O livro, como muitos já devem saber, é bastante polêmico, pois traz uma proposta revisionista da história do Brasil e da forma como essa mesma história é contada.
Entretanto, a fórmula como a qual esta obra foi concebida foi comercialmente um sucesso. Tanto, que Narloch se animou a escrever mais dois livros nos mesmos moldes, e não menos polêmicos: "O guia politicamente incorreto da história do mundo" e "O guia politicamente incorreto da América Latina".
Antes de entrarmos discussão a dentro (e se tem muito o que dizer sobre esse livro), convém descrever um pouco sobre o mesmo.
PS: só pra lembrar: não dou muita bola com os erros de ortografia, embora tente evita-los ao máximo. Sou blogueiro por esporte, não um jornalista profissional. Se não gostou, sorry...
O livro de 350 páginas é escrito de forma despojada, com uma linguagem nada rebuscada senão até mesmo apelando para o coloquialismo, sendo esse o motivo de ser um livro leve, fácil e pouco enfadonho de ser lido. Porém, embora venha a ser um texto leve, é irreverentemente inquietante e petulante para com os maiores conceitos que aprendemos nos bancos escolares sobre a história do Brasil.
"Zumbi tinha escravos"
"Santos Dumont não inventou o avião"
"João Goulart favorecia empreiteiras"
"A origem da feijoada é européia"
"Aleijadinho é um personagem literário"
"Antes de entrar em guerra, o Paraguai era um país rural e burocrático"
"Quem mais matou os índios foram os índios"
Até aqui não escrevi nada que em 5 minutos não se encontre no Google sobre o livro. A partir daqui vou passar a escrever o que realmente vi. Mas pra isso, devo falar um pouco do autor: Leandro Narloch. E como introdução... Wiki!
Leandro Narloch (Curitiba, 1978) é um jornalista e escritor brasileiro. Foi repórter da revista Veja e editor das revistas Aventuras na História e Superinteressante, do Grupo Abril. É mestre em filosofia pela Universidade de Londres.
Durante dois anos (de Dezembro de 2014 a Novembro de 2016), Narloch manteve a coluna O Caçador de Mitos no site da revista Veja. Desde Dezembro de 2016, mantém uma coluna no jornal Folha de S.Paulo.
Ganhou notoriedade em 2009, ao publicar o livro Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, abordando imagens criadas em torno de personalidades e eventos marcantes da História do Brasil. O livro foi um sucesso de vendas.
Pois bem, além da Wikipedia, também saí campeando sobre o tal Narloch pela web onde encontrei manifestações de amor e ódio para com o moço. É inegável, em primeiro lugar, a enorme carga ideológica nas suas três obras (mas, "quem não...?"), a ponto de eu mesmo reconhecer que ele pegou pesado em algumas coisas e forçou em outras, mesmo que tenha adorado a forma como ele esculhambou com os esquerdinhas que pintavam a história ao seu bel prazer e como bem queriam que todos a conhecessem.
Narloch é polêmico. Mesmo tendo uma nítida opinião de direita, ainda não é consenso por aqueles hoje conhecidos como membros da "nova direita" (mesmo que ele também possa ser considerado um dos membros). Olavo de Carvalho, por exemplo, detona ele, conforme o video abaixo:
Mesmo assim, as opiniões de Narloch são contundentes e inquietantes. Sua forma despojada de escrever eleva o raciocínio ao sarcasmo, algo bastante característico nas redações da Super Interessante e da Veja que simplesmente irrita aqueles que estão sendo desafiados e leva os simpatizantes (como quem vos escreve) aos risos.
Esse é o Narloch.
No entanto, um detalhe quanto ao Narloch escritor. Ele se meteu no terreno espinhento por demais que é a história brasileira. Assim como Eduardo Bueno, Narloch está sendo mal aceito como escritor de livros de história por não ser historiador e sim jornalista. Essa é uma treta velha cujo argumento foi usado também para desfazer as obras de Eduardo Bueno, outro jornalista reconhecido por uma postura ideológica, não digo de direita, mas anti-petista.
De fato, trabalhar com história é complicado. Embora o jornalista também venha a consistir em intensa pesquisa, a formulação de textos e de teses históricas não poderá se restringir a leitura e compilação de registros históricos já existentes, mesmo que o processo de historização passe por isso também, mas sim na identificação de documentos, fragmentos, depoimentos, objetos e demais evidencias.
Mesmo assim, o livro (relembrando: estamos falando especificamente do "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil") também recebe boas considerações por historiadores e especialistas da área quando afirmam que a obra se trata de uma nova forma de se abordar a história brasileira e da necessidade de se extirpar estigmas maliciosos oriundos de manifestações ideológicas exacerbadas. A todo instante, o autor sempre relembra que os fatos históricos até então apresentados nos bancos escolares são produtos de interpretações ideológicas de intelectuais brasileiros de esquerda que gostariam de contar a história da forma como eles queriam e como queriam que nós a entendêssemos.
E desde 1984 os vitoriosos, ano a ano, foram os intelectuais da esquerda: desde a tucanada (sim, eles são esquerda) até a petezada.
Mas,...
O livro é interessante. E faço questão de comentar algumas passagens que marquei.
Vambora.
Narloch cita o historiador José Murillo de Carvalho logo no início do livro:
"A geração anterior foi muito marcada pela luta ideológica,exacerbada durante os governos militares, Divergências eram logo transpostas para o campo político-ideológico, com prejuízo para o diálogo e a qualidade dos trabalhos. A nova geração formou-se em ambiente menos tenso e polarizado, com maior liberdade de debate e um ambiente intelectual mais produtivo".
Essa foi a melhor definição, ao meu ver, de como a história do Brasil foi tratada por toda minha formação no ensino médio. Não é a toa que a minha geração formou professores de esquerda em sua maioria, o que já não ocorre tanto hoje, mesmo que os diretórios acadêmicos ainda estejam infestados pelos malas do PCdoB e do PSTU.
Ainda no inicio do livro se escreve sobre essa nova geração que não aceita mais a simplórias conclusões históricas após a redemocratização:
"...as interpretações que tiram do armário são mais complexas e, numa boa parte das vezes, saborosamente desagradáveis para os que adotam o papel de vítimas ou bons mocinhos...".
Divino!
O trecho agora trata do mito sobre o genocídio histórico indígena. Todos nós aprendemos sob a forma de um verdadeiro mantra que os índios foram massacrados no Brasil, especialmente pela dizimação e escravização sistemática dos povos indígenas pelos bandeirantes. Narloch escreve o seguinte:
"Muitos historiadores mostram números desoladores sobre o genocídio que os índios sofreram depois da conquista portuguesa. Dize que a população nativa diminuiu dez, quinze, vinte vezes. As tribos passaram mesmo por um esvaziamento, mas não só por causa de doenças e ataques. costuma-se deixar de fora da conta o índio colonial, aquele que largou a tribo, adotou um nome português e foi compor a conhecida miscigenação brasileira ao lado de brancos, negros e mestiços - e cujos filhos, pouco tempo depois, já não se identificavam como índios".
Embora eu já tinha lido em algum lugar a respeito dessa "teoria", Narloch não trata essa questão como uma teoria, mas uma forte afirmação. Mesmo mostrando a referencias bibliográficas que utilizou para suas afirmações, me incomoda a veemência como se não deixasse espaço para qualquer outra ideia a respeito respirar. Todavia, são conclusões que possuem sua lógica e evidencias claras na nossa sociedade de hoje. Um ótimo exemplo é a extraordinária história de respeitadíssimo e ilustre personagem da história contemporânea do Brasil: Cândido Rondon.
Ainda sobre os índios, Narloch detona a ideia de que o choque cultural entre índios e brancos acelerou a dizimação dos povos indígenas no Brasil. Cita, para tanto, o historiador americano Warren Dean:
"É difícil imaginar o quanto deve ter sido gratificante seu súbito ingresso na Idade do Ferro [...]".
E complementa:
"No começo, os portugueses tentaram esconder dos índios a técnica de produzir metais, proibindo os ferreiros de ter índios como ajudantes. Mas a metalurgia escapou do controle e se espalhou pela floresta. A técnica foi transmitida entre os índios a ponto de os europeus, quando entravam em contato com um tribo isolada, já encontrarem flechas com pontas metálicas."
Sobre outro mito: o convívio harmonioso entre índios e o meio ambiente. Essa trecho é fantástico:
"...Em janeiro de 2009, um texto informativo da exposição Oreretama, do Museu Histórico Nacional, do Rio de Janeiro, dizia que a sociedade indígena 'era um tipo de organização que tendia a manter o equilíbrio entre as comunidades humanas e o meio ambiente'. Não é bem assim. Antes de os portugueses chegarem, os índios já haviam extinguido muitas espécies e feito um belo estrago nas florestas brasileiras. Se não acabaram com elas completamente, é porque eram poucos par uma floresta tão grande.
As tribos que habitavam a região da Mata Atlântica botavam o mato abaixo com facilidade, usando uma ferramenta muito eficaz: o fogo."
Já passou pela sua cabeça esse tipo de coisa?
O único "senão" de Narloch sobre suas afirmações está justamente nas suas fontes. Na questão dos índios, por exemplo, o autor toma uma fonte (no caso o autor já citado Warren Dean) citando-a várias vezes e considerando-a como verdade absoluta, sem espaço para sua contestação.
Por conta disso, alguns o detonam, como o Prof. de História da América Leandro Karnal, no vídeo abaixo:
Isso pode significar várias coisas que vão desde a já mencionada forçação de barra ideológica que Narloch quis impingir em detrimento a tudo aquilo que ele condenou com relação à história contada pelos intelectuais de esquerda, passando por talvez o simples fato de que a natureza de sua obra ser justamente isso: perturbadora, instigadora, reacionária.
Talvez Narloch não queira ser conhecido como um renomado historiador, mas sim por ser autor de um livro divertido de se ler recheados com fatos descritos que dão a contrapartida ao que hoje é oficialmente aceito. Talvez ele queira que pensemos e reflitamos a fim de entender como a história é contada.
Não acredito que seus livros, e em especial este que estamos abordando, venha a ser adotado como um livro didático nas salas de aula. Mas tenho certeza de uma coisa: aquele professor de história responsável irá apresentar e levar esse livro para a sala de aula para discussão. Um bom trabalho de sala de aula seria feito, assim como boas risadas. Enfim, uma maneira divertida de conhecer nosso país e sua riquíssima história.
Em breve outros posts a respeito de passagens sobre esse livro.
Porque ele é muito bom!
E recomendo...
Humilde opinião de quem vos escreve.
Pois bem, além da Wikipedia, também saí campeando sobre o tal Narloch pela web onde encontrei manifestações de amor e ódio para com o moço. É inegável, em primeiro lugar, a enorme carga ideológica nas suas três obras (mas, "quem não...?"), a ponto de eu mesmo reconhecer que ele pegou pesado em algumas coisas e forçou em outras, mesmo que tenha adorado a forma como ele esculhambou com os esquerdinhas que pintavam a história ao seu bel prazer e como bem queriam que todos a conhecessem.
Narloch é polêmico. Mesmo tendo uma nítida opinião de direita, ainda não é consenso por aqueles hoje conhecidos como membros da "nova direita" (mesmo que ele também possa ser considerado um dos membros). Olavo de Carvalho, por exemplo, detona ele, conforme o video abaixo:
Mesmo assim, as opiniões de Narloch são contundentes e inquietantes. Sua forma despojada de escrever eleva o raciocínio ao sarcasmo, algo bastante característico nas redações da Super Interessante e da Veja que simplesmente irrita aqueles que estão sendo desafiados e leva os simpatizantes (como quem vos escreve) aos risos.
Esse é o Narloch.
No entanto, um detalhe quanto ao Narloch escritor. Ele se meteu no terreno espinhento por demais que é a história brasileira. Assim como Eduardo Bueno, Narloch está sendo mal aceito como escritor de livros de história por não ser historiador e sim jornalista. Essa é uma treta velha cujo argumento foi usado também para desfazer as obras de Eduardo Bueno, outro jornalista reconhecido por uma postura ideológica, não digo de direita, mas anti-petista.
De fato, trabalhar com história é complicado. Embora o jornalista também venha a consistir em intensa pesquisa, a formulação de textos e de teses históricas não poderá se restringir a leitura e compilação de registros históricos já existentes, mesmo que o processo de historização passe por isso também, mas sim na identificação de documentos, fragmentos, depoimentos, objetos e demais evidencias.
Mesmo assim, o livro (relembrando: estamos falando especificamente do "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil") também recebe boas considerações por historiadores e especialistas da área quando afirmam que a obra se trata de uma nova forma de se abordar a história brasileira e da necessidade de se extirpar estigmas maliciosos oriundos de manifestações ideológicas exacerbadas. A todo instante, o autor sempre relembra que os fatos históricos até então apresentados nos bancos escolares são produtos de interpretações ideológicas de intelectuais brasileiros de esquerda que gostariam de contar a história da forma como eles queriam e como queriam que nós a entendêssemos.
A história é contada pelos vitoriosos.
Mas,...
O livro é interessante. E faço questão de comentar algumas passagens que marquei.
Vambora.
Narloch cita o historiador José Murillo de Carvalho logo no início do livro:
"A geração anterior foi muito marcada pela luta ideológica,exacerbada durante os governos militares, Divergências eram logo transpostas para o campo político-ideológico, com prejuízo para o diálogo e a qualidade dos trabalhos. A nova geração formou-se em ambiente menos tenso e polarizado, com maior liberdade de debate e um ambiente intelectual mais produtivo".
Essa foi a melhor definição, ao meu ver, de como a história do Brasil foi tratada por toda minha formação no ensino médio. Não é a toa que a minha geração formou professores de esquerda em sua maioria, o que já não ocorre tanto hoje, mesmo que os diretórios acadêmicos ainda estejam infestados pelos malas do PCdoB e do PSTU.
Ainda no inicio do livro se escreve sobre essa nova geração que não aceita mais a simplórias conclusões históricas após a redemocratização:
"...as interpretações que tiram do armário são mais complexas e, numa boa parte das vezes, saborosamente desagradáveis para os que adotam o papel de vítimas ou bons mocinhos...".
Divino!
O trecho agora trata do mito sobre o genocídio histórico indígena. Todos nós aprendemos sob a forma de um verdadeiro mantra que os índios foram massacrados no Brasil, especialmente pela dizimação e escravização sistemática dos povos indígenas pelos bandeirantes. Narloch escreve o seguinte:
"Muitos historiadores mostram números desoladores sobre o genocídio que os índios sofreram depois da conquista portuguesa. Dize que a população nativa diminuiu dez, quinze, vinte vezes. As tribos passaram mesmo por um esvaziamento, mas não só por causa de doenças e ataques. costuma-se deixar de fora da conta o índio colonial, aquele que largou a tribo, adotou um nome português e foi compor a conhecida miscigenação brasileira ao lado de brancos, negros e mestiços - e cujos filhos, pouco tempo depois, já não se identificavam como índios".
Embora eu já tinha lido em algum lugar a respeito dessa "teoria", Narloch não trata essa questão como uma teoria, mas uma forte afirmação. Mesmo mostrando a referencias bibliográficas que utilizou para suas afirmações, me incomoda a veemência como se não deixasse espaço para qualquer outra ideia a respeito respirar. Todavia, são conclusões que possuem sua lógica e evidencias claras na nossa sociedade de hoje. Um ótimo exemplo é a extraordinária história de respeitadíssimo e ilustre personagem da história contemporânea do Brasil: Cândido Rondon.
Ainda sobre os índios, Narloch detona a ideia de que o choque cultural entre índios e brancos acelerou a dizimação dos povos indígenas no Brasil. Cita, para tanto, o historiador americano Warren Dean:
"É difícil imaginar o quanto deve ter sido gratificante seu súbito ingresso na Idade do Ferro [...]".
E complementa:
"No começo, os portugueses tentaram esconder dos índios a técnica de produzir metais, proibindo os ferreiros de ter índios como ajudantes. Mas a metalurgia escapou do controle e se espalhou pela floresta. A técnica foi transmitida entre os índios a ponto de os europeus, quando entravam em contato com um tribo isolada, já encontrarem flechas com pontas metálicas."
Sobre outro mito: o convívio harmonioso entre índios e o meio ambiente. Essa trecho é fantástico:
"...Em janeiro de 2009, um texto informativo da exposição Oreretama, do Museu Histórico Nacional, do Rio de Janeiro, dizia que a sociedade indígena 'era um tipo de organização que tendia a manter o equilíbrio entre as comunidades humanas e o meio ambiente'. Não é bem assim. Antes de os portugueses chegarem, os índios já haviam extinguido muitas espécies e feito um belo estrago nas florestas brasileiras. Se não acabaram com elas completamente, é porque eram poucos par uma floresta tão grande.
As tribos que habitavam a região da Mata Atlântica botavam o mato abaixo com facilidade, usando uma ferramenta muito eficaz: o fogo."
Já passou pela sua cabeça esse tipo de coisa?
O único "senão" de Narloch sobre suas afirmações está justamente nas suas fontes. Na questão dos índios, por exemplo, o autor toma uma fonte (no caso o autor já citado Warren Dean) citando-a várias vezes e considerando-a como verdade absoluta, sem espaço para sua contestação.
Por conta disso, alguns o detonam, como o Prof. de História da América Leandro Karnal, no vídeo abaixo:
Isso pode significar várias coisas que vão desde a já mencionada forçação de barra ideológica que Narloch quis impingir em detrimento a tudo aquilo que ele condenou com relação à história contada pelos intelectuais de esquerda, passando por talvez o simples fato de que a natureza de sua obra ser justamente isso: perturbadora, instigadora, reacionária.
Talvez Narloch não queira ser conhecido como um renomado historiador, mas sim por ser autor de um livro divertido de se ler recheados com fatos descritos que dão a contrapartida ao que hoje é oficialmente aceito. Talvez ele queira que pensemos e reflitamos a fim de entender como a história é contada.
Não acredito que seus livros, e em especial este que estamos abordando, venha a ser adotado como um livro didático nas salas de aula. Mas tenho certeza de uma coisa: aquele professor de história responsável irá apresentar e levar esse livro para a sala de aula para discussão. Um bom trabalho de sala de aula seria feito, assim como boas risadas. Enfim, uma maneira divertida de conhecer nosso país e sua riquíssima história.
Em breve outros posts a respeito de passagens sobre esse livro.
Porque ele é muito bom!
E recomendo...
Humilde opinião de quem vos escreve.
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