quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O Santo Graal parte VI: Os Cátaros


Depois de uma pá de tempo sem escrever, volto a apresentar mais um pedacinho de uma pequisa que realizei a 10 anos atrás na web sobre o Santo Graal. Já citados em vários livros desde Dan Brown e em várias teorias sobre o Santo Cálice, venho apresentar a história do s Cátaros. Pois bem, vamos lá...
Citados por Wolfram Von Eschenbach e Richard Wagner: os cátaros, a região do Languedoc na França, sua doutrina e a história cátara escondem detalhes da procura do Santo Graal no mínimo intrigantes. Em algumas passagens, o Santo Cálice é mencionado diretamente e noutras são subsídios para escritores e trovadores criando um emaranhado rico em detalhes sobre esta relíquia.
No início do século XII, a Igreja católica presenciará a difusão da heresia dos cátaros ("Kataroi", puro em grego) ou albigenses (nome derivado da cidade de "Albi", na qual vivia um certo número de heréticos) que se propagará no território do Languedoc, sudoeste da França (da língua occitâna da região – “Língua do Oc”; Oc= ”Sim”, em oposição à “Langue d’Oui”, do norte da França). Também se designava freqüentemente esta região por “Occitânia”, que advém das mesmas raízes lingüísticas.
Os cátaros acreditavam que o homem na sua origem havia sido um ser espiritual e para adquirir consciência e liberdade, precisaria de um corpo material, sendo necessário várias reencarnações para se libertar. Eram dualistas e acreditavam na existência de dois deuses, um do bem (Deus) e outro do mal (Satã), que teria criado o mundo material e mal. Não concebiam a idéia de inferno, pois no fim o deus do bem triunfaria sobre o deus do mal todos seriam salvos.

Os cátaros organizaram uma igreja e seus membros estavam divididos em crentes, perfeitos e bispos. As pessoas se tornavam perfeitos (homens bons) pelo "ritual do consolament" (esta cerimônia consistia na oração do Pai Nosso; reposição da veste, preta no início, depois azul, substituída por um cordão no tempo da perseguição.
Durante o período das perseguições as igrejas cátaras foram destruídas, os ofícios religiosos eram realizados em cavernas, florestas e casas de crentes. A doutrina cátara foi aceita por contrariar alguns dogmas cristãos, principalmente no que se refere a volta à pobreza e ao retorno do cristianismo primitivo.
Devido à propagação da heresia cátara a partir de 1140, a Igreja começa a tomar medidas para combate-la, sendo que no início tentava os heréticos a fé católica por meio da pregação, não adotando trágicas medidas, pois isto não harmonizava com a caridade pregada pelo cristianismo. Vemos aqui um motivo político para investidas contra as comunidades cátaras e sua doutrina. Poderia haver outros motivos para tais investidas?
A maior parte das terras atingidas pela heresia pertencia à província de Narbona, somente a região de Albi ligada à província de Bourges. O Languedoc é anexado a França em 1229 pelo Tratado de Meaux. O êxito da propagação da heresia nos bispados do Languedoc pode ser explicado pela situação política da região, independente do reino da França, as altas autoridades eram os grandes senhores feudais, o conde de Toulouse e o visconde de Béziers, ambos simpatizantes da heresia cátara.
O movimento cátaro foi desencadeado pelas pregações do monge Henrique, embora este não fosse cátaro, muitos fiéis após ouvir suas palavras deixaram de pagar os dízimos e de comparecer as igrejas, seus ensinamentos foram combatidos por Bernardo de Clairvaux (São Bernardo)
De acordo com este cenário, temos um motivo político para que a Igreja promova mais uma cruzada. Compondo as “Cruzadas do Ocidente”, a Cruzada Albigense vem por objetivo acabar com a heresia cátara no sul da França.
Em 1206, chegou ao Languedoc o bispo espanhol Diego de Osma, acompanhado pelo superior Domingos de Guzman, estes pretendiam instruir as massas ignorantes no catolicismo através da pregação. Obtiveram alguns êxitos, porém o assassinato de Pierre de Castelnau (legado do papa), em 1208, precipitou uma mudança na condução política da Igreja. Qual seria o motivo do assassinato? Seria os bispos apenas um ardil para um plano já definido de repressão violenta? Qual seria o real objetivo desta cruzada?
O conde Raimundo de Toulouse era o suspeito do assassinato, sendo excomungado pelo papa Inocêncio III, que escreveu ao rei da França, Felipe Augusto, para expulsar o acusado dos estados do Languedoc, ordenando uma cruzada contra Raimundo VI.
O novo legado do papa, Amaury, anunciou a cruzada contra os cátaros e contra os senhores que os protegiam. Um exército mercenário comandado por Simão de Montfort declarou guerra ao vice-condado de Trencavel, que estava sob proteção de Raimundo VI e Rogério de Trencavel. Raimundo VI teve que se humilhar ante a igreja, e acabou perdendo seus domínios.

Castelo de Carcassone
Em 1224 Luís VIII liderando os barões do norte, empreendeu uma cruzada que durou cerca de três anos alcançando muitas conquistas até chegar a Avignon, onde termina o cerco contra os hereges. O resultado dessa disputa foi um acordo entre o rei da França e conseqüentemente que os domínios disputados passariam para a coroa da França (Tratado de Meaux, 1229). Raimundo VII teve que se submeter ao rei da França, sendo coagido a reconhecer a vontade da Igreja e atacar a heresia.
As cruzadas contra os albigenses duraram em torno de 50 anos.

 A relação entre os cátaros e os Cavaleiros Templários:

Desde seus primeiros tempos a Ordem do Templo mantinha uma certa relação compreensiva com os cátaros, especialmente em Languedoc, onde os Templários, a exemplo dos Cavaleiros Teutônicos, intensionavam criar um estado próprio.

Muitos cátaros e simpatizantes doaram grandes extensões de terra a Ordem. Existem autores que afirmam que pelo menos um dos fundadores da ordem era cátaro. Um pouco improvável, embora saibamos que Bertrand de Blanchefort, o sexto grão-mestre da Ordem Templária, procedia de uma família cátara. Quarenta anos depois da morte de Bertrand seus descendentes combatiam ombro-a-ombro com outros senhores cátaros contra os invasores nortenhos.

Montségur



O cerco à fortaleza de Montségur é o episódio mais misterioso e intrigante das cruzadas contra os albigenses.É dado, em 1241, o início ao sitio em torno do misterioso castelo de Montségur, uma fortaleza construída no topo de uma montanha, situada às farpas dos Pirineus. Montségur tornou-se um refúgio para aqueles que fugiam da catástrofe. A sua defesa era fácil, pois das suas ameias observava-se toda a região ao redor com grande alcance.
Bem apetrechada de alimentos e água a com ajuda do exterior, esta fortaleza conseguiu sempre resistir aos ataques, fazendo sempre desistir o inimigo, esgotado por longos cercos sem fim.
O grande bastião dos cátaros, outrora praticamente intransponível, é atacado e tomado de assalto em 1243. Durante o ataque os cátaros conseguiram retirar seu “tesouro” do castelo e escondê-lo (inicia-se a especulação em torno desse tesouro: poderia ser apenas riquezas, ou então que o tesouro era livros ou apenas alusão à sabedoria dos perfeitos, ou o próprio Santo Graal). A queda de Montségur marca o fim da igreja cátara organizada. Mais de 200 pessoas na ocasião morreriam em fogueiras no final do cerco. Alguns sobreviventes se refugiaram na Catalunha e na Itália. Uma outra fortaleza, a de Quéribus, caíra em 1255.
A idéia inicial era impedir a todo o custo a saída ou entrada de mantimentos para o seu interior, levando assim os seus habitantes à morte por fome, mas o cerco nunca foi suficientemente apertado a ponto de isolar a fortaleza. Muitas das tropas eram locais (simpatizantes dos cátaros) ou mercenárias (pouco confiáveis), o que tornava o bloqueio imperfeito, o que ajudou aos cátaros resistirem por dez meses.
Antes, porém, do castelo ser tomado pelos cruzados, algumas pessoas ali alojadas receberam o "consolament", desceram a montanha e se encaminharam livre de espontânea vontade, com as mãos dadas, para as fogueiras inquisidoras dos cruzados. Tudo isso antes da capitulação, em 16 de março daquele ano. Os defensores pediram uma trégua de duas semanas, enquanto ponderavam sobre a decisão a tomar, conforme propostas dos cruzados de rendição e absolvição pela Santa Igreja (não cumpridas, obviamente). Não se sabe o que os cátaros discutiram nestas duas semanas de trégua, mas com certeza deveriam estar sem vontade alguma de renegar as suas crenças, pois ninguém se quis converter. Haveria algo que eles escondiam que não poderiam nunca contar aos tribunais da Santa Inquisição? Sabe-se que, no fim da trégua, em 15 de março, vinte homens, seis mulheres e cerca de quinze combatentes receberam o "consolament" e tornaram-se “perfeitos”. A opção de martírio fora tomada em unanimidade e, na madrugada de 16 de março, entregaram-se.



Conta-se que, na noite que precedeu a rendição de Montségur, quatro homens "parfaits"(perfeitos) se esgueiraram do castelo, levando um fardo precioso, e seguiram pela vereda de Saint Barthelémy rumo ao castelo de Usson, em Aríege, na direção de Montreal de Sos. Como o tesouro em ouro e prata fora evacuado de Montségur oito semanas antes, é possível supor que os quatro homens transportavam um bem que os sitiados queriam conservar junto deles até os últimos momentos, mas que não deveria cair nas mãos dos inquisidores. O que seria? Depois de Usson, perde-se a pista do precioso fardo: segundo alguns pesquisadores, o respectivo depósito teria sido levado para Aragão, ou para o norte de Huesca, ou, mais provavelmente, para San Juan de La Penã.

Parte do mistério consiste no estranho fato de só na noite de 16 de março ter sido tomada uma medida concreta no sentido de se fazer evacuar o segredo. Se na verdade os quatro fugitivos transportavam algo de importante, por quê deixar para tão tarde a evacuação quando poderia ter sido feita três meses atrás? O segredo poderia ser transportado por fugitivos anteriores que também obtiveram sucesso.

Existe uma teoria que associa esta decisão à necessidade que os cátaros teriam de usar esse segredo até o dia 16 de março, possivelmente numa cerimônia religiosa cátara, que não poderia ser celebrada noutra data. O tempo de trégua coincidiu com o equinócio da primavera e também com a Páscoa. A estranha passagem de tantos leigos a perfeitos logo antes do fim da trégua poderá evidenciar qualquer cerimônia religiosa realizada. Se o objeto secreto fosse essencial para a cerimônia, isso explicaria a necessidade de o manter na fortaleza até o fim das celebrações.

Os Cátaros e as Lendas do Graal

É, contudo, outro assunto que costuma ser freqüentemente associado aos cátaros: o Cálice Sagrado. O próprio Richard Wagner visitou Rennes-le-Chateau em busca de algo relacionado ao Graal. A ligação dos cátaros ao Graal tem origem anterior à própria cruzada albigense, nos romances que misturavam conceitos cátaros com simbolismos cristãos.Muitos dos romances sobre o Graal foram atacados na altura das Cruzadas pelos eclesiásticos como sendo heréticos. A interligação entre os romances do Cálice e a história dos cátaros chega a ser flagrante: num dos seus romances, Wolfram Von Eschenbach situa o castelo do Cálice nos Pirineus, dando-lhe o nome de “Munsalvache” na versão original alemã, ou como é conhecido: “Montsalvat”. Será uma semelhança demasiada grande com “Montségur” para ser coincidência? E ainda mais quando Wolfram chama ao senhor do castelo o nome de “Perilla”. Como se sabe, Raymond de Pereille era o senhor de Montségur na altura do cerco, e o seu apelido foi encontrado em documentos da época como Perilla, na sua versão latina. Detalhe: o mesmo Eschenbach credita a descoberta do Santo Graal aos “Cavaleiros Moradores do Templo”

Pode-se dizer que, as lendas cátaras sobre o Santo Graal são a contribuição francesa no conjunto de lendas sobre o Santo Cálice, juntamente com especulações sobre as atividades dos Cavaleiros Templários na época. Existe também a lenda de que José de Arimatéia, após a morte, sepultamento e ressurreição de Cristo, tenha vindo viajar para o continente europeu a caminho da Bretanha e deixado na França o Santo Cálice aos cuidados de seu cunhado, Brons (A História de José de Arimatéia). Se ele tinha como destino a Bretanha, provavelmente tenha aportado em algum lugar no sul da França, então... Hoje, os habitantes da região creditam o paradeiro do Santo Cálice em alguma caverna, entre as montanhas dos Pirineus.

Em mais outra lenda, conta-se que:

”Durante o assalto dos cruzados à fortaleza albigense de Montségur, apareceu no alto da muralha uma figura coberta por uma armadura branca. Os soldados recuaram, temendo ser um guardião do Santo Graal. Mas, prevendo a derrota, os cátaros, ocultaram o Santo Graal num dos numerosos subterrâneos, ou foi emparedado em uma das várias muralhas da fortaleza, onde estaria até hoje”.

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