terça-feira, 5 de outubro de 2010

Metallica

Bom, pra início de conversa, eu admito: conheci o Metallica através do rádio tocando "Enter Sandman" com 14 anos. Antes disso eu nem imaginava que a banda existia. Aliás, que época boa: início dos anos 90, embora o grunge estivesse tomando conta do pedaço e detonando bandas de metal farofa, o thrash metal estava se consolidando como um subgênero do heavy metal com as bandas americanas do Big Four Metallica, Megadeth, Slayer e Anthrax, (sem esquecer outras não menos importantes, como Testament, Exodus,..), as canadenses do Voivod e Anihilator e em especial as alemãs (Kreator e Destruction). No Brasil, estávamos com o Sepultura a beira de um megaestrelato mundial.
Mas voltando ao Metallica... somente após essa introdução "radiofônica" que nos interessamos mais pelo Metallica. Aí é que já se tem alguma controvérsia com relação a banda.
Não preciso apresentar a banda, quem ta lendo esse texto é porque já a conhece, mas não custa dizer algumas coisas bem rápidas: formada em 1981 em Los Angeles pelo Lars Ulrich (um piá de merda dinamarquês que vem com o papai pros EUA para "jogar tênis", que viadagem!!) e pelo James Hetfiled, contava com o Dave Mustaine (um dos caras mais abobados do rock e que agora virou crente) que foi chutado por beber todas. Por sinal o Mustaine jurou que iria montar uma banda que seria maior que o Metallica e por alguns momentos conseguiu (opinião humilde de quem vos escreve): o Megadeth.

Formação atual: Robert, Lars, Kirk e James
Voltando novamente ao que interessa...Eu disse "controvérsia com relação a banda" porque a banda mudou pra cacete a medida em que ia lançando seus álbuns, distanciando-se de suas raízes underground e caindo de vez no mundo da grana. É visto que a banda tornou-se um negócio milionário (idiotas se não aproveitassem, vamos convir!), onde a cada nova produção de um álbum se pode constatar tendencias comerciais nas canções, mas o fato é que por causa disso o Metallica deixou de fazer músicas legais. Vamos aos fatos.
Os álbuns Kill' Em All e Ride the Lightning formaram, vamos dizer, o caráter da banda: som agressivo, poderoso, com riffs maneiros, cru em sua essencia mas com muita inspiração e intrumentos extremamente bem tocados. Eram aqueles caras da periferia de um grande centro metropolitano que se divertiam com coisas simples. O som que faziam era underground, não tinham nenhuma pretensão comercial e seu objetivo, além de pura diversão, era uma forma de estravazar suas revoltas com a sociedade misturando o punk com o som da lendária sigla NHOBHM (sem saco pra escrever o significado), a prova disso é que o Lars Ulrich afirma que uma de suas influências é o Saxon. Esses dois álbuns eram crus, mas de um para o outro nota-se uma emergência e evolução musical violenta.

Saudosa formação: Cliff, Kirk, Lars e James
Aos três álbuns a banda contava com a formação: Lars (batera), Hetfield (guita), Kirk Hammett (guita) e o lendário Cliff Burton (baixo). Esse último não é do meu tempo... Nesse momento, cito o mitológico álbum "Master of Puppets", lançado em 1986 e que para muitos é a Bíblia do Thrash Metal sendo considerado um dos grandes álbuns do rock. O álbum culminou no número 29 na Billboard 200, e permaneceu durante 72 semanas na parada. O álbum foi o primeiro da banda a ser certificado como disco de ouro em 4 de novembro de 1986, e foi certificado seis vezes platina em 2003. Foi a maior realização da banda.
O peso das músicas e a performance de Cliff Burton na baixaria é uma coisa sem precedentes, especialmente o solo de baixo na faixa instrumetal "Orion".

O dia 27 de setembro de 1987 pode, infelizmente, ser considerado um dos dias mais tristes do rock. Nesse dia, Cliff Burton morre durante a turnê européia no acidente com o ônibus da banda. Substituir um cavalo no baixo como ela seria dureza.  Para muitas radicais, ali morreu o Metallica, pois os baixistas que viriam a subsituí-lo (e isso é fato!) não chegariam a altura dele.

Cerca de dois meses depois da tragédia a banda encontrara um novo baixista: Jason Newsted. O cara tocou no Flotsam  and Jetsam (devo confessar que nunca ouvi essa banda) e foi escolhido dentre muitos candidatos. Embora sendo um baita baixista, seu estilo era bastante diferente do de Burton, mas conseguiu segurar a peteca, principalmente ao tocar as canções antigas.

Kirk, Lars, James e Jason
Porém (sempre o porém...). A maneira como Jason entrou na banda foi uma maneira baseada no business. Ou seja, Jason era parte da banda, mas era apenas um funcíonário. Sua participação efetiva na banda limitava-se a tocar! Participações nas produções dos álbuns ou mesmo nas composições sempre foram severamente censuradas pelo Hetfield. No quarto álbum da banda, ...And Justice for All, o baixo simplesmente não aparece nas músicas ridicularizando sua participação. Não tenho dúvidas que foi por isso que ele capou o gato da banda. Já já eu falo sobre isso.
Com essa formação, o Metallica entra em estúdio para gravar seu quinto e mais emblemático álbum assessorado pelo polêmico produtor Bob Rock.


Bob Rock, Lars e James durante a gravação do "Black Album"
 E assim veio ao mundo o "Black Album". O quinto álbum veio com o título homonimo da banda. E o ínício da grande controvérsia. Para que possamos discutir um pouco sobre isso, vamos partir do seguinte princípio: "você que está lendo esse texto certamente conhece o Black Album, se não conhece, vai acessar outro site!"
É inegável que a produção de Bob Rock trouxe qualidade e  profissionalismo para o trabalho da banda. Os próprios Lars e James reconhecem que a produção do "...and Justice..." que foi feita por eles mesmos foi uma porcaria e concordaram que eles não entendiam porra nenhuma de produção.

Entretanto, a produção do Black Album foi dureza: os caras da banda andavam as favas com Bob, pois ele se metia em praticamente todos os arranjos da banda em todos os instrumentos. Kirk ficou de cara, pois o riff de "Enter Sandman" foi profundamente modificado e o solo de guitarra da faixa "The unforgiven" foi um parto pra sair, pois Bob recusava tudo quanto era tipo de versão. O som do Black Album ficou caracterizado pela cozinha poderosa: o som da bateria se sobressai (um pouco mais alto e estragaria tudo) e o baixo é finalmente valorizado. Os riffs poderosos e inspirados são polidos e lustrados pela produção.
Bom, o fato é que muitos consideram esse album o marco de transformação da banda. Mas nem tanto assim, na verdade o album se distancia dos demais por basicamente dois motivos: o primeiro é a produção de alto nível (foi mais de 1 milhão de dolares para produzi-lo) e em segundo a velocidade mais baixa das músicas em comparação aos outros trabalhos da banda, principalmente devido justamente ao alto nível da produção. Então por que um album tão controverso? Por que o Metallica ficou mais pop! As faixas "The Unforgiven" e "Nothing else Matters" agradaram menininhas. Muitos fas radicais viram no Metallica gravando baladas como uma "traição" das raízes. Isso é muito relativo: balada por balada o Metallica havia gravado "Welcome Home (Sanitarium)" no "Master..." e "One" no "...And Justice", essas duas ao meu ver são baladas. O detalhe foi a melação de cuecas de "Notinhg else Matters". Por essas e outras o Metallica com o Black Album conquista as rádios e todo o mundo que ouvia e comprava o Black Album se achava um grande fã e conhecedor do Metallica, o que deixava os fas da antiga indignados. Diga-se de passagem, eu so tenho um CD do Metallica (o Black Album), mas tenho a maior de todas as relíquias: "Master of Puppets" em vinil (se alguém se aproximar dele por menos de 3 metros vai levar choque elétrico), por isso eu vos digo: "BANDO DE GURI!!!"
Voltando a sobriedade...
Embora para muitos a música que se tornou mais emblemática do Metallica tenha sido "Enter Sandman", foi mesmo "Nothing else Matters" a que fez mais estrago. Tá, eu exagerei quando disse que essa faixa era uma mela-cuecas, mas algo inexperado vindo do Metallica. Foi nesta música que arranjos orquestrais foram usados e que convenceu James Hetfiled de que ele sabia cantar. A partir de então James simplesmente resolve "cantar", algo impensável no mundo do thrash metal. Eu não sei quem disse pra ele que ele sabia cantar. A partir daí James começa a frequentar corais de igrejas e sinagogas e a ter aula de canto. O resultado foi uma catástrofe. Observem as últimas apresentações ao vivo quando do Metallica tocando "Enter Sandman" por exemplo, o cara simplesmente resolve "cantar" e não usa mais o vocal rasgado e pesado que havia. Resultado: assassinou muitas músicas.
Para mim, o Metallica praticamente entra em coma depois do Black Album. Os albuns "Load", "Reload" e "Garage Inc." simplesmente descaracterizam o Metallica como sendo uma banda de thrash metal. Ao lançar "Load" até maquiagem aparece na cara do Kirk, acho que até ele tem vergonha daquele tempo. O Metallica, que nem mesmo gostava de fazer clips e fez seu primeiro com a faixa "One" do "...and Justice" apelou violentamente pro merchandising. Virou uma banda de modinha.
Para mim (e para muita gente), a gota d'água veio com o tal "Saint Anger" de 2003 com a produção ainda capitaneada por Bob Rock (por isso as piadas sobre Bob Rock, que o acusam da transformação da banda) . O Album é simplesmente uma bosta! Não tem solo de guitarra, Lars Ulrich larga de mão o virtuosismo e toca uma bateria podre, como se estivesse batendo num latão enferrujado. Não entendi a proposta da banda, só sei que nem thrash, ou simplesmente heavy metal dá pra se encaixar aquilo (to dizendo que não dá!). Se algum desavisado pegar o album e escuta-lo sem ter lido que é do Metallica, so arriscaria dizer que é dessa banda pela voz de James, porque o resto está totalmente diferente.

Eis uma bela duma bosta!
É nesse momento que Jason Newsted cai fora da banda. Ele alega "problemas físicos devido ao fato de tocar a música que amava" para sair da banda. Todo o mundo sabe, no entanto, que ele saiu porque queria tocar com seu projeto paralelo, o "Echobrain" mas que Hetfield ficava enchendo o saco dele e, como já falei, nem participar da banda direito ele podia. Quanto aos problemas físicos: ficar bangueando do jeito que ele ficava no palco so pode ferrar com o pescoço dele mesmo. Na turnê do álbum, Bob Rock toca baixo para a banda.
Entra então o Roberto Trujillo (em espanõl, se lê assim: o "j' como "rr" e os "ll" como "j", então se lê "Trurrijo", aprendeu?), ex- Ozzy, Suicidal Tendencies (conhecida banda de latinos mal encarados).

Kirk, Lars, James e Robert
É outro baixista com outro estilo, bem inferior ao Jason e muito, mas muito, inferior ao Cliff! É um gorila que costuma usar trancinhas e caminha feito um troglodita no palco. O cara não é ruim (senão não estaria no Metallica!) mas não é a mesma coisa de outrora.
Finalmente em 2009 parece que o Metallica sai do coma e lança "Dead Magnetic", um album que tenta voltar, mesmo que somente um pouquinho, as raízes que fizeram do Metallica a banda que é hoje.
Sinceramente...
Olha, eu ouvi e tentei achar alguma coisa legal nesse álbum, mas não consegui. Não desce! Bem melhor que os albuns "pós Black Album" mas está longe de ser um "Ride The Lightning", quem dirá um "Master..." Me parece que falta inspiração. Não consigo identificar algo no album semelhanta "Fade to Black", ou "Creeping Death", "From who the bell tolls", "Sad But True"...

Bom, concluíndo: não teremos mais o Metallica dos anos 80, uma banda de piás com espinhas na cara e com todo o leite pra detonar. Assim como o Iron Maiden (salvando proporções...) parece que o tempo age nas bandas a medida em que a maturidade bate em cada membro delas.
O fato é que o Metallica mudou não somente em sua música, mas em suas atitudes. Até mesmo o fato de Lars ter tomado postura contra o Napster repercutiu mal, especialmente para uma banda vinda do underground.
Pelo conjunto da obra o Metallica foi agraciado no Rock And Roll Hall fo Fame em Cleveland. Na ocasião, houve o reencontro da banda com Jason Newsted sem ressentimentos. O que me deixa louco é ver o Trujillo no meio sem ter feito porra nenhuma.

Metallica no Hall of Fame
O que temos agora é um Metallica que vive do passado, onde em suas apresentações a grande atração são os bons, pesados e inspirados clássicos porque se depender do material novo ninguém iria querer saber.
Espero que o proximo trabalho do Metallica siga nessa recuperação e que a banda recupere sua inspiração... e que o Trujillo mostre a que veio.

Um comentário:

  1. Cara, só discordo que o Trujillo seja tecnicamente inferior ao Jason.

    Ele na verdade é um baixista virtuoso (já era bastante respeitando antes de entrar no Metallica) e dá uma surra no Jason Newsted. Para conferir isso ouve o trabalho dele no Infectious Grooves e no Suicidal Tendencies.

    O próprio Lars comentou no documentário do St. Anger que é a primeira vez que eles conseguem tocar as músicas da época do Cliff Burton exatamente como foram compostas, pois o Jason não conseguia tocar elas ao vivo.

    Parabéns pelo ótimo texto.

    Bjunda.

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