Pois bem, há anos atrás (quando eu ainda frequentava locadoras de filmes) me deparei com o título: O 13º Guerreiro (Titulo original: The 13th Warrior), filme estrelado com Antonio Banderas com produção de 1999. Achei estranho nunca ter ouvido falar desse filme na mídia, principalmente pelo fato de ter o Banderas no elenco, e sua sinopse dizia o seguinte: Em 922, Ahmed Ibn Fahdlan (Antonio Banderas), um poeta e cortesão árabe foi nomeado embaixador na terra de Tossuk Vlad, uma região longínqua ao norte. Ahmed acaba por entrar em contato com um grupo de vikings. Ao tornar-se hospede no acampamento viking, toma conhecimento de que foi escolhido para combater os Wendol, um terror que mata vikings e os devora, pois uma vidente decidiu que treze guerreiros deveriam lutar contra estes terríveis inimigos, mas o décimo terceiro não poderia ser um homem do norte. Assim, Ibn Fadlan se vê lutando ao lado dos vikings em um embate que dificilmente será vencido por eles. Aí começa a narrativa pra lá de empolgante dessa demanda. O grupo de vikings parte para socorrer outro reino viking do norte assolado pelos demônios wendol. Não vou mais contar sobre o roteiro do filme por que essa não é minha intenção.
Ibn Fadlan em combate contra os Wendol |
Buliwyf |
O filme baseia-se no romance Devoradores de Mortos (titulo original Eaters of the Dead), de Michael Crichton (o cara que escreveu os roteiros de Parque dos Dinossauros e Assédio Sexual). O romance em que o filme se baseia é, por sua vez, inspirado pela tradução para inglês do relato real do árabe Ibn Fadlan das suas viagens Rio Volga acima, no século X.
É óbvio que me dediquei a pesquisar mais sobre esse relato histórico, lendo muito a respeito na web. Minha alegria então quando estava na praia, de férias quando, ao visitar uma livraria a procura de um bom livro me deparei com um exemplar do Devoradores de Mortos. Em dois dias o livro foi destrinchado, associando cada passagem do livro ao filme assistido e reassistido inúmeras vezes, mas sem enjoar uma vez sequer.
Não precisa dizer o quanto é valorosa tal narrativa do ponto de vista histórico. Na verdade, o manuscrito de Ibn Fadlan representa o mais antigo relato conhecido de uma testemunha ocular da vida e da sociedade viking. É um documento extraordinário, que descreve em vívidos detalhes acontecimentos ocorridos ha mais de mil anos. Claro que o manuscrito não sobreviveu incólume a este enorme espaço de tempo. Crichton, ao escrever o romance, faz uma compilação de diversas versões e fragmentos encontrados relativos à mesma narração. São textos encontrados em diversos pontos da Europa, como na Rússia, Grécia e Dinamarca.
E o fascínio dessa obra não pára por aí. Mas para explicar mais um aspecto interessante dessa saga, devo remontar brevemente a obra ao lembrar que a narrativa trata do confronto entre o grupo de 13 guerreiros (12 vikings e 1 árabe) e os wendol, também conhecidos como "os devoradores de mortos". Então, os wendol são os vilões na história.
Ataque wendol noturno à aldeia viking |
Históricamente, a palavra wendol é muito antiga, tão velha quanto quaisquer dos povos do país do norte e quer dizer "a névoa negra". Para os nórdicos, significa uma névoa que tráz, sob a coberta da noite, demônios negros que assassinam, matam e comem a carne dos seres humanos. Os demônios são peludos e repulsivos ao toque e ao cheiro; são ferozes e astutos; não falam a língua de nenhum homem e ainda assim conversam entre si; chegam com a bruma da noite e desaparecem de dia - para onde nenhum homem ousava seguir.
Ao finalizar a leitura da obra, deparei-me com uma citação interessante: a de que os wendol combatidos pelos vikings pudessem vir a ser uma subespécie humana conhecida como "Homem de Neadertal". Uma avaliação geral sobre os aspectos descobertos relativos ao Homem de Neadertal com a redescoberta do contato de Ibn Fadlan com "os monstros da névoa" (sua descrição destas criaturas sugestiva da anatomia Neadertal) levanta a questão: a forma Neadertal desapareceu de fato da terra milhares de anos atrás, ou esses homens primitivos permaneceram nos tempos históricos?
Wendol |
A ponderação final na obra ainda afirma que, objetivamente, não existe uma razão a priori para negar que um grupo Neadertal pudesse ter sobrevivido muito depois numa região isolada da Escandinavia. Em qualquer caso, esta pressuposição é a que melhor se ajusta à descrição do texto árabe.
Eis minha volta ao blog, com um post sobre um livro e um filme que recomendo, principalmente para aqueles fascinados em história e antropologia. Mesmo que não se goste dessas coisas, convenhamos: é pra lá de interessante!
Recomendo que se leia o livro antes de assistir o filme. A história é apaixonante. Abaixo um videozinho do filme.
Humilde opinião de quem vos escreve.
Muito bom , conheço o filme , vou comprar o livro , gostei da resenha!
ResponderExcluirEu assisti ao filme e recomendo, muito bom e com uma história bem envolvente.
ResponderExcluirBacana, camarada. Publique outras.
ResponderExcluirÉ interessante perceber semelhanças com o poema Beowulf(o fato do grupo ter ido ajudar outro reino e de como os wendol em fuga deixam apenas um braço para trás assim como o monstro Grendel em Beowulf-cujo nome se assemelha ao do líder Bulywif-fora o fato de em ambos os casos terem caçado a matriarca das criaturas.Ambos os textos datam do século x.
ResponderExcluirSobre os relatos de ibn , ele realmente chegou a ir a Escandinávia ? Ou ele se encontrou com os vikings somente na Europa oriental ?
ResponderExcluirCreio que não. Nem nesta obra nem em outras citações manciona-se esse fato...
ExcluirAssisti ao filme e li o livro. Fabuloso os dois!!!😃👏👏👏👏👏👏
ResponderExcluir