segunda-feira, 9 de abril de 2012

O Dossiê Odessa

Fazia tempo em que um livro não prendia tanto a minha atenção e entusiamo em sua leitura quanto este, pois, fissurado por história e apaixonado pela II Guerra Mundial, suas causas e consequencias, como sou, minha empolgação ao ler este livro não poderia ser diferente.
Romance clássico de espionagem de autoria do especialista no assunto Frederick Forsyth, O Dossiê Odessa é muito mais que um bom romance no momento em que consideramos muitas de suas passagens como factuais, pois de fato, elas são.
O que me deixa puto da cara (comigo mesmo, diga-se de passagem) é: "como não li esse livro antes?" Já havia ouvido falar de Frederick Forsyth, inclusive já lido um de seus livros (Cães de Guerra), então como que ainda eu não tivera conhecimento deste? Ao comentar com meu tio, este prontamente afirmou já ter ouvido falar do livro "pois era um clássico do gênero", segundo ele mesmo. Porra meu...


Então, apresentemos a obra:
Forsyth nos apresenta logo no prefácio que o significado de Odessa nada tem a ver com a cidade Russa ou a cidade homônima nos Estados Unidos e sim uma abreviação para Organisation Der Ehemaligen SS-Angehorigen (não sabem como foi horrível escrever o significado dessa sigla) que significa, em resumo Organização dos Ex-Membros da SS, sendo esta o tema central do plot do livro.
Em síntese, a narrativa conta a história do repórter freelancer Peter Miller que se envolve numa investigação e ao acaso se ve envolvido com a Odessa. Não é minha intenção, como de praxe em meus posts, descrever ou sintetizar a obra mas sim analisá-la e contextualizá-la.
Vários foram os aspectos que me chamaram a atenção nesse comance publicado em 1972. O primeiro deles é o período e local onde a história se passa: a Alemanha do pós-guerra, 1963, justamente quando o Presidente dos EUA John Kennedy é assassinado em Dallas. O assassinato de Kennedy em si não reflete em nenhum momento na trama senão no auxilio ao leitor para que se situe na geopolítica daquele momento. Forsyth cita em sua obra personagens verídicos, mesmo que em alguns casos brevemente, como o Presidente Egípcio Anuar Saddat, o premier alemão Konrad Adenauer, entre outros.
Sempre foi de meu interesse saber um pouco mais de como era a Alemanha, sua organização política e economica, logo após a II Guerra e o livro tem como pano de fundo justamente essa realidade. A obra retrata o milagre economico alemão do pós-guerra e a crise cultural, ética e moral vivida por sua população ante os crimes horrorosos promovidos pelos nazistas à humanidade e desconhecidos por ela. O protagonista da trama Peter Miller possuia apenas 29 anos e seus questionamentos frequentes sobre os fatos ocorridos há 20 anos atrás em seu país permeiam a narrativa.

Frederick Forsyth
Outro aspecto interessantíssimo sobre este livro é o fato de que o mesmo fora usado para promover a caça a nazistas e a denúncia da existencia da Odessa. Em determinado ponto da narrativa, o protagonista Peter Miller encontra-se com o renomado Simon Wiesenthal, judeu sobrevivente dos campos de concentração nazista que se tornou após a guerra caçador de nazistas, para que o ajude na caça a um fugitivo nazista ex-oficial da SS de nome Eduard Roschmann, conhecido como "O Açougueiro de Riga". De fato, Wiesenthal existiu (falecido em 2005  em Viena aos 97 anos), bem como Roschmann, que vivera em segredo até ser encontrado morto na Argentina. A bem da verdade é que Wiesenthal usou a obra de Forsyth  (com sua conivência, é claro) para que a Odessa fosse realmente denunciada. Com o advento da obra, as autoridades alemãs entre outras tornam-se mais empenhadas na caça a antigos membros da SS e demais nazistas ainda escondidos pelo mundo, principalmente na America do Sul, como relata o livro.

Simon Wiesenthal
A obra de Forsyth também fala da tensa questão no Oriente Médio quando aborda as mobilizações militares de Israel e Egito que culminaram na Guerra dos Seis Dias em 1967, bem como as movimentações diplomáticas da então Alemanha Ocidental pró-Israel que motivaram a Odessa a tomar partido da causa árabe por os considerarem "antigos amigos do Reich".
Assim como seus outros livros como: Cães de Guerra e O Dia do Chacal, O Dossiê Odessa foi parar nas telas em 1974 tendo como interpretw do protagonista nada mais nada menos que John Voight. O filme também ajudou a alavancar a causa de Wiesenthal (cabe aqui lembrar que Wiesenthal foi consultor durante as filmagens). Taí mais um filme em que me faz ficar fodido da vida por até então nunca ter ouvido falar na sua existencia, o que me faz ficar obcecado por assisti-lo. Mas, como é de praxe, por já ter lido o livro, é de se esperar a inferioridade da obra cinematográfica.
Mesmo assim não vou descançar se não encontrar esse troço.


É evidente, no entanto, que o livro nos trás um pouco de reflexão e não apenas puro entretenimento e informação. Forsyth nos leva a entender que em um momento da recente história mundial o mundo não foi somente bipolar com comunistas de um lado e capitalistas de outro, mas que houve uma terceira ideologia que ceifou a Europa e muitas outras nações no início do séc. XX. Noutro determinado ponto da narrativa onde Peter Miller finalmente está cara-a-cara com Roschmann, o perseguido assim se pronuncia:
 "...Quer uma prova da nossa grandeza? Veja a Alemanha de hoje. Esmagada e destroçada em 1945, completamente destruída a mercê dos bárbaros do Leste e dos loucos do Oeste..."
Ou seja, a Alemanha nazista era o contraponto entre o capitalistmo yanque e o comunismo bolchevique. O filme A Soma de Todos os Medos,cujo protagonista é o agente Jack Rian (o mesmo de Caçada ao Outubro Vermelho, Jogos Patrióticos e Perigo Real e Imediato) também conta uma história semelhante onde uma aliança de líderes europeus de extrema direita planeja o início da Terceira Grande Guerra com atentados terroristas.


Entretanto, a existencia da Odessa, ao que tudo indica, não tinha como objetivo a priori fomentar uma revolução de larga escala mundial ou mesmo a construção de um futuro 4º Reich Alemão, senão apenas a proteção de ex-membros da SS perseguidos nos tempos já de paz por suas atrocidades durante a guerra, principalmente contra judeus nos inúmeros campos de concentração.
Está claro, tanto no livro quanto em demais fontes de pesquisa que pude consultar, que os fundos criados durante a guerra para o financiamento das operações da Odessa foram usados apenas para  a proteção e fuga de seus membros.
É fato, no entanto, que a Odessa teve inúmeros êxitos, por mais que muitos carrascos nazistas viessem a ser capturados. Muitos deles viveram seus ultimos dias em paz e no anonimato, sob falsas indentidades em países distantes da Alemanha. A Argentina foi o principal destino destes ao final da guerra principalmente pela simpatia que Perón tinha pelos nazistas (até nisso esses castelhanos cagaram no pau). Hoje, certamente que existem alguns membros vivos da Odessa, mas devem estar usando fraldas geriátricas sentados numa cadeira de rodas com um chale no colo.
A Odessa deixou de ser uma organização temida.
Graças aos novos valores universais do nosso contemporaneo os ideais nazistas deixaram de ser uma ameaça sobrevivendo apenas na cabeça de alguns jovens imbecis que possuem vácuo ao invés de massa encefálica, pois não são capazes de se preocupar em conhecer os estudos que expoem as teorias xenofobas ao ridículo.
Com os nazistas e fascistas varridos da Europa bem como a queda da Cortina de Ferro, ficamos assim, a mercê dos arrogantes yanques e da real organização que deveria ser temida. Nada de Maçonaria, nada de Iluminatti, nada de Rozacruz, nada de Comissão Trilateral ou Comissão Bilderberg... Só que se eu disser quem eu penso ser, irei preso por xenofobia.
Abaixo, um link sobre um documentário no TerraTV sobre a Odessa. É longo, tem mais de 45 minutos mas vale a pena.

http://terratv.terra.com.br/videos/Diversao/Documentarios/History-Channel/4689-391030/Cacadores-de-Misterios-A-Ascensao-do-Quarto-Reich.htm

Humilde opinião de quem vos escreve.

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