domingo, 28 de agosto de 2011

O Santo Graal Parte V: As Cruzadas


Como eu me propuz a escrever uma série de posts dedicada específicamente ao assunto do mitológico Santo Graal, inevitável não abordar por um momento o assunto das Sagradas Cruzadas. Afinal, foi exatamente no momento histórico em que ocorreu estas expedições militares de motivação religiosa que surgem as menções do Sacro Cálice na literatura medieval ocidental.
Sendo assim, nada mais correto que contextualizar históricamente a busca do Graal, tentando explicar alguns elementos que surgem ao longo da lenda do Cálice. Nesse caso, fazer uma breve leitura sobre as Cruzadas nos auxiliará a entender o fervilhante momento histórico onde Chréstien de Troyes, Wolfram Von Eschenbach e Robert de Boron conceberam suas obras bem como nos fará compreender melhor o proximo post que escreverei, que falará dos Cavaleiros Templários.
Pois bem, vamos lá...

Papa Urbano II e Monge Pedro conclamando os fiéis
"No dia 18 de novembro de 1095, o Papa Urbano II e o monge Pedro, o Eremita, literalmente botaram fogo no mundo ocidental. Atendendo aos apelos dos cristãos do oriente, o Papa reuniu nobres feudais em Clermont, na França, e pediu que libertassem Jerusalém dos muçulmanos. Foi um discurso fulminante. Começaram, aí, as Cruzadas, a verdadeira Primeira Guerra Mundial. Para os muçulmanos, foram 200 anos de invasões bárbaras que deixaram cicatrizes que doem até hoje”.
Super Interessante, Ano 9 N.º 10 out 1995

“... Estas expedições, religiosas e militares ao mesmo tempo, nas quais tomaram parte quase todos os países europeus, sucederam-se, com intervalos mais ou menos longos, dos fins do séc. XI aos últimos anos do séc XIII. Umas fizeram-se por terra, outras por mar.”
 Antônio G. Matoso. História de Portugal, Lisboa, 1939, vol. I, 72

A visita aos lugares santos de Jerusalém era a principal meta do peregrino europeu, até que os Turcos Seldjúcidas conquistaram a Palestina em 1078, impedindo seu acesso aos cristãos. Um dos mais caros valores da espiritualidade medieval estava sendo ameaçado, e os europeus não hesitaram em organizar expedições militares para “resgatar a Terra Santa das mãos dos infiéis”. Estas expedições receberam o nome de Cruzadas. Seus integrantes distinguiam-se do guerreiro comum porque usavam uma cruz em suas vestes como símbolo. Eram os guerreiros-vassalos do Cristo-Suserano.
As Cruzadas na Terra Santa começaram em 1095 e terminaram em 1291, com a derrota dos cristãos. Mas, fora da Palestina, continuaram até o século XVI. Houve cruzadas na Espanha e no Báltico, contra os pagãos da Letônia e da Finlândia, contra cristãos herálticos, como os cátaros franceses e os hussitas tchecos, e até contra camponeses sublevados na Alemanha. Todas foram convocadas pelos papas em nome de Cristo e em defesa da cristandade.


As cruzadas expulsaram os muçulmanos da Europa, expandiram a influência européia e criaram países latinos na Palestina que duraram 200 anos, mas falharam no essencial: não conquistaram a Terra Santa. Como se não bastasse tal fracasso, embora fossem convocadas para defender os peregrinos cristãos, perseguidos pelos muçulmanos em Jerusalém e os cristãos do oriente contra a expansão muçulmana, uma das cruzadas, iniciada no século VIII (a Quarta), invadiu Constantinopla, a Roma grega do oriente (também conhecida como Bizâncio, hoje Istambul), saqueou-a e repartiu o Império Bizantino entre barões europeus. Os cristãos gregos nunca mais perdoaram os ocidentais e consumou-se o cisma entre a Igreja Ortodoxa Grega e a Igreja Católica Apostólica Romana, que perdura até hoje.
Para os muçulmanos, a tragédia foi maior. Durante 200 anos, centenas de milhares de peregrinos armados, aventureiros, guerreiros, cavaleiros medievais e exércitos regulares liderados pelos reis da Europa desabaram sobre o Oriente Médio. Embora a guerra fosse contra os muçulmanos, no caminho até Jerusalém, os cruzados também atacaram os judeus.
Na palestina, conviviam cristãos de várias seitas, gregos, armênios, judeus, georgianos, muçulmanos sírios, egípcios e turcos. A cultura islâmica era mais próxima da grega, mais cosmopolita e mais humanista do que a cultura medieval. Mas os muçulmanos eram desunidos e guerreavam entre si, sem parar. Os cruzados encontraram povos independentes e souberam aliar-se com alguns.
Não eram raras as peregrinações de cristãos ao Santo Sepulcro. Os califas muçulmanos não se opunham às visitas, que acabavam sendo lucrativas para eles. No entanto, na segunda metade do século XI, os turcos dominaram grande parte da Ásia Ocidental. Rapidamente, os turcos assimilaram a fé muçulmana. Uma de suas tribos, os seldjúcidas expulsaram os cristãos e proibiram suas peregrinações ao local.
Sob o pretexto de libertar a Terra Santa e impedir o avanço muçulmano na Europa Oriental, o papa Urbano II incentivou a Primeira Cruzada.
As expedições armadas com o objetivo de libertar a Terra Santa do domínio muçulmano estenderam-se de 1096 até 1270. Oito foram as cruzadas oficiais, isto é, organizadas pelo Papa, pelas monarquias européias e pela nobreza. Na verdade, houve um fluxo ininterrupto de peregrinações a Jerusalém, armados ou não, que desembarcavam todos os anos durante a primavera.

Tomada de Jerusalem pelos Cruzados
A notícia da queda de Jerusalém e o apelo de Urbano II atingiram profundamente os anseios populares, reforçados pela pregação de Pedro, o eremita. Alguns milhares de despossuídos de toda a espécie dirigiram-se a Terra Santa, sob a liderança do místico Pedro sem nenhum preparo, formando uma verdadeira “Cruzadas dos Mendigos”. A fome levou os primeiros cruzados ao roubo e ao massacre das populações que encontraram pelo caminho. Apesar da ajuda fornecida pelo império bizantino foram dizimados pelos turcos. A Cruzada dos Mendigos foi totalmente destruída ao chegar na Ásia Menor.
No entanto, a expedição mais emblemática que relaciona-se com nossa demanda foi denominada de Primeira Cruzada que ocorreu entre 1095 e 1099: Em 1095 partiram oficialmente os cavaleiros da Primeira Cruzada. Seus chefes eram Roberto da Normandia, Godofredo de Bulhão, Balduíno de flandres, Roberto II de Flandres, Raimundo de Toulousse, Boemundo de Tarento e Tancredo, chefe normando do sul da Itália. Godofredo de Bulhão, então Duque de Lorena, foi eleito Defensor do Santo Sepulcro e seu sucessor foi rei de Jerusalém.
Passando por Constantinopla, onde receberam o apoio do imperador bizantino, os cruzados sitiaram Nicéia; tomaram o sultanato de Doriléia, na Ásia Menor; conquistaram Antioquia; e finalmente avançaram sobre Jerusalém, conquistada em 15 de julho de 1099, depois de um cerco de cinco semanas. O imperador Aleixo I forneceu apoio naval aos cruzados e fez acordo para que a primeiras terras conquistadas integrassem seus domínios. É nessa Cruzada que muitos surgem muitas narrativasd de fatos obscuros, muitos deles considerados apenas apologias ou mesmo lendas.Conta-se, por exemplo:

“... quando os cruzados sitiavam Antioquia... foram surpreendidos pelo exército de Mossul. Desesperados e com fome os cruzados estavam destinados ao fracasso, quando Raimundo de Toulouse recebeu um pobre padre provençal chamado Bartolomeu, que lhe disse que o apóstolo André lhe tinha aparecido em seus sonhos e dissera que uma relíquia capaz de trazer a vitória aos cruzados – a lança que transpassara o flanco de Jesus crucificado – estava enterrada no solo de uma cidade chamada Petrus. Raimundo seguiu o homem até a igreja que indicaria o local. Doze homens escavaram o dia todo, enquanto milhares deles esperavam no lado de fora da igreja. Perto do crepúsculo, o próprio Pedro desceu e voltou trazendo na mão a lança sagrada. Uma enorme ovação saudou sua reaparição. Quando os cruzados avançaram, precedidos da lança sagrada, mostraram-se irresistíveis. E ganharam a cidade de Antioquia.”

Os chefes cruzados fundaram então uma série de Estados Cristãos no Oriente Médio. Cuja organização obedecia ao sistema existente na Europa, o feudalismo. Foram fundados, na Primeira Cruzada, quatro estados latinos no oriente: o condado de Edessa, o principado de Antioquia, o condado de Trípoli e o reino de Jerusalém.
A conquista de Jerusalém foi episódio de grande carnificina. Segundo cronistas da época, os cruzados cometiam atos hediondos como estupros, canibalismo e penduravam as cabeças de seus inimigos em lanças para intimidar os muçulmanos a medida que avançavam sobre seu território.


Em junho de 1099, os Cruzados chegam a Jerusalém, que foi sitiada e capturada em julho. Os primeiros a porem os pés nas muralhas da Cidade Santa foram dois irmãos flamengos. Por essa proeza tornaram-se heróis legendários. Os guerreiros que permaneceram no oriente tornaram-se proprietários de terras, nos moldes do feudalismo europeu. Outros fundaram ordens militares, que foram importantíssimas para defesa das regiões conquistadas e para dar assistência aos peregrinos. Os monges-cavaleiros (Templários em 1100, Hospitalários em 1118, Teutônicos em 1190) acumulavam enorme fortuna em terras, por meio de donativos e de empreendimentos financeiros. No oriente, estes guerreiros eram mais poderosos que a nobreza e os outros representantes da Igreja.

Eu poderia escrever muito mais sobre as Cruzadas. Afinal, esse movimento militar foi o grande responsavel pelo incremento e renovação de toda a cultura ocidental, no momento em que os europeus entram em contato com a então avançada cultura árabe.
Entretanto, saber um pouco sobre As Cruzadas é necessário para que possamos compreender o que tenho a contar mais adiante.
O melhor está por vir...

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O Enigma da Pirâmide


Eu tô ficando craque em fazer resenhas de filmes. E devo dizer que é muito legal escrevê-las, principalmentes quando se descobre que elas acabam se tornando um sucesso e são constantemente acessadas. Benditas sejam as Lojas Americanas: mais uma vez dou uma voltinha por lá e o que encontro no cesto dos DVDs em promoção?...
Como já disse várias vezes, sou fã de carteirinha de romances policiais, principalmente aqueles clássicos. É por isso que alguns autores e seus personagens da literatura universal já são velhos conhecidos meus: Agatha Christie com sua doce Miss Marple e seu sagaz detetive belga Hercule Poirot; Georges Simenon e seu astucioso Comissário Maigret; Edgar Allan Poe e seu detetive Auguste Dupin que serviu de modelo a muitos outros e, é claro... Sir Arthur Conan Doyle e o personagem ícone do gênero: Sherlock Holmes.
Aliás, é incrível a devoção a Conan Doyle por vários escritores de todo o mundo. A paixão por seu célebre personagem é tanta que inúmeras obras foram escritas em tributo a contribuição dada por este escritor à literatura universal. Caleb Carr, autor conhecido por obras como "O Alienista" e "A Assustadora História do Terrorismo", aventura-se com o romance "O Secretário Italiano" a conceber mais uma aventura de Sherlock Holmes respeitando o espolio intelectual de Conan Doyle.
Nessa mesma linha de homenagens nostálgicas pelo personagem, Steven Spielberg roda em 1985 o longa O Enigma da Pirâmide (Young Sherlock Holmes) que conta a história do encontro de Sherlock Holmes e de seu inseparável amigo Watson ainda na adolescência na escola.

Os jovens Sherlock Holmes e John Watson
O filme em si é a cara do Spielberg (lembrando que nesse filme ele foi apenas produtor) antes de ele começar a só querer fazer "filmes sérios" e ficar martelando o assunto do holocausto judeu toda hora. Dirigido por Chris Columbus (Gremlins, Goonies...), foi indicado para o Oscar de 1986 de efeitos especiais perdendo para Cocoon. Recheado, portanto, de efeitos visuais incríveis para a época, o filme narra uma aventura de tirar o fôlego pela Londres victoriana de 1870.
Então, vamos ao filme...
Como dito, Sherlock Holmes e John Watson se conhecem na escola. Ao acompanharem pela imprensa uma série de suicídios estranhos, Holmes decide mergulhar na investigação destes quando seu mentor também se suicida de maneira controversa. Aí começa o furdunço.


O filme traz uma história envolvendo o Rame Tep, um culto egípcio antigo de adoradores de Osíris, e todo o plano de vingança de seu líder Rathe. A história é boa, e bem desenvolvida. Claro, algumas coisas estão um pouco exageradas, como uma pirâmide egípcia construída num subúrbio londrino, o culto a Osíris com cânticos e um batalhão de seguidores com espadas em punho correndo nas ruas noite afora pelas ruas de Londres, além de pequenos deslizes de roteiro, como o fato do cãozinho ter arrancado uma parte do tecido das vestes de um suspeito e depois tal pedaço ter sido encontrado no estúdio do mentor de Holmes, etc...


Mas o mais legal do filme não é o roteiro em si, que diga-se de passagem não é ruim e que cativa o público, principalmente o juvenil (assim como eu a mais de 20 anos atrás), mas sim os elementos que o compuseram e que explicam inúmeros detalhes da personalidade de Sherlock Holmes que vão desde sua teimosia em tocar violino, passando pela origem da sua célebre frase "Elementar meu caro Watson", seu hábito de fumar cachimbo, seu característico bonezinho, sua paixão por química e por ser notoriamente reservado para relacionamentos amorosos. Além de explicar os detalhes do personagem principal e de seu companheiro, o filme também explica outros elementos do universo Sherlockeano como a participação nas investigações do Inspetor Lestrade da Scotland Yard e pelo surgimento de seu arqui-inimigo, o Dr. Moriarty. Quem é fã conhece a história com o título "O Problema Final" onde Holmes se sacrifica ao combatê-lo. Aliás, o surgimento de Moriarty é uma cereja no bolo do filme que só aparece no final, mas no final mesmo, após os créditos serem exibidos.
O filme tem mais um detalhe que gostaria de salientar: é fiel à obra original, diferentemente da versão gravada em 2010 com  Robert Downey Jr. no papel de um Sherlock Holmes despojado demais e americanizado demais (eis o link do post), não que o filme fosse ruim, mas descaracterizou um pouco o personagem austero e polido criado por Conan Doyle.

Holmes e seu futuro arqui-inimigo (ops,... falei!)
É óbvio que não relatei as conclusões e os desfechos pois senão iria tirar a graça de quem está lendo essa resenha e ainda não assistiu ao filme.
Sem dúvida alguma o filme é um clássico e tem os elementos que eu sempre prezo: empolgante, inteligente, de bom gosto. Não pude resistir em comprar o DVD do filme pois além de tudo o que já disse a principal virtude nele pra mim está mais na nostalgia de poder ter em casa uma aventura que marcou muito minha infância e adolescência.
Agora, de prache, que tal uma palhinha?


Foram através de filmes como esse que meu interesse pela literatura policial foi despertado. E aqui estamos nós.
Comprei esse DVD para guardá-lo com carinho e para poder assisti-lo por várias e várias vezes. Espero poder assistí-lo junto de meu filho. Quem sabe ele também goste de Sherlock?

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O Santo Graal Parte IV: As teorias do Graal

OK!
Para aqueles que acessam meu blog exclusivamente para acompanharem os posts referentes À minha demanda particular pelo Santo Graal, aí vem mais o 4º da série. No post anterior, tratamos exclusivamente da lenda que envolve o personagem bíblico José de Arimatéia com o Santo Cálice. Neste novo post, pretendo então fazer um breve apanhado dos posts até aqui publicados com mais algumas pequenas teorias sobre o paradeiro, ou o mesmo o que venha a ser, o Santo Graal.
Não preciso dizer que esse é um trabalho amador, pessoal, feito por pura satisfação pessoal. Não há dúvidas que tento filtrar o máximo de informações procurando publicar apenas o relevante descartando o que é obviamente devaneio. Deve-se sim, levar em consideração que nem tudo o que transcrevo está científicamente comprovado. Muito do material que obtive através da web, e mesmo através de livros, é considerado especulação.
Aos amigos que seguem esta série devem, portanto, relevar conceitos científicos e religiosos, fazendo assim suas próprias triagens sobre o conteúdo aqui exposto.
Pois bem, vamos lá...
Em 1934, foi lançado um livro: “The Holy Grail, Its Legends and Symbolism” por Arthur Edward Waite, que junta várias dessas teorias. Muitas delas (na sua maioria, na verdade) são uma verdadeira viagem.

1) A lenda do Graal refere-se a um tradicional Caldeirão Celta, no qual os druidas misturavam suas poções e ervas misteriosas que curavam e restabeleciam as forças e que talvez, seja o ancestral de nossa medicina naturalista. Esta lenda teria sido absorvida pelos cristãos, com a conversão de Celtas à Igreja Romana;

2) O Graal era o codinome de uma ordem ou Seita Secreta descendente dos ensinamentos secretos de Cristo, não divulgados nas Escrituras e da qual, José de Arimatéia fazia parte ou era o dirigente;

3) A lenda de Percival narrada por Troyes trazida para nós mais recentemente, em fins do século XIX, através de um drama musical de Richard Wagner, que narra como Percival encontrou com facilidade o castelo aonde estava o Graal, mas por seu comportamento imaturo, foi mandado embora do castelo, tendo que fazer uma longa peregrinação até reencontrá-lo;

4) A lenda narrada por Eschenbach no qual o Graal é uma pedra que os anjos trouxeram para a Terra, confiando-a aos “moradores do Templo” – os Cavaleiros Templários, representados por uma comunidade de cavaleiros escolhidos e que viviam com seu rei num castelo feudal, semelhante a um templo. O velho rei sofre então, uma ferida incurável que o impede de continuar sua missão e é obrigado a aguardar um cavaleiro que mereça ocupar seu lugar. O enfraquecido rei e seus cavaleiros são levados por anjos através dos ares para a Índia, de onde na época oportuna o Graal tornará a irradiar sua força renovadora;

5) O Graal-pedra era uma pedra preciosa que caiu da tiara de Lúcifer em sua luta contra forças divinas por ocasião de sua insurreição contra Deus. Essa pedra esteve inclusive em poder de Adão antes de sua queda. Pode-se afirmar também que a pedra é o terceiro olho de Lúcifer localizado no centro da testa e com o qual os antigos podiam ver Deus antes de sua queda do Paraíso, como já relatamos.

6) A palavra usada para o Graal mudou subitamente muitas vezes. Uma destas palavras é sangreal. A palavra foi dividida para significado Santo Gral (San Greal), ou ainda Santo Graal. Porém, algumas teorias foram pesquisadas de forma que apoie um significado diferente da expressão “Sangue Real”. O cálice que continha o Sangue de Cristo, seria o conhecimento secreto sobre uma descendência consangüínea direta de Jesus, após sua sobrevivência à crucificação. O princípio básico atrás desta teoria é aquele que Jesus Cristo teve uma criança (ou crianças) com Maria Madalena. A linhagem do Sangue Real foi continuada assim e em algumas teorias existe realmente. Os livros mais recentes associam caráteres históricos e lugares com esses achados em textos medievais do Graal e demonstram como a linha de sangue de Cristo foi envolvida em negócios mundiais. Outro investigador notável do Graal, Walter Stein, também investigou esta teoria durante algum tempo. As teorias deles foram desacreditadas por causa da associação com Nazistas. Ele realmente era conselheiro de Winston Churchill sobre atividades nazistas durante um tempo. Essa teoria ganha holofotes nos anos 2000 com a publicação do romance "O Código Da Vinci" de Dan Brown.

O Graal e as lendas locais
Em quase todos os locais do mundo, mais precisamente no oeste europeu, existem várias lendas locais de "Graals". Quase todas estas lendas trazem os princípios cristãos como base:

Capela de Rosslyn, Escócia:
É sobre o Graal que o investigador Trevor Ravenscroft reivindicou em 1962. Ele tinha terminado na Capela de Rosslyn, uma investigação de vinte anos à procura do Graal. Nesta capela parece haver uma contradição das afirmações de Ravenscroft: o Graal parece ser uma forma de conhecimento e também um objeto real (Cálice de Cristo). Isto simplesmente é explicado pelo fato que muitas pessoas referem-se ao Graal como o Cálice de Cristo, enquanto que o Sr. Trevor sentiu que não pode ser o caso. Ele ainda teria chamado este cálice de Graal, para comunicar seus conhecimentos. Ravenscroft pode ter acreditado em mais uma teoria. A reivindicação dele era a de que o Graal estava dentro do Pilar de Prentice (como é conhecido) nesta capela. Partindo-se então da premissa de que o Graal pudesse estar dentro de sua pilastra, foram utilizados detectores de metal, sendo detectado que um objeto do tamanho apropriado realmente está enterrado no meio desta pilastra. O Sr. Adamantly de Rosslyn recusa-se a permitir que o pilar seja radiografado.

O Graal de Gales:
Diz-se que havia uma comunidade em Gales que guardava uma xícara ou cálice de terracota que estava dentro de um outro cálice confeccionado em ouro. Era capaz de realizar curas e era uma ferramenta poderosa para o bem nas mãos direitas (ou seja, era um objeto que poderia ser utilizado para o bem desde que fosse manuseado por iniciados do lado claro da força). Em 1880 um grupo de indivíduos possuía a intenção declarada de estudar o esoterismo como a "Kabalah" e adivinhações em Tarô. Na realidade sua intenção era achar e destruir o Graal Santo. Durante dez anos, o Graal foi movido e escondido e acha-se finalmente em um lugar seguro. Porém, um dos guardiões traiu os outros e o Graal foi levado. Uma massa preta foi colocada em cima do Graal e destruiu o seu poder e então foi feito em pedaços e os pedaços difundidos. A maioria das lendas sobre o Graal possui muitos detalhes inconseqüentes somados; para dar uma falsa autenticidade. Nomes, datas, lugares e até mesmo figuras históricas são difundidas nas lendas. Isto não é verdade neste caso e faz a lenda sem igual e interessante por causa disto.

O Graal em Glastonbury, Inglaterra:
José de Arimatéia, assim a lenda fala, veio para a Inglaterra, para Glastonbury, depois da morte de Jesus. Com ele trouxe a xícara (cálice) de cristo. Uma lenda local diz agora que a xícara está enterrada em algum lugar debaixo da colina “The Tor” em Glastonbury. "The Tor" é um local antigo de ritual e religião e ainda é um lugar de peregrinação à pé; é um local alto, fora da zona rural de Somerset. Existe lá um poço que é agora um lugar quieto, de santuário, com jardins circunvizinhos, fluxo com água de profundidade, que correm debaixo do "The Tor". As pedras cobertas pela água da primavera são de cor vermelha, representando o "Sangue de Cristo", e a própria água, quando ingerida, deixa na boca um sabor residual muito igual a sangue. The Tor pode ter uma cadeia de túneis subterrâneos, há muito tempo fechados hermeticamente e supõe-se que o Graal tenha sido enterrado em um destes túneis.

O Graal no Mar Báltico:
Em The Templar's Secret Island ("A Ilha Secreta dos Templários"), livro de 194 páginas escrito pelo dinamarquês Erling Haagensen em parceria com o inglês Henry Lincoln, é apresentada a teoria que o Santo Graal e a Arca da Aliança provavelmente foram escondidos pela Ordem dos Cavaleiros Templários na ilha de Bornholm, no Mar Báltico, cerca de 830 anos atrás.

Afinal de contas, o que deve ser levado a sério?
Como podemos ver, os princípios cristãos aflorados na Idade Média, associados ao simbolismo e à fertilidade do imaginário popular geraram várias teorias sobre o que é o Graal e o paradeiro, caso consideremos este ser um objeto. Sendo assim, de acordo com o propósito deste site, é necessário fazermos uma seleção das linhas de teoria sobre o assunto para abordá-las daqui para a frente.
Para muitos pesquisadores, a teoria mais aceita está relacionada a José de Arimatéia como sendo o guardião do Santo Cálice utilizado por Jesus na Santa Ceia para beber vinho e no qual Arimatéia recolheu a água e o sangue dos ferimentos de Cristo quando em sua crucificação. Ele teria levado consigo este Cálice, quando viajou para o Ocidente, em direção à Abadia de Glastonbury, no qual morreu. Os pesquisadores sugerem três reivindicações sobre a Lenda do Santo Graal:

a) A da Abadia de Glastonbury na Inglaterra, ligada à lenda de Arimatéia;
b) A de Gênova, ligada a lenda do cruzado Guglielmo;
c) A região dos Pirineus na França, ligada à inúmeras lendas dos Albingenses sobre cálices milagrosos ou com poderes mágicos.


EM BUSCA DO CÁLICE SAGRADO

Apresentados contos, lendas e teorias das mais diversas sobre a existência e saga do Santo Graal, cabe a nós, nesse momento, analisá-las confrontando com fatos históricos da conturbada Idade Média para que possamos identificar (ou simplesmente supor) a origem de tantas versões.
Segundo os contos de Boron, o Santo Graal teria passado pelas seguintes pessoas:

1) Judeus: um presente dos judeus à Cristo;
2) Jesus Cristo: em sua última ceia;
3) Poncio Pilatos: este entregou o Graal a José de Arimatéia como parte do pagamento;
4) José de Arimatéia: Recolheu o sangue de Cristo;
5) Brons: o “Rico Pescador” dos contos de Boron. Cunhado de Arimatéia que deveria partir para a Bretanha;
6) Percival: filho de Alain de Grois e neto de Brons. Foi o escolhido para ser o guardião do Santo Graal.

A história apresentada é bastante interessante e bela, com começo, meio e fim. A explicação que o herói dos contos arthurianos, Percival, é descendente direto de José de Arimatéia e é Merlin que o revela isso, explica o porque de Percival ser o único dos cavaleiros enviados por Arthur para encontrar o Santo Graal consegue encontrá-lo, que novamente desaparece, levado por Percival para ilha de Avalon.
Eis a questão: como acreditar em algo que nos remete à uma lenda? O Rei Arthur é um mito (embora se acredita ter encontrado seu túmulo em Glastonbury), Merlin é um mito, Percival é um mito, Avalon é um mito. Isso nos leva a crer que o próprio Graal seja apenas um mito.
Antes de qualquer coisa, é preciso considerar que o Graal existe e que José de Arimatéia foi seu primeiro guardião. Pois bem!... Vamos consultar a história!


Beleza.
Até a próxima.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Tyketto: mais uma injustiça do rock!


É incrível como descobrimos determinadas bandas, principalmente pela maneira despretenciosa como isso as vezes acontece. No ano de 2000 eu estava prestes a me formar e de tão aplicado que era na faculdade estava apavorado com meu TFG, pois  não dava jeito de concluí-lo, quando fui pedir ajuda para o meu colega Guinther, o cabeção em Delphi da turma. O Guin também era fissurado em rock n' roll e naquela noite estava escutando um CD que comprara sei eu onde mas com um som bacana, que não agredia os ouvidos. Era o álbum Strenght in Numbers do Tyketto. Eu me achava "o conhecedor de bandas" e fiquei surpreso por nunca ter ouvido falar naquela. Foi aí que me dei por conta que, na verdade, eu não conhecia nada de hard rock, achando que o estilo se limitava a Mr. Big, Europe, TNT, Bon Jovi, Firehouse, Poison, Whitesnake, e mais algumas outras poucas. Procurando mais material do Tyketto pude conhecer esse novo universo musical que é composto por bandas essencialmente americanas, pois o hard rock tem uma influência diretíssima do country music (nada mais natural, portanto, que esse estilo musical seja predominante nos EUA). Foi nesse momento que conheci bandas como: White Lion, House of Lords, 91 Suite, Avalon, Atlantic, Danger Danger, Hardline, Final Frontier, as meninas do Vixen e... claro, o próprio Tyketto.


Pois então, vamos apresentá-la...
O Tyketto é uma banda de Nova York formada em 1991 tendo em seu line-up Danny Vaughn com seu incrível vocal, o guitarrista Brooke St. James, o baixista Jimi Kennedy e o baterista Michael Clayton Arbeeny.
Como disse, de início só conhecia o trabalho do álbum Strenght in Numbers, este sendo o segundo da banda. No entanto, a banda faz seu debut com Don't Come Easy onde emplaca a maioria de seus hits, como Forever young, Burn down inside, Wings, Seasons e a baladíssima Standing Alone.


A banda sobra em competência musical, seu ponto alto é Vaughn com seu vocal afinadíssimo e cristalino mesmo que os demais músicos não deixem a desejar. O Tyketto é enaltecido por todos os amantes do hard rock como um dos ícones do estilo.
Mas,... poxa, por que cargas d'água essa banda não ficou tão famosa se assim é tratada? A resposta é simples: O Tyketto lançou-se em 1991 e naquela época a aberração musical chamada "grunge" estava tomando conta das rádios. Todo o mundo queria ouvir a podreira dos débeis mentais do Nirvana e demais bandas que faziam o tão aclamado "som de Seattle". Graças a Deus foi só uma fase. Me penitencio até hoje por usar aqueles bermudões xadrez ridículos. Mas isso é passado (ainda bem!). Aquela foi uma fase negra para todas as bandas de hard/heavy, a excessão das gigantes que por seu porte se mantinham. Muitos projetos de bandas nesses estilos lançados naquela época foram a bancarrotas, alguns exemplos: Adrian Smith sai do Iron Maiden, tenta o Psycho Motel e acaba morrendo na praia, assim como Dee Snyder (o locão do Twisted Sister) arrisca-se com o Widowmaker e também não vai longe. Dessas duas, eu gostava mais do Widowmaker que era um heavy tradicional e grudento, bem estilo Snyder. Já o Psycho Motel... sem comentários. A única vertente de rock pesado que se sustentou foi o thrash metal, com as obras-primas do Metallica (Black Album, não mais tão thrash...), Megadeth (Rust in Piece), Slayer (Seasons in the abyss) e aqui no Brasil o estouro do Sepultura (Arise). O metal farofa então (aqueles que gastavam duas latas de laquê cada um antes de entrar no palco), também conhecidos por "Glam Metal", nem se fala. Muitas bandas foram a óbito, inclusive gravadoras que insistiram em investir nesses estilos naqueles anos.


Com esse cenário, o Tyketto não pode alcançar seu espaço merecido na mídia, sufocado pela sensação do momento que era o grunge ou então pelo também recém-nascido "rock alternativo". Por conta disso, a banda é hoje mais conhecida por ser injustiçada pela mídia do que pelo seu hard rock competentíssimo, o que é lamentável. Em outra época, o Tyketto certamente se equipararia com outros grandes do estilo como Bon Jovi e Firehouse.
É pra ver como o mercado fonográfico e a mídia que o envolve cometem erros. Em decorrência de seu lançamento num momento "inoportuno" o Tyketto somente começa a ser reconhecido aos poucos e apenas no cenário hard rock. Em 2008 foi realizado o evento Hard in Rio II, um festival musical que cultua o hard rock no Rio de Janeiro. Adivinha qual foi a atração principal?


Tyketto no Hard in Rio II
 De 1991 pra cá o Tyketto se desfez e se refez umas trocentas vezes alternando alguns músicos. Volta e meia se apresentam e fazem excursões. Estas pelo visto deram mais pilha para os caras que parecem estar na ativa de novo. Esse ano a banda anunciou contrato com a Frontiers Records para a gravação de um novo disco, previsto para sair no início de 2012. Será o primeiro lançamento exclusivamente de inéditas desde Shine, de 1995:
“Estamos trabalhando em algumas das melhores idéias que tivemos em anos. Será um som na linha de Don’t Come Easy (primeiro trabalho do grupo), mixado a novos elementos e grandes surpresas” Declarou a banda em pronunciamento oficial.
Os quatro membros originais (Danny Vaughn, Brooke St. James, Jimi Kennedy e Michael Clayton) estão envolvidos nesse retorno.
Infelizmente não é fácil achar material desses caras. Já procurei por tudo mas não acho CD, muito menos DVD deles pra comprar. O jeito foi apelar para a Internet. É uma pena, pois quem me conhece sabe que ainda curto comprar CDs e ficar saboreando o encarte enquanto ele toca no player.

É isso aí, tá dada a dica: eis uma bela banda de hard rock e indico ela para aqueles que curtem um rock n' roll bem tocado, audível e de extremo bom gosto. Fica a dica também de presente para o meu aniversário, se encontrarem, eh eh eh.
Abaixo, um videozinho do Tyketto de um de seus maiores sucessos, a baladinha Standing Alone. No YouTube tem mais.

Site oficial da banda: http://www.tyketto.de/

Valeu!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O Santo Graal Parte III: José de Arimatéia


Como prometi, mais uma parte sobre minha pesquisa sobre o "Santo Graal". No post anterior, falei sobre as menções do Graal na literatura medieval citando as obras do francês Robert de Boron que narra a história de José de Arimatéia. Resolvi neste post me aprofundar sobre esse importante personagem que pertence há muitas lendas sobre o Santo Cálice.
Pois bem...

José de Arimatéia era membro do Sinédrio, homem rico, bom e justo (Jo19:18) e que não deu sua aprovação à sentença de morte à Jesus Cristo (Lc23:50). Este desprendeu Seu corpo da cruz, com Nicodemos (Jo19:38) e depositaram-no no túmulo (Jo19:42).
Após estas passagens, Arimatéia não é mais mencionado na Bíblia.
Por que a lenda de José de Arimatéia, responsável por tomar o cálice da ceia e tê-lo usado para recolher o sangue de Cristo e depois tê-lo levado consigo? Tudo isso, deve-se à obra literária de Robert de Boron: "José de Arimatéia", onde o mesmo conta a história de José de Arimatéia e sua saga, depois da Crucificação de Cristo.

As narrativas abaixo foram retiradas da obra de Boron:

José de Arimatéia é um influente cavaleiro a serviço de Poncio Pilatos, que aprendeu a amar da Deus, mas com medo dos Judeus, manteve esse amor em segredo. Após a crucificação, pediu o corpo de Cristo a Pilatos, como recompensa por serviços prestados. Pilatos atendeu o pedido e ainda lhe deu um recipiente que os judeus tinham oferecido a Jesus e no qual este fizera sua oferenda. Depois disso, Arimatéia tirou o corpo de Cristo da Cruz, com a ajuda de Nicodemos. Quando o lavaram, as feridas começaram a sangrar e Arimatéia se lembrou do recipiente e pensou que nele as gotas seriam bem guardadas. Sepultou Jesus e levou o recipiente para casa. Os Judeus aborrecidos com o desaparecimento do corpo, por ocasião da ressurreição, prenderam Arimatéia de modo que ninguém mais o encontrasse em uma cela sem janelas onde todos os dias uma pomba se materializa deixando-lhe uma hóstia, seu único alimento durante todo o cárcere, graças ao qual sobrevive. Então Cristo lhe aparece na prisão. Arimatéia confessa o amor, mas que jamais tinha ousado falar com Ele e pede desculpas por estar sempre na companhia dos que desejavam sua morte. Jesus o consola dizendo:

 "Deixei que ficastes com eles por saber que irias me prestar grandes serviços, ajudando-me onde meus discípulos não ousariam. E tu fizeste por compaixão. Tu me amaste secretamente como também eu a ti, e nosso amor se revelará a todos para prejuízo dos infiéis, porque tu terás sob tua guarda o sinal da minha morte, hei-lo aqui."

Jesus então mostra o Graal:

"Ele será teu e o guardará, assim como todos a quem o entregares. Mas os guardiões devem ser três e estes três o terão, em Nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Estes três são uma e a mesma coisa em um único Deus. Nisso deves crer."

Cristo entrega o Graal a Arimatéia e diz:

"Estás segurando o sangue das três pessoas da única divindade, que fluía das feridas do filho encarnado, que sofreu a morte para salvar a alma dos pecadores. Sabes o que ganhas com isso? Que nunca mais será feito um sacrifício, e quem souber isso será o mais amado do mundo, e a companhia dos que souberem do fato e que escreverem livros sobre o assunto será a mais procurada do que as outras pessoas."

 José de Arimatéia pergunta sobre a razão de receber tal presente. Cristo responde com um interessante ensinamento sobre a missa católica:

"Tiraste-me da cruz e me puseste no teu túmulo, depois que estive na ceia na casa de Simão eu lhe disse que seria traído. Como isto aconteceu à mesa, futuramente erguerão mesas para me sacrificar. A mesa significa a cruz; os recipientes representam o túmulo. Este é o cálice onde meu corpo será consagrado na forma de uma hóstia. A pátena que colocaram representa a tampa com que fechaste o túmulo, e o pano que porão por cima, o linho que envolveu meu corpo. Deste modo até o final do mundo o significado do teu feito será conhecido..."

 Boron ainda escreve:

"E depois disso, Cristo lhe ensina as palavras que não posso dizer, mesmo que quisesse, sem ter o Grande Livro onde estão escritas. Este é o Mistério da Grande Cerimônia do Graal."

Cristo diz ainda a Arimatéia que toda a vez que sentisse necessidade, deveria dirigir as três forças, que são uma e à beata mulher que carrega o filho. Jesus avisa a Arimatéia que este ainda terá que passar algum tempo no cárcere e que um dia sua libertação teria caráter milagroso e Arimatéia ficou preso mantido vivo apenas pelo Graal.
Intercala-se a lenda ao Sudário de Verônica, pelo qual Vespasiano fora curado da Lepra.
Por gratidão, os romanos Tito e Vespasiano foram a Jerusalém afim de vingar a morte do Profeta que o havia curado. Falam com Pilatos que se lembra de Arimatéia. Muitos judeus são mortos até que um revela o local de cativeiro. Assim, José é libertado e Vespasiano é batizado.
Certa vez, por não produzirem colheitas nas terras, Arimatéia se coloca a frente do Graal e pede conselhos. O Graal lhe diz que deveria encontrar os culpados e eliminá-los da comunidade. Em seguida, seu cunhado, Brons, deveria ir ao rio e trazer o primeiro peixe que pescasse, estender um pano sobre a mesa, por o Graal no meio, ao lado do peixe.

"Depois disso senta-te no teu lugar, como estava na ceia. Brons se sentará à tua direita, verás que ele se afastará de ti, de modo que haverá um lugar vago entre tu e ele. Este lugar representar o lugar de Judas, Ninguém preencherá essa vaga até que o Filho de sua irmã Enygeus e Brons tome teu lugar."

Quando o povo foi chamado à mesa, parte senta, mas muitos não conseguem encontrar lugar. Exceto pelo lugar vago. Os que estão sentado à mesa, sentem a doçura do Graal. Um deles, Pedro, pergunta aos que estão de pé ao redor se não sentiam algo de graça. Eles respondem que não, e que foi impossível se aproximar da mesa. Pedro diz:

“ Isso mostra que com um pecado, causaste a carestia que estamos sofrendo”.

Deste modo Arimatéia reconhece os pecadores:


“Por meio do Graal somos separados, porque ele não tolera pecadores em suas proximidades”.

Depois disso, a sociedade se separa, ficando os bons , a partir de então, todos os dias à mesa, na mesma hora para o mesmo culto, que eles chama de “Culto do Graal”.
Um dos recusados de nome Moys tentou sentar a mesa, no lugar vago. O chão se abriu e engoliu Moys todos perguntaram a Arimatéia o que aconteceu e ele então ajoelhou-se em frente ao Graal e perguntou. O Graal respondeu:

“José, José, o sinal que te falei agora se tornou verdade, eu te disse que o lugar deveria permanecer vago até que o terceiro homem da tua estirpe, o filho de Brons e Enygeus o ocupe”. 

Brons e Enygeus tiveram 12 filhos, quando cresceram foram levados a presença de José de Arimatéia que aconselhado pelo Graal escolheu Alain de Grois, o mais moço de todos. Arimatéia mostrou o Graal e comunicou-lhe que um dia lhe nasceria um herdeiro, ao qual teria que entregar o Graal.
O recipiente falou ainda que Pedro deveria ir ao Vale de Avalon, esperar aí o filho de Alain.
Alain partiu com um grupo para evangelização para países estranhos. Pedro ainda permaneceu para receber ensinamentos sobre o Graal e ser testemunha da transferência deste para Brons, porque ele deveria ser o Guardião do Graal. Arimatéia lhe comunicou as palavras sagradas chamadas de “O Segredo do Graal” e depois disso a sentença: “A partir de agora, deve guardá-lo e por nada menosprezá-lo ou todo o desprezo e vergonha cairá sobre ti, e caro terá que pagá-lo”.

O Graal ainda disse:

”Todos os que dele ouvirem falar o chamarão de “Rico Pescador” devido ao peixe que pescou. Assim também essas pessoas devem ir ao oeste. Quando o “Rico Pescador” tiver recebido o Graal, deverá esperar o filho de seu filho para transferir e recomendá-lo ao Graal. E, quando chegar o tempo em que possa aceita-lo o significado da Trindade será realizado entre vós. E tu, porém, José, te despedirás do mundo e entrarás na alegria eterna”.

As palavras secretas José a assentou em um papel e as mostrou em seguida ao Rico Pescador. Brons permaneceu ainda por três dias com José, depois despediu com as palavras:

“Sabes bem o que levas contigo, e em que companhia andas, ninguém sabe tão bem quanto eu e tu, vai pois eu ficarei conforme ordem do meu Salvador”.

Assim se separaram e o Rico Pescador de quem desde então se fala tanto, foi para a Britânia; José, porém, foi por ordem do Senhor para o país de onde nascera e lá ficou até o fim de sua vida.
Lendas em torno dos contos de Boron são formadas, como por exemplo, a de que Arimatéia, sua irmã e seu cunhado velejaram para a Inglaterra, onde ele montou a primeira igreja Cristã em Glastonbury.
Algumas lendas reivindicam que ele deixou o cálice aos cuidados do cunhado na França, enquanto a maioria das histórias contam que ele trouxe o Cálice para Glastonbury aonde foi associado às lendas locais do Graal e que lá ficou até seus últimos dias.
Entretanto, é notória a relação entre as histórias de José de Arimatéia e os contos arthurianos, principalmente os elementos que o compõem, como: a mesa e doze pessoas (doze apóstolos); a menção de Avalon; Glastonbury, onde estaria enterrado o Rei Arthur e sua esposa Guinevere, entre outros.
Segundo os contos de Boron, o Santo Graal teria passado pelas seguintes pessoas:
a) Judeus: um presente dos judeus à Cristo;
b) Jesus Cristo: em sua última ceia;
c) Poncio Pilatos: este entregou o Graal a José de Arimatéia como parte do pagamento;
d) José de Arimatéia: Recolheu o sangue de Cristo;
e) Brons: o “Rico Pescador” dos contos de Boron. Cunhado de Arimatéia que deveria partir para a Bretanha;
f) Percival: filho de Alain de Grois e neto de Brons. Foi o escolhido para ser o guardião do Santo Graal.

A história apresentada é bastante interessante e bela, com começo, meio e fim. A explicação que o herói dos contos arthurianos, Percival, é descendente direto de José de Arimatéia e é Merlin que o revela isso, explica o porque de Percival ser o único dos cavaleiros enviados por Arthur para encontrar o Santo Graal e consegue encontrá-lo, que novamente desaparece, levado por Percival para ilha de Avalon.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Varegues: um plus sobre a história dos Devoradores de Mortos

Há alguns meses atrás publiquei um post sobre o filme "13º Guerreiro", baseado no romance de Michael Crichton, que por sua vez baseou-se no nas narrativas do árabe Abn Fahdlan em suas viagens como embaixador pelo Rio Volga acima e seu encontro com um grupo de nórdicos. Eis o link para o post.
Quem já conferiu o post sabe que a história é pra lá de interessante. Tão interessante que é quase que irresistível não pesquisar um pouco mais sobre esse assunto, principalmente por aficcionados por história como eu.
Pois então....
Ao pesquisar um pouco mais sobre a história desses vikings, descubro que os mesmos descritos por Ibn Fahdlan eram também conhecidos pelo nome de varegues, e nos séculos VIII e IX colonizaram o nordeste europeu criando os principados de Kiev e Novgorod.

Enterro de navio de um chefe tribal Rus', tal como descrito pelo viajante árabe Ahmad ibn Fahdlan, que visitou o Rus' de Kiev no século X. Heinrich Semiradzki (1883)
De acordo com a Crônica Primeira do Rus, compilada por volta de 1113 d.C., o povo Rus', um grupo de vikings suecos, se deslocou de Uppland, na atual Suécia, para o nordeste da Europa, onde formaram uma politeia primitiva centrada em torno de Ladoga e Novgorod, sob o comando de seu líder, Rurik, dando início assim à dinastia que levou posteriormente seu nome. Sob o comando de Oleg de Novgorod, parente de Rurik, os varegues se expandiram para o sul e capturaram Kiev, fundando o estado medieval de Rus'. Fica claro para todos que o nome do país eslavo que conhecemos hoje por Rússia é derivado  do "povo Rus', de origem escandinava e, portanto, germânica.
É interessante notar, se formos mais a fundo, que, após a criação dos principados de Kiev e Novgorod pelos vikings, estes são subjugados pelas tribos eslavas da região em uma união sem precedentes, No entanto, as mesmas tribos eslavas que expulsaram os varegues da região não se entendem e provocam o caos devido aos confiltos entre elas a ponto de chamarem novamente os varegues para "governarem a eles próprios" e novamente trazer a paz.

Arrasto do Volokut, de Nicholas Roerich

A Crônica Primeira lista por duas vezes os Rus' entre outros povos varegues, como os suiões (suecos), normandos, anglos, gutos (normandos era um termo usado no antigo russo para referir-se aos noruegueses, enquanto anglos pode ser interpretado como "dinamarqueses"); em alguns trechos a Crônica menciona os eslavos e os Rus' como povos distintos, porém em outros trechos mistura-os.
Historiadores ocidentais tendem a concordar com a Crônica Primária que estes varegues conseguiram organizar os povoados eslavos existentes na entidade política do Rus' de Kiev na década de 880, e deram àquela terra o seu nome. Diversos estudiosos eslavos se opõem a esta teoria da influência germânica sobre os Rus', e sugeriram cenários alternativos para esta parte da história do Leste Europeu, argumentando que o autor da Crônica, um monge chamado Nestor, teria sido empregado pela corte dos varegues. A historiografia russa inclui diversas teorias anti-normanistas, contrárias à teoria normanista de uma origem escandinava dos varegues. De acordo com o controverso acadêmico ucraniano Yuri Shilov, os varegues (Vargi) seriam uma tribo de eslavos bálticos sem qualquer relação com os vikings nórdicos.
Contrastando com a intensa influência escandinava na Normandia e nas Ilhas Britânicas, a cultura varegue não sobreviveu no Leste. Ao contrário, as classes dominantes varegues das duas poderosas cidades-estado de Novgorod e Kiev sofreram um intenso processo de eslavização no fim do século X. O nórdico antigo foi falado num determinado distrito de Novgorod, no entanto, até o século XIII.
Coincidindo com o declínio geral da Era Viking, o influxo de nórdicos a Rus' foi cessando, e os varegues acabaram sendo assimilados pelos eslavos orientais ao fim do século XI. Ainda assim, acabaram legando o nome à terra da Rus medieval e da Rússia moderna, bem como o etnônimo de sua população.Na Rússia, o termo 'varegue' continuou a ser um sinônimo para 'sueco' até o fim do século XVI.

Mapa com as rotas de navegação e comercio pelos rios do leste europeu dominadas pelos varegues

O declínio da Era Viking também foí responsável pelo surgimento da Guarda Varegue, uma guarda mercenária em sua essência contratada por muitos governantes, para sua defesa pessoal. Mas isso é assunto pra outro post.

Resolvi escrever esse post para explicar um pouco mais como um grupo viking poderia se encontrar em árabes no séc. X, conforme as crônicas de Ibn Fahdlan e o romance escrito por Crichton.
Espero que tenham gostado

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Santo Graal Parte II - O Graal e a Literatura Medieval

Cavaleiro, ícone constante na literatura medieval
Pois bem, após o primeiro post destinado à introdução sobre o assunto, comecemos então a contar as histórias conhecidas sobre o Santo Graal. É necessário, no entanto, remontarmos as origens da lenda do Cálice de Cristo registrada em diversas obras literárias medievais.
O curioso nesse caso, é que o surgimento das obras que narravam as demandas pelo Santo Cálice, coincidem com fatos históricos importantes para o cristianismo ocidental, como as Sagradas Cruzadas e a descobertas de locais e objetos míticos (é "mítico" mesmo, não "místico").
 Praticamente todos os fatos ocorridos e relatados na Bíblia, por exemplo, estão em linguagem figurada, seja por falta de compreensão científica ou, quem sabe, pela necessidade de ocultar entre as linhas fatos ainda mais surpreendentes. Não poderíamos deixar de abordar a literatura medieval que descreve o Graal de outra forma, senão a de tentar, sob todos os aspectos, interpretar cada passagem de seus contos e trovas a fim de encontrarmos sentido junto aos acontecimentos da história oficial. Entre outras palavras: poderemos encontrar registros de existência do Santo Graal apenas em obras literárias da Idade Média.
A etimologia da palavra Graal é uma tanto duvidosa, mas costuma-se considerá-la como oriunda do latim gradalis – cálice (nada haver com a viagem de "Sangreal" do Dan Brown), e não há nenhuma confusão em cima do significado da palavra, que era de um prato ou platter trazida à mesa em varias fases durante uma refeição.
A primeira história na qual a palavra aparece foi escrita através do francês Chréstien de Troyes em sua obra “Le Conte du Graal” . A história de Chrestien estava certamente baseada em antigüidades, mas é desconhecida a fonte ou o significado da palavra Graal.
Se retrocedermos até meados dos séculos XI e XII veremos a difusão de versões e lendas do Santo Graal, e tudo começa com as obras Troyes (1180), do inglês Robert de Boron (1190) e do templário alemão Wolfran Von Eschenbach (1200). Em todos os lugares, parecia moda relatar estórias sobre o Graal, Merlin e Arthur.
Em 1187, Jerusalém caía nas mãos do Sultão Saladino , e se pregava a 3.ª Cruzada. Em 1190, Boron aparece com a obra “Le Roman deL’Estorie du Graal”. 1190 é repleto de acontecimentos: Ricardo Coração de Leão, Rei da Inglaterra, toma a Cruz (expressão da época) e adere à Cruzada. Neste mesmo ano, um incêndio em Glastonbury revela o que seria a tumba do lendário Rei Arthur e Guinevere. No ano seguinte, 1191, os monges da Abadia de Glastonbury editam “Perlesvaus” – Percival como cavaleiro e Arthur encontrando o Graal. Naquele ano os cruzados tomam São João do Acre, na Palestina. Tudo gira em torno de grandes acontecimentos.
Em 1200, um novo ciclo de histórias se inicia do Graal, com a obra “A Quest del Saint Graal” de Willian Map, que traz o herói agora como Galahad e não Percival. Neste mesmo ano, “Parzival” de Wolfran Von Eschenbach aparece. Tudo isso paralelamente com o começo da 4.ª Cruzada, desta vez contra Constantinopla.
Novamente, em 1204 uma crônica do monge de Froidmont conta a história de José de Arimatéia e o Graal, com menção ao "Livro Misterioso".

Os Contos Arthurianos


Não há como mencionarmos a lenda do Santo Graal sem considerarmos a iconografia do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda.
Como já dito, o Santo Graal foi citado em literatura pela primeira vez por Chrétien de Troyes em sua obra com o titulo traduzido de "O Conto do Graal".
Transportando para a história narrada pela obra, encontramos o rei agonizante vendo o declínio do seu reino. Em uma visão, Arthur acredita que só o Graal pode curá-lo e tirar a Bretanha das trevas. Manda então seus cavaleiros em busca do cálice, fato que geraria todas as histórias em busca do Santo Graal. É interessante notar que a água é uma constante na história do Rei Arthur. É na água que a vida começa, física e espiritualmente.

Arthur moribundo
Arthur teria sido concebido ao som das marés, em Tintangel, que fica sob o Castelo do Duque da Cornualha; tirou a Bretanha das mãos bárbaras em doze batalhas, cinco das quais às margens de um rio; entregou sua espada, a mítica Excalibur, ao espírito das águas e, ao final de sua saga, foi carregado pelas águas para nunca mais morrer. Certo de que sua hora havia chegado, Arthur pede a Bedivere que o leve a praia, onde três fadas (elemento ar) o aguardam em uma barca.

“Consola-se e faz quanto possas porque em mim já não existe confiança para confiar. Devo ir ao Vale de Avalon para curar minha grave ferida”.  diz o Rei.

 Avalon é a mítica ilha das macieiras onde vivem os heróis e deuses celtas e onde teria sido forjada a primeira espada de Arthur – Caliburnius. Na Cornualha, o nome Avalon – que em galês refere-se à maçã – é relacionado com a festa das maçãs, celebrada durante o equinócio de outono. Acreditam alguns que Avalon é Glastonbury, onde tanto Arthur quanto sua esposa, teriam sido enterrados. A Abadia de Glastombury também é tida como lugar de conservação do Graal.
As históricas atuais do Rei Arthur incluem a lenda do Cálice de Cristo. Porém não foi sempre assim. “Algo” chamado Graal era conhecido nas histórias arthurianas, porém depois que estas histórias foram cristianizadas é que o Graal foi associado ao Cálice de Cristo. O Graal era um objeto misterioso que não era descrito em detalhes. A história contemporânea, que mencionava o Graal, através do escritor Troyes permaneceu incompleta e permitiu a muitos escritores colocar a própria interpretação deles na história. Deve-se dizer que estas lendas devem ser consideradas “pseudo-histórias”, e na pior das hipóteses fabricações românticas.


A lenda de Arthur unifica-se com a do Graal simbolizando uma época em que dedicava-se uma vida inteira em busca de ideais tais como: honra, respeitabilidade, patriotismo, nobreza e espírito, e temor a Deus.
Muitos escritores notáveis mostraram a semelhança entre os contos de folclores célticos e as histórias do Rei Arthur. Havia muitos caldeirões em contos celtas e alguns tiveram propriedades bem parecidas com as atribuídas aos do Graal como descrito nos contos Arthurianos. Um poema famoso, o Preiddeu Annwn, descreve Arthur e seus homens arriscando-se no mundo dos criminosos celtas para roubar o Caldeirão de Annwn.


O caldeirão teria a habilidade para restabelecer a vida de guerreiros mortos. Note isto na tradição cristã: o Cálice sempre é levado ou é guardado por mulheres e tem a capacidade de restabelecer vidas. Outro caldeirão, o "Caldeirão de Awen" tinha a capacidade de dar todo o conhecimento, se uma poção fosse preparada nele. Também note que na lenda de Arthur o Graal pode dar conhecimento.
Muitos autores tentaram mostrar assim que os caldeirões celtas foram de alguma forma os precursores da imagem atual do Graal.
Entretanto, embora as derivações das lendas celtas sejam populares em teoria, elas por nenhum meio explicam todos os eventos e descrições dentro dos ciclos, nem explicam o interesse súbito da crença do Graal. Embora a derivação das lendas dos caldeirões celtas sejam boas, não explicam completamente os ciclos do Graal.
É inevitável dizer da necessidade de aprofundar-se no estudo dos Contos Arthurianos para se obter mais informações sobre o súbito aparecimento do Santo Graal na literatura da Idade Média por volta do século XII. "O Conto do Graal" é um poema inacabado de 9 mil versos que relata a busca do Graal, da qual Arthur nunca participou diretamente, e que acaba suspensa. Um mito por si só. Porém, o que se pode afirmar é que "O Conto do Graal" é uma obra de ficção baseada em personagens e histórias reais que serve para fortalecer o espírito nacionalista do Reino Unido, unindo a figura de um governante invencível a um símbolo cristão.
Ao que tudo indica nas obras literárias, o cálice teria sido levado à Inglaterra, mas por quê? E por quem? Do ponto de vista literário, já foi explicado. Porém, existem outras histórias muito mais interessantes.

Os contos de Boron

As narrativas creditadas aos Contos do escritor francês Robert de Boron são uma verdadeira viagem, porém não menos interessantes e intrigantes ao mesmo tempo. Boron é um escritor medieval e usa o Graal como agente ativo em suas obras.
Exste uma lenda britânica que afirma que Cristo fez peregrinações no próprio continente europeu, alcançando a Bretanha. Diz-se que, durante a sua permanência na Cornualha, havia recebido em dádiva um cálice de um druida convertido ao cristianismo (isto entendido como “o que Cristo prega”), e por aquele objeto ele tinha um carinho especial. Após sua crucificação, José de Arimatéia quis levar o objeto, santificado pelo sangue de Cristo, ao seu antigo dono, o druida que era Merlin (realmente uma viagem), traço de união entre a religião celta e cristã.
É na obra de Robert de Boron (1190), José de Arimatéia, que o mito retrocede no tempo até chegar a Cristo e à última ceia.
Boron conta que, certa noite, José de Arimatéia é ferido na coxa por uma lança (percebe-se também, sempre presente, as referências às lanças e espadas, símbolos do fogo, tanto na história de Jesus como de Arthur). Em outra versão, a ferida é em sua genitália e a razão seria a quebra do voto de castidade. Este fato está totalmente relacionado à traição de Lancelot que seduz Guinevere, esposa de Arthur. Somente uma única vez Boron chama a taça de Graal. Em um inciso, ele deduz que o artefato já tinha uma história e um nome antes de ser usado por Jesus:

“Eu não ouso contar, nem referir, nem poderia fazê-lo (...) as coisas ditas e feitas pelos grandes sábios. Naquele tampo foram escritas as razões secretas pelas quais o Graal foi designado por este nome”.
             Robert de Boron.

 José de Arimatéia teria sido, portanto, o primeiro custódio do Graal. O segundo teria sido seu genro, Brons. Algumas seitas sustentam que o ciclo do Graal não estará fechado enquanto não aparecer o terceiro custódio. Esta resposta parece vir com "A Demanda do Santo Graal", de autor desconhecido, que coloca Galahad como o único entre os cavaleiros merecedor de se tornar Guardião do Santo Graal.
Robert de Boron conta que os judeus, ao descobrirem José de Arimatéia, prendem-no em uma cela sem janelas onde todos os dias uma pomba se materializa deixando-lhe uma hóstia, seu único alimento durante todo o cárcere, graças ao qual sobrevive. José esconde a taça que Jesus usou na Última Ceia, ao redor da qual sentam doze pessoas (semelhança À lenda  da Távola Redonda). No lugar de Cristo é colocado um peixe. O assento de Judas Escariotes fica vazio e quando alguém tenta ocupá-lo é “devorado pelo lugar” de forma misteriosa. A partir desse momento esse assento é conhecido como a Cadeira Perigosa (mesmo nome do assento da Távola Redonda que também ficava vazio e só poderia ser ocupado pelo “cavaleiro mais virtuoso do mundo". Em algumas versões, é o assento de Lancelot que sempre fica vazio. Lancelot, o mais dedicado cavaleiro, que assim como Judas em relação a Jesus, era o que mais amava Arthur e também o que o traiu). José de Arimatéia funda sua congregação em Glastonbury. No lugar onde teria edificado sua Igreja com barro e palha há os restos de uma abadia muito posterior.
O Graal-taça é tido como um episódio místico e o Graal-pedra como a matéria do conhecimento cristalizado em uma substância. Já o Graal-Livro é a própria tradição primordial, a mensagem escrita.
De acordo com vários contos, as histórias do Graal se originaram de um grande livro misterioso que teria sido compilado, em 717, por um eremita nascido em Gales. Este copiara o livro original escrito pelo próprio Jesus Cristo. Em outros casos, o autor era um astrônomo pagão-judeu, de nome Flegetanis que lia nos astros a história do Graal.
Robert de Boron, que acreditam ter escrito “Le Roman de L’Estorie dou Graal ” começa a história usando essas fontes. Inicia com José de Arimatéia, vai para Merlin, e termina em Percival.
Em José de Arimatéia, Boron diz:

 “ Jesus ensinou a José de Arimatéia as palavras secretas que ninguém pode contar nem escrever sem ter lido o Grande Livro no qual elas estão consignadas, as palavras que são pronunciadas no momento da consagração do Graal”.Robert de Boron

De fato, em "Le Grand Graal", continuação da obra de Boron por um autor anônimo, o Graal é associado – ou realmente é – um livro escrito por Jesus, o qual a leitura só pode se entender – ou iluminar – quem está nas graças de Deus.

 “ As verdades de fé que este contém não podem ser pronunciadas por língua mortal sem que os quatro elementos sejam agitados. Se isso acontecesse realmente, os céus diluviariam, o ar tremeria, a terra afundaria e a água mudaria de cor”.

 O Graal-livro teria um terrível poder.


O Graal-Pedra de Eschenbach

Toda a história é mudada quando contada pelo alemão Wolfram Von Eschenbach (1200), quase ao mesmo tempo que Boron. Em "Parzifal", Eschenbach coloca na mão dos Cavaleiros Templários a guarda do Graal que não é uma taça, mas sim uma pedra. Sobre uma verde esmeralda, ela trazia o desejo do Paraíso: era o objeto que chamava-se Graal. Para Eschenbach, o Graal era realmente uma pedra preciosa, pedra de luz trazida do céu pelos anjos. Ele imprime ao nome Graal uma estreita dependência com as forças cósmicas. A pedra é chamada Exillis ou Lapis exillis, Lapis ex coelis, que significa “pedra caída do céu”, ou para outros autores como Lapis erillis (Pedra do Senhor).
É a referência à esmeralda na testa de Lúcifer, que representava seu terceiro olho. Quando Lúcifer, o Anjo da Luz, se rebelou e desceu aos mundos inferiores, a esmeralda partiu-se e sua visão passou a ser prejudicada. Lúcifer conduziu um terço dos anjos em uma revolta contra Deus mas foi derrotado. Um dos três pedaços ficou em sua testa, dando-lhe a visão deformada que foi a única coisa que lhe restou. Outro pedaço caiu ou foi trazido à Terra pelos anjos que permaneceram neutros durante a rebelião. Mais tarde, o Santo Graal teria sido escavado neste pedaço. Compara-se o Graal-Pedra de Eschenbach com a não menos mítica Pedra Filosofal que transformava metais comuns em ouro, homens em reis, iniciados em adeptos, matéria e transmutação, seres humanos e sua transformação.

O alemão tem como modelo de fiéis depositários do cálice os Cavaleiros Templários. Seria Wolfran Von Eschenbach um Templário? Sabemos que sim! Era a época em que Felipe de Plessiez estava à frente da ordem quase centenária. O próprio fato de ser a pedra uma esmeralda se relaciona com a cavalaria. Os cavaleiros em demanda usavam sobre sua armadura a cor verde, sinônimo de vitalidade e esperança. Malcon Godwin, escritor rosacruz, refere-se a Parzifal da seguinte maneira:

“Muitos comentadores argumentam que a história de Parzifal contém, de modo oculto, uma descrição astrológica e alquímica sobre um indivíduo que é transformado de corpo grosseiro em formas mais e mais elevadas”.
                      Malcon Godwin

 Nesta obra que é um retrato da Idade Média – feito por quem sabia muito bem do que estava falando – reconhece-se uma verdadeira ordem de cavalaria feminina, na qual se vê Esclarmunda, a virgem guerreira cátara, trazendo o Santo Graal, precedida de 25 mulheres segurando tochas, facas de prata e uma mesa talhada em uma esmeralda. Na descrição do autor da cena de Parzival, há um castelo cujo proprietário é o personagem chamado de "rei-pescador". Lemos:

“Em seguida apareceram duas brancas virgens, a Condessa de Tenabroc e uma companheira, trazendo dois candelabros de ouro; depois uma duquesa e uma companheira, trazendo dois pedestais de marfim; essas quatro primeiras usavam vestidos de escarlate castanho; vieram então quatro damas vestidas de veludo verde, trazendo grandes tochas, em seguida outras quatro inocentes donzelas; traziam duas facas de prata sobre uma toalha. Enfim, apareceram seis senhoritas, trazendo seis copos diáfanos cheios de bálsamo que produzia uma bela chama, precedendo a Rainha Despontar de Alegria; esta usava um diadema, e trazia sobre uma almofada de achmardi verde (uma esmeralda) o Graal, 'superior a qualquer ideal terrestre."
Wolfram Von Eschenbach

Observações quanto às obras
Chréstien de Troyes escrevera o seu "O Conto do Graal" em 1128. Wolfram afirmava com grande segurança que a versão da história do Graal de Chréstien é errada, enquanto que a sua é fiel porque é baseada sobre "informações privilegiadas". Tais informações (...) veio de um certo "Kyot de Provence" (Provence, região sul da França, onde se localiza a cidade de Troyes).
Então, como fez Troyes a preceder Wolfram? É provável que o poeta tenha recebido algumas informações de qualquer fonte desconhecida templária.
 Na cidade de Troyes, São Bernardo traçou as regras da Ordem Templária, que havia, por sua vez, estreitos relacionamentos com tal cidade (moradia de Troyes). É difícil sustentar que, ninguém, em uma cidade assim importante para os cavaleiros, fosse a corrente do reencontro do Graal por parte dos mesmos. Se Chrétien vem ao conhecimento somente de um fragmento da história, é fácil que tenha nesse momento princípio para escrever o seu " O Conto do Graal", sob a base de um fato, construindo um poema em versos sobre o cálice.

Bernardo de Claraval
Também é conveniente ressaltar que, na obra de Troyes, do Graal se fala pouquíssimo: Percival, o protagonista, não informa nunca a identidade do objeto, e o autor não dá qualquer informação sobre a relíquia. Limita-se a dizer que:
"...uma garota muito bonita, bem adornada, vinha com valetes e tinha entre as mãos um graal. Quando foi entrar na sala com o graal que portava, se difunde uma luz que se torna em clarão, como estrelas quando se eleva o sol e a lua (...). O graal que vinha era de fato do ouro mais puro. Haviam pedras incrustadas de muitas espécies, as mais ricas e preciosas que são do mar ou da terra. Nenhuma poderia comparar-se às pedras que rodeavam o graal...".

 O comportamento de Perceval é verdadeiramente desconcertante:

 "De frente aos dois convidados uma outra vez passa o graal, mas a jovem não pergunta a quem o serve (...) Ele tem desejo de sabê-lo, mas pensa que terá tempo de pergunta-lo amanhã a um dos valetes da corte, de manhã quando deixará a senhora e toda a sua gente".
 O que instigou a jovem a calar-se, e não prontamente a lhe informar? Chrétien não motiva o comportamento de Perceval, e depois que a sua obra continua incompleta, o fato acaba ainda mais ambíguo.
Troyes parece referir-se não ao cálice utilizado por Cristo durante a última ceia nem por Arimatéia depois de Sua morte, mas uma comum taça de mesa. Ele, de fato, o define "um graal" e não como "o Graal". Além disso, é provável que Chrétien não tenha nunca visto o Graal: não há prova do fato que ele o descreve como sendo uma peça de ouro com pedras incrustadas.
Que Cristo tenha utilizado um cálice com este valor na última ceia é bastante improvável. Todos esses elementos levam a considerar o poema de Troyes um ótimo trabalho literário, decadente, mas do ponto de vista histórico, excelente. Não obstante isto é possível que a leitura de Perceval revele um fundo de verdade que pode ser ajudado a localizar a relíquia. Se existir uma...
Wolfram von Eschembach, que podia usufruir uma fonte como a de Guyot, diretamente em contato com a família italiana de Monferrato (outro post sobre eles, lá na frente...), ataca os erros e dos absurdos textos dos poetas franceses, iniciando seu poema sublinhando o fato de que a versão de Troyes estava errada, se bem que, "Parzifal" não pode ser lido como um rigoroso documento histórico. A isso devem ser distintos os aspectos simbólicos daquelas histórias, e é necessário reconhecer em algumas passagens, referências a fatos e lugares reais.
É fato que todas as obras que citam a existência do Santo Graal são também as origens das teorias. Robert de Boron, em suas inúmeras obras, faz citações sobre o Graal e, através destas, ilustra outras teorias sobre sua existência. Desta forma, confunde-se e torna-se difícil classificar as teorias de existência do Santo Graal com meros contos que o ilustram, podendo-se afirmar que as obras literárias são, na verdade, teorias escritas de sua existência.

Nossa busca não termina aqui. O proximo post será sobre José de Arimatéia. Aguardem...

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O Santo Graal


Eu sei...
Estava demorando...
Aqueles que me conhecem já deviam ter se perguntado quando eu finalmente iria começar a escrever sobre esse assunto. Também pudera, sou conhecido por ser aficcionado desde minha adolescência pelo Graal e isso significa um certo tempinho.
Na verdade o interesse pelo assunto Graal vem desde exatamente meu 13 anos quando assisti um dos meus filmes favoritos: "Indiana Jones e a Ultima Cruzada". Tá eu sei, o filme é uma baita fria, mas não dá pra dizer que não é legal, ainda mais pela mística do personagem Indiana Jones, coisa e tal...


O assunto do Cálice de Cristo remonta muitas passagens na minha formação, em especial em todas as lendas medievais que Lord Baden Powell fundamentou boa parte do movimento escoteiro e, como todos sabem, minha juventude foi passada todinha junto a um Grupo Escoteiro, uma das melhores coisas que meus pais puderam me propiciar.
Os ideais da cavalaria medieval, os códigos de honra e tudo o mais sempre me fascinaram, além dos fatos históricos intrigantes e misteriosos que cercam a lenda do Cálice de Cristo. Todos esses elementos levaram a uma vasta pesquisa por livros e pela web.


O interesse pela lenda do Sacro Cálice rendeu um belo material de mais de 120 páginas digitadas e um site que mantive por 4 anos, mas me enchi do saco em mantê-lo (escrever sempre sobre um mesmo assunto cansa!), além do fato de ser cada vez mais difícil deixar o site como a gente quer em provedor gratuíto.
Entretanto, o que mais me deixou puto foi a onda de interesse sobre o assunto logo após o lançamento do Best-Seller de Dan Brown, "O Codigo Da Vinci". Que fique bem claro: pesquisei com afinco sobre o Santa Graal desde 1997, muito antes, portanto, desse sensacionalista publicar seus livros afirmando criminosamente que seus conteúdos eram factuais (vide meu post sobre O Codigo Da Vinci). Ou seja, o assunto Graal pra mim não é nada novo  e não surgiu ontem ou logo após ler um livro de modinha.
Esse será meu primeiro post, na verdade um post de apresentação, de uma série destes sobre o assunto Graal. Tentarei compilar e condensar o máximo de informação naquilo que é mais interessante sobre a lenda. Quero voltar a escrever sobre o assunto e compartilhar um pouco mais sobre os diversos ramos dessa magnífica história.


Convido a todos para curtirem uma série de histórias incríveis sobre o Santo Graal, o cálice que Jesus Cristo teria usado na sua ultima ceia junto aos 12 apóstolos e que foi usado para coletar Seu sangue no Calvário para depois ser confiado a José de Arimatéia. Em nenhum momento o artefato foi citado nas sagradas escrituras bíblicas caracterizando-se por ser uma lenda medieval surgida na França e difundida pela Inglaterra, Alemanha e Italia, entre outros reinos europeus do séc. XII.


Veremos nos posts que serão publicados que o Graal poderá ser uma série de coisas, ou de significados. Num primeiro momento, o Graal é considerado uma relíquia. Mas, afinal o que é uma relíquia?
Uma relíquia é, geralmente, um membro decepado de algum santo, como a mão de São Sebastião ou a cabeça de São Paulo. Conforme os preceitos cristãos, Cristo foi ressuscitado e partiu para o céu, sendo assim, uma relíquia também poderá ser tudo aquilo que Ele tenha usado ou simplesmente tocado. A coluna em que foi torturado, a Cruz, o Sudário de Turim, a Lança de Longino, os pregos e a Coroa de Espinhos. Tudo isso foi encontrado, catalogado, registrado e avaliado... mas e o Graal?
Bom, para que possamos ter um princípio em nossa "Demanda do Santo Graal", deveremos recorrer aos livros e conhecer onde e em que momento o Santo Cálice foi mencionado pela primeira vez na história. Isso significa que deveremos mergulhar no universo literário medieval e conhecer um pouco mais sobre os poemas e contos cavaleiriços daquele período. Estudar sobre o Santo Cálice é estudar os princípios do que veio a ser a cultura cristã ocidental.


 Mas isso já é assunto para um proximo post sobre o assunto...