domingo, 17 de abril de 2011

Symfonia


Há alguns meses eu já esperava o lançamento do trabalho do tal Symfonia, uma banda de heavy metal melódico ("banda" é um substantivo do gênero feminino, então por que temos o hábito de chamar as bandas pelo artigo "o"?) formada por, digamos, "supermúsicos" deste estilo.
Aliás, o termo heavy metal melódico foi cunhado no início dos anos 90 com o aparecimento de bandas heavy metal européias influenciadas principalmente pelo Iron Maiden e pelo Helloween  (com suas definitivas obras, os álbuns Keeper of the Seven Keys part I e II). Surgiram então expoentes deste estilo, como: Stratovarius, Blind Guardian, Rhapsody, Angra, Gamma Ray, Sonata Arctica, Hammerfall, Edguy, Nightwish, etc. Com o andar dos anos formou-se o termo "power metal" para rotular o estilo sinfônico destas bandas de heavy metal devido ao fato de que algumas delas carregavam seus trabalhos de elementos líricos medievais, evocando assim elementos da cultura européia desta época. As músicas passam então a narrar batalhas medievais, cavaleiros, espadas, dragões, castelos, magia, e por aí vai... O celeiro destas bandas é até hoje o continente europeu, em especial a Alemanha e Finlândia, onde já se possui infraestrutura (estúdios, gravadoras,...) e mercado próprio para esse gênero.
Pois bem, voltamos ao Symfonia.
O anúncio deste projeto capitaneado pelo finlandês Timo Tolkki trouxe alvoroço à cena metálica por trazer um line-up simplesmente espetacular, um verdadeiro "dream team" do heavy metal. Nada menos do que Tolkki (ex-Stratovarius/Revolution Renaissance) nas guitarras, André Matos  (ex-Angra/Shaman) no vocal, Jari Kainulainen (ex-Stratovarius) no baixo, Uli Kusch (ex-Helloween/Masterplan/Gamma Ray) na bateria e Mikko Härkin (ex-Sonata Arctica) nos teclados. Não precisamos dizer que há uma pontinha de orgulho tupiniquim ao vermos o nome do André Matos como interprete vocal. Quem já é apreciador do estilo e acompanha o heavy metal brazuca conhece seu belo trabalho. Lembremos, no entanto, que Matos não é marinheiro de primeira viagem e já é conhecido no cenário internacional. Além da própria projeção do Angra na Europa e Japão, Matos também já participou em trabalhos junto a projetos como o "Avantasia" (opera rock do Tobias Sammet), Epica, com Luca Turilli, entre outros.
Kusch, Tolkki, Matos, Kainulainen e Härkin
A idéia do projeto partiu, segundo a versão oficial, de encontros informais entre André Matos e Timo Tolkki. Esses músicos, por coincidência estavam morando na Escandinávia, Andre Matos e Timo Tolkki que já se conheciam há um certo tempo, vinham se encontrando por lá, e desses encontros casuais acabou surgindo a idéia desse projeto que foi batizado de Symfonia. Decidiram então, unir forças com os outros conceituados músicos do metal e por o projeto a frente.
Ao que tudo indicaria, teriamos então uma super banda. E o que esperar de uma super banda? Ora, um super álbum com super músicas. Mas para alguns não foi bem assim...
Talvez pelo fato de se criar um espectativa muito grande a crítica não poupou e caiu de pau sobre o álbum de debut, intitulado "In Paradisum". Não se poupou munição para metralhar o trabalho que, ao meu ver, não é nada ruim e merece ser ouvido com um relativo apreço.


Bom, nem havia ouvido faixa alguma do trabalho e a capa do álbum já me chamou a atenção. Parecia um novo álbum do Stratovarius e com isso, dei uma risadinha. A impressão que tive ao começar a audição não se distanciou da primeira.
Os motivos que me levaram a vincular esse trabalho com os do Stratovarius são óbvios. Timo Tolkki era líder e praticamente o único compositor do Stratovarius. Com obras definitivas do Stratovarius no currículo, como o album "Visions", a identidade musical de Tolkki é facilmente encontrada neste trabalho. Sinceramente, ao ouvir os primeiros acordes do novo álbum me lembrei exatamente dos dias áureos do Stratovarius. Hoje, o Stratovarius já lançou dois álbuns sem Tolkki, que se afastou da banda devido aos quebra-paus internos com o resto dos integrantes havendo inclusive briga judicial. Dá pra ver nitidamente que os álbuns "Polaris" e recentemente o "Elysium" estão longe do polimento, criatividade e harmonia dos trabalhos antigos do Stratovarius. Claro, Tolkki não está mais lá e com isso a banda perdeu em muito qualidade musical. Mas isso é assunto para outro post.
Tolkki é o grande compositor do Symfonia, mas não sem a participação ativa de André Matos. A contribuição de Matos às músicas está na verdade mais nítida na forma de interpretação das questões. A formação clássica de Matos junto com a sua brasilidade dão um aspecto menos frio às músicas do trabalho, típico dos músicos escandinavos. Evidente que Matos contribui para as composições, principalmente onde podemos encontrar violoncelos e demais toques sinfônicos nas composições. Não dá pra dizer que há elementos do Angra no álbum porque os principais compositores da banda eram Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt e Matos também tem apenas participações nos retoques finais das músicas.
Devo dizer que existem faixas em que Matos está com seu vocal chato pra cacete. Além disso, em todo o álbum ouço um André Matos longe de sua melhor fase, seja nos vocais do Viper ou nos vocais do Angra (no álbum "Angels Cry" ele simplesmente mata a pau).  Entretanto, André Matos está longe de ser um vocalista ruim e sua voz no contexto do trabalho está bem colocada, fazendo com que o som do Symfonia flua de maneira limpa, cristalina, de forma a agradar os apreciadores do heavy metal melódico.

André Matos e Timo Tolkki
Como já havia dito, a crítica caiu de pau no primeiro trabalho da banda. Ao que pude ler foram formuladas duas grandes críticas ao álbum "In Paradisum". A primeira fala que por ser uma banda de heavy metal melódico (eu odeio o rótulo "power metal") ela simplesmente..."não inovou". Isso é compreensível tendo em vista a enorme e desgastante exposição do gênero nos anos 90 onde o mercado de heavy metal era totalmente voltado a essa vertente. E convenhamos: o que surgiu de bandinha de heavy metal melódico ruim naquela época não foi fácil, pois para fazer esse estilo musical os músicos devem ser muito bons. Então o argumento da alta exposição do estilo e da falta de inovação até procede, mas... O Iron Maiden inova?  E quem tenta inovar muitas vezes dá com os burros n'água, cito o Metallica nesse caso. Portanto, dizer que a banda não inovou seria uma injustiça para seu primeiro trabalho o qual ainda não pode determinar uma identidade musical para o grupo.
A segunda grande crítica é que foi uma banda formada num momento ruim, onde o heavy metal melódico não está mais no centro das atenções como nos anos 90, devido ao que já dissemos anteriormente.
As críticas até possuem certa fundamentação, mas não podemos julgar o trabalho de uma banda que simplesmente faz música de acordo com a formação músical de seus músicos. Ser fiel a um estilo musical não significa não inovar, e foi isso que o Symfonia propôs.


 Então aqui vai minha opinião com relação ao primeiro trabalho do Symfonia: é bom! Gostei, se encontrar o CD em uma loja eu certamente o comprarei. As músicas foram todas compostas com bom gosto e com um capricho nos seus arranjos musicais. Vejamos algumas faixas:
 "I walk in neon" beira ao pop, mas com uma levada empolgante.  O vocal do Matos, assim como nas outras músicas, é bem colocado e bem desenvolvido. "Rhapsody in black" é uma faixa que alterna em melodia e peso, um riff que faz com que o pezinho comece a bater no chão.
Mas para mim a melhor de todas é a faixa título "In Paradisum". Na sincera, ao escutá-la pela primeira vez, parecia que estava escutando o álbum "Elements" do Stratovarius. É puro Timo Tolkki!
Por fim, tenho só uma ressalva no projeto Symfonia: a de que me parece que realmente é só um projeto. Analisando o histórico dos músicos podemos perceber que alguns não gostam muito de esquentar banco ou simplesmente encaram a música como um business apenas. Não que estejam errados mas não vejo aquela paixão pela banda como se fossem uma família, mas apenas um projeto profissional. André Matos foi do Viper, Angra, criou o Shaman, arriscou carreira solo e agora ta com o Synfonia. Timo Tolkki saiu do Stratovarius brigando, criou o Revolution Renaissance que não rendeu como queria e agora está com o Synfonia. Uli Kusch foi Gamma Ray, ficou um bom tempo no Helloween, criou o Masterplan com Jörn Lande e Roland Grapow (também ex-Helloween) e agora o Symfonia. Apenas Kainulainen e Härkin não pularam de galho em galho nos ultimos tempos.
Espero que "In Paradisum" seja de fato apenas um trabalho de lançamento da banda e que o Symfonia ainda produza muita música de qualidade, de forma a calar a boca de seus críticos.
Humilde opinião de quem vos escreve.