segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

...e os ressentimentos ficam por aqui!



Quando se tem muita coisa pra dizer, fica difícil de começar a escrever. Afinal, não se sabe direito por onde começar. Quem já não passou por isso?
Pois é...
Desde 2014 eu não escrevia um post nesse blog. Escrever no blog, para mim, depende muito do meu estado de espírito. 2015 sem dúvidas não deu espaço para que meu espírito pudesse estar em algum estado, senão o letárgico.
E por que?
Talvez porque eu tenha cometido nesses últimos anos um dos maiores erros de minha vida. Ou não, vai saber.
Explico: Desde 2013 me afundei no trabalho. Me afundei com tamanha paixão e empolgação que simplesmente fiquei cego para muita coisa. Nem mesmo o término do meu mestrado havia me deixado tão satisfeito e com a mente tão entorpecida do que aquilo que estava por vir na empresa que trabalhava. Sim, era um mega projeto comercial e tecnológico do qual pude participar desde o início. Pude curtir (sim, essa e a melhor definição do que sentia: "curtir") cada passo daquilo tudo: viagens, feiras, reuniões, viagens, reuniões, pesquisa, reuniões, e-mails, reuniões bilíngues, e-mails, pesquisa, orçamentos, negociações, reuniões, viagens,.. Era o projeto de uma nova fábrica, uma fábrica com tecnologia de ponta, única no Brasil. A empresa em que trabalhava estava numa empreitada sem igual, a ponto de deixar todos tensos, com os nervos a flor da pele, porque tudo era novo, tudo era desconhecido. Um trabalho pioneiro no Brasil pela proposta inovadora e singular. Mesmo que as condições da economia dissessem o contrário, a visão empreendedora dos caras sempre foi de tirar o chapéu, mas dessa vez eles foram além. Estariam dando o passo maior que a perna? Na verdade o sentimento era outro: será que estávamos? Sim, porque eu particularmente me senti parte daquilo e eles fizeram com que todos nos fizéssemos nos sentir assim. Talvez por conta disso estava se iniciando uma das maiores decepções profissionais que alguém poderia ter. Talvez!


Foram os anos mais intensos de trabalho que poderia existir. O cansaço estava já batendo a porta. Além dos prazos estarem se esgotando e destes terem se protelado ao longo do tempo, as indefinições técnicas e comerciais me deixarvam aflito e mais nervoso do que o normal pois quem é da TI sabe que tudo passa por nós e sem um mínimo de definição nada poderia ser feito. E assim foi até os 45 minutos do segundo tempo. Um martírio, uma insanidade e a decepção se desenhando.
Não dá pra esquecer que eu era responsável pela TI de lá e esse era apenas mais um projeto, mais um trabalho, mais uma empreita porque havia já uma fábrica inteira pra ser tocada e mantida, as exigências, os controles, as demandas não paravam. Nunca iriam parar, e aquele abacaxi nas mãos sem nenhuma definição. Na verdade apenas uma: a compra de todo um maquinário para uma produção em massa, contínua, para pouquíssimas paradas de setup nas máquinas, indo ao contrário do histórico e diferencial sistema de produção daquela industria. 
Então quando chega a hora H, tudo o que imaginamos de controles e processos cai por água abaixo. Um mix de produtos absurdo e insano e apresentado para produzir, a mentalidade não evoluiu e a ideia que foi vendida a eles não entrou na cachola. Virou tudo!
OK, vamos lá! Mãos à obra. Troca-se pneus com o carro andando. Mas foi, funcionou, abaixo de cobranças e uma pressão descomunal para aquilo funcionar. Esta então foi a primeira decepção.
Nesses últimos anos muitas expectativas foram criadas em minha cabeça: eu com o canudo de mestrado em sistemas e processos industriais não mão envolto num projeto fantástico de uma fábrica nova, mexendo e definindo processos e seus controles, o que, Deus, um profissional poderia querer mais? Respondo: reconhecimento.
Por inúmeras vezes me pegava sonhando acordado, imaginava ver um comercial bacana daquele empreendimento em um horário nobre da TV onde os envolvidos estavam sendo entrevistados e contado as experiencias adquiridas na concepção da fábrica e tal... Que nada! 
Por causa desse FreakShow instalado passei a me isolar. Fiquei mais ranzinza, mais isolado, mais concentrado naquelas coisas que já estavam produzindo um desgaste e cansaço fora do comum. Minhas palavras já não eram tão medidas e tenho a certeza que muitos dos meus colegas já tinham a visão da minha pessoa como de um bom profissional, mas de difícil trato. Também pudera, eu passei a relutar toda e qualquer demanda que eu julgava bobagem ou retrabalho. Tudo isso por causa daquele ambiente pesado que eu me envolvi, pois como disse, embora estava envolvido em uma fábrica novinha, havia já uma empresa inteira para ser tocada.


Fecho os olhos e agora lembro de tudo o que passamos: de cada centímetro de cabo passado, de cada polegada de tubulação mensurada, de cada caractere digitado nos códigos fontes, de cada orçamento de material e equipamentos. 
Coisa incrível, se quem estiver lendo isso tem alguma noção de automação deve ficar de cabelo em pé enquanto que outros que não possuem alguma noção talvez não entenderão bulhufas. Mas mesmo assim pergunto: automatizar o que e com que parâmetros se tu não sabe sequer o que vai produzir? Sim, mais uma vez aquela empresa estava construindo uma casa começando pelo teto. O "trocar pneus com o carro andando" de que falei era isso: uma ballet de retrabalho e esforços desnecessários. Dinheiro era que nem água para essas coisas, isso porque nesses casos ele e difícil de se mensurar, a não ser que comece a dar problemas e isso era impossível não acontecer.
Esse projeto, apesar de tudo, me levou onde eu não imaginava que pudesse ir. Não como profissional. Fui cair na Inglaterra e na Alemanha para ver de perto os brinquedos comprados para fazer esse frankenstein funcionar. Lembro das batidas de pés que dei para que um minimo de requisitos pudesse ser respeitado porque eu sabia que tipo de controles os caras queriam e o que queriam empurrar pra eles não ia funcionar. Até isso tirava meu sono porque eu só ficava pensando: "como vou integrar isso?" Sim, porque para eles, o meu trabalho, intangível aos seus olhos, era algo fácil e rápido, porque as soluções saiam sempre como eles queriam. O que eles não sabiam era que denotava esforço, dedicação e principalmente tempo. Acho que foi aí que errei, pois sempre tudo o que foi mandado foi feito, foi possível, mas graças a nossa competência, ou melhor, a minha competência, modesta a parte. E na filosofia administrativa deles..."se ele conseguiu fazer 10, aperta mais um pouco que dá 11". Essa era a maravilhosa política de valorização profissional que tínhamos. Mas lá nas Europa eu fui parar, embora tenha curtido cada minuto, sabia do meu papel ali, da minha responsabilidade e sabia que eu tinha que dar uma resposta frente aquele investimento. Voltei de lá extasiado mas com a cabeça mais preocupada.
Apesar disso tudo, vencemos o desafio. Ao menos nas nossas consciências, nos enchemos de orgulho. Orgulho esse que só é carregado por nós mesmos que botamos a mão na massa, por que de resto... 
O projeto aconteceu. E os dias foram passando... Dá pra imaginar então que esta é a próxima decepção. E algumas outras viriam.
Ora, todo e qualquer esforço é para que as coisas funcionem, aconteçam. Ainda mais quando as coisas são autorizadas devidamente, mesmo que de forma verbal, afinal, temos que confiar naquele que é nosso chefe acreditando que este tenha algum zelo por sua equipe. Isso não aconteceu. E dói muito quando tu é repreendido por ter feito algo que além de ter sido autorizado, se não tivesse sido feito a coisa não iria funcionar.


Pois é, esse era o inferno que me consumia dia a dia. Mas eu me mantinha firme, forte. Além da necessidade de trabalhar, a paixão pelo que faço falava mais alto. Minha equipe era fantástica e eu tinha sim um enorme orgulho de pertencer aquela empresa.
Então um belo dia sou chamado e, por causa de uma colega egoísta, individualista e manipuladora, que só pensa nos seus interesses, uma faca foi posta no meu pescoço. Uma obrigação fiscal que tinha que ser entrega e, caso não fosse, poderia acarretar em multas milionárias, foi o motivo disso. Por mais que eu tenha prometido a ela que ao terminar os controles da fabrica nova eu iniciaria aquela empreitada (e que empreitada), onde na verdade não me daria tempo para respirar, não se satisfez e vai choramingar para aquele que me chama e diz: "assim tu não me serve". A faca no pescoço desceu até o peito. Então percebi que os até então 9 anos de esforço e dedicação, de finais de semana trabalhando, dos atendimentos de madrugada e noites viradas trabalhando não serviram de nada naquele momento. Acho que foi a pior de todas as decepções.
Depois dessa, a bruxa ainda quis me manipular. Por causa disso tudo fui parar na Unimed.
É! Já estava cansado.
Então, depois de quase 10 anos de trabalho árduo, conquistas e êxitos que poucos reconhecem e muitos sequer sabem o quanto difícil foi construir...Simplesmente levantei os braços e disse a mim mesmo: "não dá mais".


Hoje me pego alguma vezes pensando se tudo o que fiz  foi feito de modo correto, se deveria ter engolido mais sapos para me manter lá (pois saibam que meu desligamento foi devido a isso). Quem sabe? Quem sabe eu devesse ser menos tenso, menos nervoso, menos... sei lá o que? Talvez qualquer outro no meu lugar poderia ter feito o que fiz e até de forma melhor. Quem sabe?
Portanto, respondo nesse momento se talvez eu tenha cometido o maior erro da minha vida. Que erro foi esse? Talvez tenha sido o de me apaixonar demais pelo que eu estava fazendo, por ter simplesmente baixado a cabeça e trabalhar. Fiz meu mestrado pensando num futuro melhor, mas calmo e mais sossegado do que o aquilo que estava passando e, no entanto, sequer tive tempo para levantar a cabeça e procurar algo melhor. Esse talvez tenha sido o meu erro, pois agora que estou sem um emprego fixo (e não significa que eu queira um igual novamente) sinto o olhar inquisidor de alguns próximos a mim loucos para dizer "eu falei, faz um concurso...". Mas talvez não! Porque o que fiz foi da melhor forma que pude, e adorei ter feito.
Tive sorte? Sim, tive sorte, porque cheguei em uma empresa onde a TI inexistia e em terra de cego quem tem olho é rei, não é? Então tive a oportunidade de começar tudo do zero, e aprender do zero também.
E sim, eu conheço muito de lá. Conheço a intimidade industrial, administrativa e comercial de la como ninguém e de forma integrada. Mas acho que não farei falta, sinceramente, até porque os caras que ficaram lá são bons (foram todos formados por mim, são crias minhas, por isso!).
Se eu voltaria para lá? Eu sinceramente não desejo, pois não sinto falta daquela pressão dos últimos anos. É fato que, a medida em que eu fui crescendo lá dentro, fui me aproximando dos chefões pois de uma forma empírica foram vendo que as regras dos negócios são escritas lá na sala para todos os setores da empresa. Esse sim foi o pior dos erros, se é que posso considerar como um; se aproximar deles. Gostaria muito de continuar trabalhando lá... numa sala beeeemmmmm longe da deles e com alguém que, acima de mim, resolvesse os nosso problemas, ao invés de apenas vir cobrar, porque esse era o último dos cenários: ninguém para resolver os teus problemas e uma infinidade de caciques para cobrar. Mas como disse, talvez quem tenha ficado no meu lugar possa saber administrar tudo isso e se dar melhor do que eu. Tomara! Mas uma coisas eu garanto: 10 anos assim desgasta qualquer um. Mas, nunca diga nunca, embora eu não tenha saudade nenhuma das cobranças sem fundamentos, das brigas para se renovar licenças de anti-virus, de ter que se ajoelhar para comparar mouse, de ter que ouvir mijada na frente de arigó porque um de meus guris levou mais que 5 minutos para atende-los (sendo que em muitos casos eles provocavam problemas nas estações da industria para matar serviço). Pensava sempre nos últimos dias: não fiz mestrado para passar por isso.
E se precisarem de mim? 
Olha, acredito que de repente venham a me ligar. De novo, tomara que não! Tomara que deem conta do recado. Não torço, ao contrario que talvez possa parecer, que se fodam. Não! minha marca foi deixada la nos mais de 240 códigos fontes que escrevi, no data center que montei, nas integrações com o maquinário industrial e em todas as políticas de TI que implementei.


Então, não tenho ressentimento algum. 
Os ressentimentos ficam por aqui.