quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O Santo Graal Parte III: José de Arimatéia


Como prometi, mais uma parte sobre minha pesquisa sobre o "Santo Graal". No post anterior, falei sobre as menções do Graal na literatura medieval citando as obras do francês Robert de Boron que narra a história de José de Arimatéia. Resolvi neste post me aprofundar sobre esse importante personagem que pertence há muitas lendas sobre o Santo Cálice.
Pois bem...

José de Arimatéia era membro do Sinédrio, homem rico, bom e justo (Jo19:18) e que não deu sua aprovação à sentença de morte à Jesus Cristo (Lc23:50). Este desprendeu Seu corpo da cruz, com Nicodemos (Jo19:38) e depositaram-no no túmulo (Jo19:42).
Após estas passagens, Arimatéia não é mais mencionado na Bíblia.
Por que a lenda de José de Arimatéia, responsável por tomar o cálice da ceia e tê-lo usado para recolher o sangue de Cristo e depois tê-lo levado consigo? Tudo isso, deve-se à obra literária de Robert de Boron: "José de Arimatéia", onde o mesmo conta a história de José de Arimatéia e sua saga, depois da Crucificação de Cristo.

As narrativas abaixo foram retiradas da obra de Boron:

José de Arimatéia é um influente cavaleiro a serviço de Poncio Pilatos, que aprendeu a amar da Deus, mas com medo dos Judeus, manteve esse amor em segredo. Após a crucificação, pediu o corpo de Cristo a Pilatos, como recompensa por serviços prestados. Pilatos atendeu o pedido e ainda lhe deu um recipiente que os judeus tinham oferecido a Jesus e no qual este fizera sua oferenda. Depois disso, Arimatéia tirou o corpo de Cristo da Cruz, com a ajuda de Nicodemos. Quando o lavaram, as feridas começaram a sangrar e Arimatéia se lembrou do recipiente e pensou que nele as gotas seriam bem guardadas. Sepultou Jesus e levou o recipiente para casa. Os Judeus aborrecidos com o desaparecimento do corpo, por ocasião da ressurreição, prenderam Arimatéia de modo que ninguém mais o encontrasse em uma cela sem janelas onde todos os dias uma pomba se materializa deixando-lhe uma hóstia, seu único alimento durante todo o cárcere, graças ao qual sobrevive. Então Cristo lhe aparece na prisão. Arimatéia confessa o amor, mas que jamais tinha ousado falar com Ele e pede desculpas por estar sempre na companhia dos que desejavam sua morte. Jesus o consola dizendo:

 "Deixei que ficastes com eles por saber que irias me prestar grandes serviços, ajudando-me onde meus discípulos não ousariam. E tu fizeste por compaixão. Tu me amaste secretamente como também eu a ti, e nosso amor se revelará a todos para prejuízo dos infiéis, porque tu terás sob tua guarda o sinal da minha morte, hei-lo aqui."

Jesus então mostra o Graal:

"Ele será teu e o guardará, assim como todos a quem o entregares. Mas os guardiões devem ser três e estes três o terão, em Nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Estes três são uma e a mesma coisa em um único Deus. Nisso deves crer."

Cristo entrega o Graal a Arimatéia e diz:

"Estás segurando o sangue das três pessoas da única divindade, que fluía das feridas do filho encarnado, que sofreu a morte para salvar a alma dos pecadores. Sabes o que ganhas com isso? Que nunca mais será feito um sacrifício, e quem souber isso será o mais amado do mundo, e a companhia dos que souberem do fato e que escreverem livros sobre o assunto será a mais procurada do que as outras pessoas."

 José de Arimatéia pergunta sobre a razão de receber tal presente. Cristo responde com um interessante ensinamento sobre a missa católica:

"Tiraste-me da cruz e me puseste no teu túmulo, depois que estive na ceia na casa de Simão eu lhe disse que seria traído. Como isto aconteceu à mesa, futuramente erguerão mesas para me sacrificar. A mesa significa a cruz; os recipientes representam o túmulo. Este é o cálice onde meu corpo será consagrado na forma de uma hóstia. A pátena que colocaram representa a tampa com que fechaste o túmulo, e o pano que porão por cima, o linho que envolveu meu corpo. Deste modo até o final do mundo o significado do teu feito será conhecido..."

 Boron ainda escreve:

"E depois disso, Cristo lhe ensina as palavras que não posso dizer, mesmo que quisesse, sem ter o Grande Livro onde estão escritas. Este é o Mistério da Grande Cerimônia do Graal."

Cristo diz ainda a Arimatéia que toda a vez que sentisse necessidade, deveria dirigir as três forças, que são uma e à beata mulher que carrega o filho. Jesus avisa a Arimatéia que este ainda terá que passar algum tempo no cárcere e que um dia sua libertação teria caráter milagroso e Arimatéia ficou preso mantido vivo apenas pelo Graal.
Intercala-se a lenda ao Sudário de Verônica, pelo qual Vespasiano fora curado da Lepra.
Por gratidão, os romanos Tito e Vespasiano foram a Jerusalém afim de vingar a morte do Profeta que o havia curado. Falam com Pilatos que se lembra de Arimatéia. Muitos judeus são mortos até que um revela o local de cativeiro. Assim, José é libertado e Vespasiano é batizado.
Certa vez, por não produzirem colheitas nas terras, Arimatéia se coloca a frente do Graal e pede conselhos. O Graal lhe diz que deveria encontrar os culpados e eliminá-los da comunidade. Em seguida, seu cunhado, Brons, deveria ir ao rio e trazer o primeiro peixe que pescasse, estender um pano sobre a mesa, por o Graal no meio, ao lado do peixe.

"Depois disso senta-te no teu lugar, como estava na ceia. Brons se sentará à tua direita, verás que ele se afastará de ti, de modo que haverá um lugar vago entre tu e ele. Este lugar representar o lugar de Judas, Ninguém preencherá essa vaga até que o Filho de sua irmã Enygeus e Brons tome teu lugar."

Quando o povo foi chamado à mesa, parte senta, mas muitos não conseguem encontrar lugar. Exceto pelo lugar vago. Os que estão sentado à mesa, sentem a doçura do Graal. Um deles, Pedro, pergunta aos que estão de pé ao redor se não sentiam algo de graça. Eles respondem que não, e que foi impossível se aproximar da mesa. Pedro diz:

“ Isso mostra que com um pecado, causaste a carestia que estamos sofrendo”.

Deste modo Arimatéia reconhece os pecadores:


“Por meio do Graal somos separados, porque ele não tolera pecadores em suas proximidades”.

Depois disso, a sociedade se separa, ficando os bons , a partir de então, todos os dias à mesa, na mesma hora para o mesmo culto, que eles chama de “Culto do Graal”.
Um dos recusados de nome Moys tentou sentar a mesa, no lugar vago. O chão se abriu e engoliu Moys todos perguntaram a Arimatéia o que aconteceu e ele então ajoelhou-se em frente ao Graal e perguntou. O Graal respondeu:

“José, José, o sinal que te falei agora se tornou verdade, eu te disse que o lugar deveria permanecer vago até que o terceiro homem da tua estirpe, o filho de Brons e Enygeus o ocupe”. 

Brons e Enygeus tiveram 12 filhos, quando cresceram foram levados a presença de José de Arimatéia que aconselhado pelo Graal escolheu Alain de Grois, o mais moço de todos. Arimatéia mostrou o Graal e comunicou-lhe que um dia lhe nasceria um herdeiro, ao qual teria que entregar o Graal.
O recipiente falou ainda que Pedro deveria ir ao Vale de Avalon, esperar aí o filho de Alain.
Alain partiu com um grupo para evangelização para países estranhos. Pedro ainda permaneceu para receber ensinamentos sobre o Graal e ser testemunha da transferência deste para Brons, porque ele deveria ser o Guardião do Graal. Arimatéia lhe comunicou as palavras sagradas chamadas de “O Segredo do Graal” e depois disso a sentença: “A partir de agora, deve guardá-lo e por nada menosprezá-lo ou todo o desprezo e vergonha cairá sobre ti, e caro terá que pagá-lo”.

O Graal ainda disse:

”Todos os que dele ouvirem falar o chamarão de “Rico Pescador” devido ao peixe que pescou. Assim também essas pessoas devem ir ao oeste. Quando o “Rico Pescador” tiver recebido o Graal, deverá esperar o filho de seu filho para transferir e recomendá-lo ao Graal. E, quando chegar o tempo em que possa aceita-lo o significado da Trindade será realizado entre vós. E tu, porém, José, te despedirás do mundo e entrarás na alegria eterna”.

As palavras secretas José a assentou em um papel e as mostrou em seguida ao Rico Pescador. Brons permaneceu ainda por três dias com José, depois despediu com as palavras:

“Sabes bem o que levas contigo, e em que companhia andas, ninguém sabe tão bem quanto eu e tu, vai pois eu ficarei conforme ordem do meu Salvador”.

Assim se separaram e o Rico Pescador de quem desde então se fala tanto, foi para a Britânia; José, porém, foi por ordem do Senhor para o país de onde nascera e lá ficou até o fim de sua vida.
Lendas em torno dos contos de Boron são formadas, como por exemplo, a de que Arimatéia, sua irmã e seu cunhado velejaram para a Inglaterra, onde ele montou a primeira igreja Cristã em Glastonbury.
Algumas lendas reivindicam que ele deixou o cálice aos cuidados do cunhado na França, enquanto a maioria das histórias contam que ele trouxe o Cálice para Glastonbury aonde foi associado às lendas locais do Graal e que lá ficou até seus últimos dias.
Entretanto, é notória a relação entre as histórias de José de Arimatéia e os contos arthurianos, principalmente os elementos que o compõem, como: a mesa e doze pessoas (doze apóstolos); a menção de Avalon; Glastonbury, onde estaria enterrado o Rei Arthur e sua esposa Guinevere, entre outros.
Segundo os contos de Boron, o Santo Graal teria passado pelas seguintes pessoas:
a) Judeus: um presente dos judeus à Cristo;
b) Jesus Cristo: em sua última ceia;
c) Poncio Pilatos: este entregou o Graal a José de Arimatéia como parte do pagamento;
d) José de Arimatéia: Recolheu o sangue de Cristo;
e) Brons: o “Rico Pescador” dos contos de Boron. Cunhado de Arimatéia que deveria partir para a Bretanha;
f) Percival: filho de Alain de Grois e neto de Brons. Foi o escolhido para ser o guardião do Santo Graal.

A história apresentada é bastante interessante e bela, com começo, meio e fim. A explicação que o herói dos contos arthurianos, Percival, é descendente direto de José de Arimatéia e é Merlin que o revela isso, explica o porque de Percival ser o único dos cavaleiros enviados por Arthur para encontrar o Santo Graal e consegue encontrá-lo, que novamente desaparece, levado por Percival para ilha de Avalon.

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