segunda-feira, 9 de abril de 2012

O Dossiê Odessa

Fazia tempo em que um livro não prendia tanto a minha atenção e entusiamo em sua leitura quanto este, pois, fissurado por história e apaixonado pela II Guerra Mundial, suas causas e consequencias, como sou, minha empolgação ao ler este livro não poderia ser diferente.
Romance clássico de espionagem de autoria do especialista no assunto Frederick Forsyth, O Dossiê Odessa é muito mais que um bom romance no momento em que consideramos muitas de suas passagens como factuais, pois de fato, elas são.
O que me deixa puto da cara (comigo mesmo, diga-se de passagem) é: "como não li esse livro antes?" Já havia ouvido falar de Frederick Forsyth, inclusive já lido um de seus livros (Cães de Guerra), então como que ainda eu não tivera conhecimento deste? Ao comentar com meu tio, este prontamente afirmou já ter ouvido falar do livro "pois era um clássico do gênero", segundo ele mesmo. Porra meu...


Então, apresentemos a obra:
Forsyth nos apresenta logo no prefácio que o significado de Odessa nada tem a ver com a cidade Russa ou a cidade homônima nos Estados Unidos e sim uma abreviação para Organisation Der Ehemaligen SS-Angehorigen (não sabem como foi horrível escrever o significado dessa sigla) que significa, em resumo Organização dos Ex-Membros da SS, sendo esta o tema central do plot do livro.
Em síntese, a narrativa conta a história do repórter freelancer Peter Miller que se envolve numa investigação e ao acaso se ve envolvido com a Odessa. Não é minha intenção, como de praxe em meus posts, descrever ou sintetizar a obra mas sim analisá-la e contextualizá-la.
Vários foram os aspectos que me chamaram a atenção nesse comance publicado em 1972. O primeiro deles é o período e local onde a história se passa: a Alemanha do pós-guerra, 1963, justamente quando o Presidente dos EUA John Kennedy é assassinado em Dallas. O assassinato de Kennedy em si não reflete em nenhum momento na trama senão no auxilio ao leitor para que se situe na geopolítica daquele momento. Forsyth cita em sua obra personagens verídicos, mesmo que em alguns casos brevemente, como o Presidente Egípcio Anuar Saddat, o premier alemão Konrad Adenauer, entre outros.
Sempre foi de meu interesse saber um pouco mais de como era a Alemanha, sua organização política e economica, logo após a II Guerra e o livro tem como pano de fundo justamente essa realidade. A obra retrata o milagre economico alemão do pós-guerra e a crise cultural, ética e moral vivida por sua população ante os crimes horrorosos promovidos pelos nazistas à humanidade e desconhecidos por ela. O protagonista da trama Peter Miller possuia apenas 29 anos e seus questionamentos frequentes sobre os fatos ocorridos há 20 anos atrás em seu país permeiam a narrativa.

Frederick Forsyth
Outro aspecto interessantíssimo sobre este livro é o fato de que o mesmo fora usado para promover a caça a nazistas e a denúncia da existencia da Odessa. Em determinado ponto da narrativa, o protagonista Peter Miller encontra-se com o renomado Simon Wiesenthal, judeu sobrevivente dos campos de concentração nazista que se tornou após a guerra caçador de nazistas, para que o ajude na caça a um fugitivo nazista ex-oficial da SS de nome Eduard Roschmann, conhecido como "O Açougueiro de Riga". De fato, Wiesenthal existiu (falecido em 2005  em Viena aos 97 anos), bem como Roschmann, que vivera em segredo até ser encontrado morto na Argentina. A bem da verdade é que Wiesenthal usou a obra de Forsyth  (com sua conivência, é claro) para que a Odessa fosse realmente denunciada. Com o advento da obra, as autoridades alemãs entre outras tornam-se mais empenhadas na caça a antigos membros da SS e demais nazistas ainda escondidos pelo mundo, principalmente na America do Sul, como relata o livro.

Simon Wiesenthal
A obra de Forsyth também fala da tensa questão no Oriente Médio quando aborda as mobilizações militares de Israel e Egito que culminaram na Guerra dos Seis Dias em 1967, bem como as movimentações diplomáticas da então Alemanha Ocidental pró-Israel que motivaram a Odessa a tomar partido da causa árabe por os considerarem "antigos amigos do Reich".
Assim como seus outros livros como: Cães de Guerra e O Dia do Chacal, O Dossiê Odessa foi parar nas telas em 1974 tendo como interpretw do protagonista nada mais nada menos que John Voight. O filme também ajudou a alavancar a causa de Wiesenthal (cabe aqui lembrar que Wiesenthal foi consultor durante as filmagens). Taí mais um filme em que me faz ficar fodido da vida por até então nunca ter ouvido falar na sua existencia, o que me faz ficar obcecado por assisti-lo. Mas, como é de praxe, por já ter lido o livro, é de se esperar a inferioridade da obra cinematográfica.
Mesmo assim não vou descançar se não encontrar esse troço.


É evidente, no entanto, que o livro nos trás um pouco de reflexão e não apenas puro entretenimento e informação. Forsyth nos leva a entender que em um momento da recente história mundial o mundo não foi somente bipolar com comunistas de um lado e capitalistas de outro, mas que houve uma terceira ideologia que ceifou a Europa e muitas outras nações no início do séc. XX. Noutro determinado ponto da narrativa onde Peter Miller finalmente está cara-a-cara com Roschmann, o perseguido assim se pronuncia:
 "...Quer uma prova da nossa grandeza? Veja a Alemanha de hoje. Esmagada e destroçada em 1945, completamente destruída a mercê dos bárbaros do Leste e dos loucos do Oeste..."
Ou seja, a Alemanha nazista era o contraponto entre o capitalistmo yanque e o comunismo bolchevique. O filme A Soma de Todos os Medos,cujo protagonista é o agente Jack Rian (o mesmo de Caçada ao Outubro Vermelho, Jogos Patrióticos e Perigo Real e Imediato) também conta uma história semelhante onde uma aliança de líderes europeus de extrema direita planeja o início da Terceira Grande Guerra com atentados terroristas.


Entretanto, a existencia da Odessa, ao que tudo indica, não tinha como objetivo a priori fomentar uma revolução de larga escala mundial ou mesmo a construção de um futuro 4º Reich Alemão, senão apenas a proteção de ex-membros da SS perseguidos nos tempos já de paz por suas atrocidades durante a guerra, principalmente contra judeus nos inúmeros campos de concentração.
Está claro, tanto no livro quanto em demais fontes de pesquisa que pude consultar, que os fundos criados durante a guerra para o financiamento das operações da Odessa foram usados apenas para  a proteção e fuga de seus membros.
É fato, no entanto, que a Odessa teve inúmeros êxitos, por mais que muitos carrascos nazistas viessem a ser capturados. Muitos deles viveram seus ultimos dias em paz e no anonimato, sob falsas indentidades em países distantes da Alemanha. A Argentina foi o principal destino destes ao final da guerra principalmente pela simpatia que Perón tinha pelos nazistas (até nisso esses castelhanos cagaram no pau). Hoje, certamente que existem alguns membros vivos da Odessa, mas devem estar usando fraldas geriátricas sentados numa cadeira de rodas com um chale no colo.
A Odessa deixou de ser uma organização temida.
Graças aos novos valores universais do nosso contemporaneo os ideais nazistas deixaram de ser uma ameaça sobrevivendo apenas na cabeça de alguns jovens imbecis que possuem vácuo ao invés de massa encefálica, pois não são capazes de se preocupar em conhecer os estudos que expoem as teorias xenofobas ao ridículo.
Com os nazistas e fascistas varridos da Europa bem como a queda da Cortina de Ferro, ficamos assim, a mercê dos arrogantes yanques e da real organização que deveria ser temida. Nada de Maçonaria, nada de Iluminatti, nada de Rozacruz, nada de Comissão Trilateral ou Comissão Bilderberg... Só que se eu disser quem eu penso ser, irei preso por xenofobia.
Abaixo, um link sobre um documentário no TerraTV sobre a Odessa. É longo, tem mais de 45 minutos mas vale a pena.

http://terratv.terra.com.br/videos/Diversao/Documentarios/History-Channel/4689-391030/Cacadores-de-Misterios-A-Ascensao-do-Quarto-Reich.htm

Humilde opinião de quem vos escreve.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Para reflexão!


Reproduzo, na íntegra, o texto de Dom Henrique Soares, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Aracajú-SE, que aborda a realidade da TV brasileira.
Peço que, ao iniciarem a leitura do texto abaixo, procurem esquecer os detalhes religiosos ou que venham a vincular qualquer idéia à carolagem ou ética católica. Ou seja, independente do aspecto religioso, devemos reconhecer que o texto diz muuuuita coisa contundente e não menos verdadeira.


"A situação é extremamente preocupante: no Brasil, há uma televisão de altíssimo nível técnico e baixíssimo nível de programação. Sem nenhum controle ético por parte da sociedade, os chamados canais abertos (aqueles que se podem assistir gratuitamente) fazem a cabeça dos brasileiros e, com precisão satânica, vão destruindo tudo que encontram pela frente: a sacralidade da família, a fidelidade conjugal, o respeito e veneração dos filhos para com os pais, o sentido de tradição (isto é, saber valorizar e acolher os valores e as experiências das gerações passadas), as virtudes, a castidade, a indissolubilidade do matrimônio, o respeito pela religião, o temor amoroso para com Deus.

Na telinha, tudo é permitido, tudo é bonitinho, tudo é novidade, tudo é relativo! Na telinha, a vida é pra gente bonita, sarada, corpo legal… A vida é sucesso, é romance com final feliz, é amor livre, aberto desimpedido, é vida que cada um faz e constrói como bem quer e entende! Na telinha tem a Xuxa, a Xuxinha, inocente, com rostinho de anjo, que ensina às jovens o amor liberado e o sexo sem amor, somente pra fabricar um filho… Na telinha tem o Gugu, que aprendeu com a Xuxa e também fabricou um bebê… Na telinha tem os debates frívolos do Fantástico, show da vida ilusória… Na telinha tem ainda as novelas que ensinam a trair, a mentir, a explorar e a desvalorizar a família… Na telinha tem o show de baixaria do Ratinho e do programa vespertino da Bandeirantes, o cinismo cafona da Hebe, a ilusão da Fama… Enquanto na realidade que ela, a satânica telinha ajuda a criar, temos adolescentes grávidas deixando os pais loucos e a o futuro comprometido, jovens com uma visão fútil e superficial da vida, a violência urbana, em grande parte fruto da demolição das famílias e da ausência de Deus na vida das pessoas, os entorpecentes, um culto ridículo do corpo, a pobreza e a injustiça social… E a telinha destruindo valores e criando ilusão…

E quando se questiona a qualidade da programação e se pede alguma forma de controle sobre os meios de comunicação, as respostas são prontinhas: (1) assiste quem quer e quem gosta, (2) a programação é espelho da vida real, (3) controlar e informação é antidemocrático e ditatorial… Assim, com tais desculpas esfarrapadas, a bênção covarde e omissa de nossos dirigentes dos três poderes e a omissão medrosa das várias organizações da sociedade civil – incluindo a Igreja, infelizmente – vai a televisão envenenando, destruindo, invertendo valores, fazendo da futilidade e do paganismo a marca registrada da comunicação brasileira…

Um triste e último exemplo de tudo isso é o atual programa da Globo, o Big Brother (e também aquela outra porcaria, do SBT, chamada Casa dos Artistas…). Observe-se como o Pedro Bial, apresentador global, chama os personagens do programa: “Meus heróis! Meus guerreiros!” – Pobre Brasil! Que tipo de heróis, que guerreiros! E, no entanto, são essas pessoas absolutamente medíocres e vulgares que são indicadas como modelos para os nossos jovens!

Como o programa é feito por pessoas reais, como são na vida, é ainda mais triste e preocupante, porque se pode ver o nível humano tão baixo a que chegamos! Uma semana de convivência e a orgia corria solta… Os palavrões são abundantes, o prato nosso de cada dia… A grande preocupação de todos – assunto de debates, colóquios e até crises – é a forma física e, pra completar a chanchada, esse pessoal, tranqüilamente dá-se as mãos para invocar Jesus… Um jesusinho bem tolinho, invertebrado e inofensivo, que não exige nada, não tem nenhuma influência no comportamento público e privado das pessoas… Um jesusinho de encomenda, a gosto do freguês… que não tem nada a ver com o Jesus vivo e verdadeiro do Evangelho, que é todo carinho, misericórdia e compaixão, mas odeia o fingimento, a hipocrisia, a vulgaridade e a falta de compromisso com ele na vida e exige de nós conversão contínua! Um jesusinho tão bonzinho quanto falsificado… Quanta gente deve ter ficado emocionada com os “heróis” do Pedro Bial cantando “Jesus Cristo, eu estou aqui!”

Até quando a televisão vai assim? Até quando os brasileiros ficaremos calados? Pior ainda: até quando os pais deixarão correr solta a programação televisiva em suas casas sem conversarem sobre o problema com seus filhos e sem exercerem uma sábia e equilibrada censura? Isso mesmo: censura! Os pais devem ter a responsabilidade de saber a que programas de TV seus filhos assistem, que sites da internet seus filhos visitam e, assim, orientar, conversar, analisar com eles o conteúdo de toda essa parafernália de comunicação e, se preciso, censurar este ou aquele programa. Censura com amor, censura com explicação dos motivos, não é mal; é bem! Ninguém é feliz na vida fazendo tudo que quer, ninguém amadurece se não conhece limites; ninguém é verdadeiramente humano se não edifica a vida sobre valores sólidos… E ninguém terá valores sólidos se não aprende desde cedo a escolher, selecionar, buscar o que é belo e bom, evitando o que polui o coração, mancha a consciência e deturpa a razão!

Aqui não se trata de ser moralista, mas de chamar atenção para uma realidade muito grave que tem provocado danos seríssimos na sociedade. Quem dera que de um modo ou de outro, estas linha de editorial servissem para fazer pensar e discutir e modificar o comportamento e as atitudes de algumas pessoas diante dos meios de comunicação."

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Cavaleiros Templários, Piratas, Cristovão Colômbo,... mas bah!

O legal de se ter um blog é justamente escrever o que se quer sem se preocupar em quem vai ler. Melhor ainda, mata a vontade de falar sobre algo que você curte e que mais ninguém tem interesse (eh eh eh...) mas depois de postado, uma pá de gente lê, curte e depois comenta.
Fanático em história como sou e com um gosto bastante peculiar (pra não dizer estranho) com relação a literatura estou sempre revirando as estantes de livros nas livrarias com temas históricos mas que beiram (eu disse "beiram") ao esoterismo e abordam mistérios da história ocultos e existentes apenas em lendas, contos e narrativas especulativas. Claro, a medida em que a gente lê esse tipo de material que eu chamo de "literatura especulativa" e já dominando um pouco os conceitos aceitos academicamente dos contextos históricos, a gente fica cada vez mais criterioso com relação ao conteúdo que se lê, deixando de tomar tudo aquilo como verdade absoluta. Minha intenção agora é escrever uma série de posts justamente desses livros viajandões que já li e apresentar seu conteúdo sob resenhas. Assim, como já disse, posso falar sobre os assuntos e dar minha oipinião sobre os livros. Muitos de passagem já direi, serão sumariamente detonados. Por essas e outras que o foco de leitura será "levemente" modificado daqui pra diante.
Então vamos lá.
O lance do Graal me levou a ler sobre coisas incríveis que estão nas linhas marginais da história e que são brevemente abordados em artigos acadêmicos. Tais "coisas" são de fato realçadas com o intuito de fundamentar as lendas e especulações históricas. Assim, me peguei já lendo sobre: templários, cátaros, Rosslyn, Montségur, Os Monferrato, Rennes-le Chateau, Priorado de Sion, Leonardo Da Vinci, Opus Dei, Merlin, Rei Arthur, Glastombury, Santa Sara, Linhagem Sagrada, Reis Merovíngios, Familia Martel, Vonfran Von Eishenbach, Robert de Boron, Bernardo de Clairvoix, Chretien de Troyes, Cruzadas, Ordem de Cristo, Infante Dom Henique, Cavaleiros Hospitalários, William Wallace (ele mesmo), Maçonaria, Celtas, Visigodos, Vaticano, As narrativas dos Zenos, os Sinclair, e por aí vai. Não há como não ter uma pequena coleção de livros sobre esses diversos temas que, em algum tipo de lenda ou especulação, se encontram, se entrelaçam e se completam.
Pois é essa a receita do livro "Os Piratas e a Frota Templária Perdida: O Segredo de Cristóvão Colombo", escrito pelo americando David Hatcher Childress.


O título do livro já faz o cara que gosta desse tipo de assunto brilhar os olhos. Não deu outra, gastei 40 pratas na livraria. O assunto é, de fato, muito interessante e a forma de como o livro foi escrito pode ser lido de forma extremamente fácil, sendo uma leitura bastante acessível. Porém, é necessário que tenhamos em mente a natureza da obra: especulativa. Mas então, o que vem a ser a "literatura especulativa"?
Eu considero literatura especulativa toda obra literária que apresenta algum tipo de narrativa histórica como factual, baseada e referenciada em outras obras literárias que também possuem a mesma forma de embasamento mas que não possuem valor acadêmico algum. Em inúmeros casos, como o da obra em questão, se vê a referência a outras publicações que também não possuem credenciais acadêmicas, o que acarreta numa pirâmide de suposições sem valor histórico algum, senão o de puro entretenimento. Também considero literatura especulativa aquela que apresenta um assunto histórico e ao final conclui com uma interrogação. Ou seja, o próprio autor conclui seus capítulos e parágrafos com questionamentos fantasiosos sem se aprofundar na resposta destes caracterizando em incitação à especulação histórica dos fatos apresentados.
Não é a toa que sempre devemos considerar as credenciais dos autores de tais obras para, posteriormente, começar a dar algum crédito naquilo que eles escrevem. Então conheçamos um pouco do autor desta obra, David Hatcher Childress.



 De acordo com a Wikipedia, David Hatcher Childress é um autor e editor americano de livros com tópicos em História Alternativa e Revisionismo Histórico. Seus trabalhos tratam de temas como contatos trans-oceânicos pré-colombianos, Tesla, Ordem dos Templários, cidades perdidas e Vimanas. Apesar do seu envolvimento público em áreas gerais de estudo, Childress admite não ter credenciamento acadêmico como arqueólogo profissional ou qualquer outro campo de estudo.
Então já se tem uma base do que sai daí. Childress também é conhecido como o "verdadeiro Indiana Jones", por se embretar nas grotas do mundo atrás de cidades perdidas, tesouros e afins.
Bem, Childress faz uma verdadeira sopa de teorias num livro de apenas 250 páginas. Primeiro começa a abordar a questão Difusionismo X Isolacionismo: coloca em xeque as posições acadêmicas de que a descoberta do continente americano foi feita por europeus no séc. XV e recorda as teorias de que os fenícios e romanos já teriam visitado a costa sul americana do atlântico na antguidade. Nada bem fundamentado, cita o caso das ânforas romanas encontradas no mar proximo a Ilha do Governador no RJ nos anos 70 e de supostas incrições fenícias no Rio Grande do Norte. Se esquece de mencionar as posições oficiais da marinha brasileira e do histórico de estelionato do descobridor das supostas antiguidades, bem como o misterioso desaparecimento dos artefatos do fundo do mar. Em síntese, conta uma história apenas em seu começo, só a parte "boa". Se formos a fundo veremos mais argumentos de improbabilidade de que romanos ou fenícios em suas pequenas embarcações incapazes de transportar muita água potável não conseguiriam atravessar o oceano atlântico. É claro que o assunto é polêmico e cabe sim muita especulação. O sabor do livro ta aí, mas se não tomar cuidado, Childress pode fazer com que você rasgue todos os seus livros de história.
A parte mais bruxa e central do livro é quando Childress aponta o início da pirataria romantica com a perseguição à Ordem Templária e ao sumiço de toda a sua frota. Em síntese, Childress afirma categoricamente que os Templários  deram origem aos piratas e tinham como objetivo basicamente afrontar as marinhas católicas. Afirma que os piratas respeitavam países como Inglaterra e Portugal por estes terem sido portos seguros à perseguição promovida pelo Vaticano.
Para qualquer um que tenha um pouco de conhecimento histórico, as teorias de Childress são no mínimo fantasiosas demais, necessário uma pequena averiguação. Peguei um antigo livro da Coleção Coruja, que ganhei quando era criança cujo título era "Histórias de Piratas e Corsários" e comparei as afirmações de Childress com o que a literatura oficial dizia sobre os piratas.

Childress viajou. Ao relembrar a origem da Maçonaria junto à Ordem Templária (até aí tudo bem) foi capaz de afirmar que piratas como Morgan e Kidd seriam.. maçons. A principal atochada de Childress é a afirmação de que os Jolly Rogers (as famosas bandeiras negras) são oriundas dos templários. Afima que as caveiras e ossos cruzados são símbolos templários e que a origem da expressão "Jolly Roger" ("Alegre Rogerio") vem do Rei Normando da Sicilia Rogerio II em afronta a Igreja Católica.

O livro "Histórias de Piratas e Corsários" desmente tudo isso e faz relembrar a verdadeira origem dos piratas românticos quando estes iniciaram como sendo corsários, a serviço de bandeiras e coroas quando estas não dispunham de frotas marítimas de vulto para enfrentar países como Espanha e Portugal que, na época, dominavam os mares. Quando finalmente esses corsários são dispensados pelas nações por estas já terem suas armadas estruturadas, resolvem utilizar suas bandeiras brincando com a morte. Cada capitão pirata adota uma versão do "Jolly Roger".
Por fim, Childress se sobressai ao tentar afirmar que Critovão Colombo não era italiano, mas espanhol e... judeu. Cita uma obra do famoso caçador de nazistas Simon Wiesenthal (um judeu, não é de admirar) ao afirmar que "Cristoforo Colombo" era na verdade "Cristóban Colon" e que era judeu. Por isso sua motivação para atravessar o atlantico era a de encontrar a colonia perdida judia, fundada quando estes cruzaram o atlântico depois da diáspora judia e cuja rota já era conhecida pelos judeus desde o tempo do Rei Salomão, utilizada para trazer o ouro para a contrução de seu templo. Sim, Childress especula (é o que ele mais faz durante todo o livro) que o judeus podem ter chegado até o Mexico e ter entrado em contato com as civilizações pré-colombianas. Daí viria o tesouro para o Grande Templo em Jerusalém.
Achei o livro uma viagem, porém não menos interessante.
Childress ainda afirma que os Templários teriam um projeto: a construção da "Nova Jerusalém", longe de sarracenos e do Vaticano, no Novo Mundo. Daí as expediçoes de William sinclair e Nicoló Zeno a partir das ilhas Orcadas no século XIV.
Childress não segue um único raciocínio em sua obra, caracterizando, como já disse, uma sopa de teorias especulativas inacabadas e sem muito embasamento científico. Vale a pena compra-lo? Sim, vale, mas se tiver plena consciencia de que não se pode toma-lo como uma verdade absoluta.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Hawking, Big Bang, Deus, deísmo e eu...

Mas antes de começar nossa viagem pelo Revisionismo Histórico, preciso (eu digo, preciso...) falar sobre algo que constantemente me desafia. Digo isso pois os desafios impostos por estas idéias a mim acabam por atingirem os mais diversos aspectos, desde o lógico e racional até o religioso, cutucando minha fé em Deus.
Todos nós sabemos dos avanços de nossa ciência no estudo do Universo e de toda sua complexidade na busca por compreender sua dinâmica. Com tais avanços os cientistas hoje podem criar modelos teóricos sobre sua origem apresentando uma descrição hipotética dos eventos físicos que resultaram na criação do cosmos, sem necessariamente a existência de figura de um criador, de Deus.


Todos já ouviram falar na teoria do Big Bang. Para ser mais sintético a teoria do Big Bang diz que todo o Univero foi criado a partir de uma explosão. Desde então, toda a matéria que ela formou continua se expandindo no espaço. Ou seja, o maior diferencial que esta teoria trás é a de atribuir ao Universo uma história, uma evolução, calcando seu início sendo mensurado principalmente pela dimensão temporal, pois afirma que o Universo não existiu desde sempre, mas que teve um início. Antes disso, acreditava-se num Universo eterno, estático e imutável. A história da teoria do Big Bang tem início em 1917 com a publicação da Teoria da Relatividade de Albert Eisntein e 20 anos após com o astrofísico americando Edwin Hubble ao descobrir que as galáxias se distanciam uma das outras, descrevendo o fenômeno da expansão do Universo. Em 1927 o estrofísico Geroges Lemaître se aproximou da teoria de Einstein ao afirmar que o Universo está se expandindo e ao mesmo tempo se esfriando o que se supõe que em seu princípio ele era muito quente.
Por fim temos Stephen Hawking, aperfeiçoando a teoria do Big Bang ao adicionar o estudo dos buracos negros.

Em síntese, Hawking admite que a criação do Universo e os buracos negros possuem relação. A teoria da relatividade diz que o tempo se distorce quando um corpo se aproxima de outro com grande força gravitacional. A concentração do Universo num ponto de densidade infinita, a partir do qual, por meio do Big Bang, o Universo começou a se expandir, constitui uma "singularidade", ou seja, há uma descontinuidade entre o que "houve" antes do Big Bang e o que aconteceu depois. Assim, nem é possível saber o que houve antes a partir do conhecimento do que houve depois, nem seria possível antecipar a partir do conhecimento do antes, o que aconteceria depois do Big Bang.
Hawking diz então: "Pode-se imaginar que Deus criou o Universo em qualquer momento, pode-se imaginar que Deus criou o Universo no momento do Big Bang ou mesmo depois e de tal modo a nos fazer imaginar que houve um Big Bang, mas seria sem sentido supor que o Universo foi criado antes do Big Bang. Um Universo em expansão não inclui um criador, mas coloca limites, quanto ao momento em que ele teria feito a coisa". Creio que o que Hawking quer dizer é que se houvesse alguma coisa "antes" do Big Bang, esta coisa não seria o Universo, precisamente porque a partir do seu conhecimento nada se poderia prever quanto ao que ocorreria depois do Big Bang. Com efeito, logo a seguir Hawking explica o que é uma teoria científica: ela deve ser capaz de descrever de forma acurada um grande número de observações a partir de um modelo de poucos elementos e ser capaz de prever os resultados de futuras observações. É interessante notar que, Hawking apela para um argumento "teológico" para se decidir a respeito do "estado inicial" do Universo: ele diz que "parece que Deus criou um Universo que evolui de forma regular, de acordo com certas leis. Portanto parece razoável supor que há leis governando o estado inicial do Universo". Hawking usa aqui o argumento inverso ao da 5ª via de São Tomás, que dizia: Há ordem no universo, portanto existe Deus. O maior do físicos deste século, Einstein, já usara este tipo de argumento para rejeitar a explicação probabilística dos fenômenos quânticos: Não é possível, dizia ele, que Deus jogue sorte com o destino do Universo (Frase textual de Einstein: "Deus não joga dados").

Neste momento, nosso principal foco de discussão não está somente na teoria do Big Bang mas na própria personalidade paradoxal de Hawking que se descreve como agnóstico. Ele repetidamente tem usado a palavra "Deus" em seus livros e discursos, mas segundo ele próprio, no sentido metafórico e relativo.  Hawking declarou que não é religioso no sentido comum, e que acredita que "o universo é governado pelas leis da ciência. As leis podem ter sido criadas por Deus, mas Deus não intervém para quebrar essas leis". Hawking comparou a ciência e a religião durante uma entrevista, dizendo "há uma diferença fundamental na religião, que se baseia na autoridade, e na ciência, que se baseia na observação e na razão. A ciência vai ganhar porque ela funciona".
Em alguns trechos de seus livros, Hawking também parece seguir uma linha de pensamento baseado em Einstein ou em Leibniz, que se aproxima muito À linha de pensamento filosófica do deísmo. No livro "Uma breve história do tempo" ele cita que "tanto quanto o Universo teve um princípio, nós poderíamos supor que tenha um Criador". Ainda nesse livro, ele diz que "no entanto, se nós descobrirmos uma teoria completa...então nós conheceríamos a mente de Deus".
Porém, em seu mais recente e polêmico livro "The Grand Design", Hawking contradiz suas antigas declarações sobre a ideia de um criador e sugere que "Deus não tem mais lugar nas teorias sobre criação do Universo, devido a uma série de avanços no campo da física". No livro, numa declaração controversa, afirma que "por haver uma lei como a gravidade, o Universo pode e irá criar a ele mesmo do nada. A criação espontânea é a razão pela qual algo existe ao invés de não existir nada, é a razão pela qual o Universo existe, pela qual nós existimos", dizendo que o Big Bang foi simplesmente uma consequência da lei da gravidade.
A impressão que temos é que Hawking é receoso em muitos momentos ao afirmar ou mesmo a negar a existência de um Deus criador do Universo. Isso é compreensível quando um cientista encontra-se uma sociedade  cujo conhecimento científico é relativamente periférico à população em geral e por isso resistente a uma avaliação e reflexão mais profunda dos argumentos científicos apresentados por este, o qeu o levaria a citar Deus para fins melhorar a aceitação de suas idéias num primeiro momento. No entanto, independente da questão teológica que envolve, é necessário que seja considerado o contraponto relativo a teoria do Big Bang.


Se as observações sustentam a idéia do Big Bang, isso significa apenas que se trata de uma teoria altamente crível, mas não uma verdade absoluta e definitiva. A imagem de um universo resultante de um explosão geralmente se produz a partir de um lado muito quente, do qual a matéria se derrama para ocupar um espaço vazio. Só que, no Universo não existe centro, não existe vazio. A teoria do Big Bang, tudo acontece como se cada ponto explodisse, como se a explosão acontecesse em toda a parte. Também a noção de um tempo zero deve ser revista: esse ponto zero, a partir do qual o tempo escorreria, começaria quando a temperatura fosse infinita. Mas em física quântica não existe temperatura infinita, e nem sequer infinito. Ou seja, não há como remontar antes de 13,7 bilhões de anos: a ultima imagem que se pode obter é a de uma sopa de partículas antes do advento, o que não significa que nada existia antes dela mas sim apenas que se trata de uma questão à qual ainda não se tem meios para responder.
É nesse momento que acho interessante os pensamentos da corrente filosófica do deísmo, onde um Deus pode ter criado as leis que regem todo um universo mas que não intervém para mudá-las. Em momento algum gostaria de iniciar uma discussão em prol da existencia de Deus, mas sim sobre esse questionamento. Inegável em inúmeros aspectos o fato de que estamos tratando apenas de física teórica onde ainda nossa ciência indispõe de meios para que estas teorias sejam comprovadas senão apenas por modelos matemáticos. Isso significa que, considerando os atuais avanços inquestionáveis da ciência, negar a existência de Deus é a mesma coisa, porém de forma inversa, que negar a ciência como entre os séculos XII e XVI pelas sociedades medievais.  Ou seja, estamos novamente criando um preconceito sobre o assunto. 
No contexto apresentado, discutimos a criação do nosso Universo. Digo "nosso" Universo. Alguém por acaso chegou a se perguntar se existe mais de um universo? A teoria da inflação já incita dizer que o Universo é na verdade um "multiverso" pois cria um universo diversificado. Com essa teoria, em vez de se obter uma cobertura unida, nos encontramos diante de uma extraordinária manta de retalhos, composta de "meio ambientes distintos". Faz sentido, conhecemos apenas 4 dimensões universais: altura, comprimento, largura e  tempo, mas não será que não existem outras? A matemática, mais precisamente a algebra linear, e a física dizem que sim.
Então, Deus existe? A minha posição é sim, embora meu conceito de Deus está longe do conceito de domínio geral. A cada dia fico mais receioso a crer ou mesmo a aceitar a idéia de um Deus intervencionista, Pai Celestial ou coisa parecida capaz de interferir de acordo com sua vontade. Creio veramente que nada é por acaso e que a razão é a principal lei que rege nosso cosmos. A razão é Deus! Portanto, sim, Ele existe!
Para tentar fazer-me entender novamente relembro o renomado astronomo Carl Sagan em seu romance Contato. Nesta obra, Sagan conta a história de uma astronoma que viaja pelo espaço numa máquina construída sob orientação alienígena. Nesta viagem encontra-se com um espectro com a aparencia de seu pai já falecido e jovial. Esta entidade dirige-se a ela afirmando que não era seu pai mas que aquela forma foi "a maneira encontrada por eles para poderem comunicarem-se" pois sua natureza de fato seria incompreensível aos olhos dela como uma pessoa humana. Nesse breve contato a entidade responde perguntas antes sem respostas mas outras continuam sem quando a entidade responde "ainda não sabemos". Isto é, aquela mesma entidade, evoluída, que necessitou fazer uso de uma imagem conhecida da astronoma para se comunicar devido ao seu alto grau evolutivo também possui grandes dúvidas sobre o Cosmos e a existencia. A intenção de Sagan é clara ao sugerir que todo e qualquer ser possui uma escala evolutiva no Universo e que cada uma delas trará esclarecimentos a perguntas referentes ao seu Cosmos. Ou seja, estamos recém começando uma longa caminhada de compreensão do nosso Universo.
Minha crença na existencia de uma força superior é imutável senão na forma como a vejo. Sem dúvida que aquilo que criou todo esse complexo e organizado Universo e suas leis possui um poder inimaginável e aos olhos de nós simples seres humanos completamente incompreensível do qual chamamos simplesmente de Deus. Não podemos nos limitar apenas ao início da criação do Universo, pois... e antes? Bem, Hawking afirma que "antes não havia antes" pois não havia tempo, somente o tempo zero. Mas o tempo é apenas uma das dimensões que conhecemos. Seremos então estúpidos e soberbos para afirmar que não existem outras dimensões e que estas não venham a abrigar outros universos?
Então invocamos a filosofia ao perguntar o que havia antes do universo senão outro universo com dimensões que não conhecemos ou simplesmente não somos capazes de compreender? Hawking em uma série de TV para o canal NatGeo é categórico ao afirmar que Deus não existe (apesar de suas contradições em suas obras) pois ele não pode ter sido o criador do Universo. Limitamos então à grande força criadora apenas a criação do Universo?
A existencia de Deus está longe de ser descartada. Mas a releitura da forma como esta Força Criadora é representada ou compreendida não. O fato é que a ciência não deve ser temida pelas religiões pois será através desta ciência que as religiões obterão respostas que fundamentarão as suas reais razões de existirem.
Humilde opinião de quem vos escreve.
Bah, me puxei! Gostei de escrever esse post!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O Santo Graal parte VI: Os Cátaros


Depois de uma pá de tempo sem escrever, volto a apresentar mais um pedacinho de uma pequisa que realizei a 10 anos atrás na web sobre o Santo Graal. Já citados em vários livros desde Dan Brown e em várias teorias sobre o Santo Cálice, venho apresentar a história do s Cátaros. Pois bem, vamos lá...
Citados por Wolfram Von Eschenbach e Richard Wagner: os cátaros, a região do Languedoc na França, sua doutrina e a história cátara escondem detalhes da procura do Santo Graal no mínimo intrigantes. Em algumas passagens, o Santo Cálice é mencionado diretamente e noutras são subsídios para escritores e trovadores criando um emaranhado rico em detalhes sobre esta relíquia.
No início do século XII, a Igreja católica presenciará a difusão da heresia dos cátaros ("Kataroi", puro em grego) ou albigenses (nome derivado da cidade de "Albi", na qual vivia um certo número de heréticos) que se propagará no território do Languedoc, sudoeste da França (da língua occitâna da região – “Língua do Oc”; Oc= ”Sim”, em oposição à “Langue d’Oui”, do norte da França). Também se designava freqüentemente esta região por “Occitânia”, que advém das mesmas raízes lingüísticas.
Os cátaros acreditavam que o homem na sua origem havia sido um ser espiritual e para adquirir consciência e liberdade, precisaria de um corpo material, sendo necessário várias reencarnações para se libertar. Eram dualistas e acreditavam na existência de dois deuses, um do bem (Deus) e outro do mal (Satã), que teria criado o mundo material e mal. Não concebiam a idéia de inferno, pois no fim o deus do bem triunfaria sobre o deus do mal todos seriam salvos.

Os cátaros organizaram uma igreja e seus membros estavam divididos em crentes, perfeitos e bispos. As pessoas se tornavam perfeitos (homens bons) pelo "ritual do consolament" (esta cerimônia consistia na oração do Pai Nosso; reposição da veste, preta no início, depois azul, substituída por um cordão no tempo da perseguição.
Durante o período das perseguições as igrejas cátaras foram destruídas, os ofícios religiosos eram realizados em cavernas, florestas e casas de crentes. A doutrina cátara foi aceita por contrariar alguns dogmas cristãos, principalmente no que se refere a volta à pobreza e ao retorno do cristianismo primitivo.
Devido à propagação da heresia cátara a partir de 1140, a Igreja começa a tomar medidas para combate-la, sendo que no início tentava os heréticos a fé católica por meio da pregação, não adotando trágicas medidas, pois isto não harmonizava com a caridade pregada pelo cristianismo. Vemos aqui um motivo político para investidas contra as comunidades cátaras e sua doutrina. Poderia haver outros motivos para tais investidas?
A maior parte das terras atingidas pela heresia pertencia à província de Narbona, somente a região de Albi ligada à província de Bourges. O Languedoc é anexado a França em 1229 pelo Tratado de Meaux. O êxito da propagação da heresia nos bispados do Languedoc pode ser explicado pela situação política da região, independente do reino da França, as altas autoridades eram os grandes senhores feudais, o conde de Toulouse e o visconde de Béziers, ambos simpatizantes da heresia cátara.
O movimento cátaro foi desencadeado pelas pregações do monge Henrique, embora este não fosse cátaro, muitos fiéis após ouvir suas palavras deixaram de pagar os dízimos e de comparecer as igrejas, seus ensinamentos foram combatidos por Bernardo de Clairvaux (São Bernardo)
De acordo com este cenário, temos um motivo político para que a Igreja promova mais uma cruzada. Compondo as “Cruzadas do Ocidente”, a Cruzada Albigense vem por objetivo acabar com a heresia cátara no sul da França.
Em 1206, chegou ao Languedoc o bispo espanhol Diego de Osma, acompanhado pelo superior Domingos de Guzman, estes pretendiam instruir as massas ignorantes no catolicismo através da pregação. Obtiveram alguns êxitos, porém o assassinato de Pierre de Castelnau (legado do papa), em 1208, precipitou uma mudança na condução política da Igreja. Qual seria o motivo do assassinato? Seria os bispos apenas um ardil para um plano já definido de repressão violenta? Qual seria o real objetivo desta cruzada?
O conde Raimundo de Toulouse era o suspeito do assassinato, sendo excomungado pelo papa Inocêncio III, que escreveu ao rei da França, Felipe Augusto, para expulsar o acusado dos estados do Languedoc, ordenando uma cruzada contra Raimundo VI.
O novo legado do papa, Amaury, anunciou a cruzada contra os cátaros e contra os senhores que os protegiam. Um exército mercenário comandado por Simão de Montfort declarou guerra ao vice-condado de Trencavel, que estava sob proteção de Raimundo VI e Rogério de Trencavel. Raimundo VI teve que se humilhar ante a igreja, e acabou perdendo seus domínios.

Castelo de Carcassone
Em 1224 Luís VIII liderando os barões do norte, empreendeu uma cruzada que durou cerca de três anos alcançando muitas conquistas até chegar a Avignon, onde termina o cerco contra os hereges. O resultado dessa disputa foi um acordo entre o rei da França e conseqüentemente que os domínios disputados passariam para a coroa da França (Tratado de Meaux, 1229). Raimundo VII teve que se submeter ao rei da França, sendo coagido a reconhecer a vontade da Igreja e atacar a heresia.
As cruzadas contra os albigenses duraram em torno de 50 anos.

 A relação entre os cátaros e os Cavaleiros Templários:

Desde seus primeiros tempos a Ordem do Templo mantinha uma certa relação compreensiva com os cátaros, especialmente em Languedoc, onde os Templários, a exemplo dos Cavaleiros Teutônicos, intensionavam criar um estado próprio.

Muitos cátaros e simpatizantes doaram grandes extensões de terra a Ordem. Existem autores que afirmam que pelo menos um dos fundadores da ordem era cátaro. Um pouco improvável, embora saibamos que Bertrand de Blanchefort, o sexto grão-mestre da Ordem Templária, procedia de uma família cátara. Quarenta anos depois da morte de Bertrand seus descendentes combatiam ombro-a-ombro com outros senhores cátaros contra os invasores nortenhos.

Montségur



O cerco à fortaleza de Montségur é o episódio mais misterioso e intrigante das cruzadas contra os albigenses.É dado, em 1241, o início ao sitio em torno do misterioso castelo de Montségur, uma fortaleza construída no topo de uma montanha, situada às farpas dos Pirineus. Montségur tornou-se um refúgio para aqueles que fugiam da catástrofe. A sua defesa era fácil, pois das suas ameias observava-se toda a região ao redor com grande alcance.
Bem apetrechada de alimentos e água a com ajuda do exterior, esta fortaleza conseguiu sempre resistir aos ataques, fazendo sempre desistir o inimigo, esgotado por longos cercos sem fim.
O grande bastião dos cátaros, outrora praticamente intransponível, é atacado e tomado de assalto em 1243. Durante o ataque os cátaros conseguiram retirar seu “tesouro” do castelo e escondê-lo (inicia-se a especulação em torno desse tesouro: poderia ser apenas riquezas, ou então que o tesouro era livros ou apenas alusão à sabedoria dos perfeitos, ou o próprio Santo Graal). A queda de Montségur marca o fim da igreja cátara organizada. Mais de 200 pessoas na ocasião morreriam em fogueiras no final do cerco. Alguns sobreviventes se refugiaram na Catalunha e na Itália. Uma outra fortaleza, a de Quéribus, caíra em 1255.
A idéia inicial era impedir a todo o custo a saída ou entrada de mantimentos para o seu interior, levando assim os seus habitantes à morte por fome, mas o cerco nunca foi suficientemente apertado a ponto de isolar a fortaleza. Muitas das tropas eram locais (simpatizantes dos cátaros) ou mercenárias (pouco confiáveis), o que tornava o bloqueio imperfeito, o que ajudou aos cátaros resistirem por dez meses.
Antes, porém, do castelo ser tomado pelos cruzados, algumas pessoas ali alojadas receberam o "consolament", desceram a montanha e se encaminharam livre de espontânea vontade, com as mãos dadas, para as fogueiras inquisidoras dos cruzados. Tudo isso antes da capitulação, em 16 de março daquele ano. Os defensores pediram uma trégua de duas semanas, enquanto ponderavam sobre a decisão a tomar, conforme propostas dos cruzados de rendição e absolvição pela Santa Igreja (não cumpridas, obviamente). Não se sabe o que os cátaros discutiram nestas duas semanas de trégua, mas com certeza deveriam estar sem vontade alguma de renegar as suas crenças, pois ninguém se quis converter. Haveria algo que eles escondiam que não poderiam nunca contar aos tribunais da Santa Inquisição? Sabe-se que, no fim da trégua, em 15 de março, vinte homens, seis mulheres e cerca de quinze combatentes receberam o "consolament" e tornaram-se “perfeitos”. A opção de martírio fora tomada em unanimidade e, na madrugada de 16 de março, entregaram-se.



Conta-se que, na noite que precedeu a rendição de Montségur, quatro homens "parfaits"(perfeitos) se esgueiraram do castelo, levando um fardo precioso, e seguiram pela vereda de Saint Barthelémy rumo ao castelo de Usson, em Aríege, na direção de Montreal de Sos. Como o tesouro em ouro e prata fora evacuado de Montségur oito semanas antes, é possível supor que os quatro homens transportavam um bem que os sitiados queriam conservar junto deles até os últimos momentos, mas que não deveria cair nas mãos dos inquisidores. O que seria? Depois de Usson, perde-se a pista do precioso fardo: segundo alguns pesquisadores, o respectivo depósito teria sido levado para Aragão, ou para o norte de Huesca, ou, mais provavelmente, para San Juan de La Penã.

Parte do mistério consiste no estranho fato de só na noite de 16 de março ter sido tomada uma medida concreta no sentido de se fazer evacuar o segredo. Se na verdade os quatro fugitivos transportavam algo de importante, por quê deixar para tão tarde a evacuação quando poderia ter sido feita três meses atrás? O segredo poderia ser transportado por fugitivos anteriores que também obtiveram sucesso.

Existe uma teoria que associa esta decisão à necessidade que os cátaros teriam de usar esse segredo até o dia 16 de março, possivelmente numa cerimônia religiosa cátara, que não poderia ser celebrada noutra data. O tempo de trégua coincidiu com o equinócio da primavera e também com a Páscoa. A estranha passagem de tantos leigos a perfeitos logo antes do fim da trégua poderá evidenciar qualquer cerimônia religiosa realizada. Se o objeto secreto fosse essencial para a cerimônia, isso explicaria a necessidade de o manter na fortaleza até o fim das celebrações.

Os Cátaros e as Lendas do Graal

É, contudo, outro assunto que costuma ser freqüentemente associado aos cátaros: o Cálice Sagrado. O próprio Richard Wagner visitou Rennes-le-Chateau em busca de algo relacionado ao Graal. A ligação dos cátaros ao Graal tem origem anterior à própria cruzada albigense, nos romances que misturavam conceitos cátaros com simbolismos cristãos.Muitos dos romances sobre o Graal foram atacados na altura das Cruzadas pelos eclesiásticos como sendo heréticos. A interligação entre os romances do Cálice e a história dos cátaros chega a ser flagrante: num dos seus romances, Wolfram Von Eschenbach situa o castelo do Cálice nos Pirineus, dando-lhe o nome de “Munsalvache” na versão original alemã, ou como é conhecido: “Montsalvat”. Será uma semelhança demasiada grande com “Montségur” para ser coincidência? E ainda mais quando Wolfram chama ao senhor do castelo o nome de “Perilla”. Como se sabe, Raymond de Pereille era o senhor de Montségur na altura do cerco, e o seu apelido foi encontrado em documentos da época como Perilla, na sua versão latina. Detalhe: o mesmo Eschenbach credita a descoberta do Santo Graal aos “Cavaleiros Moradores do Templo”

Pode-se dizer que, as lendas cátaras sobre o Santo Graal são a contribuição francesa no conjunto de lendas sobre o Santo Cálice, juntamente com especulações sobre as atividades dos Cavaleiros Templários na época. Existe também a lenda de que José de Arimatéia, após a morte, sepultamento e ressurreição de Cristo, tenha vindo viajar para o continente europeu a caminho da Bretanha e deixado na França o Santo Cálice aos cuidados de seu cunhado, Brons (A História de José de Arimatéia). Se ele tinha como destino a Bretanha, provavelmente tenha aportado em algum lugar no sul da França, então... Hoje, os habitantes da região creditam o paradeiro do Santo Cálice em alguma caverna, entre as montanhas dos Pirineus.

Em mais outra lenda, conta-se que:

”Durante o assalto dos cruzados à fortaleza albigense de Montségur, apareceu no alto da muralha uma figura coberta por uma armadura branca. Os soldados recuaram, temendo ser um guardião do Santo Graal. Mas, prevendo a derrota, os cátaros, ocultaram o Santo Graal num dos numerosos subterrâneos, ou foi emparedado em uma das várias muralhas da fortaleza, onde estaria até hoje”.