Minha intenção em escrever esse post não é de contar a história do livro e do filme, nem mesmo contra-argumentar os fatos narrados por Dan Brown. Mais uma vez partirei do princípio que já se tenha contato com a obra.
O livro, sem dúvida alguma, é excelente. Um romance policial com uma narrativa de tirar o fôlego e com argumentos extremamente detalhados, demonstrando que para a construção da obra um amplo trabalho de pesquisa foi necessário. Esse é, sem dúvida alguma, o maior valor do romance.
É necessário dizer, no entanto, que não foram esses aspectos que fizeram de "O Código Da Vinci" um best-seller com mais de 80 milhões de cópias vendidas pelo mundo, considerado o décimo-primeiro livro mais vendido no mundo. O que realmente tornou a obra conhecida foi o questionamento trazido por ela sobre a divindade de Jesus e a especulação sobre o papel da Igreja Católica numa grande conspiração global para esconder a vida "terrena" do messias.
A grande besteira de Dan Brown, ao meu entendimento, foi ele ter considerado seu livro factual, caracterizando uma grande jogada de marketing. Aliás, quando se lê o livro a sensação que se tem é a de ler um roteiro de um filme. Não me admira que dele tenha se produzido um filme homonimo com Tom Hanks no papel de Robert Langdon. Olha, não dá nem pra dizer que é uma adaptação ao cinema simplesmente porque isso não seria necessário. Ou seja, o livro praticamente foi escrito para isso. Os capítulos curtos praticamente já delimitam cada cena do filme nos levando a crer que livro e filme foram concebidos ao mesmo tempo.
Dan Brown em todas as entrevistas que deu jura de pé junto que tudo o que escreveu é verdade, que acredita em tudo e que as fontes são verossímeis. Muitas das afirmações feitas por ele durante a narrativa do romance já foram por água abaixo. Não tenho a intenção de ficar citando elas mas algumas eu vou falar aqui:
a) "Mona Lisa é um anagrama criado por Da Vinci". Balela, Da Vinci nomeou a obra como "La Gioconda". Séculos mais tarde é que ela recebeu o nome de "Mona Lisa";
b) "Evangelhos apócrifos escritos em hebráico". Outra balela. Nem hebraico ou aramaico, mas grego ou copta.
c) O livro assevera que o próprio Da Vinci, um cientista brilhante e pintor renascentista, estaria ciente da verdade sobre Maria Madalena e a teria representado como João, sentado próximo a Jesus em sua "A Última Ceia". O romance deixa a impressão de que Maria estaria retratada na pintura de Da Vinci como a esposa de Cristo. Ele também afirma que Pedro estaria fazendo um gesto ameaçador em direção a Maria como se estivesse tentando eliminar a influência feminina da Igreja. Na realidade, de forma nenhuma Maria Madalena aparece no quadro! Os personagens de Brown "lêem" na pintura aquilo que eles querem ver – a feminização do Cristianismo.
O monge albino Silas, um dos vilões da história. |
E digo mais...
Dan Brown não é anti-cristianismo em sua obra, parece ser sim anti-católico. Embora os fundamentos de todo o cristianimo e não apenas do catolicismo serem atacados em seu livro, o autor mira apenas na Igreja Católica, no momento em que demoniza a estrutura clerical e segmentos desta, como a Opus Dei.
Existem católicos (e demais cristãos) que simplesmente abominam a obra de Da Vinci por apresentar uma versão de fatos defendidos por diversas correntes cristãs a séculos.
O livro apenas deu mais corda àquelas pessoas que não conhecem o catolicismo e dizem conhecer, sendo que o maior contato que já tiveram com a igreja católica foi durante o batismo quando nenezinhos.
Entre outras palavras, o livro é um baita romance policial. E só! Nem mesmo dá pra levar em consideração os fatos históricos pois estes foram distorcidos para que coubesse a linha imaginária e tênue de argumentos sobre a linhagem sagrada.
É um livro que indico a ser lido, desde que as pessoas sejam esclarecidas o suficiente, pois a idéia de verdade que é vendida em seu texto é cativante para pessoas "revoltadas" com a Igreja Católica (nem sei por que motivo são revoltadas, mas desconfio que seja pela soliedariedade às mulheres perseguidas como bruxas na idade média,...).
Existem muitos livros que detonaram o livro do Dan Brown (aproveitando a carona de best-seller da obra pra ganhar uma graninha, lógico) contra-argumentando de maneira científica os factóides mostrados na obra.
O livro é fácil de ler, empolgante e, repito, muito inteligente. Mas ressalvo que deve ser considerado apenas como uma obra de ficção.
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