quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Santo Graal Parte II - O Graal e a Literatura Medieval

Cavaleiro, ícone constante na literatura medieval
Pois bem, após o primeiro post destinado à introdução sobre o assunto, comecemos então a contar as histórias conhecidas sobre o Santo Graal. É necessário, no entanto, remontarmos as origens da lenda do Cálice de Cristo registrada em diversas obras literárias medievais.
O curioso nesse caso, é que o surgimento das obras que narravam as demandas pelo Santo Cálice, coincidem com fatos históricos importantes para o cristianismo ocidental, como as Sagradas Cruzadas e a descobertas de locais e objetos míticos (é "mítico" mesmo, não "místico").
 Praticamente todos os fatos ocorridos e relatados na Bíblia, por exemplo, estão em linguagem figurada, seja por falta de compreensão científica ou, quem sabe, pela necessidade de ocultar entre as linhas fatos ainda mais surpreendentes. Não poderíamos deixar de abordar a literatura medieval que descreve o Graal de outra forma, senão a de tentar, sob todos os aspectos, interpretar cada passagem de seus contos e trovas a fim de encontrarmos sentido junto aos acontecimentos da história oficial. Entre outras palavras: poderemos encontrar registros de existência do Santo Graal apenas em obras literárias da Idade Média.
A etimologia da palavra Graal é uma tanto duvidosa, mas costuma-se considerá-la como oriunda do latim gradalis – cálice (nada haver com a viagem de "Sangreal" do Dan Brown), e não há nenhuma confusão em cima do significado da palavra, que era de um prato ou platter trazida à mesa em varias fases durante uma refeição.
A primeira história na qual a palavra aparece foi escrita através do francês Chréstien de Troyes em sua obra “Le Conte du Graal” . A história de Chrestien estava certamente baseada em antigüidades, mas é desconhecida a fonte ou o significado da palavra Graal.
Se retrocedermos até meados dos séculos XI e XII veremos a difusão de versões e lendas do Santo Graal, e tudo começa com as obras Troyes (1180), do inglês Robert de Boron (1190) e do templário alemão Wolfran Von Eschenbach (1200). Em todos os lugares, parecia moda relatar estórias sobre o Graal, Merlin e Arthur.
Em 1187, Jerusalém caía nas mãos do Sultão Saladino , e se pregava a 3.ª Cruzada. Em 1190, Boron aparece com a obra “Le Roman deL’Estorie du Graal”. 1190 é repleto de acontecimentos: Ricardo Coração de Leão, Rei da Inglaterra, toma a Cruz (expressão da época) e adere à Cruzada. Neste mesmo ano, um incêndio em Glastonbury revela o que seria a tumba do lendário Rei Arthur e Guinevere. No ano seguinte, 1191, os monges da Abadia de Glastonbury editam “Perlesvaus” – Percival como cavaleiro e Arthur encontrando o Graal. Naquele ano os cruzados tomam São João do Acre, na Palestina. Tudo gira em torno de grandes acontecimentos.
Em 1200, um novo ciclo de histórias se inicia do Graal, com a obra “A Quest del Saint Graal” de Willian Map, que traz o herói agora como Galahad e não Percival. Neste mesmo ano, “Parzival” de Wolfran Von Eschenbach aparece. Tudo isso paralelamente com o começo da 4.ª Cruzada, desta vez contra Constantinopla.
Novamente, em 1204 uma crônica do monge de Froidmont conta a história de José de Arimatéia e o Graal, com menção ao "Livro Misterioso".

Os Contos Arthurianos


Não há como mencionarmos a lenda do Santo Graal sem considerarmos a iconografia do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda.
Como já dito, o Santo Graal foi citado em literatura pela primeira vez por Chrétien de Troyes em sua obra com o titulo traduzido de "O Conto do Graal".
Transportando para a história narrada pela obra, encontramos o rei agonizante vendo o declínio do seu reino. Em uma visão, Arthur acredita que só o Graal pode curá-lo e tirar a Bretanha das trevas. Manda então seus cavaleiros em busca do cálice, fato que geraria todas as histórias em busca do Santo Graal. É interessante notar que a água é uma constante na história do Rei Arthur. É na água que a vida começa, física e espiritualmente.

Arthur moribundo
Arthur teria sido concebido ao som das marés, em Tintangel, que fica sob o Castelo do Duque da Cornualha; tirou a Bretanha das mãos bárbaras em doze batalhas, cinco das quais às margens de um rio; entregou sua espada, a mítica Excalibur, ao espírito das águas e, ao final de sua saga, foi carregado pelas águas para nunca mais morrer. Certo de que sua hora havia chegado, Arthur pede a Bedivere que o leve a praia, onde três fadas (elemento ar) o aguardam em uma barca.

“Consola-se e faz quanto possas porque em mim já não existe confiança para confiar. Devo ir ao Vale de Avalon para curar minha grave ferida”.  diz o Rei.

 Avalon é a mítica ilha das macieiras onde vivem os heróis e deuses celtas e onde teria sido forjada a primeira espada de Arthur – Caliburnius. Na Cornualha, o nome Avalon – que em galês refere-se à maçã – é relacionado com a festa das maçãs, celebrada durante o equinócio de outono. Acreditam alguns que Avalon é Glastonbury, onde tanto Arthur quanto sua esposa, teriam sido enterrados. A Abadia de Glastombury também é tida como lugar de conservação do Graal.
As históricas atuais do Rei Arthur incluem a lenda do Cálice de Cristo. Porém não foi sempre assim. “Algo” chamado Graal era conhecido nas histórias arthurianas, porém depois que estas histórias foram cristianizadas é que o Graal foi associado ao Cálice de Cristo. O Graal era um objeto misterioso que não era descrito em detalhes. A história contemporânea, que mencionava o Graal, através do escritor Troyes permaneceu incompleta e permitiu a muitos escritores colocar a própria interpretação deles na história. Deve-se dizer que estas lendas devem ser consideradas “pseudo-histórias”, e na pior das hipóteses fabricações românticas.


A lenda de Arthur unifica-se com a do Graal simbolizando uma época em que dedicava-se uma vida inteira em busca de ideais tais como: honra, respeitabilidade, patriotismo, nobreza e espírito, e temor a Deus.
Muitos escritores notáveis mostraram a semelhança entre os contos de folclores célticos e as histórias do Rei Arthur. Havia muitos caldeirões em contos celtas e alguns tiveram propriedades bem parecidas com as atribuídas aos do Graal como descrito nos contos Arthurianos. Um poema famoso, o Preiddeu Annwn, descreve Arthur e seus homens arriscando-se no mundo dos criminosos celtas para roubar o Caldeirão de Annwn.


O caldeirão teria a habilidade para restabelecer a vida de guerreiros mortos. Note isto na tradição cristã: o Cálice sempre é levado ou é guardado por mulheres e tem a capacidade de restabelecer vidas. Outro caldeirão, o "Caldeirão de Awen" tinha a capacidade de dar todo o conhecimento, se uma poção fosse preparada nele. Também note que na lenda de Arthur o Graal pode dar conhecimento.
Muitos autores tentaram mostrar assim que os caldeirões celtas foram de alguma forma os precursores da imagem atual do Graal.
Entretanto, embora as derivações das lendas celtas sejam populares em teoria, elas por nenhum meio explicam todos os eventos e descrições dentro dos ciclos, nem explicam o interesse súbito da crença do Graal. Embora a derivação das lendas dos caldeirões celtas sejam boas, não explicam completamente os ciclos do Graal.
É inevitável dizer da necessidade de aprofundar-se no estudo dos Contos Arthurianos para se obter mais informações sobre o súbito aparecimento do Santo Graal na literatura da Idade Média por volta do século XII. "O Conto do Graal" é um poema inacabado de 9 mil versos que relata a busca do Graal, da qual Arthur nunca participou diretamente, e que acaba suspensa. Um mito por si só. Porém, o que se pode afirmar é que "O Conto do Graal" é uma obra de ficção baseada em personagens e histórias reais que serve para fortalecer o espírito nacionalista do Reino Unido, unindo a figura de um governante invencível a um símbolo cristão.
Ao que tudo indica nas obras literárias, o cálice teria sido levado à Inglaterra, mas por quê? E por quem? Do ponto de vista literário, já foi explicado. Porém, existem outras histórias muito mais interessantes.

Os contos de Boron

As narrativas creditadas aos Contos do escritor francês Robert de Boron são uma verdadeira viagem, porém não menos interessantes e intrigantes ao mesmo tempo. Boron é um escritor medieval e usa o Graal como agente ativo em suas obras.
Exste uma lenda britânica que afirma que Cristo fez peregrinações no próprio continente europeu, alcançando a Bretanha. Diz-se que, durante a sua permanência na Cornualha, havia recebido em dádiva um cálice de um druida convertido ao cristianismo (isto entendido como “o que Cristo prega”), e por aquele objeto ele tinha um carinho especial. Após sua crucificação, José de Arimatéia quis levar o objeto, santificado pelo sangue de Cristo, ao seu antigo dono, o druida que era Merlin (realmente uma viagem), traço de união entre a religião celta e cristã.
É na obra de Robert de Boron (1190), José de Arimatéia, que o mito retrocede no tempo até chegar a Cristo e à última ceia.
Boron conta que, certa noite, José de Arimatéia é ferido na coxa por uma lança (percebe-se também, sempre presente, as referências às lanças e espadas, símbolos do fogo, tanto na história de Jesus como de Arthur). Em outra versão, a ferida é em sua genitália e a razão seria a quebra do voto de castidade. Este fato está totalmente relacionado à traição de Lancelot que seduz Guinevere, esposa de Arthur. Somente uma única vez Boron chama a taça de Graal. Em um inciso, ele deduz que o artefato já tinha uma história e um nome antes de ser usado por Jesus:

“Eu não ouso contar, nem referir, nem poderia fazê-lo (...) as coisas ditas e feitas pelos grandes sábios. Naquele tampo foram escritas as razões secretas pelas quais o Graal foi designado por este nome”.
             Robert de Boron.

 José de Arimatéia teria sido, portanto, o primeiro custódio do Graal. O segundo teria sido seu genro, Brons. Algumas seitas sustentam que o ciclo do Graal não estará fechado enquanto não aparecer o terceiro custódio. Esta resposta parece vir com "A Demanda do Santo Graal", de autor desconhecido, que coloca Galahad como o único entre os cavaleiros merecedor de se tornar Guardião do Santo Graal.
Robert de Boron conta que os judeus, ao descobrirem José de Arimatéia, prendem-no em uma cela sem janelas onde todos os dias uma pomba se materializa deixando-lhe uma hóstia, seu único alimento durante todo o cárcere, graças ao qual sobrevive. José esconde a taça que Jesus usou na Última Ceia, ao redor da qual sentam doze pessoas (semelhança À lenda  da Távola Redonda). No lugar de Cristo é colocado um peixe. O assento de Judas Escariotes fica vazio e quando alguém tenta ocupá-lo é “devorado pelo lugar” de forma misteriosa. A partir desse momento esse assento é conhecido como a Cadeira Perigosa (mesmo nome do assento da Távola Redonda que também ficava vazio e só poderia ser ocupado pelo “cavaleiro mais virtuoso do mundo". Em algumas versões, é o assento de Lancelot que sempre fica vazio. Lancelot, o mais dedicado cavaleiro, que assim como Judas em relação a Jesus, era o que mais amava Arthur e também o que o traiu). José de Arimatéia funda sua congregação em Glastonbury. No lugar onde teria edificado sua Igreja com barro e palha há os restos de uma abadia muito posterior.
O Graal-taça é tido como um episódio místico e o Graal-pedra como a matéria do conhecimento cristalizado em uma substância. Já o Graal-Livro é a própria tradição primordial, a mensagem escrita.
De acordo com vários contos, as histórias do Graal se originaram de um grande livro misterioso que teria sido compilado, em 717, por um eremita nascido em Gales. Este copiara o livro original escrito pelo próprio Jesus Cristo. Em outros casos, o autor era um astrônomo pagão-judeu, de nome Flegetanis que lia nos astros a história do Graal.
Robert de Boron, que acreditam ter escrito “Le Roman de L’Estorie dou Graal ” começa a história usando essas fontes. Inicia com José de Arimatéia, vai para Merlin, e termina em Percival.
Em José de Arimatéia, Boron diz:

 “ Jesus ensinou a José de Arimatéia as palavras secretas que ninguém pode contar nem escrever sem ter lido o Grande Livro no qual elas estão consignadas, as palavras que são pronunciadas no momento da consagração do Graal”.Robert de Boron

De fato, em "Le Grand Graal", continuação da obra de Boron por um autor anônimo, o Graal é associado – ou realmente é – um livro escrito por Jesus, o qual a leitura só pode se entender – ou iluminar – quem está nas graças de Deus.

 “ As verdades de fé que este contém não podem ser pronunciadas por língua mortal sem que os quatro elementos sejam agitados. Se isso acontecesse realmente, os céus diluviariam, o ar tremeria, a terra afundaria e a água mudaria de cor”.

 O Graal-livro teria um terrível poder.


O Graal-Pedra de Eschenbach

Toda a história é mudada quando contada pelo alemão Wolfram Von Eschenbach (1200), quase ao mesmo tempo que Boron. Em "Parzifal", Eschenbach coloca na mão dos Cavaleiros Templários a guarda do Graal que não é uma taça, mas sim uma pedra. Sobre uma verde esmeralda, ela trazia o desejo do Paraíso: era o objeto que chamava-se Graal. Para Eschenbach, o Graal era realmente uma pedra preciosa, pedra de luz trazida do céu pelos anjos. Ele imprime ao nome Graal uma estreita dependência com as forças cósmicas. A pedra é chamada Exillis ou Lapis exillis, Lapis ex coelis, que significa “pedra caída do céu”, ou para outros autores como Lapis erillis (Pedra do Senhor).
É a referência à esmeralda na testa de Lúcifer, que representava seu terceiro olho. Quando Lúcifer, o Anjo da Luz, se rebelou e desceu aos mundos inferiores, a esmeralda partiu-se e sua visão passou a ser prejudicada. Lúcifer conduziu um terço dos anjos em uma revolta contra Deus mas foi derrotado. Um dos três pedaços ficou em sua testa, dando-lhe a visão deformada que foi a única coisa que lhe restou. Outro pedaço caiu ou foi trazido à Terra pelos anjos que permaneceram neutros durante a rebelião. Mais tarde, o Santo Graal teria sido escavado neste pedaço. Compara-se o Graal-Pedra de Eschenbach com a não menos mítica Pedra Filosofal que transformava metais comuns em ouro, homens em reis, iniciados em adeptos, matéria e transmutação, seres humanos e sua transformação.

O alemão tem como modelo de fiéis depositários do cálice os Cavaleiros Templários. Seria Wolfran Von Eschenbach um Templário? Sabemos que sim! Era a época em que Felipe de Plessiez estava à frente da ordem quase centenária. O próprio fato de ser a pedra uma esmeralda se relaciona com a cavalaria. Os cavaleiros em demanda usavam sobre sua armadura a cor verde, sinônimo de vitalidade e esperança. Malcon Godwin, escritor rosacruz, refere-se a Parzifal da seguinte maneira:

“Muitos comentadores argumentam que a história de Parzifal contém, de modo oculto, uma descrição astrológica e alquímica sobre um indivíduo que é transformado de corpo grosseiro em formas mais e mais elevadas”.
                      Malcon Godwin

 Nesta obra que é um retrato da Idade Média – feito por quem sabia muito bem do que estava falando – reconhece-se uma verdadeira ordem de cavalaria feminina, na qual se vê Esclarmunda, a virgem guerreira cátara, trazendo o Santo Graal, precedida de 25 mulheres segurando tochas, facas de prata e uma mesa talhada em uma esmeralda. Na descrição do autor da cena de Parzival, há um castelo cujo proprietário é o personagem chamado de "rei-pescador". Lemos:

“Em seguida apareceram duas brancas virgens, a Condessa de Tenabroc e uma companheira, trazendo dois candelabros de ouro; depois uma duquesa e uma companheira, trazendo dois pedestais de marfim; essas quatro primeiras usavam vestidos de escarlate castanho; vieram então quatro damas vestidas de veludo verde, trazendo grandes tochas, em seguida outras quatro inocentes donzelas; traziam duas facas de prata sobre uma toalha. Enfim, apareceram seis senhoritas, trazendo seis copos diáfanos cheios de bálsamo que produzia uma bela chama, precedendo a Rainha Despontar de Alegria; esta usava um diadema, e trazia sobre uma almofada de achmardi verde (uma esmeralda) o Graal, 'superior a qualquer ideal terrestre."
Wolfram Von Eschenbach

Observações quanto às obras
Chréstien de Troyes escrevera o seu "O Conto do Graal" em 1128. Wolfram afirmava com grande segurança que a versão da história do Graal de Chréstien é errada, enquanto que a sua é fiel porque é baseada sobre "informações privilegiadas". Tais informações (...) veio de um certo "Kyot de Provence" (Provence, região sul da França, onde se localiza a cidade de Troyes).
Então, como fez Troyes a preceder Wolfram? É provável que o poeta tenha recebido algumas informações de qualquer fonte desconhecida templária.
 Na cidade de Troyes, São Bernardo traçou as regras da Ordem Templária, que havia, por sua vez, estreitos relacionamentos com tal cidade (moradia de Troyes). É difícil sustentar que, ninguém, em uma cidade assim importante para os cavaleiros, fosse a corrente do reencontro do Graal por parte dos mesmos. Se Chrétien vem ao conhecimento somente de um fragmento da história, é fácil que tenha nesse momento princípio para escrever o seu " O Conto do Graal", sob a base de um fato, construindo um poema em versos sobre o cálice.

Bernardo de Claraval
Também é conveniente ressaltar que, na obra de Troyes, do Graal se fala pouquíssimo: Percival, o protagonista, não informa nunca a identidade do objeto, e o autor não dá qualquer informação sobre a relíquia. Limita-se a dizer que:
"...uma garota muito bonita, bem adornada, vinha com valetes e tinha entre as mãos um graal. Quando foi entrar na sala com o graal que portava, se difunde uma luz que se torna em clarão, como estrelas quando se eleva o sol e a lua (...). O graal que vinha era de fato do ouro mais puro. Haviam pedras incrustadas de muitas espécies, as mais ricas e preciosas que são do mar ou da terra. Nenhuma poderia comparar-se às pedras que rodeavam o graal...".

 O comportamento de Perceval é verdadeiramente desconcertante:

 "De frente aos dois convidados uma outra vez passa o graal, mas a jovem não pergunta a quem o serve (...) Ele tem desejo de sabê-lo, mas pensa que terá tempo de pergunta-lo amanhã a um dos valetes da corte, de manhã quando deixará a senhora e toda a sua gente".
 O que instigou a jovem a calar-se, e não prontamente a lhe informar? Chrétien não motiva o comportamento de Perceval, e depois que a sua obra continua incompleta, o fato acaba ainda mais ambíguo.
Troyes parece referir-se não ao cálice utilizado por Cristo durante a última ceia nem por Arimatéia depois de Sua morte, mas uma comum taça de mesa. Ele, de fato, o define "um graal" e não como "o Graal". Além disso, é provável que Chrétien não tenha nunca visto o Graal: não há prova do fato que ele o descreve como sendo uma peça de ouro com pedras incrustadas.
Que Cristo tenha utilizado um cálice com este valor na última ceia é bastante improvável. Todos esses elementos levam a considerar o poema de Troyes um ótimo trabalho literário, decadente, mas do ponto de vista histórico, excelente. Não obstante isto é possível que a leitura de Perceval revele um fundo de verdade que pode ser ajudado a localizar a relíquia. Se existir uma...
Wolfram von Eschembach, que podia usufruir uma fonte como a de Guyot, diretamente em contato com a família italiana de Monferrato (outro post sobre eles, lá na frente...), ataca os erros e dos absurdos textos dos poetas franceses, iniciando seu poema sublinhando o fato de que a versão de Troyes estava errada, se bem que, "Parzifal" não pode ser lido como um rigoroso documento histórico. A isso devem ser distintos os aspectos simbólicos daquelas histórias, e é necessário reconhecer em algumas passagens, referências a fatos e lugares reais.
É fato que todas as obras que citam a existência do Santo Graal são também as origens das teorias. Robert de Boron, em suas inúmeras obras, faz citações sobre o Graal e, através destas, ilustra outras teorias sobre sua existência. Desta forma, confunde-se e torna-se difícil classificar as teorias de existência do Santo Graal com meros contos que o ilustram, podendo-se afirmar que as obras literárias são, na verdade, teorias escritas de sua existência.

Nossa busca não termina aqui. O proximo post será sobre José de Arimatéia. Aguardem...

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