domingo, 15 de março de 2020

Mudança de planos



Eram 8 horas da manhã de uma quarta-feira quando eu e Eliézer tomamos rumo à capital. Confesso que estava nervoso, meu compromisso junto à matriz da empresa prometia muitas mudanças em minha carreira profissional. Eliézer, embora me acompanhando, tinha outras agendas profissionais, todas elas de cunho técnico e operacional. Eu, no entanto, Gerente de Projetos, partira sob a expectativa do anuncio de mudanças em nossa empresa, daquelas onde tudo se podia esperar.

- Tá nervoso cara?

- O que tu acha Eliézer?

- Mas, afinal de contas, o que vai rolar nessa reunião?

- Sinceramente eu não sei. O que sei é que será apresentada a todos os gerentes a nova diretora. Dizem que ela é boca-braba. Não é brasileira, veio a peso de ouro e o que se promete é mudanças pesadas na estrutura da empresa. Acho que cabeças vão rolar.

- Como assim?

- Não sei direito cara. A ideia pelo que sei é um choque de gestão. E esse pessoal quando vêm, não quer saber se quem está é bom ou ruim. Eles montam o time de trabalho deles e ponto final.

- Quer dizer que pode sobrar pra ti?

- Sim! Para todos os gerentes que estão no quadro hoje. Ninguém sabe quais são as ideias ou a filosofia de trabalho dessa mulher.

- Então é uma mulher que vai assumir a bronca toda?

- Sim, é o que andam dizendo.

- Me disseram também que é um mulherão. Que é bonita e gostosa.

- É o que dizem. Mas parece que, com ela, o furo é mais embaixo. A fama dela é de durona.

Eliézer, de fato, não tinha entendido de forma aprofundada minha preocupação. Eu estava aflito. Por esse motivo que, por todo o trajeto de mais de 4 horas, eu ficara quieto e pensativo. Durante toda a viagem, Eliézer sempre tentava puxar conversa abordando assuntos amenos como música ou mesmo sobre as colegas gostosas da empresa. Eu não conseguia prestar atenção direito, afinal, na tarde daquele dia, pelas 16 horas, teria uma reunião onde todo um esforço de mais de 4 anos de atividade na empresa poderia ir por água abaixo.

Estava sendo uma viagem tenebrosa. As fofocas sobre a fama da tal nova diretora já haviam sido pulverizadas pelas mais de vinte filiais da empresa. A nossa filial, antes a matriz, concentrava boa parte dos setores corporativos, inclusive o qual eu respondia. Muitas críticas haviam sido feitas sobre a condução de vários setores, inclusive o meu. Não era à toa que eu estava apreensivo sobre o que e a quem seriamos apresentados.

Chegando à matriz situada na capital por volta do meio dia, fomos cumprimentando colegas e gestores locais e de outras filiais, todos eles convocados para a fatídica reunião das 16 horas. O clima estava tenso. Todos queriam saber quem era a nova diretoria e saber mais sobre sua fama, tanto no caráter profissional quanto no pessoal.

Ah sim. Os machões linguarudos de plantão não dispensaram a oportunidade para especular sobre a mulher que iriamos encarar. “É uma bela coroa... um mulherão... ela é linda... muita areia para o nosso caminhãozinho... é outro nível... não é para qualquer um... no mínimo é mal amada pra ser durona desse jeito que falam...”. Enfim, o que realmente sabíamos é que o nome dela é Nadya e que não é brasileira, mas russa. Morava no país há mais de 4 anos e que fora contratada através de agência headhunter, uma profissional de peso e com valor no mercado, pois foi prospectada com rigorosos critérios de seleção aplicados.

Nadya Nemerov. Esse é o seu nome, tão peculiar quanto misterioso. E não menos sombrio, conforme eu iria descobrir em breve. Na primeira vez que a vi, já estando na matriz e logo após o almoço, deduzira ser ela de longe no corredor principal, cercada dos membros do conselho, gerentes corporativos e outros puxa-sacos de plantão. Aparentemente uma mulher discreta, de postura sóbria e recatada, porém não menos bonita, ao contrário, via-se uma beleza contida em seu visual. Estava vestindo um jeans colado que desenhava suas curvas e grossas pernas torneadas valorizadas por sapatos de salto alto e já com a camisete e jaqueta de empresa, demonstrando já fazer um pequeno esforço de ambientação junto ao novo ambiente empresarial. Embora num cargo executivo, a apresentação aos membros com altos cargos ainda denotava a necessidade de ser relativamente despojada. Tinha cabelos escuros e aparentemente longos, porém amarrados num coque sobre a cabeça além de uma franja bem aparada que se deitava quase na linha dos olhos. Estes eram negros, contrastando com a alvidez de sua pele e suas maçãs do rosto levemente rosadas, demonstrando os claros traços eslavos de sua procedência, senão apenas por seu rosto com lábios finos e queixo bem delicado, ao contrário do estereótipo das mulheres do leste europeu de rosto levemente arredondado e traços rústicos. Não pude vê-la de outro ângulo, sem conseguir admirar como seria o desenho de sua bunda, um desejo normal dentre os homens. Ela era, acima de tudo, enigmática. Não demonstrava arrogância ou empáfia, mesmo que em momento algum tivesse a oportunidade de ver seus dentes através de algum suave sorriso. Em momento algum demonstrou tentar uma forçosa ação de simpatia para com seus novos comandados ao mesmo tempo em que mantinha uma postura de proximidade com todos a sua volta. Sim, sua imagem de mulher exótica me chamara a atenção, mas não a ponto de se tornar uma obsessão sobre sua pessoa, pois sabia que em breve a conheceria um pouco melhor, mesmo que sua presença expressasse relativa intimidação.

Já pelas 16 horas não estava mais na companhia de Eliézer estando esse já comprometido com sua agenda operacional, enquanto eu e os demais gestores éramos convidados a nos deslocar para o auditório da empresa a fim de sermos apresentados à nova diretora: a primeira CEO da empresa. Estavam naquele espaço os membros do conselho juntamente com os demais principais gerentes. Um dos conselheiros inicia a reunião apresentado Nadya como sendo uma profissional prospectada no mercado com atuação profissional em diversas empresas internacionais e nacionais descrevendo brevemente seu currículo para todos os presentes. Em momento algum Nadya se pronuncia, tampouco demonstra empatia quanto às saudações ou demais exclamações a seu respeito. Um traço da personalidade fria das pessoas do leste europeu, deduzi eu. Aos poucos também ia fazendo minha leitura a respeito daquela mulher. De fato, era uma beleza exótica, definitivamente advinda de terras longínquas às que as nossas, como se viesse de um livro ou filme europeu. No entanto, sua obscuridade só aumentava aos meus olhos, pois ainda sequer ouvira sua voz, o que me deixava mais inquieto quanto suas intenções como nova diretora. Não conseguia vê-la como uma mulher comum, nem mesmo nas vãs tentativas imaginativas de cortejá-la, pois demonstrava uma superioridade de personalidade que assustava. Sim, definitivamente era uma mulher que assustava os homens que dela se quisessem se aproximar.

Durante a reunião, Nadya se pronuncia tentando de certa forma acalmar a todos os presentes dizendo que, embora mudanças radicais e enérgicas sejam necessárias, a maioria dessas será gradual e com transições bem definidas. Ou seja, não seria o fim do mundo, embora muitas coisas devessem mudar.

Ao se encerrar aquela breve reunião de apresentação de Nadya, fomos informados que teríamos no dia seguinte outra reunião, agora de trabalho realmente, mais longa e com o objetivo de realizar definições. A todos os convocados foi enfatizada a necessidade imperativa de participação, sobre o risco de...” ficarem para trás”. Não seria uma boa hora, realmente, pisar na bola e faltar uma reunião como daquele tipo.

Saindo da sala de reuniões, procuro por Eliézer e, ao encontrá-lo o questiono sobre o andamento de sua agenda: tudo feito. Desse modo, nos deslocamos ao hotel conveniado da empresa onde todos os demais colegas estariam hospedados devido ao evento de apresentação da nova diretoria. Dividimos o mesmo quarto, nos instalamos devidamente com as bagagens e relaxamos um pouco em nossas camas após um banho cada um, para depois descermos ao bar do hotel para uma cervejinha, algo tradicional em nossas viagens de trabalho. Vestimos roupas confortáveis e casuais. Vesti uma camisa branca com as mangas remangadas, uma bermuda jeans e sapatos mocassins.

Já no bar do hotel, Eliézer me pergunta:

- E aí meu, como é a mulher?

- Cara, se eu te contar que sei menos dela do que antes da reunião...

- Como assim?

- Ela é estranha. Misteriosa. Vou te dizer: ela me deu medo.

- Sério?

- Sério.

- Tá, eu vi ela passando no corredor. Mas é um mulherão né?

- Ah sim, isso sim! De encher os olhos. Mas, vou ser sincero: muita areia para o nosso caminhãozinho.

- Acredito. É bom nem se aproximar. A legítima chave-de-cadeia.

- Exato!

E caímos na gargalhada.

Voltei a comentar sobre Nadya, mesmo sem de fato ter muito o que falar dela. Ainda sobre o balcão do bar, onde estávamos apenas eu e o Eliézer, começamos a falar sobre trabalho, nos detendo a avaliar as atividades de Eliézer nas quais sou o supervisor direto. Achei inclusive estranho o fato de estarmos apenas nós dois no bar, uma vez que vimos o hotel cheio e muitos colegas nossos da empresa estarem hospedados ali. No entanto, aparentemente apenas nós dois descemos de nossos quartos para relaxar no bar ou mesmo fazer uma refeição, a menos que todos os demais teriam ido jantar fora do hotel, algo improvável.

Já eram 21 horas. Entre uma cerveja e outra, eu e Eliézer conversávamos, alternando os assuntos entre trabalho e amenidades. Eliézer, como sempre, tentava suscitar o assunto sobre Nadya, pois adorava falar sobre mulheres, coisa que, infelizmente, não tinha muito o que contribuir, pois como já tinha dito a ele, Nadya passou a ser um belo mistério para mim, o que em determinado momento reconheci ser uma atrativa curiosidade.

De repente, a quantidade absurda de cerveja que tomáramos começa a fazer efeito a Eliézer, que anuncia dirigir-se ao banheiro para se aliviar. Ele então salta da banqueta do balcão em direção à porta do banheiro do bar onde desaparece.

Não havia se passando nem mesmo um minuto da ausência de Eliézer, ao longo no corredor do hotel avisto em direção ao bar um vulto diante do faixo de luz existente. Era apenas um vulto, uma delineação sombria que a fraca luz dos refinados abajures dispostos sobre aparadores desenhava ao longo daquele corredor com decoração clássica composto ainda com espelhos, quadros e vasos floridos. A imagem de uma sombra com contornos nitidamente femininos que, a medida em que se aproximava, deixava mais nítido o seu reconhecimento. A aproximação de uma mulher, não tão alta, de calçados baixos, uma calça legging cirre preta e um camisão branco despojado com os dois primeiros botões abertos exibindo um decote lindo ainda desenhado por pequenos detalhes de sua lingerie preta que contrastava com sua pele clara além de um colar cujo pingente era um pequeno disco dourado. Aos poucos vou reconhecendo aquela mulher que se aproximava, quando finalmente consigo ver nitidamente seu rosto, agora emoldurado por longos cabelos negros escorridos até a altura de seus seios e por sua já reconhecível franja bem aparada até a altura das sobrancelhas. Sua boca de lábios finos agora mais valorizada por um batom roxo não restavam mais dúvidas de quem seria. Nadya.

Claro, Nadya também estava hospedada no mesmo hotel do qual nossa empresa tem convênio. Não era motivo de surpresa em encontrá-la naquelas dependências. Logo imaginei que estivera ali apenas de passagem aguardando mais alguém do alto escalão da empresa a fim de conduzi-la para um jantar com o resto da patronagem num restaurante para executivos da capital. No entanto, exatamente naquele momento e naquele ambiente apenas três pessoas eram vistas: eu, o barman e Nadya. Eliézer fora no banheiro e ainda não voltara e logo passei a imaginar a surpresa que ele teria logo ao vê-la no bar ao mesmo tempo em que ficaria curioso de como ela iria trata-lo, pois poderia ter uma noção mais clara de sua personalidade junto aos demais funcionários da empresa de cargos menores.

- Boa noite. Tem alguém nesse lugar?

- Olhei para a banqueta ao lado na qual Eliézer ocupara e não identifiquei nada que dissesse estar sendo ocupada. Ele levara suas coisas nos bolsos e sua garrafa de cerveja, já vazia, havia sido recolhida pelo barman. Eu não tive opção quanto a resposta. Ela foi automática dita por minha voz trêmula.

- Não. Fique à vontade.

Meu Deus!

Fazia muito tempo que eu não tinha aquela sensação. Uma mulher que simplesmente me deixa sem ação, completamente constrangido, mesmo sem haver motivo aparente. Eu simplesmente não sabia como me comportar, não saberia o que falar, nem mesmo para que direção olhar. De fato, era uma mulher como muitos disseram: deixava os homens próximos incomodados, encabulados e com medo. Diante daquela situação. Eu não sabia direito o que fazer.

“Cadê o infeliz do Eliézer?”. Pensava eu.

Então Nadya senta-se na banqueta, debruça-se sobre o balcão empinando sua bunda. Ainda não tive a oportunidade de “avaliar’ aquele material e creio que não conseguiria pois o camisão impedia. Ela então toma meu copo na mão sem ainda olhar para mim diretamente e pergunta:

- O que está bebendo?

- Cerveja – respondi.

Então ainda com meu copo na mão apanhado com uma liberdade que já me chamou a atenção ela me encara. Nesse momento, finalmente consigo com mais clareza apreciar aquela beleza única que parecia ter saído de um filme de suspense. Seu nariz era lindo, fino e pequeno e seus olhos negros nos quais mal podia identificar suas pupilas. Para acentuar aquela beleza obscura ela ainda tivera o cuidado de usar um delineador entorno dos olhos. A pele de seu rosto era clarinha, não conseguia notar nenhuma imperfeição, nenhuma mancha ou sinal. Comecei a perceber a quão bonita era aquela mulher, agora não tão alta por não estar usando salto alto, como quando a vimos pela primeira vez na empresa, e por estar com aquelas calças legging cujas coxas demonstravam-se mais grossas que antes, ainda mais ao sentar-se na banqueta do bar.

- Ah, não gosto de cerveja, prefiro vinho. Me acompanha?

Após dizer isso, abre um breve sorriso mesmo que ainda sem mostrar seus dentes, porém não menos lindo. Seu rosto fazia covinhas ao sorrir e seus lábios finos com batom roxo ficavam simplesmente mais lindos. Fiquei mais ainda sem jeito quando me dei por conta que não parava de olhar para eles.

Fiquei surpreso, pois não esperava aquilo. Tinha quase certeza de que ela estaria ali apenas de passagem aguardando alguma companhia para um jantar, e não para simplesmente beber junto ao bar do hotel. Me surpreendi ainda mais com sua abordagem e seu sorriso. A partir daquele momento fiquei sem saber menos ainda como agir. Afinal, não era uma mulher comum, não poderia tratá-la como com as demais, mesmo que educação, cortesia e respeito sempre fossem virtudes minhas que uso frequentemente, e com competência obtendo bons resultados modéstia à parte, junto à mulherada. Aquela situação era “sui generis”.

Mas cadê o Eliézer?

- Sim sim, posso lhe acompanhar. Barman, por favor, a senhora gostaria de uma taça de vinho.

- Uma taça não, uma garrafa.

Uau! Percebi que aquela mulher não iria sair dali muito cedo.

- Está aguardando alguém? – perguntei.

- Não. Não quis sair para jantar hoje. Resolvi ficar no hotel e relaxar por aqui. Gosto desse tipo de ambiente, mais calmo e reservado.

Enquanto Nadya falava, percebia seu carregado sotaque de língua eslava. A cada letra R pronunciada notava-se sua língua no céu da boca emanando o som de uma catraca ou como se simulasse uma rajada de metralhadora. Notava-se sua dificuldade ainda em algumas palavras de português. Foi bom ter notado essas suas peculiaridades, pois já saberia por onde puxar assunto caso necessário.

Nadya pediu determinado vinho que não consegui compreender ao barman. Sorte dela o barman ter tanto compreendido quanto atendido seu pedido. Ele abre a garrafa e serve duas taças: uma para ela e outra para mim. Ao ver aquela garrafa de vinho, deduzi que custaria no mínimo uns 20,00 dólares, o que demonstrava o requinte daquela mulher. Fiquei mais constrangido ainda. Além disso, já havia tomado, somente eu, 6 cervejas long neck e não saberia como seria o desfecho da noite com mais aquele vinho na cabeça.

Ela toma sua taça com a mão esquerda. Percebo estar usando um anel cujo pingente é o mesmo disco que em seu colar. Era grande e bonito, dourado e ornamentado com inscrições cuja luz fraca impediam a identificação. Ela ergue levemente a taça e me oferece um brinde. Tomo minha taça e brindamos.

- Iremos brindar a que? Aos novos desafios?

- Não quero falar de trabalho essa noite – disse ela sem sorrir – Um brinde a essa noite.

- Está bem. À essa noite.

Finalmente ela novamente mostra brevemente aquele lindo perturbador sorriso. Após o primeiro gole, procuro quebrar o gelo:

- Nadya, tu és russa?

- Sim, pode-se dizer que sim, mas na verdade sou natural de Belarus. Aqui no brasil vocês chamam de Bielo-Rússia ou Rússia Branca. No entanto, é praticamente a mesma coisa.

- Sim, é verdade. Já li a respeito. É um país ao oeste da Russia, se não me engano faz fronteira coma Ucrânia também.

- Sim, exatamente.

- Mas, se me permite, seus traços não são típicos russos.

- Na verdade minha etnia não é russa, mas cigana.

- Cigana? Claro! Explica tuas características não serem como a de mulheres eslavas.

- Sim. Exatamente por isso. Nossa etnia é perseguida por lá, como bem sabe. Por isso decidi me afastar da minha família e tomar um rumo novo para minha vida. Enfim, ir para bem longe de lá.

- Entendo, eu li sobre isso também, sobre a perseguição aos ciganos. Tua história é muito interessante. Sabe, já li algo sobre o povo cigano. Existem muitas lendas entorno dele. Algumas fantasiosas demais, outras, eu devo admitir, intrigantes realmente. O que mais me chama a atenção nessas histórias é a dúvida sobre a origem de vocês, pois tem muita especulação a respeito.

- Sim! Verdade. Dizem muitas coisas. Mas posso lhe afirmar que há muita fantasia a respeito e invenções para apenas discriminar os ciganos. Muitos como eu já se distanciaram das famílias e tradições por conta disso. Eu, pessoalmente, não me considero mais uma cigana.

- Gostaria muito de ouvir sua história, se não lhe causar desconforto ao contar ou se estiver a fim. Sabe, gosto muito de história.

- Não me causa desconforto, mas acho que não precisamos nos deter em histórias longas. Sei que gosta de ler, mas não quero falar a respeito.

- Sim, desculpe-me. Mas, como sabe que gosto de ler?

- Eu li sua ficha. Já analisei a ficha de todos os gerentes da empresa.

Aquela negativa firme e impositiva de não falar de sua vida foi um balde de água fria me fazendo lembrar qual era meu devido lugar. Já estava pisando em ovos com ela. Depois, vem dizendo que “leu toda a minha ficha”. Como assim?...

Então, Nadya resolve quebrar o gelo:

- Como são os homens aqui?

- Hein?

- Os homens. Como vocês são aqui? Não sou daqui e sou mulher. Gosto de homens.

Não sabia exatamente qual era sua intenção com aquele papo. Mesmo assim, imediatamente em minha consciência adotei uma postura cautelar. Não iria me expor nem mesmo demonstrar interesse algum naquela mulher na condição de homem. Não era momento de dar bola fora, dar mancada. Então resolvi dar uma de sabonete e conduzir uma conversa amena sem provocações ou investidas de minha parte, procurando inclusive me esquivar de qualquer questão mais profunda ou quente. Afinal, não sabia qual sua intenção com aquilo. Estaria ela apenas me testando?

- Desculpe, por favor não me interprete mal. Mas por que essa pergunta?

- Ah sim. Acho que você deve lembrar que nossa empresa é majoritariamente masculina e eu sou uma mulher. Eu não sou daqui, não conheço os costumes de seu povo. Gosto de analisar as pessoas que me cercam, a começar pelo o que pensam. Por isso gostaria de saber como são os homens por essa região do país. Será mais fácil para mim encontrar a forma correta de lidar com todos vocês.

- Ah sim, entendo. Bem, acho que posso lhe ajudar quanto a isso.

Então começamos a conversar a respeito, dentre outros assuntos que iam e vinham. Nadya mais ouvia do que falava, mais perguntava do que respondia. Escorada com o cotovelo no balcão ao mesmo tempo em que pendia o cálice de vinho com a mão, emanava um charme fora do comum. Um charme que, no entanto, apenas eu poderia apreciar, pois até mesmo o barman havia inexplicavelmente sumido. E o Eliézer...

- Ah, me esqueci. Passei por seu funcionário no corredor. Acho que ele subiu para o quarto de vocês.

Como assim? Eu não o vi sair do banheiro nem mesmo passar por mim. Não me disse nada. E como ela o conhecia? Ele sequer tinha sido apresentado a ela!

- Bem. Obrigado pelo recado. Estava procurando-o com os olhos na verdade. Ele tinha ido ao banheiro e não voltou. Não vi ele passar por mim.

- Por nada. Creio que agora estamos relativamente a sós.

Aquele sorriso lindo, sexy e sombrio novamente surge em seu rosto. Senti o frio na espinha e um arrepio em meus braços. Entorno de uma hora se passara desde sua chegada ao bar, meia garrafa de vinho já tinha sido bebida por ambos. Percebi sua descontração devido à bebida assim como a minha, deixando-me mais confortável. Nossa conversa não apenas começava a ficar mais amena como estava aos poucos tomando um foro um tanto íntimo. Nadya insistia em conversar sobre as relações humanas, especificamente entre homens e mulheres. Deteve-se então em abordar sobre o que mais atrai os homens nas mulheres e vice-versa. Confesso e admito que passei a gostar do assunto, mesmo que em momento algum eu pudesse vislumbrar algum tipo de chance em pegar aquela mulher naquela noite. E nem queria. No entanto, o assunto estava muito gostoso fazendo-me pensar ser uma boa chance de demonstrar cavalheirismo, cortesia, educação e respeito ao se abordar com uma mulher daquelas um assunto relativamente delicado, no qual qualquer deslize poderia cair na vulgaridade. E, sabe-se lá, qual era o real objetivo dela.

Passado mais um tempo, o vinho já estava terminando, com apenas alguns goles em cada taça. Já era por volta das 22:30 quando Nadya apanha sua taça delicadamente com sua mão alva de unhas pintadas de preto e o bebe num só gole o resto do vinho. Ao repor a taça no balcão, ela olha diretamente nos meus olhos com aquele leve sorriso no rosto fazendo aparecer suas covinhas nas bochechas e me faz aquela pergunta que me congelou por completo:

- Você me acha uma mulher interessante?

Definitivamente travei. Travei e tremi na base. Não sabia o que dizer. Fiquei paralisado por alguns segundos, mas naquele momento pareciam uma eternidade. Então eu a respondi, da maneira mais dissimulada que podia encontrar:

- Desculpe Nadya, não entendi. Em que sentido? No sentido profissional?

- Não! – Me respondeu direta e secamente com um olhar penetrante e cenho sério, sem mais expressar sorriso algum.

- Bem. Sim, acho a Senhora muito interessante.

Tentei manter uma distância chamando-a de “senhora”. Não funcionou. Ela estaria me pressionando. Comecei a entender que, de fato, aquilo poderia ser um assédio de sua parte. Nesse momento já estava confuso e com medo. A tensão, apesar do vinho, voltara.

- Me considera uma mulher atraente?

- Sim Senhora. Acho a Senhora muito atraente.

- Dispensa o “senhora”. Você em momento algum dessa noite havia me chamado assim.

Então forcei um sorriso e disse:

- Desculpe Nadya, eu devo admitir que fiquei sem ação.

- Eu sei. Todos ficam.

Emudeci. Enquanto isso, ela apanha do balcão seu celular e a chave de seu quarto dando a entender que iria finalmente se retirar. Ela, com os objetos já na mão, novamente dirige-se a mim da maneira mais inesperada possível:

- Você é um homem muito interessante, talvez o mais interessante dentre todos da empresa. Meu quarto é o 507. Esteja lá em meia hora.

Nadya então desce da banqueta e vai de encontro a saída do bar dando-me imediatamente as costas sem me dar chance alguma de dizer algo a ela.

E agora Meu Deus, o que eu faço?

Comecei a me sentir estranho. Não conseguia mais raciocinar ou refletir direito sobre tudo aquilo. Eu não sei por qual motivo, mas imediatamente decidi acatar sua ordem, pois da forma como se dirigiu a mim, era como se fosse. Tomei o resto do vinho e me apurei para deixar o bar. Não me lembro de ter pagado a conta ou ter assinado alguma comanda, nem mesmo se o barman estava lá, pois não me lembro de ter visto ele ou mais alguém durante todo o tempo em que ficamos bebendo aquela garrafa de vinho.

Será que eu deveria realmente fazer aquilo? E se eu não fizesse, se fosse direto para o meu quarto e ignorar aquele convite? Na verdade, tinha certeza de que aquilo não foi um convite, mas uma ordem, uma convocação. Certamente que com muitos outros homens ela deveria ter feito isso pelas empresas que atuara. A única certeza é que eu realmente estava com medo. Aquela mulher me dava medo. Medo e tesão, pois não poderia mais negar isso para mim mesmo. Se sedução era o jogo daquela mulher, ela estava começando a ganhar. Não iria deixar passar aquela oportunidade. Era certo que ela queria transar comigo e eu também, mesmo que pudesse comprometer meu emprego, pois sabe-se lá o desdobramento que isso poderia causar.

Eu tinha ainda meia hora antes de encontrá-la. Ao sair do bar, vou para fora do hotel e acendo um cigarro na vã tentativa de me acalmar. Eu estava tremendo de ansiedade, medo e excitação. Terminando de fumar, volto para o interior do hotel e me dirijo ao meu quarto, pois dava tempo de “me preparar”. Então tomei um banho, renovei o desodorante e escovei os dentes. Coloquei a mesma roupa que estava, apanhei uma camisinha e um azulzinho, aqueles comprimidos que descobri para “garantir a festa”, colocando-os no bolso traseiro da bermuda, para finalmente me dirigir ao quarto 507, dois andares acima.

Durante o percurso, entre corredores e elevador, me deslocava com pensamentos confusos. Estava difícil de acreditar que tudo aquilo estava acontecendo comigo. Em muitos pequenos e breves momentos naquele trajeto até o seu quarto eu titubeei, chegando a pensar na possibilidade de declinar daquela aventura. “Eu estava prestes a pegar a Nadya”. Essa, se eu fosse contar, ninguém iria acreditar. Não mesmo.

Cheguei diante da porta do quarto 507. Dei três batidas. Agora não tinha mais como voltar atrás, e nem queria. Então ela abre a porta. Ao abrir vejo Nadya com a mesma calça cirre e o mesmo camisão branco, porém de uma forma deliciosa: totalmente aberta, expondo deliciosos e fartos seios amparados por aquela lingerie preta. Fico imóvel diante da porta contemplando aquela mulher espetacular de gracioso abdômen de pele clara, uma barriguinha levemente saliente que me enlouqueceu. Ela cruzara as pernas e escorara uma das mãos na porta. Ela não sorri e não me diz uma palavra sequer, me dando as costas e espaço para que eu entre em seu quarto. Assim o faço e quando menos percebo sinto a porta se fechar. Não a vi fechar a porta, pois ela estava diante mim, parecia que alguém teria assim feito diante da força da batida. Mesmo assim, embora um pouco impressionado, minha atenção se manteve em Nadya e em sua sensualidade deslumbrante.

Quando a porta se fechou, Nadya vira-se para mim e com força me joga contra a parede. Eu bato com as costas nela assim como com minha nuca. Doeu a batida, mas não tive muito tempo de senti-la pois Nadya segura meu rosto e me beija de maneira sem igual. Eu não tinha outra coisa a fazer senão deixar tudo aquilo rolar. Nadya procurava com sua boca minha língua tentando engoli-la sugando-a. Era uma delícia de beijo que se estendeu por 4 ou 5 longos minutos até deixar minha língua dormente e levemente dolorida. Eu estava sem ação. Na verdade, ela não me deixava tomar ação alguma, pois estava deixando bem claro quem iria comandar qualquer coisa que ali fosse acontecer. Então foi a vez das luzes misteriosamente se apagarem restando apenas a fraca luz do abajur da cabeceira da cama.

Após o longo beijo, Nadya me pega pela mão e me conduz em direção à cama, contorna meu corpo e violentamente me empurra contra ela fazendo com que nela eu caia deitado de frente para ela. Com uma agilidade enorme pula sobre mim e com as duas mãos abre de maneira também violenta minha camisa arregaçando-a e estourando de uma só vez todos os seus botões deixando meu torax totalmente exposto. Ali estando montada em mim, Nadya massageia meu peito arranhando-o com suas unhas negras e compridas de modo doloroso, porém excitante, desde minhas clavículas até meu umbigo. Então, finalmente sorri, porém de uma forma maligna e assustadora, mas não menos linda e sedutora. A ardência de seus arranhões é enorme, tomando conta de todo o meu tórax, embora eu gostando daquela sensação. Sinto-me imobilizado senão quando a pego pelos quadris com minhas mãos apertando-a com força até espremer um leve gemido de excitação de sua boca. Sinto a maciez e o frio de sua pele. Nunca tive uma mulher assim. Seu corpo por completo era frio e sua pele macia com um adocicado e entorpecedor cheiro.

Nadya tira seu camisão quando logo consigo curvar meu corpo indo de encontro ao dela abraçando-a e fazendo-a cair sobre meu corpo. Assim consigo tirar sua lingerie expondo de vez os lindos e formosos seios de mamilos escuros e levemente entumecidos. Quando menos percebo vejo Nadya aos pés da cama e totalmente nua. Como ela conseguiu tirar toda a sua roupa sem eu perceber não tenho a mínima ideia. Ela debruça-se sobre minha bermuda abrindo seu botão e zíper para finalmente me desvestir por completo, para então novamente pular sobre mim. Não tive tempo nem chance de apanhar camisinha ou mesmo azulzinho. Ali possuo ela, ou melhor, ela me possui. Sinto-me invadindo seu corpo de uma maneira nunca vista sentindo um calor intenso, contrastando com a frieza de sua pele.

Estou excitado por demais, porém totalmente imóvel. Alguma força misteriosa vinda daquela mulher fazia com que eu impedisse de mexer qualquer músculo que seja. Estava paralisado e totalmente a mercê de Nadya. Tudo que estava acontecendo naquele quarto era delicioso ao mesmo tempo que estranho e assustador. Passou a ser mais ainda quando Nadya arqueia-se para trás soltando um baixo e agudo gemido anunciando seu gozo. Nesse mesmo momento, a luz fraca do abajur, a única luz acesa, sinistramente se apaga restando como fonte de iluminação apenas os fracos fachos de luz advindos da iluminação das vias públicas que entravam pela janela levemente com as persianas abertas. Arregalei meus olhos e ensaiei alguma reação tentando me apoiar nos braços e erguer meu tórax. Em vão.

Nadya gozou. Nesse momento, ela ergue seus braços cruzando-os atrás de sua cabeça agarrando seus cabelos com as mãos. Assim, fez com que seus formosos seios ficassem mais evidentes aos meus olhos. Aquela fraca luz não impedia de vê-la por completo. Era uma sena sinistra, pois parecia que aquela fraca luz era direcionada apenas para Nadya, como se até isso ela estivesse preparado. Eu não conseguia me mexer, meus braços estavam para trás, sobre a cabeça e sem nada que os prendessem, mesmo assim não conseguia me mexer. Isso me assustava por demais ao mesmo tempo em que não deixava de ficar excitado. Meu tesão não se abalara com toda aquela atmosfera de submissão que me envolvia. Nadya poderia fazer o que quisesse comigo naquele momento, inclusive tirar minha vida se quisesse. Já não fazia a mínima ideia do que de fato estava acontecendo, pois estava começando a perceber que aquilo não era apenas uma transa.

Nadya ainda estava com o rosto erguido, com os olhos fechados, a boca entreaberta e seu cenho levemente contraído demonstrando degustar aquele momento sublime de orgasmo. Ela ainda arfava após gozar estufando levemente seu peito a cada respirada profunda que dava. Agora já com as mãos apoiadas no meu peito, tenho diante de meus olhos a cena mais fantasmagórica, soturna, maligna e ao mesmo tempo linda que já pudera ter visto. Nadya abre seus olhos e direciona seu rosto alinhando seu olhar com o meu. Seus olhos agora brilham, como diamantes iluminados emoldurados por um sorriso perverso e diabólico, com a boca ainda aberta, logo fechando-a e deixando à mostra, pela primeira vez desde que a vi, seus dentes. Ela não parava de se refestelar sobre meu corpo sem deixar de me olhar um segundo sequer.

Eu continuava totalmente paralisado, com medo, apavorado na verdade. Estava imóvel, com meus músculos totalmente contraídos e mesmo assim o tesão não me abandonava. Nadya mexia os quadris como que quisesse ainda me levar ao orgasmo. Estava conseguindo. A medida em que sentia meu gozo se aproximar, ficava com meu corpo mais dolorido de tantos músculos contraídos. Nem mesmo piscar meus olhos eu conseguia. Na medida em que os segundos se passavam os olhos de Nadya brilhavam ainda mais e de forma sobrenatural, fazendo com que nada mais naquele quarto eu conseguisse enxergar com nitidez, senão seu belo e magnífico sorriso.

Eu gozei. E mesmo assim, Nadya não parava de mexer seus quadris sobre meu corpo. Inexplicavelmente não desfaleci. Continuei excitado, entumecido e louco de tesão. Ela queria mais e eu também. Senti, no entanto, que minhas contrações musculares cederam, mas por um motivo óbvio: senti parte de minhas forças serem sugadas por alguma coisa. Ela não parava e eu, estranhamente recomposto, estava prestes a gozar novamente.

Eu gozei mais uma vez. Dessa vez, percebi que aquilo foi muito mais que um orgasmo. Senti nitidamente minhas forças serem drenadas por aquele corpo maravilhoso sobre mim. Mesmo assim, não desfaleci, estando ainda excitado de forma inexplicável. Ao sentir minha segunda gozada, Nadya fechou os olhos, agarrou seus seios com suas mãos e gemeu, como se também tivesse gozado mais uma vez. Mas não, na verdade parecia que ela se deleitava com minhas forças se esvaindo diretamente para seu corpo. Comecei a imaginar se ela era de fato apenas uma mulher ou alguma coisa que não seria desse mundo.

Nadya não parava de mexer seus quadris, ela queria mais. Eu já estava ficando tão exausto eu estava com dificuldade em respirar. Estava sentindo o suor frio escorrer pelo meu rosto assim como nas palmas de minhas mãos. Estava me sentindo fraco, como alguém que ficara muito tempo sem se alimentar direito ou submetido a um alto esforço físico, mesmo sem mexer um músculo que fosse. E mesmo assim eu não desfalecia, estava prestes a gozar mais uma vez. Passei a imaginar também que aquela minha permanente condição de excitação seria por causa de Nadya, por exercer algum poder sobrenatural sobre mim. Então, eu gozei pela terceira vez, mas já sem força alguma para sequer gemer. Já estava pensando em pedir a ela para parar ou mesmo ajuda a alguém de algum modo. Ao sentir eu gozar pela terceira vez, Nadya agarra meus músculos peitorais e deita-se sobre mim. Abocanha meu mamilo beijando-o para depois mordê-lo fortemente. Doía, parecia que ela iria arrancá-lo com os dentes. Eu não poderia fazer nada, estava ainda travado por aquela força desconhecida que contraía minha musculatura, além de não ter mais forças para mais nada, com imensas dificuldades em manter meus olhos ainda abertos. A mordida em meu peito não apenas doeu como ardeu, feito ácido derramado sobre a pele. A dor era intensa a ponto de com muita dificuldade lançar um fraco gemido. Passei a sentir algo quente escorrendo sobre meu peito. Era meu sangue. Nadya passou a lamber minha ferida e a todo o sangue que escorria sem deixar de me olhar com aqueles olhos de brilho fluorescente. Sentia minhas veias dos braços e pernas arderem, parecia que todo o meu sangue estava se esvaindo.

Eu já estava em pânico, mas nada podia fazer. E assim por vários minutos ela ficou se deliciando sobre meu peito com sua ávida boca. Extraíra meu sêmen e agora se deliciava com meu sangue. Sentia minhas forças irem embora. Em determinado momento, finalmente Nadya se ergue e com a ponta dos dedos limpa restos de sangue na borda de sua boca. Ela sai de cima de meu corpo e caminha pelo quarto ao lado da cama em direção ao banheiro dando-me as costas. Embora com a visão enuviada conseguia admirar a beleza escultural de seu corpo claro e totalmente nu, quando tive outra assustadora surpresa: ao recolher os longos cabelos sobre seu ombro esquerdo, Nadya desnuda totalmente suas costas e nela contemplo uma enorme tatuagem de um dragão que ia desde seu cóccix até sua nuca. Assustadoramente conseguia ver com nitidez sua tatuagem cujo vermelho era predominante, a despeito da penumbra daquele quarto e de meus olhos já cansados. Nadya volta do banheiro e se inclina sob meu rosto pronunciando as únicas palavras, de modo soturno, em todo o tempo que estivemos naquele quarto: “Amanhã teremos mudança de planos. Boa noite”. Após um carinhoso e leve beijo em meus lábios, não resisto a minha condição, fecho meus olhos e desfaleço.

Minha visão está muito turva, embora possa reconhecer que estou num ambiente bastante iluminado. Aos poucos vou identificando os elementos que compõem aquela cena: paredes brancas, lâmpadas fluorescentes... Percebo meu estado deplorável de fraqueza, quando meus olhos teimam em não se manterem abertos. Finalmente consigo acordar quando começo a tentar entender o que está acontecendo, onde estou e como fui parar ali. Estou numa cama, num leito hospitalar num lugar onde de fato devesse ser um hospital. À minha esquerda da cama está Eliézer me chamando como se tentando me acordar.

“O cara, tu tá bem? Fala comigo...”

Então ao seu lado e vejo um suporte com um bolsa de soro e ao lado dela outra de sangue. Olho para meu pulso esquerdo e vejo um butterfly enfiado nele escorrendo o que seria o soro fisiológico daquela bolsa. Direciono meus olhos para o pulso direito e vejo outro butterfly cravado e dele escorre sangue para minhas veias. Tento me mexer, mas não tenho a mínima força.

Meu Deus, o que aconteceu?

- Eliézer, o que tá acontecendo?

- Eu é que te pergunto meu.

- Como assim? O que houve?

- Se tu não sabe...

- Cara, como eu vim parar aqui?

- Tu sumiu ontem a noite. Só fiquei sabendo que tu estava aqui porque ligaram para o hotel. Acharam a chave do quarto no teu bolso e ligaram para lá. Depois me ligaram, eu estava na empresa. Vim assim que soube.

A confusão tomou conta de minhas ideias. Aos poucos lembranças de acontecimentos começam a surgir como flashes intermitentes, porém cada vez mais lúcidos e conexos. Seria tudo um sonho ou alucinação provenientes de uma bela bebedeira?

- Eu sumi? Como assim? Nós não fomos ao bar do hotel?

- Sim cara. Estávamos lá. Aí eu disse que iria ao banheiro. Quando voltei tu tinha sumido. Fiquei uma meia hora lá ainda esperando ver se tu voltava. Tu não voltou e eu resolvi subir para o quarto. Onde tu te meteu?

- Cara, sinceramente eu não sei o que houve. Tá tudo muito confuso.

- O médico disse que te acharam deitado na porta do pronto-socorro com a camisa empapada de sangue. Tu estava apagado com pulsação fraca. Logo viram que tu tinha perdido muito sangue e que estava a beira de um coma alcoólico. Tu tá com um corte estranho aí no teu peito. Disseram que foi muito fundo. Mas não viram mais nenhuma lesão. Disseram também que não poderia ser dali que tu perdeu sangue desse jeito porque esse tipo de corte não faria esse estrago. Ninguém entendeu como é que tu ficou nesse estado. Tiveram que te dar ampolas de glicose, soro para hidratar e tu tá na terceira bolsa de sangue porque tu tava com uma baita anemia. Até ampola de adrenalina te deram, não sabiam como que tu não teve parada cardíaca. Cara tu tá um bagaço...

Olhei para o meu peito e vi um enorme curativo. Imediatamente associei aquele curativo com alguma lembrança que tinha na minha mente da suposta noite que havia passado. Sim, suposta, pois já não sabia se tudo aquilo realmente tinha ocorrido. Eu estava com o corpo meio dormente. Aos poucos ia conseguindo mexer meus membros. Não sentia dor alguma, senão um cansaço como nunca havia sentido.

Eliézer não parava de falar, parecia uma metralhadora. Na medida em que ele falava, eu ficava cada vez mais confuso. As coisas não encaixavam, as lembranças da noite que passei não tinham sentido com a realidade que eu estava vivendo naquele momento. Eliézer então disse a coisa mais aterrorizante além de tudo aquilo que eu estava vivendo:

- Cara, eu me acordei hoje de manhã e não te vi no quarto. Fui para a empresa imaginando te encontrar lá. Tu não apareceu, aí me disseram que estavam te procurando para te avisar que tu vai ter uma reunião com todos os gestores corporativos e a Nadya hoje as cinco horas da tarde. Cara, disseram que não dá pra faltar, porque cabeças vão rolar. O meu, tu tem que estar nessa reunião.

De volta a realidade, percebi que deveria fazer alguma coisa. Já estava começando a aceitar o fato de ter feito alguma besteira a noite anterior e por esse motivo estava ali. Ninguém iria perdoar essa cagada e, naquele momento delicado da empresa onde as coisas estavam mudando, tive a certeza de que seria meu fim caso eu não participasse. Eu devia cair fora dali.

- Eliézer, cadê minhas roupas?

- Estão comigo.

- Pega elas. Vamos cair o fora daqui.

- Tá locão? Olha o teu estado.

- Que horas são?

- Uma e meia da tarde.

- Cara, me ajuda. Vamos embora.

- Tu é louco.

- Faz o que tô pedindo. Pega aquele esparadrapo ali. Vou tirar essas porcarias. Vamos vazar.

Sentei-me na cama me apoiando nos braços. Eu estava pior que uma gelatina de tanto que tremia. Arranquei os butterflys e logo passei esparadrapo nos pulsos para conter qualquer pequena hemorragia. Não senti dor alguma, até porque estava muito nervoso com tudo aquilo. Eliézer me ajudou a me vestir e tirar aquela camisola de hospital. Vesti minha bermuda e minha camisa empapada de sangue quando notei que não tinha um botão sequer. Eu olhava para ela sem entender nem mesmo acreditar naquilo que via. Estava seca e dura por causa do sangue. Senti um leve fisgão no peito devido ao ferimento quando me mexi mais bruscamente para me vestir. Eliézer me ajudou a calçar meus mocassins. Por sorte não havia ninguém naquela unidade, então ninguém intercedeu. Pura sorte, pois tinha também certeza da minha condição de fugitivo de um hospital, até mesmo porque nenhum médico descente iria me dar alta naquele estado.

- Me ajuda aqui Eliézer.

- Tá, se apoia em mim. Vambora!!!

Saímos rapidamente, na medida do possível com Eliézer me apoiando para caminhar enquanto tentava me equilibrar nas minhas trêmulas pernas. Inexplicavelmente não tinha ninguém naquele corredor de hospital, por conta disso que minha saída a francesa fora rápida, silenciosa e eficaz. Saímos por uma porta lateral que por sorte dava para o estacionamento. Eliézer me joga no banco do carona e saímos o mais rápido possível daquele lugar.

Que loucura!

Subitamente, na medida em que me movimentava, sentia estar recuperando minhas forças, senão pelo fato de começar a sentir uma fome desesperadora.

- Que horas são Eliézer?

- Duas e dez da tarde.

- Dá tempo para comer alguma coisa. Cara, pára na primeira lancheria que tu encontrar.

Paramos num xis. Pelo horário o movimento estava fraco, o que era ideal, pois muitos iriam estranhar aquela minha camisa toda aberta e empapada de sangue. Ali pedi para o Eliézer me pagar um xis, pois estava sem minha carteira.

- Comi um xis de uma forma que o Eliézer me olhava apavorado. Acho que dei apenas umas 5 ou 6 dentadas naquele lanche. Devorei em menos de 5 minutos.

- Cara, pede outro pra mim. Tô desesperado de fome.

- Tá. Vai uma coca-cola?

- Claro, pode chamar.

- Deixa pra mim.

O segundo xis foi um pouco mais demorado: em torno de 6 ou 7 minutos. Eliézer me olhava com os olhos arregalados de maneira apavorada. Acho que nunca na minha vida havia comido um (ou melhor, dois) xis de maneira tão saborosa. Acho que foi o melhor lanche da minha vida. Aquela coca-cola geladinha descia maravilhosamente pela minha garganta. E o mais interessante de tudo: não conseguia ficar com aquela sensação de estufamento pós-lanche, ainda mais depois de ter comido dois daqueles. Parecia que, a cada dentada, a cada deglutição, meu organismo simplesmente absorvia imediatamente tudo aquilo. Pão, carne, ovo e todas as porcarias que vinham junto notoriamente estavam recompondo minhas energias. Eu sentia isso. Depois de dois lanches me sentia mais acordado, mais firme, mais recomposto. De repente, uma pequena coceira surge sobre meu peito. Abro um dos botões da camisa e avalio aquele curativo vendo alguns dos pontos dados pelos médicos se abrindo e caindo. O ferimento estava fechado, demonstrando um processo de cicatrização fora do comum.

- Que horas são, Eliézer?

- São três e dez da tarde.

- Preciso me arrumar para a reunião. Vamos para o hotel.

- Beleza.

Durante o trajeto, Eliézer volta a me questionar sobre tudo o que ocorreu:

- Ô meu, diz aí: que merda tu fez ontem a noite?

- Cara, eu não faço a mínima ideia do que aconteceu.

- Tu sabe que não pode comentar nada lá na empresa né? Vão pensar em todo o tipo de merda que tu poderia ter feito. Ninguém sabe de nada, viu?

- Cara, nem me fala. Preciso tirar logo essa camisa e ir duma vez para a empresa. Por favor, não preciso nem te dizer que tu não pode abrir o bico sobre nada disso que aconteceu.

- Fica frio. Tô ligado.

-Mas Eliézer. Onde tu te meteu ontem?

- Cara, eu já disse. Eu fui no banheiro mijar. Não demorei 5 minutos e tu já não tava mais no balcão do bar.

- Como assim? Tu não voltou para o quarto?

- Ah, só depois de meia hora te esperando no balcão.

- Mas, tu não passou pela Nadya no corredor?

- Que Nadya meu, tá louco? Ela nem tá hospedada no nosso hotel. Ela tá hospedada no hotel de executivos junto com os membros do conselho e os novos investidores da empresa.

- Como assim?

- Sim, hoje pela manhã me comentaram isso. Disseram que saíram todos para jantar ontem a noite menos a Nadya. Parece que ela ficou no hotel.

Fiquei atônito. A imagem nítida dela vindo em minha direção no bar do hotel não saí da minha cabeça. Aquela história do Eliézer de ter ido no banheiro e voltado sem me encontrar também não encaixava nas minhas lembranças. Comecei a pensar que realmente tinha feito alguma merda bem grande. O problema é que nunca me droguei, nunca bebi demais a ponto de esquecer o que tinha feito, enfim... nunca havia saído da linha.

Chegando no hotel, tomamos imediatamente o elevador chegando o mais rápido possível no nosso quarto. A cama arrumada ainda, o que significa que sequer me deitei nela a noite passada. Então tiro minha roupa e me dirijo ao banheiro. Estava com medo até mesmo de me olhar para o espelho e ver um estado deplorável de homem. Mas não! Ao contrário do que Eliézer me dizia, eu não estava mais com olheiras e sim com aparência normal. Minhas pernas já não tremiam e sentia já forças em meus braços. “Eita xis bom”, logo pensei. Então, examino mais uma vez meu ferimento diante do espelho e percebo que todos os pontos já tinham caído e nem casca sobre ele havia. Porém, o que notei foi algo que me assuntou mais ainda: o ferimento tinha o formato de uma mordida entorno do mamilo esquerdo. Não tinha como não associar à mais uma das mórbidas e inexplicáveis lembranças que tinha em mente. Fiquei alguns minutos paralisado na frente do espelho.

Apesar de toda o meu apavoramento e confusão que aquela situação me trazia, tinha a consciência que me restava pouco tempo para me preparar para e fatídica reunião das 17 horas. Então rapidamente tomei um banho, vesti uma das mudas do uniforme e nos deslocamos até a matriz da empresa na capital, num percurso que duraria uns 40 minutos.

Durante o trajeto, Eliézer me pressionava a respeito dos acontecimentos me deixando irritado, não apenas por sua insistência, mas porque simplesmente não sabia o que dizer, não sabia explicar onde me meti e o que aconteceu comigo na noite passada. Por fim, acabei por prometer a ele de que quando eu tivesse todas as respostas ele seria o primeiro a saber, até mesmo porque já estava criando uma dívida com o cara. Afinal, estava virando meu cumplice sem mesmo saber o que acontecera comigo.

Chegando na matriz da empresa, imediatamente me dirijo para a sala de reuniões sendo um dos primeiros a chegar. Supreendentemente eu já estava bem, totalmente recomposto e recuperado do que seja lá o que passei. Exceto pelos pensamentos confusos, que volta e meia me deixavam olhando para o nada e divagando, de forma que um ou outro colega me cutucava para perguntar se estava tudo bem.

Todos já a postos na mesa da sala de reuniões quando de repente surge Nadya acompanhada de conselheiros e “novos investidores”, deduzira eu. Ela se apresentara novamente com um visual sóbrio e austero, porém não menos bonita. Dessa vez usava um cabelo trançado e o já conhecido suave batom em seus finos lábios, contrastando com seus negros olhos agora realçados pelo delineador mais forte que usara. Estava novamente de jeans, camisete branca e jaqueta da empresa. Imediatamente em seu peito, sem decote, identifico um colar e seu pingente circular. Um frio na espinha me surgiu.

Nadya senta-se na cabeceira da mesa já sem a jaqueta colocando-a na guarda da cadeira, ficando apenas com a camisete branca que por sinal era um tanto transparente, deixando definir sobre ela a lingerie preta por baixo. Ela começa a reunião dando boas-vindas a todos e de imediato apresenta os novos investidores da empresa. Após isso, mantendo a sobriedade com seu cenho e sem sorrir em momento algum, inicia os trabalhos com uma enorme pauta. Dentre várias, a supressão de setores e cargos, a demissão de alguns que ali mesmo estavam na mesa deixando todos perplexos com a objetividade e a forma seca como essas mudanças foram anunciadas por Nadya.

Eu apenas observava, não conseguia tirar os olhos daquela mulher, em especial sua boca e seu pingente. Em determinados momentos, me pegava olhando para o infinito tentando entender tudo o que estava acontecendo e se o que tinha como lembrança era alguma ponta de realidade ou foi apenas delírio de um trago fenomenal. Num desses momentos, Nadya, de forma firme se dirige para mim:

- O senhor na condição de Gerente de Projetos poderia participar mais da reunião. Afinal, estamos revisando toda a nossa estrutura administrativa e processos irão se modificar. Pelo que sei, muitos deles foram implantados pelo sr. Gostaria de maior efetividade sua nessa reunião.

- Sim, senhora. Estou apenas avaliando as novas situações para ser mais assertivo.

- Assim espero de sua pessoa!

Puta merda!

Era tudo o que eu não queria naquele momento: ser abordado por aquela mulher. Daquela forma então... Juro que gostaria de sumir. Olho para meu gestor imediato que só balança a cabeça de forma negativa mandando a nítida mensagem “te liga”.

A reunião vai se transcorrendo de forma tensa. As mudanças profundas e radicais na empresa chegaram junto com Nadya e agora ela as estava apresentando. Gestores se levantavam da mesa para não mais voltar pois estavam sumariamente sendo demitidos naquele momento enquanto outros eram remanejados ou mesmo rebaixados de função. Passei a dar minha opinião sobre os novos processos e reajustes dos existentes de forma a ser mais participativo. Nadya não demonstrava empatia nem mesmo contentamento com meus esforços. Aquilo era apenas minha obrigação, devia ela pensar.

Após mais três horas de reunião, a mesma é concluída por Nadya que dispensa a todos os presentes dando boa noite – já eram 20:30 da noite – desnudando um clima mais melancólico do que um velório coletivo. Então, quando estou recolhendo minhas coisas da mesa para enfim ir embora, Nadya se dirige a mim, me dando por conta de que estamos apenas nós dois na sala restando:

- Espere, por favor. Quero falar com o Sr.

- Pois não senhora.

- Preciso ainda comunicar ao Sr. as novas diretrizes que estou determinando para com sua função.

- Pois não...

- Como o Sr. ouviu na reunião, estou transferindo todo o quadro de gestores corporativos para a matriz, pois estamos na capital e muitas ações se viabilizarão por aqui além do fato de que me fixarei por aqui mesmo e quero todos os principais gestores próximos de mim. Seu setor, portanto, também será transferido para a matriz.

- Mas Sra. Nadya, embora eu seja gerente corporativo de projetos, ainda sou subordinado ao Gerente Administrativo e Financeiro e....

- Sim Sr, eu sei disso. Mas no seu caso é diferente. Meu planejamento envolve mudanças firmes em processos e na elaboração e execução de novos e grande projetos. Preciso que o sr. trabalhe de forma mais próxima da minha pessoa. Eu gostei muito do resultado dos projetos que o sr. conduziu nessa empresa e vou precisar dessa mesma eficiência.

- Mas Sra. Nadya, eu...

- Meu caro gerente, a decisão já está tomada. Sua transferência já foi encaminhada ao setor de Recursos Humanos. Na semana que vem o sr. ficará temporariamente hospedado no nosso hotel conveniado por tempo indeterminado. Outra decisão que tomei, inclusive, é que, independentemente de cargo, todos os membros dessa empresa ficarão hospedados no mesmo hotel, pois poderemos inclusive usar as dependências dele para realizarmos reuniões de trabalho.

Um arrepio toma conta do meu corpo.

- Sra. Nadya, se me permite...

- Sim, pode falar.

- Na reunião de ontem onde a Sra. se apresentou, disse que não haveria mudanças tão drásticas quanto essas, especificamente no remanejamento de pessoal, como transferências ou coisa parecida, e, no entanto,...

- Sim. O Sr. tem razão. Porém, ontem a noite li sua ficha e seu histórico. Eu gostei do que li.

- Como assim Sra.?

- Digamos que tenho um profundo interesse no Sr.

Nadya já estava em pé, e mesmo ainda conversando comigo, dá as costas para continuar a guardar o restante de suas coisas e vestir sua jaqueta. A leve transparência de sua camisete deixa exibir aquela sensual e apavorante imagem em suas costas: uma tatuagem em tom avermelhado que se estendida desde sua cintura até sua nuca. Arregalei os olhos, não conseguindo disfarçar a reação de incredulidade e espanto. Nadya vira-se novamente para mim, porém ainda com a cabeça baixa, como estivera o tempo todo. Ensaiei um breve e trêmulo sorriso ao dizer:

- Sra. Nadya, o que está querendo dizer?

- Não é nada demais Sr. Juliano. Isso acontece. É apenas uma mudança de planos. O Sr. é um homem muito interessante. Já deve ter ouvido isso.

Nesse momento, ela levanta o rosto e olha direto nos meus olhos. Um breve e já conhecido sorriso lindo e sombrio surge em seu rosto. Seus olhos brilham como diamantes.

2 comentários:

  1. Se eu fosse você, arrumaria às o quanto antes e levaria seu cúmplice junto, afinal "amanhã teremos mudança de planos, boa noite"

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