sábado, 17 de setembro de 2011

Semana Farroupilha: o que temos para comemorar?

"Saudações gaúchos e gaúchas, de todas as querências!"
Iniciamos esse post com a célebre frase do antropólogo e ícone do tradicionalismo gaúcho, Nico Fagundes, para, antes de mais nada, afirmar meu orgulho de ter nascido e de ainda viver nessa terra querida e amada. Digo isso porque o que irei expressar logo abaixo talvez não venha a agradar a alguns dos mais apaixonados bairristas gaúchos. Mas, devo também salientar que tenho alguns bons motivos para defender o que escreverei, embora eu afirme que não há nada de depreciativo ao nosso estado em imnhas idéias. Muito pelo contrário, apenas acho que devemos sim ter os pés no chão, pricipalmente para não perdermos os valores na linha de fundo e viver apenas de um passado saudosista.
Vamos lá.

Estive lendo algumas pubicações em revistas e na própria Internet sobre o assunto "barrismo gaúcho". Não há dúvidas de que esse comportamento transita entre o ufanismo exacerbado de fanáticos idealistas separatistas e à provocação debochada de esclarecidos brincalhões, que valorizam até as "piores coisas" de nosso estado.
Este último é, e deve ser, o espírito bairrista sudável que deve permear em nosso povo.  Em conversa com uma colega de academia, que é paulista, ouvi dela algumas observações interessantes feitas por ela ao longo de 4 anos morando aqui em Santa Maria: "Vocês são bairristas, mas de uma maneira interessante, tipo 'pode ser ruim, mas é nosso' ". Isso é verdade, já cansei de ouvir gente dizendo, por exemplo, que as praias de Santa Catarina são lindas e tal, mas que curtem mais as do RS porque gostam de vestir um moleton quando cai a noite, e coisas do tipo.
Até aí tudo bem. Mas o que quero destacar é uma reflexão que devemos fazer relativa aos festejos da Semana Farroupilha, que evocam a histórica Revolução Farroupilha, como se esta fosse responsável por tudo o que há de de bom, de sucesso e prosperidade no nosso estado. Não é bem assim.


Existe um estereótipo com relação ao gaúcho que aos poucos (e felizmente) está sendo mudado com o passar dos anos: aquele de que pra ser gaúcho, tem que usar bombacha, andar a cavalo, ir a rodeio e viver no campo. Nesse caso, eu vejo uma divisão cultural muito grande no RS: àqueles gaúchos guascas "do interior do interior" ou que se dizem do interior e que adoram usar uma bombachinha e aquelas boinas do tamanho de uma pizza média (os gauchinhos de apartamento), e aqueles gaúchos da capital e dos centros regionais, como Santa Maria, urbanos, que falam pra lá de cantado e que a principal expressão idiomática é o "bah".
Na verdade, devemos partir do seguinte princípio: podemos ser o que quisermos. Se um paulista quiser se tornar gaúcho, pois se identificou com a cultura e com os costumes gaúchos, que fique a vontade, não interessa onde ele nasceu. Em seguida não podemos esquecer dos novos elementos que contemplam a personalidade do gaúcho: se é gremista ou colorado, se gosta de um bom churrasco, se curte comer bergamota lagarteando no sol do inverno depois do almoço, se prefere o chimarrão ao cafezinho no trabalho, e por aí vai...
Por isso sou um sério questionador de algumas posições do onipotente Movimento Tradicionalista Gaúcho, o MTG. Essa entidade, responsável por ditar o que faz e o que não faz parte da cultura gaúcha desde a década de 30 pode ser a grande responsável por matá-la aos poucos fazendo com que ela se definhe por falta de renovação cultural. Essa cúpula do MTG, que defende os "ideais de 35" determinou  a "aculturação dos elementos imigrantes ou descendentes", como está escrito em sua própria Carta de Intenções. Ou seja, de acordo com o documento, alemães, italianos e castelhanos, por exemplo, não pertencem à cultura do Rio Grande do Sul.


Esse é um erro crasso. Segundo o renomado e saudoso historiador gaúcho Décio Freitas, se a República Riograndense tivesse se consolidado, em consequencia de sua vitória na Revolução Farroupilha, o nosso estado não seria o que é hoje. Em primeiro lugar, a economia do RS não evoluiria e permaneceria totalmente dependente da pecuária, falaríamos uma mistura de portugues com guarani e não teríamos a pujança da industria que temos hoje. O historiador lembrava que o Rio Grande do Sul é um estado industrializado graças ao emprego da mão-de-obra especializada advinda da imigração italiana e alemã, e que este fluxo de imigração ocorreu graças à política ocupacional promovida pelo governo imperial brasileiro no final do séc. XIX, 40 anos depois da Revolução.
Creio que seja mais salutar então tomarmos a Revolução Farroupilha como, sim,  um grande marco na história do RS, mas responsável apenas por plantar nossa identidade cultural. Os gaúchos tomam até hoje a Revolução Farroupilha como inspiração para todo e qualquer desafio, seja na política, seja no esporte ou em qualquer outra instância. O problema é tomar o evento da revolta dos farrapos como uma campanha inacabada que ainda deve ser levada a cabo. Aí temos a idéia separatista.
Os problemas da idéia separatista são muitos.  Em primeiro lugar, tomar como um dos fundamentos para o separatismo gaúcho o exemplo da Revolução Farroupilha é outra pisada na bola:  a epopeia farroupilha foi uma revolução de fazendeiros em defesa dos próprios interesses, que prometeram liberdade aos escravos, mas seguiram escravocratas. Contesta-se, com isso importância dada a esse momento histórico, observando que a guerra foi financiada pela venda de escravos. Relembremos a  vergonhosa batalha de Porongos, último confronto da Revolução, em que os negros foram desarmados pelos próprios farroupilhas e massacrados pelos soldados do Império. A bem da verdade é que "nós perdemos a Revolução Farroupilha", pois não existiu um tratado de paz, mas uma simples anistia e algumas concessões.


Falar em separatismo gaúcho sem citar o folclórico gaúcho de Santa Cruz do Sul, Irton Marx, é como deixar passar a parte mais interessante do assunto. Embora seja um megalômano viajandão, esse alemão fala algumas coisas interessantes. Marx é o idealista da "República do Pampa Gaúcho", descrita em seus livros e textos, ignorando o fato de que a criação de um país e seus elementos, como nome, bandeira e hino, devem surgir dos anseios de seu povo e não apenas das idéias de uma única pessoa. Infelizmente, a maioria das idéias desse cara são absurdas e patéticas, o que levaram sua pessoa ao descrédito e o tornaram motivos de piada, levando a questão separatista gaúcha ser relegada ao ridículo.
Mesmo assim, existem pessoas que ainda insistem nessa idéia, defendendo posições discriminatórias, beirando a xenofobia, que na verdade não passam de mito. É fato que a cultura gaúcha (graças à influência do fluxo de imigração europeu) é conhecida como de trabalhadores, de homens e mulheres íntimos do "lavoro", que gostam e se dedicam ao trabalho, e sua prosperidade vem disso. Mas defender o separatismo afirmando que "somos o único povo trabalhador de toda uma nação" ou que "somos menos corruptos e criminosos" que os demais é outro tropeço. Também temos corruptos e também temos preguiçosos. O RS ainda é um estado forte, mas lembremos que já foi muito mais. Então, o que houve?



A questão do ufanismo gaúcho é complexa. Não pretendo num único post responder a todas as perguntas que pudessem vir a surgir sobre esse assunto, é impossível. Trafega entre as discussões dos valores obtidos pela Revolução Farroupilha, passando pelo conservadorismo do MTG, pela aceitação da agregação de novos elementos na cultura gaúcha, pela redefinição do estereotipo gaúcho, culminando no real papel que o estado teve e tem hoje no Brasil.
É interessante, no entanto, notar como a cultura gaúcha num todo absorve muitas outras, estejam de acordo ou não aqueles conservadores. Partimos do princípio a análise daqueles que frequantam CTGs e suas etnias: italianos, alemãe, espanhóis, poloneses, árabes,... Enfim, dificil em uma festa do interior não ter um churrasco com cuca e polenta.
Mesmo assim, qual é o gaúcho que não tem orgulho de ser gaúcho? Todo o gaúcho tem esse orgulho, e é muito bom ter esse orgulho. Quem não se emociona num jogo do Grêmio ou do Inter quando ouve o hino riograndense?  As ressalvas que julgo serem necessárias são: o cuidado que temos que ter com o bairrismo exacerbado e banir duma vez a idéia medíocre que gaúcho é só aquele que anda de cavalo no campo.
Alguns links sobre o que escrevi acima:

http://www.al.rs.gov.br/
http://www.overmundo.com.br/overblog/quem-tem-medo-de-irton-marx

Espero que não me xinguem. Por fim, saúdo a todos os irmãos gaúchos pelo nosso dia. E para concluir, um vídeo publicitário da Cerveja Polar, que aborda o bairrismo gaúcho de maneira bem humorada: muito divertido!

Feliz Dia do Gaúcho tchê!!!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O que eu aprendi com o 11/09

Demorou pra cair a ficha. Na verdade ela ainda está caindo... lentamente...
Não é fácil entender o 11 de setembro, basta ver as incontáveis matérias jornalísticas, o inúmeros estudos, reflexões e dissertações a respeito deste acontecimento que permeiam a mídia desde o ocorrido. Seria muita pretensão um cara como eu, analista de sistemas, profissional das exatas, que não tem paciência para ler jornais e revistas toda hora, (quem dirá então livros de sociologia ou antropologia) querer tecer algo definitivo sobre o maior atentado terrorista da história. As palavras que seguem são de um jovem que presenciou tudo graças aos avançados meios de comunicação do contemporâneo e que tenta num raciocínio entusiasmado montar esse quebra-cabeça gerando assim uma opinião. Como sempre digo, humilde opinião de quem vos escreve.
Não é necessário dizer que os atentados foram o ápice de toda uma situação de opressão econômica, política e cultural de uma nação. Esta mesma nação que ao longo de mais de 100 anos, desde a aplicação da Doutrina Monroe (America para os americanos... do norte), passou a impor de maneira imperialista suas vontades, ou como hoje a conhecemos, the american way of live (jeito americano de viver). Pois essas foram as palavras que George W. Bush e seus falcões usaram para defender sua política brutal.
Por falar nele, estamos falando de um texano, cowboyzinho, filhinho de papai que dirigiu embriagado por horas fugindo da polícia e que graças à posição privilegiadíssima de seu pai e sua família em geral, foi alçado a política. Aos meus olhos, George W. Bush é a síntese da hipocrisia e da bestialidade: falso cristão; defensor de um exacerbado e falso moralismo; ganancioso e ávido por poder, a ponto de passar por cima de tudo e de todos, usando sua própria gente, para os interesses seus e de seu grupo. Não hesitou em sacrificar recursos destinados a programas de saúde para satisfazer o fundamentalismo pentecostal das igrejas cristãs que sustentam a promoção de uma moralidade patética e induzida para os interesses de poderosos, como a justificativa das guerras em que aquela nação veio a se enfiar. Bush usou de inúmeros artifícios para se manter por 8 anos no poder de sua onipotente e onipresente nação: a Roma dos nossos tempos.


Não é um erro comparar a Roma da antiguidade com os Estados Unidos da America. Com o fim da bipolaridade com a URSS, os EUA ficaram livres para ditarem as regras no mundo. Ao longo de vários anos são conduzidos por governos demagogos, que vendem e promovem guerras para satisfazer uma nação que se anestesia ao ver seus soldados na TV em ação e que necessita estar com sua maquina de guerra sempre em movimento devido a imensa industria que se formou entorno dela. Para os EUA guerras são negócio puro, mesmo que seja necessário sacrificar vidas inocentes de um país qualquer ou mesmo de seus próprios soldados, cujas famílias se contentam com uma medalha postuma e palavras ditas afirmando que o filho "morreu por seu país". E assim temos uma nação não apenas capitalista, mas sim belissista, que impõe sua vontade política e cultural com sangue e dinheiro. Nunca me esquecerei quando Bush resolve invadir o Iraque e o premier francês Jacques Chirac posiciona a França contra aquela movimentação: nos EUA cidadãos abrem garrafas de vinho francês e as esvaziam em bueiros como protesto, numa aparente empolgação e anestesia mental, sem a capacidade mínima de refletir sobre a razão daquilo tudo. Os americanos são assim: se um militar americano não "entrar em ação" uma vez na vida, este não tem honra, não serviu seu país devidamente. Guerras são necessárias para que "a chama da liberdade americana" permaneça flamejante.
Dessa forma, os EUA ao longo dos anos impuseram-se ao mundo. Mesmo que publicamente não declarem isso, mas em todo lugar consideram-se superiores a qualquer outro ser humano. Os americanos consideram-se sim uma raça superior. Relembremos o acidente aéreo envolvendo um avião da Gol e um avião Legaci pilotado por americanos. Embora extremamente implicados no acidente, deputados americanos exigiram a repatriação dos pilotos. Isso é compreensivo: para os americanos, um americano só pode ser preso, julgado, condenado, e até mesmo morto, por outro americano. Não preciso dizer que o respeito recíproco não é o mesmo, pois sabemos que o governo americano age como quer, mesmo que para todo o resto do mundo seja de maneira arbitrária. Pode o Conselho de Segurança da ONU bater todos os pés juntos que eles não vão responder, pois para os americanos, os EUA estão acima de todos e o que fazem é justo. É justo para eles manter presos de maneira desumana em Guantanamo, torturar prisioneiros e tirar fotos deles para humilha-los. Para os EUA o mundo é (ou ao menos era) apenas um tabuleiro onde os jogadores eram apenas dois: o Partido Republicano e o Partido Democrata e o objetivo do jogo é a eleição presidencial americana. Não há limites para  ganhar esse jogo, se necessário, que se promovam guerras para manipular a opinião pública daquele país.
Mas tudo tem um limite. E não preciso dizer que o 11/09, apesar de ser o dia mais infame da humanidade, foi consequencia da própria arrogância americana. Gritos de alerta já eram ouvidos nos quatro cantos da Terra, mas os EUA eram superiores o suficiente para não darem bola para aquilo. Os realities shows eram mais importantes, os jogos de basebol e de futebol americano eram mais importantes, os shows da Britney Spears eram mais importante. Todos os elementos da cultura consumista americana eram mais importantes do que o clamor de nações sufocadas por sua cultura. Há uma teoria de que sociedades e nações prosperam e desenvolvem-se as custas de outras. Sabe-se o quanto os EUA promoveram revoluções e apoiaram déspotas no oriente em prol de seus interesses comerciais, fazendo com que líderes regionais virassem-se contra os americanos num ódio mortal. A imposição cultural e comercial de uma nação a outra promove a descaracterização social e cultural desta última. Não há como evitar que todo um povo não se revolte. Eis o famoso "choque de civilizações".


Não é difícil de explicar o que significa o "choque de civilizações". De um lado temos a civilização ocidental, predominantemente cristã que por mais de 500 anos já toma como orientação a razão graças a movimentos como o iluminismo e o renascentismo. Já do outro temos a civilização islâmica, oriental, que tem por orietação a teocracia e que parece ter parado no tempo e no espaço desde o séc. XII. E olha que nem sempre foi assim: no séc X, os cruzados tiveram pela primeira vez contato com os muçulmanos e estes eram um povo culto, tolerante, belo. Os maiores exemplos de desenvolvimento científico e cultural vieram do oriente naquela época. Estudemos então o califado de Cordoba e o califado de Al Andaluz na Ibéria no sec. XV. Povos tolerantes que conviviam com cristãos e judeus.
A partir daí precisamos recorrer a história para poder entender um pouco por que a civilização islâmica é, aos olhos de nós ocidentais, atrasada. E de história, quem me conhece sabe, eu manjo.
Desde Saladino na III Cruzada que os árabes (assim denominados todos os muçulmanos na época) não viram-se unidos sob uma única liderança. Esse sempre foi o problema dos árabes: a união. O que ferrou mesmo a identidade islâmica foi a derrota na I Guerra Mundial do Imperio Turco-Otomano pelos aliados que tornou o oriente médio uma colônia francesa e inglesa. Até hoje a principal unidade política em todo o mundo árabe é a tribal e o sentido de pátria ainda não é desenvolvido. Com isso o islã viu-se submetido a outros estilos de vida que não o oriental. Lembremos então do Xá Reza Pahlavi que tentou "ocidentalizar" o Irã (lembremos o Irã é um país persa, não árabe apesar de muçulmano) e a resposta da sociedade iraniana foi a revolução islâmica. Ou seja, uma forma de encontrar a identidade cultural foi recorrendo a religião. De maneira mais amena (bem mais amena) vemos isso na Polônia, onde ser católico é motivo de orgulho e demonstração de patriotismo, frente a influência russa de religião cristã-ortodoxa. Por volta do ano 1000, os califados da Península Ibérica eram centros culturais e científicos e pasmem, os muçulmanos não usavam barba. A barba característica que vemos hoje em muitos muçulmanos é fruto de uma afirmação cultural frente a "ameaça ocidental".


O 11 de setembro foi isso: a gota d'água para muitos muçulmanos que viram suas nações serem tomadas por ditaduras e regimes absolutistas (como o saudita) apoiados largamente pelos americanos por puro interesse econômico, enquanto que a população local é passiva dos mais parcos recursos para sua sobrevivência e principalmente, aos olhos de extremistas, corrupta e "impura" frente aos preceitos religiosos. Fica claro aqui a utilização de interpretações religiosas distorcidas para a afirmação cultural de um povo.
Isso não é tudo. Não apenas os povos muçulmanos, mas muitas nações ao redor da Terra já estavam fartas da arrogância americana. O 11 de setembro também desnudou outra situação preocupante para os EUA: o anti-americanismo era uma realidade que deveria ser encarada com relativa preocupação. Infelizmente até hoje isso não ocorreu.
Após os atentados, o discípulo de John Wayne, George W. Bush, na mais tradicional das atitudes texanas, resolve vingar a honra americana e sair pra guerra para garantir a liberdade a seu povo e "promover a democracia". Detona com os talibãs no Afeganistão mesmo sem saber direito em quem atirar pois a nova guerra não possuia um inimigo com um rosto. Ele e seus falcões precisavam fazer isso, seja para manter a popularidade do presidente, seja para anestesiar o povo americano ou mesmo por puro reflexo instintivo de defesa. Depois como se não bastasse criou outra guerra e invadiu o Iraque. O interesse era pelo petróleo de lá? Ou seria para se beneficiar do lucrativo processo de "reconstrução do Iraque" através das empresas americanas? Seja o que for parece que não deu certo, pois os EUA estão hoje amargando a mais séria crise econômica desde a década de 20, e graças as guerras encomendadas por Bush. Até onde pude ler, muitos analistas americanos consideram Bush o pior presidente da história dos EUA. Não é de admirar...


Hoje os EUA estão numa naba. Obama imediatamente deu jeito de sair de fininho da Libia pois sabia que não iria ter condições de bancar mais uma guerra e jogou a peteca para a OTAN. Os EUA não têm mais condições de serem protagonistas únicos no cenário geopolítico mundial. A crise é grande, resultado de um acúmulo, repito, de processos anestésicos aplicados ao povo americano por parte de governos que criaram uma industria de guerra que emprega mais de 1 milhão de americanos diretamente. O pobre do negão Obama vai ter que descascar (ou ao menos iniciar) o abacaxi.
O problema é que, ao que parece, os EUA como nação aprenderam muito pouco com o 11/09. Vemos muitas cenas de comoção nas comemorações do 11 de setembro, mas é nítido que o recado deixado ao mundo pelos americanos é o de que "até nossos mortos são melhores que os de vocês". Ou seja, os EUA ainda não deixaram de se portar como superpotência e a arrogancia ainda persiste. Os métodos usados para combater o que eles consideram mal são válidos mesmo que contra toda e qualquer convenção.
Até parece que sou anti-americano. Isso não é verdade. Apenas escrevo o que constato e digo que os americanos irão sofrer (infelizmente) muito com a reprovação de suas posturas frente a outros povos e nações.
Por fim, o que vi na TV é que, ao lado de onde ficavam as Torres Gemeas do WTC, serão construídas outras 5 torres, maiores e mais fortes que as anteriores. Bem, eis a comprovação de que os EUA não aprenderam nada com o 11/09.

domingo, 11 de setembro de 2011

Como foi o meu 11/09

Não há como passar essa data despercebidamente.
Para todos o 11/09 é algo inesquecível. Mas para todos o 11/09 é exclusivo, pois ele aconteceu para cada um e para cada um ele ocorreu de uma forma.
Minha idéia é celebrar o 11/09 de maneira diferente (que fique bem claro, "celebrar" não significa "comemorar"), contando como ele ocorreu comigo. Sim, foi algo singular pois estava longe de casa e tudo o que ocorreu naquele dia abalou o mundo, e por isso marcou também uma fase importante de minha vida. A idéia de narrar como eu passei essa data é a de apresentar um exemplo de como milhões de pessoas ao redor do mundo também vivenciaram-na, seja de maneira mais vívida ou mesmo apática como também tive a oportunidade de viver.
Não posso deixar de dizer que sempre quando lembro dos atentandos de 11/09 lembro da pessoa do meu pai, que faleceu em junho de 2003. Ele era uma pessoa cosmopolita, mesmo que não tenha tido a capacidade de sair pelo mundo (e mesmo tendo condições para isso), mas sempre ligado e atualizado com o que ocorria ao redor do mundo. Sem dúvidas, meu pai era uma referência para mim quando não entendia alguma passagem em algum livro de história. Ele sempre tinha uma resposta, sempre tinha uma explicação, sempre tinha uma interpretação para as coisas. Sim, com orgulho  o meu pai era um cara que gostava de assuntos da geopolítica, desde cedo, e desde cedo peguei o gosto pelo assunto.
Me formei no final de 2000 para imediatamente em janeiro de 2001 eu assumir uma vaga de analista de sistemas no time de implantação do sistema ERP novo da Celulose Irani S/A, em Vargem Bonita, SC. Encarar esse desafio não foi nada fácil, pois como se não bastasse a distância (para um guri que nunca tinha saido de casa) ainda tinha que encarar pessoas de uma cultura diferente, de um modo de vida diferente.
Então o ano era 2001. Sempre gostei dos assuntos referentes a acontecimentos mundiais. Me espantava que meus colegas, todos eles naturais do interior de SC, não acompanhavam esses assuntos, nem mesmo tinham um menor conhecimento sobre muitos aspectos. Foi, sem dúvidas, um choque cultural pra mim, e naqueles dias eu os tachava de "colonos" e "jagunços". Não era para menos, quem conhece sabe: Vargem Bonita, Irani, Ponte Serrada,... são municípios praticamente no meio do mato e não tinham metade dos confortos ou mesmo das informações que uma cidade universitária como Santa Maria tinha.  Então, acessar o site do Terra, num momento onde a Internet estava se engatinhando no país, somente para ler notícias, era algo novo, e longe do costume daquela gente.
Não tem como esquecer. Terça-feria, 11 de setembro de 2001, estava eu na sala do setor e na home page do Terra li a notícia de que um avião havia se colidido com uma das torres do World Trade Center. Achei aquilo incrível, tentei comentar com meus colegas, mas tive logo uma decepção: ninguém deu bola, ninguém se interessou. Claro, não era da cultura deles, eles sequer sabiam o que eram as torres gemeas do WTD. Então tive que "curtir" aquelas notícias sozinho.
Minutos depois vi no proprio site do Terra que outro avião havia colidido com a outra torre do WTD.  E quase que imediatamente também li que mais um avião havia colidido com o Pentágono.
Aquelas notícias eram surreais pra mim. Eu tive a nítida sensação de que eram apenas notícias sensacionalistas e que tudo aquilo não passava de alguma simulação, alguma atração do site para hipotéticas situações. Mas não era nada disso, era tudo verdade.
Eu pulei da cadeira. Olhei para o lado e vi meus colegas na mesma situação. Olhei para meu chefe e este não expressou nenhuma outra reação. Naquele ambiente ninguem havia se dado conta da magnitude do que estava ocorrendo. Me senti solitário, perdido, deslocado. Estava numa parte do mundo onde parecia que o próprio mundo havia esquecido de todos. Eu era acostumado a ler notícias na Zero Hora, na revista Veja, a comentar tudo isso nas rodas de conversa entre amigos e familiares. Lá não havia nada disso. Queria conversar, comentar, trocar idéia sobre o que estava acontecendo lá em Nova York. Mas com quem?
Em uma sala adjacente saí e me encontrei com o Krieger (nunca irei esquecer desse cara), era o advogado da empresa e já o conhecia por intermedio de meu primo Marcos. Comentei com ele este se demonstrou interessado. Então o levei até a nossa sala e ele sentou em frente ao PC. Ficou atônito. Finalmente eu havia encontrado alguém que estava vivendo no mesmo mundo que eu.
Mesmo assim não fiquei satisfeito. Aquilo era muito grande, era histório, era surreal, difícil de imaginar, de entender e de aceitar. Liguei para meu pai, em Santa Maria: liguei direto para seu escritório.
"Pai, vocês tão vendo aí o que ta acontecendo em NY?"
"Sim sim, estamos vendo aqui".
Esta foi a principal lembrança que eu, Giuliano Forgiarini, tive do 11/09: o momento em que pude compartilhar com alguém aquele momento histório. E foi com meu pai.
Depois daquilo, todas as vezes que nos encontravamos e tocava-se nesse assunto, o pai se lembrava. Eu sei que, no momento em que ligaria pra ele, aquilo também seria importante pra ele, pois sei o quanto o pai valorizava esse tipo de coisa.
Eu ouso dizer que aquela ligação telefonica para o meu pai, para avisa-lo do que estava acontecendo em 11/09, foi o contato mais emblematico que tive com ele por toda a minha vida. E foi assim que o 11/09 marcou minha vida pois além de sua magnitude também gravou um momento onde pude curtir de longe meu pai. Sabia que ele gostava daquele tipo de assunto e eu, justo naquele histórico momento, não tinha ninguem para compartilha-lo.
É claro que o 11/09 não foi apenas isso. Também quero escrever algumas coisas, algumas conclusões sobre tudo aquilo. Mas devo, antes de mais nada, dizer e saudar meu falecido pai. A data em questão tem diversos sabores para muitos, inclusive para mim. Certamente o 11/09 não foi apenas um dia histórico para mim.