O incrível é que este personagem teima em se reinventar nas mãos dos mais diversos escritores e roteiristas hollywoodianos. Recentemente (isto é, em 2010) tivemos as produções de dois longas estrelando Robert Downey Jr. na pele do detetive e Judy Law como seu fiel amigo Watson, onde tivemos um Sherlock americanizado e um tanto "cowboy" metido a besta. Escrevi este post a respeito, eis o link.
No entanto, esta não é a única iniciativa de se tentar manter viva a magia dos contos de Conan Doyle atribuindo ao seu personagem novas aventuras. Em 1985 Steven Spielberg produz o longa O Enigma da Pirâmide (The Young Sherlock) tentando com esta obra cinematográfica explicar o surgimento de alguns elementos do universo Sherloqueano, como quando conheceu Watson, a origem de seu boné, de seu bordão "elementar meu caro Watson" e até mesmo o aparecimento de seu arqui-inimigo Prof. Moriarty. Também escrevi um post em 2011 sobre este filme, eis o link. Caleb Carr, escritor famoso por obras como O Alienista e A Assutadora História do Terrorismo, também se aventura em um universo policial victoriano a fim de atribuir outra empreitada investigativa ao nosso grande detetive sobre o título O Secretário Italiano. Tanto Carr quanto Spielberg procuram, no entanto, manter imaculada as origens e os elementos básicos que traçaram o perfil elegante, inteligente e astucioso de Sherlock Holmes, buscando respeitar todo o legado de Sir Arthur.
Não é diferente o filme Visões de Sherlock Holmes (The Seven-Per-Cent Solution) onde mais uma vez nosso herói é reinventado com maestria merecendo um post só pra isso. O filme foi adaptado para o cinema em 1976 sob a direção de Herbert Ross, tendo base o livro homônimo de Nicholas Meyer e foi uma produção da Universal Studios.
Antes de mais nada, seu roteiro é simplesmente inteligentíssimo, também não poderia ser diferente se a intenção é manter intocados os elementos que formam o mito do personagem da Baker Street. O filme, assim como outras obras, trata, no entanto, de elementos obscuros da personalidade de Sherlock Holmes que não são devidamente esclarecidos por Conan Doyle ao longo de suas obras, permitindo que a imaginação de novos escritores e roteiristas explore com relativo conforte e segurança nosso querido personagem e seu universo. Especialmente nesta obra cinematográfica, Watson (como habitualmente nas demais obras) trata de ser o biógrafo de Sherlock Holmes em uma dificílima empreitada pessoal: se livrar do vício da cocaína, aspecto comumente mencionado ao longo dos romances sherloqueanos. Para tanto, Sherlock Holmes é levado a Viena por Watson para tentar se curar através de um tratamento guiado pela mente igualmente brilhante de Sigmund Freud. Enquanto o psicanalista ajuda Holmes com seus fantasmas do passado, o detetive tenta desvendar um crime envolvendo uma ex-paciente.
Freud, Holmes e Watson |
Entretanto, o detalhe que mais chama a atenção no filme é justamente a abordagem aos aspectos obscuros de Sherlock Holmes. No filme, o início do seu vício em cocaína é revelado, bem como sua dificuldade no relacionamento com mulheres e sua obsessão em caçar o Prof. Moriarty que, no filme, é tratado não como o arqui-inimigo de Holmes mas como um ex-professor seu que é perseguido injustamente devido a um trauma vivido por ele na infância. Aspectos cuidadosamente trabalhados para que não se comprometesse qualquer legado literário.
Humilde opinião de quem vos escreve...