Se eu tivesse que relacionar 3 (apenas 3) filmes que me fizeram encostar a cabeça na poltrona e refletir sobre seu conteúdo, um deles certamente seria o clássico longa-metragem de 1968 de Stanley Kubrick 2001: Uma odisséia no espaço (2001: A Space Odyssey).
O bom de se morar ao lado do Shopping onde se tem uma filial das Loja Americanas é isso: você está entediado em casa e resolve dar uma banda lá e conferir o que tem no cesto dos DVDs em promoção. E lá estava esta obra-prima por apenas 14,99 pratas .
O filme é considerado por ninguém menos que Steven Spielberg como "o Big Bang dos filmes de ficção científica" . Para cineatas como ele, Hidley Scott e outros que exploram esse gênero, 2001: Uma odisséia no espaço é uma referência única e definitiva. Antes de 2001..., os filmes de ficção científica eram no estilo Flash Gordon com um amontoado de foguetes espaciais, armas lasers e foguetes intergalacticos.
Kubrick se adiantou no tempo quando, ao lado do famoso escritor e "futurólogo" Arthur C. Clarke, escreveu o roteiro deste filme. Não apenas por ter visualizado a chegada do homem à Lua mais de um ano antes de Neil Armstrong chegar até lá, mas também por haver realizado o primeiro filme a levantar a hipótese da inteligência artificial.
O filme narra a história desde a "Aurora do Homem" (a pré-história), onde um misterioso monolito negro parece emitir sinais de outra civilização interferindo no nosso planeta. Quatro milhões de anos depois, no século XXI, uma equipe de astronautas liderados pelo experiente David Bowman (Keir Dullea) e Frank Poole (Gary Lockwood) é enviada à Júpiter para investigar o enigmático monolito na nave Discovery, totalmente controlada pelo computador HAL 9000. Entretanto, no meio da viagem HAL entra em pane e tenta assumir o controle da nave, eliminando um a um os tripulantes.
O computador HAL 9000, além de acabar se transformando no personagem principal do filme e num dos maiores vilões do cinema, possuía uma grande interação com seu operador, o Dr. David Bowman (Keir Dullea). Nota-se que o nome dado a máquina foi muito bem escolhido, visto que é formado pelas três letras que antecedem o nome da mais famosa marca de computadores do mundo: a IBM (percebeu? Antes do "I" vem o "H", antes do "B" vem o "A" e antes do "M" vem o "L"). Diz o mito que foi algo proposital, negado pela equipe, mas seria muita coincidência um computador ter uma referência tão clara assim a toa.
O filme traça a trajetória do homem sempre abordando a evolução da espécie, a influência da tecnologia nesse crescimento e os perigos da inteligência artificial. O final, um dos mais emblemáticos da história do cinema, mostra astronautas travando uma luta mortal contra o computador - a versão moderna do confronto entre criador e criatura, que já inspirara clássicos como Frankenstein. Durante todo o filme o diretor levanta diversas questões que deixa em aberto até o fim. Para desfazer as dúvidas, Arthur C. Clarke escreveu uma seqüência em que são amarradas todas as pontas soltas: 2010: O ano em que Faremos Contato. Peter Hyans levou essa "continuação" de 2001 às telas, com resultados bem longe de memoráveis, em 1984.
A primeira vez que eu vi este filme eu não entendí absolutamente nada. Também pudera: eu tinha apenas 6 anos e estava junto com minha tia. Imaginem o que ela sofreu assistindo a esse filme comigo, na época uma atração da Globo (faz tempo!!), com uma criança que estava bem na ápoca dos "por quês". Ela se irritava simplesmente porque não conseguia entender as perguntas que eu fazia com relação ao filme pelo fato de também não ter entendido patavinas.
Passados 27 anos resolvi assistir pela cagagésima vez o filme e... continuo sem entender nada!
Então afinal de contas: o que o filme tem de tão fascinante assim?
Justamente isso...
O filme não trás respostas, mas sim perguntas. A genialidade da obra está no questionamento de nossa existência perante forças superiores que nos acompanham desde os nossos primórdios observando nosso desenvolvimento tecnológico mesmo que este ainda seja incapaz de revelar o real objetivo da existência do homem no universo.
O filme é uma aula de antropologia filosófica. Remonta nossa origem e nos perturba ao sugerir que a busca pelo desconhecido universo afora poderá ser concluída no interior do próprio ser humano. Estas são, no entanto, palavras de quem vos escreve. Tenho certeza que muitas outras conclusões poderão ser formuladas por diferentes prismas ao contemplar esta obra pioneira da ficção científica.
Embora as perspectivas tecnológicas terem sido acertadas ao citar a chegada do homem a Lua e a considerar a criação da inteligência artificial, Charles Clark considerou que colonizaríamos a Lua, faríamos viagens interplanetárias chegando a Júpiter ainda em 2001 e, no entanto, estamos em 2011 e nada disso ocorreu. Charles Clark argumenta, de maneira bem fundamentada, de que não há como prever os meandros políticos e economicos de uma civilização inteira. De fato, a obra foi escrita em plena Guerra Fria e não se imaginava que ela iria acabar da noite para o dia (lembremos que a Guerra Fria foi combustível para as corridas espaciais, e com isso o avanço tecnológico aeroespacial).Para mim, 2001: Uma odisséia no espaço deveria ser exibido em todas as escolas de nosso país porque é uma obra única que nos convida a reflexão do papel da existência do homem e sua busca pelo desconhecido. As imagens que distribuí ao longo deste post são de cenas do filme, e mostram o quanto emblemático é o filme. O filme não é uma obra-prima pelo fato de ser inconclusivo, mas por permitir várias conclusões. Já se passaram mais de 40 anos de seu lançamento e até hoje seu texto é contemporâneo. Sem dúvidas uma obra feita a frente de seu tempo e que não tem prazo para deixar de nos perturbar. Humilde opinião de quem vos escreve...