terça-feira, 28 de outubro de 2014

Passeio de bicicleta, histórias infantis, frustrações e ressentimentos

Minha infância sempre foi recheada de contos, historinhas, coisas que somente funcionam diante da inocência de uma criança. Seja na pré-escola das Irmãs de Schoenstatt, Girassol, ou na companhia de minha prima mais velha, sempre me via com alguém lendo alguma historinha. Desde Chapeuzinho Vermelho até o Gato de Botas, desde a Gata Borralheira até João Mata-Sete. Ouvia cada detalhe narrado e, como se isso não bastasse, tomava ao final os livros e mesmo ainda sem saber ler ficava saboreando as figuras. Ah sim, as figuras... não deixava nada passar, nem um detalhe das roupas, nem um detalhe dos castelos, das espadas,... ficava imaginando se aqueles mundos realmente existiam e, principalmente, como foram parar naquelas páginas.


Com o passar do tempo, aquelas imagens começaram a me intrigar cada vez mais. Por que aqueles lugares? Por que aquelas roupas? Afinal, de onde surgiram todas aquelas histórias? Até que um dia as histórias infantis deram espaço à história. Logo, não foi difícil perceber meu fascínio pela história, pelos acontecimentos, por entender porque vivemos hoje dessa forma ou fazemos algo de um jeito. Assim, ficou fácil deduzir que o mundo era sim muito maior do que o bairro em que vivia. 
Desde esse tempo me pegava sonhando acordado, em poder conhecer esses lugares mágicos que um dia fizeram parte do meu imaginário de um certo jeito. Sim, de um jeito, porque, na verdade, com o tempo passaram a fazer parte de meu imaginário de um novo jeito, totalmente diferente. Ao mesmo tempo em que tudo parecia estar muito distante (e de fato estava) o fascínio pelo lugares históricos e pelas histórias que lá se sucederam, passava a ficar cada vez mais forte. Aquilo de fato havia se consumado em um sonho, mesmo sabendo que, no fundo no fundo, um dia eu poderia e iria chegar lá, mesmo desconhecendo  a forma de como isso poderia ocorrer.
Pois o mundo dá voltas e a vida nos prega cada lição que não temos alternativa senão curvarmos a estas e admitir: estávamos errados e por conta disso aprendemos com essa lição. As coisas não caem do céu (talvez para alguns sim, de uma forma um tanto injusta), e quando caem, não é por acaso. 
Nesse momento posso dizer que tudo isso que estou vivendo pode ser descrito como um longo passeio de bicicleta, no qual é necessário de vez em quando parar e apreciar a paisagem, pois se isso não for feito, nós simplesmente passaremos por aquele caminho sem nada a aprender ou a contemplar. A cada parada, a necessidade de se olhar para trás e admirar tudo aquilo que já passamos e talvez fazer um pequeno esforço para relembrar o que havia antes da última curva, pois pode ter sido a única oportunidade em fazer aquele caminho.
A poucos dias me vi parado na estrada com minha bicicleta ao lado, contemplando onde estava sem acreditar direito o quanto eu havia pedalado. 
Sim, havia pedalado muito, com minhas próprias pernas, enquanto que outros estiveram até lá de carro ou simplesmente tiveram a iniciativa de comprar a bicicleta antes de mim e por isso aquele caminho puderam trilhar.


Pois eu consegui. E nas andanças de bicicleta pude imaginar na cabeceira daquela ponte os gigantes que João Mata-Sete enfrentou, assim como, no meio daquela floresta, João e Maria fugindo da casa de biscoitos da bruxa. 
Sinceramente, é tudo meio surreal (mais que esse texto?!), pois pensava que boa parte de nosso imaginário ficaria sepultado em nossa infância convertendo-se em apenas uma boa, divertida e saudável lembrança. E, de repente, aquele imaginário ressurge, mas como uma realidade palpável e sólida. Do nada, ele simplesmente apareceu.
Como disse, não tinha mais o desejo de viver tudo aquilo. Não era mais necessário, a infância passou e a juventude também. 
Ah sim, a juventude: momento em que muitos planos foram construídos e os sonhos idealizados, esses mesmo que tomaram o lugar daquelas histórias mágicas, talvez por serem estas as grandes responsáveis pelos novos devaneios. Sem dúvidas uma juventude cheia de empolgações, desejos e sonhos num mundo cada vez mais globalizado, onde as informações vem e vão em questão de segundos, fazendo com que a gente se sinta preso e com a vontade  que se torna anseio de ser parte de algo maior, mais além dos limites e do horizonte que conhecemos. Bons anos aqueles 90! Muito planos imaginados, todos viáveis, aos olhos de um inocente num ambiente nocivo. 
Na esperança de algum daqueles sonhos infanto-juvenis se realizarem, a tentativa em se embretar sozinho num mato espinhento, apenas com a vaga ilusão deixada por alguns que ali estavam por seus próprios motivos. Meus sonhos nunca seriam prioridade para ninguém, deveria eu ter percebido disso, senão unica e exclusivamente par mim mesmo.
Os sonhos começam a dar lugar a frustrações, quando nada do que se almejava acontecia. O sentimento em ter se transformado num verdadeiro idiota, paspalho e trouxa usado por muitos, tomou conta de minha consciência e a realidade volta a bater a porta. Pobre rapaz inocente, que transita entre a inocência dos contos dos Irmãos Grimm e de Hans Christian Andersen às inocentes euforias de supostas aventuras reais de seu tempo, dispostas para vislumbre e contemplação como brinquedos caros numa vitrine: só para poucos,e desde que o papai queira dar.
Tudo parecia, portanto, acabado. A infância e a juventude estavam enterradas, e com elas tudo o que se sonhara. Então fiz minha opção. preferi seguir adiante e tornar-me um profissional e marido, portanto um homem adulto, devotado em um novo projeto para o resto de minha vida. Um tampão eu havia colocado naqueles sonhos. A frustração e o ressentimento haviam tomado conta de parte de minhas lembranças. 
Por todo esse tempo me perguntava onde havia errado. As respostas eram obvias: em muitos momentos! Muitos... parecia que meus erros eram muito maiores e mais fortes que meu acertos, maiores que aqueles cometidos pelas pessoas para comigo. Não me restava muito senão abaixar a cabeça e seguir adiante. O que passou passou e não voltaria mais. As chances, se é que houve alguma realmente, para aquilo que eu um dia sonhei se realizar, passaram e não mais voltariam. Assim passei a pensar...
Não sabia eu que aquelas duras lições da vida, dos meus erros e das observações sobre aqueles que se aproveitaram (sim, os oportunistas) de minha inocência e entusiasmo juvenil poderiam, não apenas me deixar mais forte, mas de uma natureza impressionante, regalar-me com coisas que imaginava já estarem mortas para mim.
Sim, baixar a cabeça e trabalhar sem olhar para os lados ou mesmo para o relógio teve o seu valor. Valorizar o pouco, porém sem contentar-se com aquilo, também teve o seu valor. Foi somente descendo da bicicleta, depois da última curva, que pude perceber o quanto havia andado. E percebi que já havia passado por caminhos que já havia desistido de conhecer. Pois por lá eu andei.
Agora me vejo diante de uma situação que nunca imaginaria estar. A estranha e agradável sensação de boa parte daquelas antigas frustrações e ressentimentos estarem sumindo pelo ralo, além do sentimento de que tudo isso era para mim e estava guardado, esperando apenas o momento certo para que se realizasse, talvez aguardando que a maturidade batesse em minha porta para então fazer valer a pena. E assim está acontecendo, desde a partida de meu pai.
Estaria ele lendo as histórias para mim? Quem sabe... Eu me lembro que muitas vezes ele fez isso, não é de admirar que ainda esteja fazendo, pois sei que el já tem mais alguém para ajudar nessa tarefa.
Quando resolvi escrever esse post, imaginei em um primeiro momento escrever um desabafo, talvez até xingando alguém e mandando outros longe por terem me dado as costas, vibrando pelas minhas conquistas cujo mérito é exclusivamente meu. E de fato, é meu! Mas não consigo. Está na hora de colocar uma pá de cal nas frustrações e ressentimentos, mesmo que eles não estejam totalmente superados. Sua grande maioria sim. 
Ainda tenho frustrações, mas devo dizer que já sei, ou ao menos tenho uma ideia, de como tratá-las. Afinal, as lições que me foram impostas foram aprendidas, muitas delas da pior forma possível, mas o suficiente para aprender, mesmo que tenham me levado a lona. E de fato levaram. Não sei quanto ao amanhã: pode ser que eu caia da bicicleta e muito do caminho eu deva trilha-lo novamente, ou que a bicicleta simplesmente quebre. O fato é que, não preciso mais engolir sapo nem dar um sorrisinho amarelo para agradar alguém ou para tentar algo, mesmo que ainda goste da história de João Mata-Sete. Nunca foi minha índole, e nunca será.
Eu sei, o texto pode ser confuso por demais. E essa é a intenção, tal qual está minha cabeça nesse momento. E se alguém se identificou em minhas palavras e no contexto de minha história, convido a uma profunda reflexão do motivo de ali estar. 
Abraço a todos


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Santa Maria: cidade abandonada.. por quem?

Bem amigos... voltamos!
Após mais de seis meses novamente me aventuro a escrever no meu quase esquecido blog. Justifico por mais afazeres relativos ao mítico e fatídico mestrado, este que drenou todos os meus esforços intelectuais.
Mas voltamos, com a mesma conversa franca e os mesmos erros de ortografia, porque volto a dizer, não tenho o mínimo saco para ficar corrigindo texto. E o blog é meu e escrevo como quiser.
É interessante como escolho os assuntos para escrever aqui. Todos os dias várias idéias vêem a minha cabeça. Como a maioria delas é dinâmica, me limito a postar algo no facebook pensando em escrever algo mais profundo no blog, o que acaba por não ocorrer. Mas, como antes, resolvo a escrever no blog quando os assuntos simplesmente tornam-se insuportáveis na cachola causando uma sensação de sufoco tremendo. Então, aí sim sei que é hora de escrever. Pois bem...
Muito coisa interessante passa pelo fb, uma delas me chamou a atenção: é um link de um blog chamado "jornalismo B" e havia um post com o título "Ao abandono, Santa Maria".


 O texto é muito bem escrito e extremamente pertinente, baixando um pau na administração municipal e flertando outros problemas que não são diretamente relacionados a ela. Li, reli o texto e agora vou tentar expressar a minha versão sobre aquele contexto. Antes de mais nada, devo deixar claro: não faço contraponto à opinião ao autor, é apenas a minha opinião.



Vamolá...
Eu também escolhi Santa Maria. Desde que nasci. Me pego inúmeras vezes refletindo sobre isso e também me julgando se estou aqui porque gosto daqui ou porque nunca tive coragem para sair daqui, tendo em vista minhas raízes, minha família, amigos... sendo que muitos destes tiveram esta coragem e se deram bem. Outros nem tanto. Falo isso porque não posso ser hipócrita ao me declarar um apaixonado por Santa Maria. Morei um ano em Concórdia SC, um cu de mundo cuja experiencia em viver lá me traumatizou, mesmo valorizando o esforço de quem me acolheu lá: Marcos e Anne, a vocês devo muito!). Acho que qualquer lugar seria melhor que lá, talvez por eu ser novo na época e nunca ter me preparado para sair de casa. Por isso SM seria logico um belo porto seguro, até porque voltara ao colo de meus pais. Mas isso é outra história...
Ao longo dos últimos anos eu vi a minha cidade mudar drasticamente. Reflexo do que? Começamos por aí.
Ví minha cidade inflar de uma maneira única. Não to dizendo que simplesmente cresceu. Na verdade foi isso, mas de uma maneira tão disforme que chega a nos assustar.
Trabalhando a 8 anos na mesma empresa, fazendo o mesmo trajeto por todo esse tempo, do Bairro Dores até o Km 8 da BR 392 sou testemunho de mudanças que me deixaram perplexos. A sensação é de que uma hora para outra o número de carros, casas, pessoas,... dobrou! Sim. Gradativamente fui percebendo o tempo se alongando minuto a minuto par sair ou voltar para casa. A tranqueira é enorme. Sinceramente não me atrevo a chutar o número de loteamentos residenciais que surgiram na cidade, principalmente pelas bandas de lá. Regiões rurais simplesmente sumiram dando espaço a uma urbanização galopante.
A cidade cresceu!
Me limitando, portanto, a andar por regiões relativamente urbanizadas não me atrevo a supor como as regiões ditas "socialmente excluídas" como a Nova Santa Marta devam ter "progredido". Apenas tenho uma ideia da onda ainda não cessada de homicídios naquela região. Olha só, sempre tive orgulho em dizer que Santa Maria tinha cara de cidade grande mas ares de cidade pequena, que entre as grandes do RS era relativamente calma, sem muita violência. Tendo em vista o histórico de grandes centros no país, era nítido que um problemão desses iria começar a ocorrer, cedo ou tarde. E aqui estamos.
Voltando ao texto. O mesmo fala da falta de comando na administração municipal, do desleixo sobre o caso Kiss, da dificuldade em comunicação com os canais administrativos municipais até a cagada da perda de recursos de saúde por falta de projetos.
Bom, sem querer tomar partido por ninguém (e não vou tomar mesmo!) acho necessário dizer uma coisas, por isso vou tomar meu raciocínio em dois momentos:
Primeiro...
Santa Maria já tem 300.000 habitantes, senão estiver próximo disso. E para fins de comparação tem um orçamento inferior ao da UFSM. A UFSM tem professores doutores com uma remuneração boa (?), ao menos melhor que os professores da rede municipal; investe em projetos de pesquisa e extensão. Mas não se preocupa com iluminação pública, pavimentação, praças, etc, etc, e etc... Se conhecermos um pouco sobre a estrutura pública do país podemos dizer que mais de 80% do que é arrecadado fica com a união e a baba com o estado e  municípios. Na maioria dos casos a união repassa recursos aos municípios através de programas mediante projetos que os próprios municípios mandam (tá tá, já falo da grana pra saúde perdida..). Portanto, dá pra esperar algum investimento do governo do RS quebrado há mais de 20 anos? A pau e corda duplicando a RS 509 depois de décadas, mas tudo bem. O fato é que SM é um município já com demandas de município grande mas com orçamento insuficiente. Basta tomar o depoimento de ex-secretários das últimas administrações, independente de partidos.
Ma aí vem a a pauleira.
Dá pra ver muitas coisas com bons olhos: a recuperação da Rio Branco, o shopping popular, revitalização e iluminação de praças como a dos Bombeiros, criação da guarda municipal, câmera de vigilancia pela cidade, revitalização da Vila Belga... e por aí vai. Logo muitos entusiastas podem dizer: "coisas que os outros não fizeram antes, e por que"... Muitas coisas foram meritosas é verdade, mas outras foram reflexos de projetos encaminhados à ministérios a muito tempo e simplesmente deram continuidade. Mesmo assim, tudo o que listei, e mais um pouco, ainda é passível de contestação, desde formas de licitação até quanto aos projetos em si. Não vou entrar no mérito de cada questão. Ok prefeito, já enchi um pouco a tua bolinha!
Na verdade devo admitir que até a um tempo atrás eu via as coisas sob um outro angulo. Independente de quem estava sentando na cadeira, minha avaliação quanto a administração publica, em especial a municipal era política. Também pudera: como sabem meu pai foi um agente político ativo no município e aprendi algumas formas de avaliar uma situação sob o aspecto político. Sempre que me encontrava com um dos vários amigos que ainda estão no meio político e perguntava sobre questões administrativas municipais ouvia respostas políticas e nada técnicas. "Há, trabalhar com o partido A é uma merda, .. ah, o partido B é complicado, ... ah, o partido C tem o cara que é assim e o outro é assado...". Reflexos de todo o sistema político nacional, é verdade. É verdade, portanto, que ninguém se elege com um planejamento consistente de quem vai assumir qual pasta (isso é fato, eu vi isso várias vezes!). Me lembro das aulas de introdução a administração de faculdade: "staff". E falta isso. É nítido cargos na administração municipal ocupados por gente incapaz tecnicamente, mas devidamente acomodados por questão política em nome das coligações principalmente. Meu pai dizia que administração municipal tinha algumas premissas: Iluminação publica, asfalto, limpeza urbana. Isso há mais de 25 anos atrás... Santa Maria precisa de muito mais que isso e olha que até mesmo estas estão precárias. Existem acertos? Claro que existem , mas estes vêm numa velocidade aquém das demandas da cidade. Como já falei, o ritmo de SM é galopante, e a administração pública municipal não dá conta. E não dá conta já há muito tempo, e não vai dar. Podem mudar quantas vezes de prefeito que não vai dar conta.
Santa Maria teve uma prefeitura mais atuante sim e mais ágil: foi no tempo do Evandro Behr. Sim, mas deve-se admitir que a cidade era outra, com outras demandas e a prefa tava com grana ainda do Projeto Cura. Ok! Soube utilizar. Todo o mérito possível. Mas hoje, aquele modelo ainda seria adequado? Bem, a verdade é que "ainda é" aquele modelo, mas não cabe mais nos dias de hoje.
Hoje não mais analiso com olhos voltados para a questão política, mas sim apenas como um mero habitante da cidade. Explicações como aquelas não se sustentam mais. Me enojei em inúmeras reuniões políticas quando via alguns arigós que estavam no partido matando cachorro a grito cobrando dos dirigentes partidários um "carguinho" por terem trabalhado nas eleições. E é essa gente que inevitavelmente tem que ser acomodada de alguma forma ou de outra porque senão vem represália de tudo quanto é lado, mesmo na recusa inicial do prefeito, quando este tentou cortar a nomeação de CCs. É o modelo político vigente, uma versão miniatura das administrações estaduais e federais.
 E olha que vai piorar, pois ainda não temos segundo turno. Quando houver, a putaria por cargos e negociação por secretarias vai ser maior. Independente de partido que venha a ganhar.
Aí vem a bomba da Kiss.
Digo bomba porque estava prestes a explodir a qualquer momento, há muito tempo. Foi no colo do Schirmer. Vítima??? De acordo com as minhas "fontes" políticas, até mesmo armação do PT teve, em represália por ele ter sido o relator do processo do mensaleiro João Paulo Cunha, mas, como já disse, são explicações políticas que não se sustentam mais, e ninguém quer mais saber,  "nem mesmo eu", um cara que um dia admitia que estas poderiam ser parte de explicações para estas situações. Pode ter sido vítima sim, talvez do proprio modelo administrativo que se perpetua há muito mais de 20 anos e do qual sua administração está inserida. Mas a Kiss abriu em 2009 já na sua gestão. É verdade, mas, por exemplo, me lembro quando era universitário e frequentava o Chá Bar ali na Bozano. Comecei a pensar, após a tragédia da Kiss: "se aquela merda pegasse fogo a gente tava fodido". Uma bomba relógio portanto, não uma única boate, mas todo um modelo.


E explodiu. Explodiu numa cidade despreparada onde a administração municipal não estava preparada para o tamanho dela, e não me refiro a gestão da crise instaurada, mas novamente ao modelo político. Uma andorinha não faz verão. Até parece que estou defendendo o prefeito. Não: apenas quero dizer que o embrólio é muito maior e que o prefeito é apenas uma parte de tudo isso. Me lembro da Yeda Crusius, uma mulher com uma boa visão administrativa, excelente conhecimento técnico, mas inábil políticamente pertencente a um partidinho de merda aqui no RS que não tinha lastro político nenhum, tendo que recorrer a sua coligação e que acabou não se sustentando. Não conseguiu fazer reformas profundas pois esse tipo de remédio é amargo e ela ainda tinha que agradar a muito mamador.
O que dizer, diante de tudo isso, da burrada da prefeitura em deixar escorrer aquela grana da saúde? Simples: faltou staff, faltou assessoria. Assessores, secretários, são para isso. Posso estar falando uma grande merda aqui por não ter lido muito a respeito, mas a visão que tenho é justamente essa. Um prefeito não tem como ser especialista em obras, saúde, educação, habitação, mobilidade urbana... ele tem que saber se assessorar das pessoas capazes a auxilia-lo a conduzir tudo isso. "Desde que" o modelo político permita isso, e ele não tenha que ficar pendurando arigó em sua administração. Inevitável, no entanto, imputar responsabilidade ao prefeito. E convenhamos: não basta querer ser prefeito, tem que estar consciente do tamanho da geba. Ele estava? Olha, acho que ninguém estaria em se tratando de SM.
Então é isso, o modelo político municipal é uma bosta, igualzinho ao do resto do país e por conta disso Santa Maria está estagnada. Será?????
"Pobre prefeito"
A bem da verdade é que nem tudo é culpa dele. Aí vem outra merda que fede quando se mexe.
"Santa Maria cidade cultura". Cidade cultura um cacete! Até a pouco mais de 5 anos tinhamos apenas duas boas livrarias (a da Mente e a CESMA, a Globo não conta). Pensem nisso. Cidade cultura por causa de UFSM? Por causa da UNIFRA?, Por causa da Ulbra? Existe alguma inciativa cultural entre estas instituições e o poder publico municipal? Ah, me digam qual por favor...Talvez em Vale Veneto com o Festival de Música... ops, Vale Veneto fica em São joão do Polesine, xiiiii... E A Associação Italian de Santa Maria (AISM)... ah não, esse é outro papo, deixa pra lá...
Somos um celeiro de "talentos" que se vão depois dos 25 anos quando se formam. E por que não ficam? Por que Santa Maria não se desenvolve economicamente?
Desde guri vejo esse debate, passam administrações e administrações. Ora, se a questão fosse apenas política SM teria se desenvolvido como um polo econômico invejável durante a gestão do Valdeca, com o Lula na presidencia e o Pimenta em Brasília, mas... deixa pra lá também. Ou mesmo o estado teria sido ajudado com a relação íntima entre a presidenta e o Tarso.
Não rolou!
E mais...
Deixem eu contar uma historinha tragicômica:
Em 2002 o galo aqui perdeu o emprego em SC e voltou com o rabo entre as pernas. Meu pai ainda vivo tentou por tudo quanto foi lado arrumar um emprego pra mim. Ele faleceu e eu continuei tentando através das vias políticas... Minha então noiva, hoje minha esposa, se mudou para SM e fomos também atrás de emprego pra ela tentando uma ajuda pelo mesmo caminho. Acionamos figurões políticos, médicos, empresários amigos dos políticos. A princípio não seria complicado um emprego devido ao reconhecimento que aquela gente tinha pelo pai e por minha participação no meio político. É verdade, teve políticos amigos meus que se esforçaram mesmo para me ajudar (e que os prezo e agradeço até hoje), se dispuseram a ir comigo junto a figurões, deram a cara a tapa..
Dei com os murros n'água.
Será que eu não prestava mesmo? Nem eu nem minha noiva? Sinceramente, não entendo até hoje o que seria preciso fazer para conseguir ajuda deles. Mas não precisei, e agradeço a Deus por isso, mas vejamos...
O tempo passou...
E com os meios mais convencionais possíveis (entrega de currículo), minha então noiva conseguiu um emprego e naquela empresa também consegui ser empregado através de indicação dela, com um salário inicial de... R$ 1.000,00. Era aquilo ou nada.
Então mergulhei de cabeça. Precisava daquilo. Eu com milão e minha noiva com quinhentão.
O tempo passou...
Não tinha hora para sair da empresa. Sentia a todo o instante uma insegurança. Era muita coisa a achava que não iria durar, que não iria dar conta.
O tempo passou...
Aos poucos fui perdendo o interesse pela participação política. Era desgastante, não aguentava mais ouvir choradeira sobre a Anita Costa Beber, via que aquilo tudo não adiantava de nada. Então me afastei, até porque minhas atribuições e consequente reconhecimento foram aumentando na empresa onde estava trabalhando. "Dane-se a política, gosto mas não paga as minhas contas, e não que esperasse por isso, mas quando precisei não tive ajuda". Pensei comigo.
O tempo passou...
Estou na empresa há 8 anos, coordenador da área de TI.
Um belo dia, encontro no centro um dirigente da "grande" CACISM. Quando ele me disse:
"Então tu tá lá naquela empresa... que bom. Viu,... tem uma menina que tá fazendo comercio exterior, tu não me consegue uma vaga pra ela num estágio lá?"
P-u-t-a-q-u-e-p-a-r-i-u!
Naquele momento não senti raiva ou coisa parecida (também não tinha motivos pra isso na verdade). Mas não contive a risadinha sarcástica. Tirando o fato de não ter conseguido ajuda por aquela dentre inúmeras outras pessoas as quais procurei (tipo "quem te viu quem te vê", mas isso é papo para outro post...), me veio imediatamente um pensamento:
"Então, um dos dirigentes da grande CACISM vem até mim pedir um estagiozinho para alguém. Se esta instituição é tão importante como se anuncia, por que ele próprio não vai até os dirigentes da empresa onde trabalho e solicita?"
Rica ironia.
Essa é agrande maioria dos empresários de SM. Estagnados, isolados... Muitos não querem ou não sabem empreender. Diferencial entre os gringos da serra e os da Quarta Colonia, que resolveram se tornar professores universitários enquanto que os da Serra foram pro pau. E onde foi que se gerou mais riqueza?
Estas não são palavras minhas. Tem estudioso no assunto que afirma isso, eu inclusive ouvi isso numa tarde em uma entrevista na Gaucha SM: "o histórico de SM é que não houveram empreendedores, preferindo todos irem para o serviço público, ao contrário da região serrana". Talvez seja parte da explicação do motivo pela quarta Colônia não ter se desenvolvido como Caxias e Bento, ainda que exista a proximidade com a metropole, e blá blá blá.
E de empreendedorismo eu posso falar um pouco, pois assisto iniciativas todos os dias. Posso estar até dando a impressão de valorizar meu emprego, mas nesse momento um dos diretores da empresa onde trabalho está na Europa, viajando entre Espanha, Inglaterra, Alemanha e Polonia pra ver como que o maquinário "já comprado" pela empresa irá funcionar oriundo de um investimento de ... milhões (não estou autorizado a dizer). Viajem com recursos próprios, sem comitivinha oficial nem nada, sem noticiazinha em rádio ou jornal. Isso é empreendedorismo! Advindo de pessoas que baixam a cabeça e trabalham, sem fazer questão de aparecer na coluna social  ou em partidos políticos, como muitos aqui em SM.
Santa Maria tem muito papo e pouca ação. E não é de hoje. Mas a cidade cresceu e suas demandas são maiores do que os avanços. Um termometro simples para uma cidade do tamanho de Santa Maria: como é o seu aeroporto? Bah, sofri com isso no ano que se passou.
And so...
Baixar o pau no prefeito é o suficiente? Claro que não!
Tá defendendo o prefeito é? Claro que não!
Mas, por exemplo, que culpa ele tem com relação a onda de assassinatos???? Ah, então ele não precisa ser agente ativo no combate a essas situação? Não, nada disso... Mas de quem é a responsabilidade pela segurança pública? Ou de forma mais aprofundada, por que a onda de assassinatos? Indicios apontam para questões de tráfico de drogas e ordens de dentro do presídio regional.
Opa! Parece manchete do Rio e SP, ... mas é aqui! A cidade cresceu, e com ela os seus problemas também. É mais uma foto de como está a situação em todo o país, só que agora é aqui em SM também.
Esse texto não deixou de ser um desabafo, como todos os que já postei.
Eu sinceramente não estou preocupado na opinião alheia quanto a o texto, até mesmo porque não sou letrado nas ciências que envolvem todo o contexto. O texto na verdade é apenas um relato de alguém que vê sua cidade sob a sua propria perspectiva, que conhece um pouco os meandros da política municipal e admite viver numa cidade com um dinamismo ainda sem muita discussão e explicação.
Desculpas a quem não gostou do que escrevi, mas certamente serão pessoas que não pagam as minhas contas. Já eu como contribuinte pago a de muitas.
Humilde opinião de quem vos escreve.