cabeça daquele guri de 13 anos que perguntara ao seu pai se ele era médico. Em momento algum estava preocupado em ser reconhecido pelo que havia feito mas aquilo para ele foi uma grande surpresa.
Não, ele era apenas um escoteiro, e foi dessa forma que ele aprendeu a agir.
O rapaz era eu.
Sempre alerta para servir!